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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

03.02.25

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

As colectâneas de músicas populares ou de domínio público interpretadas por artistas ou grupos anónimos têm, desde sempre, representado uma forma fácil e em conta de fazer dinheiro, através da combinação vencedora entre a intemporalidade dos repertórios e a ausência de quaisquer encargos monetários, àparte os da própria produção e edição dos discos; e, sendo pródigo neste tipo de canção, não é de estranhar que o mercado infanto-juvenil tenha, também ele, visto surgirem ao longo dos tempos inúmeros exemplos de colectâneas deste género, algumas mais cuidadas e com tentativas de preservação histórica e cultural, e outras mais declaradamente oportunistas, muitas vezes tendo como base e 'cara' um fenómeno então popular entre a demografia-alvo. Como tantas vezes sucede, no entanto, é no meio que está a virtude – e é, também, no meio que se situa o disco de que falaremos em mais esta Segunda de Sucessos.

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Lançado algures há trinta anos (embora o dia e mês sejam incertos) pela inevitável Vidisco, 'Caixinha de Sonhos – Canções Infantis' encaixa-se perfeitamente na descrição feita no início deste texto, apresentando duas dezenas daquele tipo de temas que qualquer criança aprende 'por osmose' entre amigos, na escola ou como 'ladainha' para brincadeiras tradicionais de rua ou jogos de 'palminhas'. Ou mais precisamente, três quartos do disco são compostos deste tipo de material, ficando o último reservado para temas então em alta entre a demografia-alvo - desde os genéricos de abertura de 'Pippi das Meias Altas' ou 'Vickie o Viking' até ao clássico de José Barata Moura, 'Joana Come A Papa'. O denominador comum entre estas duas vertentes é o virtual anonimato dos intérpretes, com mais de metade dos temas a ficarem a cargo de um grupo conhecido apenas como Carossel da Petizada, e os restantes a serem interpretados por cantoras (todas mulheres) e conjuntos cujos únicos outros créditos são outros discos deste mesmo tipo.

Um produto bem típico do seu género, portanto (e bem clássico, apesar do grafismo pseudo-psicadélico, bem indicativo da época de edição do trabalho) mas nem por isso menos bem conseguido ou capaz de cativar o seu público-alvo, sempre disposto a cantar, dançar e desfrutar destas 'cançonetas' clássicas, e ao qual a capa em moldes 'Photoshop sob o efeito de LSD, tão mau que é bom' não poderia deixar de agradar. É bem provável, aliás, que o mesmo se passe, ainda, com os jovens das actuais gerações Z e Alfa – ainda que, neste caso, a falta de imagens a acompanhar se possa revelar um obstáculo... Ainda assim, uma colectânea mais que meritória para partilhar com os filhos pequenos, e lhes proporcionar os mesmos momentos de que as suas mães e pais desfrutaram, trinta anos antes, com exactamente a mesma banda-sonora...

08.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 06 de Janeiro, e Terça-feira, 07 de Janeiro de 2025.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O advento e popularização do CD-ROM – e dos respectivos leitores, que substituíram as 'drives' de disquetes na maioria dos PCs a partir de meados da década de 90 – abriu toda uma nova gama de possibilidades em termos de programação, já que o novo formato tornava possível criar discos compatíveis não apenas com computadores, mas também com leitores de CD padrão. Não foi, por isso, de surpreender que um dos muitos tipos de 'software' criados e lançados na época em causa tenha tido como foco, precisamente, conteúdos musicais, que surgiam tanto em formato áudio (reproduzível num qualquer 'tijolo', aparelhagem ou Discman) como também interactivo, com acompanhamento de imagem, para quando o disco era inserido numa 'drive' de PC. Era, precisamente, esta a base de uma colecção de cinco CD-ROM dirigida a um público infantil e lançada algures em finais do ano de 1997, em conjunção com o histórico jornal Diário de Notícias, sob o nome de Cantigas de Roda.

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A colecção completa, retirada do nosso 'arquivo' pessoal.

Como a própria designação indica, o foco dos cinco volumes criados pela Cristaldata e pela Duplisoft eram as canções populares infantis passadas de geração em geração, normalmente num contexto de jogos tradicionais, de rua ou de roda (daí o nome), sendo a excepção o primeiro volume, que se focava exclusivamente em canções de temática natalícia, recolhendo exemplos de todo o País. Os restantes quatro lançamentos, no entanto, compilavam todos os clássicos do costume, lado a lado com alguns temas mais obscuras, que ajudavam também a dar a conhecer ao jovem público alguns temas menos conhecidos, e que poderiam ser do gosto do mesmo.

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O alinhamento de um dos volumes da colecção.

No cômputo geral, portanto, uma colecção que unia harmoniosamente e de forma natural o aspecto didáctico ligado à preservação da cultura popular com a diversão e alegria inerente aos temas contidos nos seus cinco volumes, criando assim uma combinação que não podia deixar de agradar à demografia a que esta colecção se destinava. Talvez por isso seja algo surpreendente ver que estas Cantigas de Roda se encontram algo Esquecidas Pela Net, obrigando a uma pesquisa muito específica (e munida de grande volume de dados) para sequer encontrar referências à mesma. Um destino algo injusto para uma série bem pensada, estruturada e conseguida (até mesmo as capas aparentemente mal feitas remetem deliberadamente à arte e pintura infantis), que 'fez tudo bem' e que, à data de lançamento, não terá deixado de granjear alguns fãs entre o segmento mais tardio da geração 'millennial'. Cabe, pois, ao nosso 'blog' servir, mais uma vez, como 'recuperador' de material (quase) perdido, e dar a recordar esta colecção, pouco depois de se completarem exactos vinte e oito anos sobre o lançamento do seu primeiro volume.

25.11.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No que diz respeito a nomes sonantes e incontornáveis da música portuguesa, há uma banda que se continua a destacar acima de todas as outras: os Xutos e Pontapés. Mesmo no ocaso da carreira e com uma fracção da relevância e base de fãs que tinham no pico da carreira, o colectivo liderado por Tim continua a ser o primeiro nome que vem à mente da grande maioria dos melómanos portugueses ao listar artistas musicais de destaque na cena nacional. É, pois, tudo menos surpreendente que os roqueiros lisboetas tenham sido alvo, por ocasião dos seus vinte anos de carreira, de um álbum de tributo, que reúne outros tantos artistas, dos mais diversos estilos, para interpretar algumas das mais conhecidas 'malhas' do grupo.

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Explicitamente intitulado 'XX Anos, XX Bandas' (aproveitando a simbologia do X, desde sempre inerente à imagem da banda) o álbum em questão era lançado algures há vinte e cinco anos, nos últimos meses do Segundo Milénio, ainda mais do que a tempo de atingir o topo das tabelas de vendas, embora não de figurar na lista dos mais vendidos do ano. E se o próprio conceito do disco já era, só por si, suficiente para assegurar o sucesso do mesmo, a Valentim de Carvalho (a editora de sempre dos Xutos) não se ficou por menos, e, ao invés de lançar algo 'amanhado' aos Pontapés, reuniu a 'nata' musical portuguesa para prestar homenagem ao grupo, sem olhar a estilos musicais - ao longo destas duas dezenas de músicas pode ouvir-se desde o rap de Boss AC ou Da Weasel ao 'grunge' de Lulu Blind, passando pelo puro punk lisboeta de Despe & Siga e Censurados (estes últimos reunidos expressamente para gravar a sua faixa para o projecto, 'Enquanto a Noite Cai'), pelo rock gótico-teatral dos Mão Morta, pelo 'folk-punk' de Quinta do Bill e Sitiados e pelo trip-hop dos Cool Hipnoise. O foco maior fica, no entanto, por conta do pop-rock, segmento em que os Xutos & Pontapés se inserem, sendo o grupo de Tim e companhia aqui homenageado por 'colegas de cena' como Clã, Jorge Palma, Ornatos Violeta, GNR, Entre Aspas, Rádio Macau, Sétima Legião ou Rui Veloso, além dos Ex-Votos, projecto de Zé Leonel, membro fundador dos Xutos e figura-chave da cena 'punk' do bairro de Alvalade, com a qual o grupo mantinha laços estreitos numa fase inicial, e cujo primeiro álbum celebra também este ano três décadas de existência. Para a 'chuva de estrelas' ficar completa, só ficou mesmo a faltar um representantes do 'heavy metal', como Moonspell ou RAMP.

Com tal diversidade musical (e por parte de um alinhamento de luxo) não é de admirar que o principal foco de interesse de 'XX Anos, XX Bandas' seja mesmo descobrir como cada um dos artistas transformou o tema original para o adaptar ao seu estilo – tal como não se afigura surpreendente que os resultados sejam algo variáveis, embora mantendo sempre o alto padrão de qualidade expectável por parte dos nomes envolvidos. Goste-se mais ou menos de um ou outro tema, no entanto, seria difícil pedir melhor tributo à maior banda portuguesa de todos os tempos, ou melhor maneira de celebrar um marco como o dos vinte anos de carreira, que o grupo assinalou também com um lendário concerto no Festival do Sudoeste, em suporte a este mesmo disco. De facto, mesmo a um quarto de século de distância, 'XX Anos, XX Bandas' continua a constituir uma excelente experiência sonora, pelo que a melhor maneira de terminar este 'post' é mesmo com a partilha do álbum em causa, disponível na íntegra no YouTube, e que permite constatar e comprovar tudo o que sobre ele foi dito nas últimas linhas. Reservem, portanto, uma hora e vinte minutos, e desfrutem de uma 'constelação' de artistas a tocar algumas das mais icónicas canções da História da música moderna em Portugal.

06.08.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na era pré-MP3 e 'streaming', proliferavam no mercado as compilações em CD e LP, visando a larga fatia de público melómano que apenas conhecia (e queria conhecer) uma ou duas músicas de cada artista, ou possuir uma colecção de 'malhas' da qual desfrutar sem grandes compromissos. E ainda que este tipo de lançamento fosse transversal a todos os estilos musicais, o mesmo era particularmente popular e ubíquo no contexto da música popular portuguesa, sobretudo a vulgarmente chamada 'música pimba'. Isto porque a Vidisco, principal editora musical portuguesa, era também 'casa' da maioria dos artistas deste género, e não tinha quaisquer pruridos em lançar números incontáveis de CD's com as músicas dos mesmos, os quais acabavam, invariavelmente, a 'povoar' os tradicionais escaparates de discos e 'cassettes' frequentemente encontrados em tabacarias ou bombas de gasolina daquele Portugal da viragem do Milénio. Muitos destes lançamentos tinham carácter anual, de forma a actualizar o alinhamento com os mais recentes sucessos de cada artista; no entanto, há cerca de um quarto de século, a editora tentou algo declaradamente diferente, lançando para o mercado, em simultâneo, nada menos do que dezasseis (!) volumes de música, cada um subordinado a um tema geral e que, juntos, formavam uma colecção, a que a editora chamou 'Top Portugal'.

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Os dezasseis volumes da colecção, lançados no mercado em simultâneo.

Compostos exclusivamente por artistas nacionais de vertente popular (embora nem todos se inserissem no estilo 'pimba') os discos da referida colecção procuravam reflectir temáticas de índole romântica, nacionalista e saudosista, apelando àqueles sentimentos que todos os portugueses nutrem tanto pelo seu País como uns pelos outros. 'Melodias de Portugal', 'Creio Em Ti', 'Vale A Pena', 'Vamos Dançar' ou 'Bailarico No Arraial' eram apenas alguns dos títulos em torno dos quais se reuníam músicas de artistas de todo o espectro popular, de Marante, Cândida Branca Flor, Diapasão ou Nucha a Ágata, Emanuel, José Malhoa, Romana ou Saul, sendo o 'peso' de cada uma destas vertentes ditado pelo tema escolhido para o disco, tendo os volumes de dança maior preponderância de artistas 'pimba', e os restantes maior ênfase em cantores românticos. Esta estratégia permitia, idealmente, apelar a toda a demografia de fãs de música popular e de baile portuguesa, maximizando assim o potencial de vendas da colecção. E a verdade é que, apesar de não ser hoje tão conhecido ou lembrado como as séries 'Número 1', 'Electricidade', 'Caribe Mix' ou outras semelhantes, 'Top Portugal' constitui uma excelente cápsula temporal da música popular portuguesa de finais do Segundo Milénio, e será ainda capaz de despertar nostalgia em todo um sector da sociedade que terá crescido a ouvir estas músicas em 'repetição' no leitor de CD lá de casa...

22.07.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

De entre todos os estilos de música moderna, talvez o mais imediatamente associado à época estival seja a música de dança, ou pelo menos, dançável – seja na sua vertente Europop, 'pimba', ou de electrónica mais 'pura e dura'. Assim, não é de estranhar que, a cada Verão, continuem a sair colectâneas (ou, nos dias que correm, 'playlists') compostas especificamente por músicas feitas para tocar num qualquer estabelecimento nocturno à beira da praia. E se, hoje em dia, a escolha dentro desta vertente é praticamente ilimitada, em finais do século XX, as colectâneas de electrónica e música de dança eram, grosso modo, sinónimas com dois nomes: por um lado, as compilações 'Electricidade', da Rádio Cidade e, por outro, a série anual 'Supermix'.

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'Supermix 5', de 1990, o primeiro volume da série misturado por um DJ português

Criada no país vizinho em meados dos anos 80, como forma de replicar 'dentro de portas' o sucesso de que o fenómeno das 'megamixes' vinha gozando a nível global, a referida série de colectâneas lograria manter-se relevante (e bem-sucedida) durante quase duas décadas, sempre fiel ao mesmo formato (excepção feita ao penúltimo lançamento, lançado já no Novo Milénio, em 2004, e que privilegiava os temas individuais em detrimento do formato homónimo da série.) No total, foram dezoito lançamentos (embora o último seja já 'póstumo') misturados por alguns dos nomes mais sonantes da electrónica espanhola e, mais tarde, também portuguesa.

De facto, embora os volumes lançados ainda nos anos oitenta tivessem ficado a cargo de DJ's espanhóis, o criador e ideólogo da série, Miquel Casas, não tardaria a tirar proveito da sua boa relação com executivos da Vidisco para dar também destaque a nomes portugueses, os quais 'entrariam em cena' a partir do quinto volume da série, e primeiro lançado na década de 90. De entre os vários nomes envolvidos, destacava-se o do DJ Jorginho, responsável pela mixagem de sete volumes consecutivos entre 1990 e 1997, ano em que 'passaria o testemunho' ao outro grande nome ligado ao Supermix, DJ Jash Hook ('nome de guerra' de Nélson Horta) que misturaria os últimos dois volumes lançados no século XX, e os dois primeiros da década, século e Milénio seguintes. O volume seguinte, Supermix 17, seria a 'excepção da regra' acima mencionada, enquanto o décimo-oitavo, lançado após um hiato de oito anos, traria misturas a cargo de Ricardo Jorge Pires, conhecido no meio como Massivedrum.

Por essa altura (2012) o meio musical, tanto em Portugal como um pouco por todo o Mundo, rumava já numa direcção mais centrada em músicas individuais e 'singles', que viria a tornar obsoleto o formato de colectânea em álbum, substituído gradual mas indelevelmente pelas 'playlists' gratuitas disponibilizadas em 'sites' como o YouTube. E embora o processo de transição para esta nova conjuntura fosse tudo menos imediato, o mesmo não deixou, ainda assim, de fazer vítimas, entre elas conceitos como o 'Super Mix', agora possíveis de forma independente, personalizada e gratuita. Ainda assim, é inegável que esta colectânea marcou época no seio do movimento da música de dança em Portugal, tanto entre os entusiastas do género como junto dos profissionais, justificando assim plenamente a sua presença nas páginas do nosso 'blog', numa altura em que começa, precisamente, a estação do ano em que desfrutaria de maior rotação em festas, bares, discotecas e praias de Norte a Sul do nosso País.

08.07.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

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Apesar de não ser imediatamente óbvia, a relação entre os mundos do futebol e da música tem, tradicionalmente, sido simbiótica. De sucessos 'pop' adaptados a cânticos (e vice-versa) a músicas especificamente conotadas com o desporto-rei, ou mesmo tematizadas em torno deste, têm sido muitos os exemplos desta sinergia desde que o futebol se tornou um espectáculo globalista e massificado; quando a este paradigma se junta também a vertente comercial a que o desporto em causa vem, cada vez mais, sucumbindo, a existência de discos oficiais para as competições internacionais da UEFA e FIFA torna-se lógica ao ponto de parecer óbvia.

E de facto, foram poucos os Campeonatos do Mundo ou Europeus dos últimos trinta anos a não se fazerem acompanhar de um álbum oficial repleto de 'malhas' evocativas do ambiente em torno da competição em causa; o primeiro grande exemplo desta tendência deu-se em 1996, quando a Inglaterra juntou dois dos seus grandes 'amores' num só conjunto de doze faixas a que chamou 'The Beautiful Game', e voltou a ser assim com quase todas as competições subsequentes, logo a começar pelas duas seguintes, nomeadamente o Mundial de França '98 e o Euro 2000. É ao álbum oficial deste último que, em época de novo Europeu, dedicamos abaixo algumas linhas.

Por comparação a 'The Beautiful Game' e até ao álbum do France '98, o disco do Euro 2000 revela desde logo uma abordagem algo distinta, mais centrada na coesão musical e criação de atmosferas do que no investimento em grandes nomes da música mundial. De facto, onde o disco de '96 trazia nomes como Jamiroquai, New Order, Primal Scream, Supergrass, Blur ou Pulp, e o de '98 contava com Ricky Martin (com a imortal 'The Cup of Life') Youssou N'Dour, Gypsy Kings, Daniela Mercury, Chumbawamba e Skank, entre outros, o único nome mais imediatamente reconhecível do álbum de 2000 será o dos pop-rockers Republica, ficando as restantes faixas a cargo de DJs e artistas de música electrónica relativamente desconhecidos fora da esfera do Europop e Euro-disco. E apesar de a estratégia escolhida até fazer sentido, dado o campeonato em causa ter sido realizado em dois dos 'centros nevrálgicos' deste estilo de música, a verdade é que essa falta de variedade e grandes nomes limitou severamente o potencial público-alvo do álbum, limitando o seu apelo a quem gostava de música electrónica na sua vertente mais 'azeiteira'.

Não quer isso dizer, no entanto, que o álbum fosse um falhanço total; nenhum conjunto de músicas encabeçado pela monstruosa 'Campione 2000' merece esse epíteto. No entanto, quando comparado aos seus dois antecessores, e a alguns lançamentos posteriores, este é, sem dúvida, um lançamento mais limitado (por definição) e, como tal, menos presente na memória colectiva dos fãs de futebol. Uma pena, já que um dos melhores Europeus de sempre merecia, decididamente, ter gozado de uma banda sonora à altura do futebol praticado...

20.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos dos três volumes de 'Canções da Rua Sésamo', os quais se juntam às 'Canções do Lecas' aos LP's da Arca de Noé, ao disco dos Patinhos e aos dois álbuns do Batatoon no panteão de lançamentos infantis ligados a programas de televisão que se revelaram sucessos por direito próprio. Tal lista não estaria completa, no entanto, sem um outro álbum, que aproveitou em pleno a presença de um nome ligado à música para conseguir alguma tracção para além dos confins das composições para crianças, e penetrar na consciência popular portuguesa durante vários anos após o seu lançamento.

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Falamos, é claro, de 'Super Buereré', também frequentemente conhecido como 'Ana Malhoa e Hadrianno', o álbum 'oficial' do icónico programa infantil de Ediberto Lima, lançado em pleno auge do mesmo, em 1996, e que pôs todo um país a recitar as cinco vogais do alfabeto latino juntamente com a 'versão portuguesa' da musa infantil brasileira Xuxa, e com um homem vestido de gorila. E se, descrito assim, o disco pode parecer um grotesco sonho febril causado pelo abuso de substâncias psicotrópicas, a verdade é que, no contexto português de meados dos anos 90, o conceito por detrás do mesmo fazia todo o sentido, juntando duas das estrelas favoritas das crianças da época – e duas das principais figuras da SIC de Ediberto Lima – numa alegada colaboração que, de facto, se ficava pelo aspecto plástico, já que o macaco Hadrianno se limitava a dançar e posar para as fotos com Ana Malhoa, a quem cabia todo o trabalho de interpretação.

Assim, mais do que uma colaboração alusiva ao programa que lhe dá título, este acabava por ser, sobretudo, mais um álbum de Ana Malhoa, então prolífica no 'universo paralelo' da música 'pimba', com a principal diferença a residir no grau de visibilidade da cantora, que abria estas doze canções a um público bem mais vasto do que o habitual. E a verdade é que o 'esquema' de Ediberto Lima resultou em cheio, não havendo criança ou jovem da época que – de forma irónica ou sincera – não soubesse entoar a 'Canção do Hadrianno' e, sobretudo, 'Começar no A', um dos 'hinos' da primeira vaga de 'millennials' lusitanos, que decerto ainda conseguem recitar de cor a letra da autoria de Toy (outro ícone da música 'pimba'), e talvez até recriar a saltitante coreografia; já das outras dez faixas, pouco reza a História, apesar de terem, decerto, servido de forma perfeitamente aceitável a sua função de 'enchimento' em torno dos dois 'singles', perfazendo um álbum que grande parte das crianças daquele ano de 1996 terá, decerto, 'implorado' aos pais para ter.

De facto, tal foi a procura pelo CD que, meses depois, o mesmo era reeditado, com capa e grafismo diferentes, a ordem das faixas alterada, e menos quatro canções (entre elas os dois 'singles', aqui presentes apenas em formato 'karaoke') sob o nome 'Super Buereré Vol. 2' – embora, ao contrário do que acontecia com os supracitados LP's da Rua Sésamo e Arca de Noé, de 'segundo' só tivesse mesmo o nome. Uma jogada de 'marketing' perfeitamente descarada, mas que terá, ainda assim, chegado para satisfazer os desejos das crianças que não tinham posses para comprar um disco inteiro, e que conseguiam, graças a este lançamento, desfrutar ainda assim de um mini-álbum, ainda que sem os dois principais 'chamarizes' do disco original.

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A capa alternativa que disfarçava o disco original de 'Vol. 2.'...

Fosse qual fosse o formato, no entanto, é inegável que 'Ana Malhoa e Hadrianno – Super Buereré' merece lugar de destaque na discografia infanto-juvenil dos anos 90, tanto pelo sucesso de que o seu programa-base gozava como pelo impacto que teve entre a sua demografia-alvo no período de doze meses imediatamente após o seu lançamento. E se dúvidas restarem, não há senão que pedir a um português nascido na segunda metade dos anos 80 para entoar a canção do alfabeto do programa, e observar o que imediatamente acontece...

Os dois mega-sucessos retirados do álbum, e inesquecíveis para qualquer ex-criança dos anos 90.

 

06.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Enquanto ícone cultural absoluto da última vaga de 'X' e primeira de 'millennials' portugueses, é com naturalidade que a 'Rua Sésamo' tem vindo a servir de tema dos mais diversos 'posts' neste nosso 'blog' nostálgico. Agora, após termos falado do programa em si, da revista que o complementava e – mais recentemente – das diversas colecções de livros que inspirou, chega o momento de falar do último artefacto cultural que o lendário programa da RTP deixou para a posteridade: os discos de canções retiradas dos episódios lançados pela Vidisco em inícios da década de 90, durante o auge da popularidade da série.

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Capa dos três álbuns da série.

Lançados ao ritmo de um disco a cada dezasseis meses (só 1991 não teve direito a uma edição da série) por razões de relevância temporal, os três álbuns de 'Canções da Rua Sésamo' seguiam uma fórmula semelhante, e já sobejamente testada nos meandros da música infantil. Cada volume reunía um número considerável de músicas retiradas de alguns dos segmentos e cenas mais memoráveis do programa, um pouco à semelhança do que sucedia, no mesmo período, com os álbuns da também mega-popular 'Arca de Noé'; a diferença, neste caso, é que os discos da Rua Sésamo contavam, ainda, com rendições de algumas das mais populares cantigas de roda e de recreio, que ajudavam a avolumar ainda mais o número de músicas de cada álbum, fazendo com que valessem o investimento por parte dos pais dos pequenos fãs do Poupas, Ferrão e restantes personagens da emissão da RTP.

Em comum, estas duas vertentes tinham a qualidade da interpretação, que, aliada à não menos excelente composição dos temas originais, contribuía para a excelente relação preço-qualidade de cada um dos três álbuns, colocando-os entre os melhores discos infantis editados em Portugal na época. E apesar de a popularidade da 'Rua Sésamo' se ter, inevitavelmente, esvaído, especialmente após o fim da emissão, não haverá, decerto, português nascido e crescido entre meados da década de 80 e os primeiros anos da seguinte que não recorde, até hoje, a letra e melodia de clássicos como 'Lixo no Lixo', 'Comigo Ninguém Faz Farinha', 'Sopa', 'O Telefone', '7 Notas Só', e tantas outras músicas que emprestavam ainda mais cor a um dos melhores programas de sempre da televisão portuguesa, e que tornavam esta série de álbuns presença obrigatória junto do gira-discos ou leitor de cassettes de qualquer criança nacional daquela época.

26.02.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

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De entre os muitos estilos que floresceram no ambiente musical dos anos 90, o rap e o hip-hop foram alguns dos mais destacados. Ainda que a génese do estilo remetesse à década transacta – que já havia dado ao movimento alguns dos seus mais clássicos artistas, como os super-grupos Sugarhill Gang, Run-DMC, Public Enemy e N.W.A., entre outros - foi nos últimos anos do século XX que o género verdadeiramente floresceu, substituindo as batidas algo primárias daqueles e outros artistas oitentistas por produções mais ricas, e conseguindo mesmo transcender o seu nicho e tornar-se conhecido a nível do 'mainstream'. No espaço de alguns anos, nomes como Dr. Dre, Snoop Dogg, Puff Daddy, DMX, Tupac Shakur, Cypress Hill ou o grupo de 'alucinados mentais' conhecido como Wu-Tang Clan tornavam-se conhecidos do melómano comum, e conseguiam mesmo que algumas das suas músicas 'caíssem no gosto' de um público mais alternativo, que se revia na indignação e frontalidade dos cantores do movimento, pesasse embora a falta de guitarras eléctricas como pano de fundo.

Escusado será dizer que não tardou até que novos artistas explorassem esta conjuntura favorável, sendo alguns deles mesmo 'protegidos' dos pioneiros do movimento; e embora nem todos estes nomes tenham tido carreiras exactamente memoráveis, há, sem dúvida, um deles que se destaca acima de todos os outros – o de um jovem caucasiano franzino, de cabelo loiro oxigenado, que, nos últimos anos do Segundo Milénio, logrou desafiar a hegemonia afro-americana do género, e lançar uma carreira que perdura até aos dias de hoje, e que não se pode considerar nada menos do que icónica. Falamos, claro está, de Marshall Bruce Mathers III, mais conhecido nos círculos do hip-hop pelo seu 'nome de guerra', Eminem.

Já conhecido nos meandros do 'underground' há mais de uma década, graças às habituais 'mixtapes' e colaborações, bem como por formar parte do grupo Dirty Dozen, ou D12, seria, no entanto, apenas nos últimos meses do Segundo Milénio que Eminem verdadeiramente atingiria a fama, através do seu segundo registo de originais, um disco que levava o nome do 'alter-ego' do 'rapper, e que muitos melómanos mais distraídos até hoje crêem ser o seu disco de estreia. Não era – essa honra pertencia a 'Infinite', lançado três anos antes, e sucedido por uma 'demo' auto-intitulada, em 1997 – mas era, sem dúvida, o disco que o catapultava para a consciência colectiva da juventude de finais do século XX, para quem se tornou quase imediatamente um ídolo, pela sua tendência para a imagética profana e deliberadamente chocante, inspirada em parte por filmes de terror. Um 'rapper' totalmente adequado para a época em que surgiu, portanto, e que não hesitou em usar esse oportunismo para demonstrar todo o seu talento, e se tornar um ícone do 'hip-hop' moderno.

Não era, de facto, apenas a 'curiosidade' de ser caucasiano, ou a quantidade de 'asneiras' e piadas 'porcas' que dizia, que tornava Eminem interessante para os jovens daquele final dos anos 90; o próprio estilo vocal e musical do 'rapper' era único e inconfundível. Numa era em que todos tentavam ser mais 'graves' do que o 'vizinho' – com alguns artistas a beirarem o 'grunhido' ininteligível – Mathers apresentava uma voz deliberadamente aguda e nasalada, de 'cana rachada', que condizia na perfeição com a letra sardónica e cómica e batidas algo 'estranha', minimalista e até 'cartoonescas«' do 'single' com que se apresentaria ao Mundo, o adequadamente intitulado 'My Name Is...'. Este diferencial distinguia-o, desde logo, da maioria dos outros artistas do género, o que, quando aliado às letras sarcásticas e provocatórias e ao seu tom de pele, colocava sobre ele um holofote muitas vezes 'iluminado' à base de controvérsias, mas que também ajudava a dar luz ao seu talento – talento esse que fica bem espelhado no álbum em análise neste 'post'.

O 'single' 'My Name Is...' assinalaria a primeira vez que grande parte do Mundo ouviria falar de Eminem.

De facto, sem ser um álbum geracional e transcendente como seria o seu sucessor directo – não há nenhuma 'Stan' em 'The Slim Shady LP' – detém ainda assim, merecidamente, o estatuto de clássico moderno do rap e hip-hop, graças a músicas como a referida 'My Name Is...', 'Guilty Conscience', 'Role Model' ou 'Just Don't Give a Fuck', esta com a participação do amigo Kid Rock, também ele, à época, um artista em ascensão.

E apesar de as restantes faixas serem menos memoráveis ou históricas – ao contrário do que aconteceria no álbum seguinte – e de o álbum ter entrado para a História sobretudo por aquilo a que deu azo nas duas décadas e meia seguintes (ao contrário, mais uma vez, do que sucede com o seu sucessor) esta quase exacta hora de música não deixa, ainda assim, de constituir um marco na música moderna, nem de ser de 'audição obrigatória' para qualquer fã do género, e merece bem ser celebrada, poucos dias depois de se ter assinalado um quarto de século sobre o seu lançamento, a 23 de Fevereiro de 1999. Parabéns, e que continue a constituir uma referência do estilo durante ainda muitos mais anos.

25.12.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Já aqui anteriormente referimos como o conceito de 'disco de Natal' faz parte daquele leque de edições que permitem, com relativamente pouco esforço e investimento, retirar lucros consideráveis; afinal, quem não gosta de dar à sua quadra festiva uma banda-sonora adequada, recheada daqueles mesmos clássicos intemporais já de há muito entrados no domínio público e, como tal, disponíveis praticamente de graça? Com isto em mente, não é de admirar que se continue a assistir a uma verdadeira 'avalanche' de edições deste tipo a cada novo mês de Dezembro, algumas com 'roupagem' ligeiramente mais atractiva, ou até mesmo licenciada, mas a maioria constante de uma selecção dos mesmos temas e artistas associados desde há décadas à época do Natal.

Um dos mais curiosos exemplos deste tipo de disco foi o disponibilizado pela marca de electrodomésticos Teka e pela revista de 'fofocas' e programação Nova Gente em inícios dos anos 90 - presumivelmente, como parte de uma promoção ou oferta na compra da revista durante a quadra em causa.

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Simplesmente e singelamente intitulado 'As Mais Belas Melodias de Natal', e com grafismo tão genérico quanto o título, trata-se de uma colecção de oito temas natalícios, com uma duração aproximada de apenas vinte e cinco minutos, na qual se misturam temas mais tradicionais com as habituais interpretações 'jazz' ou 'swing' de Bing Crosby, Doris Day e Frank Sinatra que tendem a monopolizar a programação das rádios durante este período. De singular ou único, só mesmo os enormes logos da Teka e Nova Gente impressos na capa, e que não deixa esquecer a origem nem a empresa responsável pela existência do disco - uma jogada de marketing que não deixa de ser inteligente, pese embora a natureza pouco impressionante ou memorável da edição em causa.

Talvez tenha sido essa mesma falta de 'algo mais' que fez com que 'As Mais Belas Melodias de Natal' se perdesse por completo nas 'brumas do tempo' nas três décadas desde o seu lançamento, sendo este um daqueles produtos que apenas conhecemos devido à habitual entrada no Discogs.com, aos ocasionais leilões do mesmo no OLX e por, ainda hoje, continuar a existir uma cópia na casa familiar do autor que vos escreve. Algo de estranhar, apenas, pela proveniência do disco em causa, uma daquelas 'bizarrias' que costumam dar a produtos funcionais, mas perfeitamente anónimos, um estatuto um pouco mais de culto - algo que, infelizmente, parece não se ter passado com este CD da Teka e Nova Gente, cuja memória se encontra, até agora, apenas verdadeiramente preservada pelo 'post' que acabam agora de ler.

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