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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.02.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E em pleno período de Carnaval, nada melhor do que recordar aquele que foi um dos discos de maior sucesso entre a 'criançada' portuguesa noventista, e que tinha como intérpretes uma dupla de palhaços, um dos símbolos máximos desta época do ano.

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Capa e alinhamento do álbum.

Falamos do primeiro dos quatro (!) álbuns alusivos ao programa infantil Batatoon, lançado em 1999, e que foi talvez o expoente máximo do 'império' comercial derivado daquele que foi, também, um dos maiores sucessos da década junto do público-alvo, cuja licença se estendia ainda a uma revista e a um sem-número de produtos com as caras dos apresentadores Batatinha e Companhia; no entanto, era mesmo o CD ou cassette que os pequenos fãs do programa mais procuravam, tendo-se este álbum rapidamente tornado um êxito, não só em termos de vendas, mas também de popularidade entre a demografia em causa.

As razões para tal estatuto eram simples, e estavam ligadas ao facto de, ao contrário de outros álbuns infantis licenciados do mesmo período, como o d''Os Patinhos', este lançamento consistir, não apenas de duas ou três faixas 'licenciadas' – neste caso, os dois temas-título e a música dos 'Parabéns', as músicas mais populares do programa - rodeadas de versões de cantigas do domínio público; em vez disso, o restante alinhamento consistia de músicas verdadeiramente ouvidas no contexto do programa da TVI, aproximando assim o disco de algo como 'As Canções do Lecas' ou dos álbuns do Buereré ou da Arca de Noé, que se podem considerar seus precursores directos

O que muitas das crianças que vibravam ao som de 'Croc Croc' ou 'O Cãozinho Entra na Roda' certamente não saberiam à época era que estas mesmas músicas eram adaptações quase directas do repertório da famosa Xuxa, lenda viva dos programas infantis brasileiros, ou de outros conjuntos infantis daquele país, como o Trem da Alegria, com apenas muito ligeiros ajustes de linguagem para os trazer do Português do Brasil para o europeu, reduzindo assim a necessidade de compôr e gravar temas originais...

Comparação entre a versão original brasileira de 'Croc Croc' e a adaptação portuguesa incluída no álbum.

Mérito, ainda assim, para os dois intérpretes, que conseguiram não só 'trazer' estas músicas para o outro lado do Oceano Atlântico, mas também torná-las sucessos junto de um público infantil algo diferente do do brasileiro – até porque muitos destes temas tinham já mais de uma década de existência quando 'aterraram' na Península Ibérica pela mão dos dois palhaços. E apesar de muitas das crianças que corriam às prateleiras das lojas de discos ou supermercados para adquirir o CD só quererem ouvir o 'Ba Bata Batatoon' ou o tema de abertura, a verdade é que Batatinha e Companhia (ou os seus produtores) ofereciam um produto mais cuidado e completo do que a média, fazendo com que o dinheiro investido neste álbum ou nos seus sucessores directos se pudesse considerar bem gasto.

 

14.11.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E porque um dos discos mais importantes da maior e mais duradoura instituição do pop-rock português completou há duas semanas exactos trinta anos (e por, nessa Segunda, termos estado ocupados a celebrar o Halloween falando dos 'bruxos' Moonspell), nada mais justo do que lhe dedicarmos algumas linhas deste nosso espaço sobre música marcante da nossa época.

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Falamos de 'Dizer Não de Vez', o primeiro de quatro discos lançados durante a última década do século XX pelos lendários Xutos & Pontapés, à época já nome maior do rock português (com orçamento e liberdade criativa a condizer) mas ainda com as ganas e a 'pica' que viriam, drástica e dramaticamente, a perder na época seguinte. E é precisamente essa conjugação de experiência e genica que faz do disco de 1992 (bem como do seu sucessor, lançado no ano seguinte) uma das melhores obras na vasta discografia do conjunto lisboeta, reconhecida como tal mesmo entre os fãs da época, que levaram o single 'Chuva Dissolvente' ao primeiro lugar do 'top' nacional de singles. E com razão - inicialmente concebido para ser um álbum duplo (mais tarde dividido em dois por imposição da Polygram, numa obrigação contratual pouco apreciada pelo quinteto mas que acabou por lhe render dois sucessos de vendas, em vez de apenas um em formato duplo) 'Dizer Não de Vezº é um álbum absurdamente homogéneo, repleto de uma ponta à outra com o estilo de 'malhas' a que os Xutos já vinham habituando os ouvintes de 'rock' comercial 'made in Portugal'. Temas como o supracitado 'Chuva Dissolvente', 'Hás-de Ver', o psicadélico 'Lugar Nenhum', os resquícios da fase 'punk' 'Dia de S. Receber' (a melhor do disco) e 'Lei Animal', ou o encerramento com o bem típico 'O Que Foi Não Volta a Ser' tornam este álbum de aquisição obrigatória, não só para admiradores do grupo, mas também por quem queira saber a que soa o bom 'pop-rock' português de cunho clássico.

Assim, e apesar de o grupo considerar que a divisão de temas com 'Direito ao Deserto' influenciou negativamente o produto final em termos de alinhamento e conceito, 'Dizer Não de Vez' afirma-se como obra absolutamente essencial, não só no cômputo da discografia dos Xutos, como do pop-rock noventista português (nem mesmo o próprio grupo a conseguiu jamais suplantar em qualquer momento posterior) e merecendo bem esta homenagem (ainda que atrasada) no mês do seu trigésimo aniversário.

 

17.09.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

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O mítico Whispers (mais tarde Metropolis Club) na zona de Picoas, em Lisboa, foi uma das mais emblemáticas discotecas da viragem do milénio

De entre os muitos rituais de passagem da infância para a adolescência vigentes em finais da década de 90 e inícios da seguinte (alguns dos quais já aqui anteriormente abordados), um dos mais significativos era a ida a uma discoteca (no sentido de clube nocturno, bem entendido, e não de loja de discos). Isto porque, numa altura em que os referidos espaços transitavam do modelo 'boîte' de décadas anteriores – que exigia roupa a preceito e oferecia um ambiente selecto – para a vertente mais generalista já existente em outros países, os mesmos eram vistos como os locais ideais para a prossecução de novas experiências, de índole mais ou menos arriscada; assim, muitos jovens da época, sobretudo do ensino secundário, engendravam planos, muitas vezes mirabolantes, para conseguir 'dar a volta' aos seguranças e obter acesso ao 'paraíso' de decadência que imaginavam existir para lá do limiar daquelas portas.

Para alguns, no entanto, nem sequer eram precisos esquemas, bastando mentir mais ou menos convincentemente sobre a idade, e esperar que a 'peta' 'colasse' junto da equipa de porteiros e segurança; claro que, na maior parte das vezes, eram as raparigas quem tinha mais sorte neste capítulo, sendo que os elementos do sexo masculino tinham maior propensão para se verem 'convidados' a voltar para casa, e voltar quando tivessem a idade legal para entrar (que, à época, se fixava nos dezasseis anos), Em discotecas maiores e mais centrais, no entanto, até mesmo as 'miúdas' se poderiam ver barradas, dado o maior nível de escrutínio e a segurança mais apertada por oposição às caves de centros comerciais moribundos onde muitos jovens dos anos 90 tiveram a sua iniciação à vida nocturna.

Com o passar dos anos, e o encerramento progressivo das referidas 'discotecas de vão de escada', a vida nocturna portuguesa foi-se, aos poucos, tornando cada vez mais linear, ainda que sem deixar de apresentar precisamente os mesmos desafios para os adolescentes lusos, que, presume-se, continuam a tentar de tudo para conseguirem entrar, tenham ou não a idade adequada. Ainda assim, para os ex-jovens de finais do século passado e inícios do corrente (muitos dos quais são, agora, pais dos referidos adolescentes modernos) as primeiras saídas à noite deram-se numa altura e contexto muito específicos, que as tornaram ocorrências ainda mais memoráveis; que o diga quem, alguma vez, conseguiu 'endrominar' um segurança, e acabou a noite com mil e uma histórias para fazer inveja aos colegas de turma no dia seguinte ou quem, pelo contrário, não foi convincente o suficiente na sua tentativa, e acabou 'recambiado' para casa no autocarro nocturno, à uma da manhã...

06.09.22

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 05 de Setembro de 2022.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Para a juventude portuguesa de finais dos anos 90 (como, presumivelmente, para as de outras décadas) há músicas que ficam, indelevelmente, ligadas a certos anos, e sobretudo à época de Verão, em que a disponibilidade e oportunidades para ouvir e apreciar música aumentam; e se o Verão de 1997 foi, sem dúvida, dominado pelo êxito dos escandinavos Aqua, 'Barbie Girl', houve outra música que – sobretudo para fãs de videojogos ou de música mais alternativa – também não deixou de marcar a segunda metade daquele ano, e a primeira do seguinte.

Falamos de 'Firestarter', primeiro single retirado do terceiro álbum de um colectivo britânico que, apesar de vir já 'fazendo algumas ondas' no seu país natal, era ainda maioritariamente desconhecido por terras lusas, situação que se alterou quando o referido tema surgiu como parte da banda sonora de 'Wipeout 2097', o jogo de corridas futurista que constituiu um dos maiores sucessos do ano - e de toda a biblioteca das consolas em que foi lançado, a Playstation e a Sega Saturn – muito graças à sua banda sonora, que incluía nomes tão sonantes no meio da electrónica como Chemical Brothers, Underworld, e o colectivo em causa, The Prodigy.

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Formados no condado de Essex, a sul de Londres, logo no início da década, o projecto liderado por Liam Howlett e que tinha como 'cara' o dançarino e vocalista Keith Flint tinha, desde então, vindo a construir 'a pulso' a sua reputação entre os 'ravers' britânicos, tendo os seus dois primeiros álbuns – os excelentes 'The Prodigy Experience', de 1992, e 'Music For The Jilted Generation', de 1994 – granjeado desde logo considerável sucesso não só junto dessa mesma demografia, mas também de uma população generalista - os dois singles retirados de 'Experience', por exemplo, chegam ao Top 5 de música nas Ilhas Britãnicas, e 'Music...' ocupa o primeiro posto do 'top' de álbuns do país logo desde o seu lançamento.

No estrangeiro, no entanto, o nome 'The Prodigy' só se popularizaria mesmo após o lançamento de 'Firestarter', que – com a irreverente prestação vocal de Flint e os característicos coros de 'hey-hey-hey' – ajuda também a propulsionar as vendas do terceiro álbum do colectivo, 'The Fat of the Land'. Longe de se 'apoiar' no single e mega-sucesso, no entanto, o álbum com o icónico caranguejo na capa oferece a quem o adquire um punhado de músicas tão boas como 'Firestarter' (ou mesmo melhores, como o segundo single, 'Breathe', um dos clássicos do grupo) o que só ajuda a cimentar a reputação de Howlett, Flint e companhia junto da sua demografia-alvo – que, curiosamente, inclui uma parcela considerável de fãs de 'rock', um sector da população que, regra geral, não tende a gravitar para grupos de electrónica pura e dura como é o caso dos ingleses; o controverso tema de abertura do álbum, 'Smack My Bitch Up', era mesmo alvo de atenção por parte de rádios de pendor mais 'rock', o que talvez tenha contribuído para este sucesso inter-demográfico.

Escusado será dizer que, obtido o reconhecimento, o nome e a música dos Prodigy não tardou em começar a aparecer associado a outros meios, ficando particularmente na memória o assombroso 'trailer' da 'Manga Vídeo' editado ao som de 'Voodoo People', outro clássico do grupo, este retirado do seu segundo álbum. Naquele Verão de 1997 e inícios de 1998, o colectivo britânico parecia inescapável, tendo mesmo conseguido a 'proeza' de render a então todo-poderosa MTV aos seus encantos – 'Smack My Bitch Up' arrecadava não um, mas dois prémios na edição de 1998 dos igualmente influentes Video Music Awards realizados anualmente pelo canal.

Um dos melhores anúncios alguma vez exibidos em Portugal teve música do colectivo

O que ninguém podia prever, no entanto, era que os Prodigy entrassem em hiato menos de dois anos após o lançamento do seu maior êxito discográfico; foi, no entanto, precisamente isto que se passou, com a saída de Leeroy Thornhill, parceiro de Flint na 'linha da frente', a precipitar uma 'pausa' de três anos na carreira do colectivo. O regresso dava-se com 'Always Outnumbered, Never Outgunned', de 2001, álbum de sonoridade pouco característica e, como tal, considerado inferior e algo 'esquecido' na discografia do grupo; o verdadeiro 'som Prodigy' só retornaria, pois, em 'Invaders Must Die', de 2008, que se posiciona como o sucessor natural de 'Fat', não só pela sonoridade mas também por assinalar a reunião dos três membros originais do grupo, com Thornhill a regressar finalmente ao seio da banda. 'Omen' e a devastadora faixa-título são excelentes cartões de visita, mostrando o grupo no seu melhor e juntando-se merecidamente à lista de clássicos dos Prodigy,

Após este lançamento, no entanto, o grupo volta a não conseguir atrair atenções com os próximos dois álbuns, ficando tanto 'The Day Is My Enemy', de 2015, como 'No Tourists', de 2018, restritos apenas a uma audiência de 'fiéis convertidos' – fiéis esses que recebem com choque e horror a notícia da morte de Keith Flint, encontrado sem vida na sua casa em Essex a 4 de Março de 2019. Longe de acabar com a carreira do projecto, no entanto, a morte do vocalista, dançarino e fundador apenas inspira os dois membros restantes do projecto a lançar nova música e a partir em digressão – um objectivo que realizam em 2022, com uma série de dez datas no seu país natal a assinalar um quarto de século sobre o lançamento de 'The Fat of The Land'. E a verdade é que, ainda que esse álbum tenha, sem dúvida, apresentado o grupo a muitos futuros fãs, para outros tantos jovens portugueses, o mesmo continua a ser sinónimo com a música do grupo, e o único elemento da mesma que alguma vez conheceram. Mesmo esses, no entanto, não hesitarão em reconhecer o 'poder de fogo' de 'Firestarter', um dos maiores sucessos musicais entre a 'malta jovem' não só do seu ano, mas de toda a ponta final do século XX.

25.07.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Quando se pensa em colectâneas disponíveis em Portugal na década de 90, os títulos que tendem, imediatamente, a vir à memória são, sobretudo, os das lendárias séries Electricidade (da Rádio Cidade) e Now! That's What I Call Music, que – entre elas – ajudaram a moldar o gosto musical de muitos jovens da época. No entanto, estas estavam longe de ser as únicas representantes desse tipo de lançamento; pelo contrário, o mercado fonográfico português viu vários outros títulos deste tipo surgir nos escaparates ao longo dos últimos dez anos do século XX, contando-se entre as mais memoráveis 'The Beautiful Game' (a colectânea do Euro '96, de que já aqui falámos) 'Fido Apresenta Número 1' (da qual, paulatinamente, aqui falaremos) e a dupla de que falamos hoje, intitulada 'Street Sounds From Sony'.

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Compostos por uma ecléctica mistura de europop, pop rock, hip-hop e electrónica, os dois volumes da série foram lançados em anos consecutivos de meados da década pela fabricante japonesa - quando a mesma ainda era associada, sobretudo, a produtos áudio, e não tanto a consolas -  e incluídos, a título de oferta, na compra de um dos sistemas de som portáteis da marca, os carinhosamente apelidados 'tijolos', presumivelmente como método para comprovar as capacidades reprodutivas dos mesmos - por aqui, por exemplo, recebeu-se o segundo volume, de 1995, ano em que surgiu lá por casa o primeiro destes aparelhos. Assim, quem adquirisse uma 'boombox' da marca não só passava a ser dono de uma excelente 'fábrica de produção de mixtapes' como de uma espécie de 'mixtape oficial', seleccionada e curada pela própria Sony Europa (a compilação é de origem holandesa), o que não deixava de ser um atractivo de peso no momento da decisão sobre que fabricante escolher, independentemente de se ser ou não fã dos artistas incluídos.

E por falar nestes, os mesmos serviam de exemplo quanto à diversidade do catálogo do braço editorial da companhia à época, incluindo nomes tão díspares como Cypress Hill, Alice in Chains, Meatloaf ou uma Celine Dion pré-fama interplanetária (no primeiro volume) e Bad English, The Jacksons, Toto, Cyndi Lauper ou Apollo 440 (no segundo); curiosamente, ambos os discos incluíam ainda músicas de Culture Club e Gloria Estefan, os únicos dois 'repetentes' entre volumes. No total, eram vinte e nove faixas (catorze no primeiro volume e quinze no segundo) que só deixavam mesmo de fora os estilos mais pesados, sendo que até mesmo as lendas do 'grunge', Alice in Chains, surgiam com um dos seus temas em registo mais acústico e acessível, no caso 'No Excuses'; de resto, havia mesmo algo para todos os gostos, sendo provável que a maioria dos jovens que adquirisse um destes CD's encontrasse, pelo menos, um par de faixas que fosse do seu agrado.

Em suma, apesar de algo limitados pelo conceito e editora, estas duas colectâneas não deixavam de cumprir com louvor a sua função de apresentar a uma nova audiência alguns dos principais artistas dos respectivos anos, bem como de anos transactos – o que, associado ao seu cariz promocional e de oferta, os terá certamente tornado parte muito apreciada das colecções de CD de muitos jovens lusitanos da época. Por aqui, pelo menos numa primeira fase, era certamente esse o caso...

27.06.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Hoje em dia, o conceito de uma estação de rádio é, para todos os efeitos, obsoleto; com todos os elementos que a mesma oferece – da música à informação - à distância de alguns cliques ou toques no ecrã, a única função que este tipo de órgão continua a servir é a de acompanhar motoristas solitários nas suas viagens diárias – e mesmo esse fim já vem sendo, cada vez mais, realizado por 'podcasts', 'audiobooks' e playlists do Spotify, anunciando o fim próximo da rádio como a conhecemos.

Nos anos 90, no entanto, o paradigma era significativamente diferente; a Internet era um conceito embrionário, a música era ainda obtida maioritariamente em formato físico (e, como tal, difícil de ouvir 'a pedido') e as estações de rádio mais famosas em Portugal tinham estatuto suficiente para lançar discos inteiros de músicas da sua rotação, e ter relativa certeza de que os mesmos encontravam o seu público. Foi assim com as perenes RFM e Rádio Comercial, com a meteórica e saudosa Mega FM, e – mais memoravelmente – com a Rádio Cidade, a estação luso-brasileira conhecida (e, hoje, recordada) tanto pelo seu foco no 'dance-pop' como pela lendária colecção de colectâneas de música de dança que editou na metade final da década de 90 e inícios da seguinte.

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Intitulada 'Electricidade', mesmo nome do mais famoso programa da emissora, esta memorável série de álbuns foi lançada pela Vidisco a partir de 1994, a um ritmo anual, e durante quase uma década (o último registo disponível na Internet é referente à edição de 2003), tendo-se, por isso, naturalmente tornado presença assídua tanto nas prateleiras das lojas de discos como na estante de muitos jovens fãs do género. O facto de cada nova colectânea trazer, invariavelmente, as últimas novidades da música de dança do respectivo ano, com particular foco na cena 'Eurodance' (que, à época, englobava desde novos e entusiasmantes estilos oriundos do Reino Unido até 'remixes' 'foleiras' de temas clássicos feitas 'a martelo' na Alemanha) também ajudava a assegurar a compra de cada nova edição, tanto por parte da base de fãs já existente, como de outros 'curiosos' relativamente ao estilo em causa, para quem a série acabava por representar uma espécie de alternativa às não menos lendárias colectâneas 'Now!', cujo foco era mais generalista.

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O alinhamento da edição de 95 desta colectânea

Assim, não é de estranhar que cada novo capítulo desta saga musical (sempre devidamente identificada pelo inconfundível logotipo, perceptível à distância, e pela mascote muito, muito '90s') fosse acolhido com entusiasmo pelo seu público-alvo - o qual, aliás, nem precisava de se deslocar à discoteca mais próxima para o adquirir, visto estas colectâneas serem presença frequente, também, naqueles escaparates de 'cassettes' e CD's existentes em tabacarias e bombas de gasolina pelo País fora. 

Com tão perfeita junção de oferta e procura, não é, pois, de admirar que todos os discos da série – mas particularmente as edições de 1996 e 1998 – tenham gozado de considerável sucesso, devendo-se a sua extinção, não a algum decréscimo de vendas, mas apenas à mudança de foco levada a cabo pela Rádio Cidade a partir de meados dos anos 2000; caso contrário, é de imaginar que estas colectâneas tivessem perdurado durante mais algum tempo, pelo menos até o próprio formato CD se tornar obsoleto. No entanto, talvez tenha sido melhor assim – ao 'desaparecer de cena' antes de o seu formato se esgotar ou tornar cansativo, as colectâneas Electricidade asseguraram um lugar nas memórias nostálgicas de toda uma geração que as comprou anualmente, e a quem ajudaram a definir o gosto musical...

 

 

04.06.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Após vários anos de obsolescência lenta, mas ainda assim óbvia para quem estivesse atento, o inevitável acabou mesmo, nestes últimos anos, por acontecer: o formato CD tornou-se obsoleto. O inovador e aparentemente perene substituto do disco de vinil, símbolo máximo do amor de toda uma geração pela música (tal como o vinil o havia sido para a geração anterior) vê-se, hoje em dia, substituído a larga escala pelo ubíquo formato 'streaming', sendo já poucos os artistas que se preocupam em lançar os seus novos trabalhos em CD, optando a maioria por pô-los directamente no YouTube, iTunes e Spotify, e deixar que sejam as tournées a render os esperados dividendos.

Por muito sentido que faça nos tempos que correm, no entanto (e faz) este método continua a 'ficar atravessado na garganta' à geração que cresceu rodeada de dezenas de CDs, e para quem um sítio era, acima de todos os outros, local de romaria (no mínimo) semanal: as lojas de discos.

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Para um melómano, esta era uma visão do paraíso - ou, pelo menos, uma garantia de uma tarde bem passada

No mínimo tão emblemáticas das décadas de 80 e 90 como os videoclubes ou os salões de jogos, as discotecas - não as da noite, de que eventualmente aqui falaremos, mas as de vendas de CDs – surgiam, em Portugal, em dois grandes tipos: por um lado, os 'franchises' - de que eram exemplo máximo a Valentim de Carvalho e a 'resistente' Fnac, e que incluíam ainda a saudosa Bimotor (ainda em actividade, acredite-se ou não!) e a Virgin Megastore, em Lisboa - e por outro as discotecas 'independentes', aqueles espaços escuros, esconsos e vagamente duvidosos encontrados quase exclusivamente em caves de centros comerciais 'manhosos'.

E enquanto as primeiras eram o local de compra de discos (e não só) por excelência para o comum cidadão português daquela era, era nas segundas que se encontrava aquele tipo muito especial de amante de música, cuja paixão se traduzia na disposição para passar várias horas a 'remexer' em literais caixotes de CDs dos mais obscuros artistas imagináveis, à procura daqueles 'tesouros' a preço reduzido, injustamente ignorados pelos restantes visitantes – e só quem passou por essa experiência sabe descrever a sensação de sair de uma qualquer discoteca 'de vão de escada' com uma pilha de discos prontos a levar para casa e descobrir, em volume máximo ou com auscultadores, na aparelhagem, 'tijolo' ou Discman.

De facto, ambos os tipos de loja eram tão populares que constituíam locais perfeitamente válidos para uma Saída de Sábado com os amigos – parte da diversão da qual consistia em tecer comentários sobre alguns dos items mais 'bizarros' encontrados nos escaparates, bem como em tirar partido das habituais 'estações de escuta' para ouvir aqueles 'hits' mostrados no Top + ou ficar a conhecer as mais recentes novidades dentro do seu estilo musical de eleição; mesmo que não se comprasse nada, era garantia de uma tarde bem passada, e sem grandes 'asneiras'.

Infelizmente, e conforme referimos no início deste texto, o actual panorama musical impossibilita completamente o ressurgimento deste tipo de lojas; as poucas que restam apoiam-se numa vertente nostálgica, e quanto ao futuro, no máximo, poderá vir a haver 'estações' centralizadas de 'download' de música, as quais serão sempre, por definição, muito mais impessoais que as antigas discotecas, sobretudo as independentes; resta, pois, à geração que cresceu a 'vasculhar' nestes estabelecimentos à procura da próxima adição à colecção musical recordar esses tempos que já não voltam, e tentar transmitir às novas gerações 'digitalizadas' o quão marcante acabava por ser cada visita e um desses espaços...

24.01.22

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na década de 90, ser apresentador de programas infantis equivalia, praticamente, a ter o estatuto de celebridade entre a faixa mais nova da população. Dos apresentadores do Clube Disney a nomes icónicos como Ana Malhoa ou Carlos Alberto Moniz, passando pelo elenco da Rua Sésamo ou (mais tarde) pelo palhaço Batatinha, os anfitriões das horas dedicadas à criançada atraíam, muitas vezes, audiências por si só, com o seu carisma e entusiasmo quanto à tarefa de apresentar desenhos animados ou convidados musicais, ou servir de árbitro a jogos.

Este estatuto fazia, naturalmente, com que o referido público se mostrasse, à partida, predisposto a adquirir todo e qualquer produto directamente relacionado com os referidos nomes – em particular, no tocante a registos fonográficos. Das 'Canções da Rua Sésamo' ao disco de Ana Malhoa e Hadrianno ou o primeiro CD de músicas do Batatoon, são inúmeros os exemplos de lançamentos que não deveriam ter resultado, mas que acabaram por se revelar sucessos de vendas.

A esta lista, há que adicionar uma obra menos 'mediática', mas não menos recordada por quem era da idade certa em inícios de 90: 'As Canções do Lecas', o primeiro e único registo discográfico do então mega-popular personagem infantil criado e interpretado por José Jorge Duarte.

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À semelhança dos registos anteriormente mencionados, 'As Canções do Lecas' consiste de doze canções (seis por lado do disco de vinil) de pop-rock dançável, típico da época, com temas relevantes para a faixa etária a que se destinava (como os factos sobre animais, a segurança rodoviária, ou simplesmente uma lista-rol de referências aos mais populares heróis de ficção e banda desenhada da época) e refrões orelhudos trauteados por Lecas na sua voz nasalada, com a ajuda de um coro infantil.

E aqui, há que ressalvar que – ao contrário da maioria dos registos contemporâneos do estilo – quem canta aqui é mesmo Lecas (o personagem de mentalidade infantil que apresentava a popular 'Hora do Lecas' na RTP) e não o seu criador; à semelhança da dupla Batatinha e Companhia alguns anos mais tarde, José Jorge Duarte veste o personagem durante toda a duração do álbum, tanto nas letras como na própria interpretação dos temas. A diferença é que, ao contrário do que acontecia com o CD do Batatoon, estes temas são todos originais, não havendo lugar a quaisquer adaptações de temas 'sacados' a programas infantis de outros países.

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O alinhamento de músicas do álbum

O resultado, diga-se de passagem, salda-se por extremamente positivo, mesmo de uma perspectiva adulta; este é daqueles discos que leva a sério e trata com respeito o seu público-alvo, e como tal, pode ser apreciado como obra musical por direito próprio, ao invés de mero artigo de 'marketing' ligado a uma propriedade intelectual popular.

Infelizmente, e apesar da sua qualidade, este registo não goza, hoje em dia, da popularidade ou volume nostálgico de qualquer dos discos citados acima, tendo um estatuto mais 'de culto' entre quem era fã do programa e da idade certa para o apreciar; uma pena, visto tratar-se de um registo que, como o grupo atrás mencionado certamente atestará, era merecedor de bem maia reconhecimento...

 

 

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