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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.09.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

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O mítico Whispers (mais tarde Metropolis Club) na zona de Picoas, em Lisboa, foi uma das mais emblemáticas discotecas da viragem do milénio

De entre os muitos rituais de passagem da infância para a adolescência vigentes em finais da década de 90 e inícios da seguinte (alguns dos quais já aqui anteriormente abordados), um dos mais significativos era a ida a uma discoteca (no sentido de clube nocturno, bem entendido, e não de loja de discos). Isto porque, numa altura em que os referidos espaços transitavam do modelo 'boîte' de décadas anteriores – que exigia roupa a preceito e oferecia um ambiente selecto – para a vertente mais generalista já existente em outros países, os mesmos eram vistos como os locais ideais para a prossecução de novas experiências, de índole mais ou menos arriscada; assim, muitos jovens da época, sobretudo do ensino secundário, engendravam planos, muitas vezes mirabolantes, para conseguir 'dar a volta' aos seguranças e obter acesso ao 'paraíso' de decadência que imaginavam existir para lá do limiar daquelas portas.

Para alguns, no entanto, nem sequer eram precisos esquemas, bastando mentir mais ou menos convincentemente sobre a idade, e esperar que a 'peta' 'colasse' junto da equipa de porteiros e segurança; claro que, na maior parte das vezes, eram as raparigas quem tinha mais sorte neste capítulo, sendo que os elementos do sexo masculino tinham maior propensão para se verem 'convidados' a voltar para casa, e voltar quando tivessem a idade legal para entrar (que, à época, se fixava nos dezasseis anos), Em discotecas maiores e mais centrais, no entanto, até mesmo as 'miúdas' se poderiam ver barradas, dado o maior nível de escrutínio e a segurança mais apertada por oposição às caves de centros comerciais moribundos onde muitos jovens dos anos 90 tiveram a sua iniciação à vida nocturna.

Com o passar dos anos, e o encerramento progressivo das referidas 'discotecas de vão de escada', a vida nocturna portuguesa foi-se, aos poucos, tornando cada vez mais linear, ainda que sem deixar de apresentar precisamente os mesmos desafios para os adolescentes lusos, que, presume-se, continuam a tentar de tudo para conseguirem entrar, tenham ou não a idade adequada. Ainda assim, para os ex-jovens de finais do século passado e inícios do corrente (muitos dos quais são, agora, pais dos referidos adolescentes modernos) as primeiras saídas à noite deram-se numa altura e contexto muito específicos, que as tornaram ocorrências ainda mais memoráveis; que o diga quem, alguma vez, conseguiu 'endrominar' um segurança, e acabou a noite com mil e uma histórias para fazer inveja aos colegas de turma no dia seguinte ou quem, pelo contrário, não foi convincente o suficiente na sua tentativa, e acabou 'recambiado' para casa no autocarro nocturno, à uma da manhã...

04.06.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Após vários anos de obsolescência lenta, mas ainda assim óbvia para quem estivesse atento, o inevitável acabou mesmo, nestes últimos anos, por acontecer: o formato CD tornou-se obsoleto. O inovador e aparentemente perene substituto do disco de vinil, símbolo máximo do amor de toda uma geração pela música (tal como o vinil o havia sido para a geração anterior) vê-se, hoje em dia, substituído a larga escala pelo ubíquo formato 'streaming', sendo já poucos os artistas que se preocupam em lançar os seus novos trabalhos em CD, optando a maioria por pô-los directamente no YouTube, iTunes e Spotify, e deixar que sejam as tournées a render os esperados dividendos.

Por muito sentido que faça nos tempos que correm, no entanto (e faz) este método continua a 'ficar atravessado na garganta' à geração que cresceu rodeada de dezenas de CDs, e para quem um sítio era, acima de todos os outros, local de romaria (no mínimo) semanal: as lojas de discos.

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Para um melómano, esta era uma visão do paraíso - ou, pelo menos, uma garantia de uma tarde bem passada

No mínimo tão emblemáticas das décadas de 80 e 90 como os videoclubes ou os salões de jogos, as discotecas - não as da noite, de que eventualmente aqui falaremos, mas as de vendas de CDs – surgiam, em Portugal, em dois grandes tipos: por um lado, os 'franchises' - de que eram exemplo máximo a Valentim de Carvalho e a 'resistente' Fnac, e que incluíam ainda a saudosa Bimotor (ainda em actividade, acredite-se ou não!) e a Virgin Megastore, em Lisboa - e por outro as discotecas 'independentes', aqueles espaços escuros, esconsos e vagamente duvidosos encontrados quase exclusivamente em caves de centros comerciais 'manhosos'.

E enquanto as primeiras eram o local de compra de discos (e não só) por excelência para o comum cidadão português daquela era, era nas segundas que se encontrava aquele tipo muito especial de amante de música, cuja paixão se traduzia na disposição para passar várias horas a 'remexer' em literais caixotes de CDs dos mais obscuros artistas imagináveis, à procura daqueles 'tesouros' a preço reduzido, injustamente ignorados pelos restantes visitantes – e só quem passou por essa experiência sabe descrever a sensação de sair de uma qualquer discoteca 'de vão de escada' com uma pilha de discos prontos a levar para casa e descobrir, em volume máximo ou com auscultadores, na aparelhagem, 'tijolo' ou Discman.

De facto, ambos os tipos de loja eram tão populares que constituíam locais perfeitamente válidos para uma Saída de Sábado com os amigos – parte da diversão da qual consistia em tecer comentários sobre alguns dos items mais 'bizarros' encontrados nos escaparates, bem como em tirar partido das habituais 'estações de escuta' para ouvir aqueles 'hits' mostrados no Top + ou ficar a conhecer as mais recentes novidades dentro do seu estilo musical de eleição; mesmo que não se comprasse nada, era garantia de uma tarde bem passada, e sem grandes 'asneiras'.

Infelizmente, e conforme referimos no início deste texto, o actual panorama musical impossibilita completamente o ressurgimento deste tipo de lojas; as poucas que restam apoiam-se numa vertente nostálgica, e quanto ao futuro, no máximo, poderá vir a haver 'estações' centralizadas de 'download' de música, as quais serão sempre, por definição, muito mais impessoais que as antigas discotecas, sobretudo as independentes; resta, pois, à geração que cresceu a 'vasculhar' nestes estabelecimentos à procura da próxima adição à colecção musical recordar esses tempos que já não voltam, e tentar transmitir às novas gerações 'digitalizadas' o quão marcante acabava por ser cada visita e um desses espaços...

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