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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Regra geral, no futebol moderno, as posições defensivas tendem a ter menor projecção e atenção mediática do que as atacantes; ainda assim, um defesa de categoria acima da média é bem capaz de deixar memórias e saudades entre os adeptos dos clubes que o viram brilhar. É o caso, por exemplo, de nomes como John Terry, Carles Puyol ou Paolo Maldini, a nível internacional, ou, no campeonato português, de André Cruz, Paulo Madeira, Jorge Costa, Fernando Couto, Jorge Andrade ou Ricardo Carvalho, entre outros.

Numa categoria inferior à dos supracitados, mas ainda assim merecedor do título de 'histórico' do futebol português, encontra-se o jogador que homenageamos esta semana, no dia em que completa cinquenta e três anos; trata-se de R'Ched Mounir, central marroquino que se tornou presença frequente nas cadernetas da Panini da segunda metade dos anos 90 ao serviço da Académica e que, pelas várias épocas de serviços prestados à mesma, merece a nomeação como 'Grande dos Pequenos' do campeonato português.

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Contratado pelos 'Estudantes' ao Ittihad Tanger (onde já completava a sua terceira época) no início da temporada 1996/97, R'Ched Laroussi Mounir não tardou em afirmar-se como figura de proa do clube coimbrão, 'pegando de estaca' logo na primeira época, durante a qual participou em vinte e quatro dos jogos realizados pela Académica; nas temporadas seguintes, estes números seriam ainda mais expressivos, sendo apenas na sua última época de preto e branco (a primeira do Novo Milénio) que Mounir deixaria de ser titular quase indiscutível no esteio da defesa academista, tendo ainda assim logrado realizar quinze jogos (um pouco menos de metade do total do campeonato da época) antes de se despedir dos coimbrões e regressar ao clube que o vira 'nascer' para o desporto.

Duraria apenas uma época essa segunda estadia de Mounir em Marrocos , no entanto, sendo que a época 2002/2003 o veria regressar a Portugal, para representar outro 'histórico', o Leça de Serifo e companhia. Aí, o marroquino voltaria a ser titular e peça importante da estratégia do clube nortenho, naquela que seria a sua última temporada a um nível mais alto, já que as épocas seguintes o veriam 'cair' para os escalões amadores do futebol luso, ao serviço de emblemas como o Sertanense, Sourense (onde passou três épocas, o período mais longo ao serviço de um clube desde os tempos da Académica), Eirense, Nogueirense e Marmeleira, onde viria a 'pendurar as chuteiras' sem a pompa e circunstância de que muitos dos seus contemporâneos gozavam.

Ainda assim, as cinco épocas passadas em Coimbra, num dos períodos mais memoráveis dos 'Estudantes', bem como a sua presença não só nas referidas cadernetas de cromos como também em jogos como o 'Elifoot 2', fizeram do defesa marroquino um verdadeiro 'Grande dos Pequenos', bem merecedor desta pequena homenagem por alturas do seu quinquagésimo-terceiro aniversário. Parabéns, Mounir!

12.03.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Todas as equipas e Selecções Nacionais têm os chamados 'jogadores utilitários' – nomes que, sem estarem na 'linha da frente' dos seleccionáveis, são suficientemente confiáveis para constituirem uma opção 'de banco' ou segunda linha perfeitamente viável, e como tal, recorrentemente usada. Muitos destes jogadores partilham, também, a particularidade de serem, ou terem sido, membros influentes de equipas também elas de 'segunda linha', onde acabam por se destacar o quanto baste para justificarem a contratação por emblemas maiores, ou a chamada à Selecção Nacional. O Portugal de finais do século XX não constituiu excepção a esta regra, e tanto os três 'grandes' como a Selecção das Quinas da época contavam com jogadores com este tipo de perfil, dos quais poderíamos destacar nomes como Areias, Frechaut, ou o jogador de que falamos neste Domingo Desportivo, Marco Ferreira.

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O extremo com a camisola que o notabilizou.

Um daqueles 'cromos' clássicos das antigas cadernetas da Panini, Marco Júlio Castanheira Afonso Alves Ferreira nasceu em Vimioso, no Norte de Portugal, há precisamente quarenta e cinco anos, e despontou para o futebol ainda antes da adolescência, em clubes locais como o GD Parada, o Bragança ou o local Águia do Vimioso. A carreira sénior, essa, viria a ter início no histórico Tirsense, onde Ferreira ingressaria para a época 1996-97, conseguindo amealhar dezassete exibições e dois golos na posição de extremo. A razoável época valeria ao jovem uma totalmente inesperada e surpreendente transferência para o Atlético de Madrid B, num daqueles 'passos maiores que a perna' que prejudicam a carreira de tantos jovens jogadores; apesar de este não ter sido o caso com Marco Ferreira, a verdade é que a experiência em Espanha não correu bem, tendo o extremo feito apenas quatro partidas pelos 'colchoneros' antes de rumar ao Yokohama Flugels, do campeonato japonês, no mercado de Janeiro. Também aí a vida não lhe correria de feição, tendo o jogador regressado a Portugal no final dessa época 1997-98, sem ter realizado qualquer jogo pela equipa nipónica.

Felizmente, o regresso ao nosso País permitiu a Marco Ferreira rectificar o seu percurso, tendo-se o extremo afirmado como parte importante da equipa do Paços de Ferreira na única época em que representou os 'castores': no total, foram dezanove as partidas realizadas por Ferreira com a camisola verde-amarela, apresentando-se o jogador a um nível suficientemente alto para despertar a atenção do histórico Vitória de Setúbal, adversário directo do Paços na então II Divisão de Honra; os sadinos acabariam mesmo, aliás, por fazer uma proposta pelo jogador e, no início da última época futebolística do século XX, Marco Ferreira rumaria a Setúbal para aquela que seria a melhor fase da sua carreira. No total, foram três épocas e meia com a 'listrada' sadina, sempre com influência determinante, como o comprovam as quase noventa partidas e quase dezena e meia de golos obtidos pelo extremo durante este período, e que lhe valeram as suas únicas chamadas à Selecção Nacional, todas no ano de 2002.

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Ferreira numa das suas três chamadas à Selecção.

A preponderância de Ferreira no plantel sadino levaria, naturalmente, ao interesse de um 'grande', e, no mercado de Inverno da época 2002-2003, o jogador diria adeus à 'casa' onde fora feliz e regressaria ao seu Norte natal, para integrar 'aquela' equipa do FC Porto de José Mourinho, que contava com outras caras previamente desconhecidas, como Pedro Mendes, Pedro Emanuel e Deco; e apesar de nunca ter conseguido ser mais do que um dos tais 'jogadores utilitários' no plantel dos 'Super' Dragões, o extremo conseguiria, ainda assim, comparecer por vinte e três vezes ao serviço da equipa durante a sua primeira época – uma delas na final da Liga dos Campeões, quando rendeu Capucho ao minuto 98, conseguindo assim ter o seu 'momento' europeu para mais tarde recordar.

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O jogador com a camisola do Porto.

Apesar da regularidade e utilidade como 'opção de banco' (apesar de suplente, chegou a marcar três golos pelo Porto) Marco Ferreira ver-se-ia, na época seguinte, dispensado por empréstimo para o Vitória de Guimarães, onde faria mais de vinte partidas, marcando três golos, antes de regressar ao Grande Porto para representar o Penafiel, naquela que se saldaria como a primeira experiência verdadeiramente 'falhada' desde os seus tempos de juventude: sete partidas e um golo são o saldo de meia época que não deixou grandes lembranças. Foi, pois, com alguma surpresa que os adeptos nacionais viram o extremo assinar por outro 'grande', no caso o Benfica, no início da época seguinte.

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Marco durante a infrutífera passagem pelo Benfica.

Como seria de esperar, no entanto, Ferreira nunca encontrou espaço no plantel 'encarnado', tendo-se a sua passagem pelos lisboetas traduzido em apenas cinco partidas e dois empréstimos, um dos quais o veria embarcar na primeira aventura internacional desde as suas primeiras épocas de sénior; nem a cedência ao Leicester City, de Inglaterra, nem o subsequente ingresso no Belenenses correram de feição, no entanto, com o extremo a conseguir apenas seis partidas em duas épocas, todas com a Cruz de Cristo ao peito. A dispensa do Benfica era, pois, inevitável, e os últimos dezoito meses da carreira de Marco Ferreira seriam passados na Grécia, ao serviço do Ethnikos Piraeus – experiência que tem o mérito de ser a primeira 'aventura' internacional bem sucedida para o jogador, e de lhe ter permitido retirar-se do futebol como figura proeminente do plantel de uma equipa, com trinta e dois jogos realizados ao serviço dos gregos, durante os quais contribuiu com cinco golos, uma das suas melhores marcas pessoais numa só época.

No momento da reforma, Marco Ferreira podia, pois, gabar-se de uma carreira repleta de 'aventuras' e que, apesar dos altos e baixos, o cimentou como uma das melhores e mais reconhecíveis 'segundas linhas' do futebol português da sua época – uma posição perfeitamente respeitável, e que o torna merecedor desta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, Marco Ferreira!

26.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de não constar entre os principais campeonatos mundiais, sendo as suas competições tidas como decididamente de 'segunda linha', o futebol português sempre foi exímio em formar e exportar jogadores, fossem eles jovens com potencial ou (como sucede com o futebolista de hoje) nomes já com créditos firmados 'dentro de portas'. De igual modo, apesar de a esmagadora maioria desta formação se centrar nos chamados 'três grandes' (Benfica, Sporting e Porto) por vezes, surgem em clubes algo mais periféricos jogadores cujo talento não passa despercebido – inclusivamente ao triumvirato atrás mencionado.

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O jogador ao serviço do Porto.

Pedro Miguel da Silva Mendes, médio defensivo internacional pelas Quinas que completa hoje quarenta e quatro anos de idade, foi, na década de 90, um destes raros casos, tendo o seu despontar e afirmação sido feitos ao serviço de um dos 'históricos' do futebol português, e candidatos crónicos a 'quarto grande', no caso o Vitória de Guimarães. Foi ali que, nos primeiros anos da década de 90, um jovem de apenas onze anos vindo do 'vizinho' CD Aves começou a dar nas vistas, paradigma que se manteria durante os sete anos seguintes, com Mendes a ser, inevitavelmente, um dos jogadores de destaque em todas as equipas desde o nível de Infantis até à categoria de juniores.

Ainda assim, e apesar do talento inegável e inato, a entrada do médio na equipa principal do Guimarães não foi imediata, tendo o jogador de então dezanove anos sido enviado para 'rodar' no Felgueiras no início da época 1998/99. Previsivelmente, Mendes afirmou-se como um dos destaques da agremiação felgueirense naquela temporada, um daqueles jogadores 'de outro campeonato' claramente destinados a mais altos vôos. E esses viriam mesmo a chegar, logo na época seguinte, quando o médio defensivo é finalmente integrado no plantel vimaranense, ainda que apenas como apoio ao plantel prinipal; ainda assim, o jovem chegaria a efectuar quinze jogos pelo clube nessa primeira época, contribuindo com um golo.

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Mendes no Guimarães.

Seria apenas após o virar do Milénio, no entanto, que a carreira de Pedro Mendes começaria, verdadeiramente, a despontar, com o jogador a assumir cada vez maior preponderância no seio dos 'Conquistadores', afirmando-se mesmo, eventualmente, como titular indiscutível; no total, foram quatro as épocas e mais de noventa os jogos do médio pelo seu clube do coração, tendo a sua última temporada ficado marcada por um recorde de golos – seis, o dobro dos que havia marcado nas três épocas anteriores combinadas!

Como já seria de prever, o talento e consistência exibicional de Mendes não passaram despercebidos, tendo o médio sido alvo do interesse do FC Porto de Mourinho no início da época 2003/2004 – precisamente aquela em que o emblema portuense almejou o feito mais notável da sua História. Assim, em dez meses e pouco mais de quarenta jogos, a reputação do jogador projectava-se do nível local para um patamar internacional, e aquele que, um ano antes, havia sido 'apenas' um dos médios do Guimarães possuía, agora, honras de Campeão Europeu, bem como de internacional por uma das melhores equipas portuguesas de sempre.

Também previsivelmente, esta nova reputação suscitou interesse internacional pelos serviços do jogador, o qual, apenas um par de meses após vencer a Liga dos Campeões pelo Porto, embarcava em novos desafios em Inglaterra, no caso ao serviço do Tottenham, onde chegaria a fazer uma boa época – com trinta jogos e um golo – mas onde rapidamente perderia preponderância, sendo dispensado para o Portsmouth ainda no mercado de Janeiro da sua segunda época com os 'Spurs'.

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O médio no Portsmouth.

Ali, a vida correr-lhe-ia significativamente melhor, tendo o médio rapidamente assumido um papel preponderante na luta do clube por assegurar a manutenção, e contribuído com dois golos cruciais para esse objectivo, ambos conseguidos numa inesperada vitória por 2-1 frente ao Manchester City. As duas épocas seguintes seguiriam na mesma toada, tendo a estadia de Pedro Mendes sido coroada com a conquista da FA Cup, na época 2007/2008 – um objectivo bem menos sonante do que a Liga dos Campeões conquistada apenas quatro anos antes, mas nem por isso menos meritório.

Apesar da ligação ao Portsmouth – que, inclusivamente, o veria comprar acções do clube e juntar-se a um grupo organizado de adeptos que procuravam adquirir o mesmo de forma conjunta – a carreira de Mendes sofreria nova 'reviravolta' logo na época seguinte, que veria o médio rumar à Escócia para representar um dos seus históricos, o Rangers. Ali, o português teria novo início mais que auspicioso, tendo sido seleccionado como figura do jogo logo na sua partida de estreia, e como Jogador do Mês de Agosto, após apenas algumas semanas ao serviço do clube. Estava dado o mote para mais uma excelente época, com o jogador a afirmar-se como titular dos escoceses, a contribuir com quatro golos e a carimbar o seu regresso às convocatórias da Selecção Nacional, pela qual viria a disputar tanto a fase de qualificação quanto a fase final do Mundial de 2010.

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O jogador no Rangers.

Assim, foi de forma algo surpreendente que o mercado de Janeiro da época seguinte viu o médio regressar a Portugal, agora para representar um Sporting em fase complicada; e ainda que o jogador tenha desempenhado papel importante na segunda metade da campanha dos 'Leões', alinhando em dezasseis partidas e marcando um golo, a época seguinte vê-lo-ia perder preponderância, realizano em uma época inteira o mesmo número de partidas que fizera em seis meses do ano anterior.

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Mendes no Sporting.

Por consequência, o vínculo do médio com o clube lisboeta rescindido no final da época, a fim de possibilitar um regresso do jogador a 'casa'. A última época de Mendes como futebolista profissional seria, pois, passada no mesmo local onde a sua carreira havia começado quase uma década e meia antes: em Guimarães, onde o médio voltou a ser figura de proa, realizando vinte e dois jogos pelo seu clube formador antes de pendurar definitivamente as chuteiras – um ponto final condigno numa carreira repleta de honras e pontos altos, que inscrevia o jogador na lista de expoentes máximos da História do futebol português, e sobre a qual o mesmo quererá, certamente, reflectir no dia em que completa quarenta e quatro anos. Parabéns, Pedro Mendes – que conte muitos mais!

12.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa semana em que o Sporting Clube de Braga está nas 'bocas do Mundo' por ter eliminado o Benfica da Taça de Portugal, nada melhor do que recordar um dos jogadores históricos da fase 'noventista' do clube nortenho. Não, não se trata da escolha óbvia, já que esse foi fazer História também no Benfica, na década seguinte, desqualificando-o da selecção para esta rubrica; falamos, antes, de um jogador que passou oito épocas em Portugal (seis delas em Braga) sem nunca ter querido 'dar o salto' para mais altos vôos – o ponta-de-lança Mladen Karoglan.

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O avançado com a camisola que o notabilizou.

Nome clássico dos Elifoots daqueles tempos (em que acabava, muitas vezes, a carimbar por si mesmo a subida de um clube da Quarta Divisão), Karoglan passou grande parte da sua carreira na sua Croácia natal, tendo a sua estreia como sénior tido lugar ainda no início da década de 80, pelo Hadjuk Split, onde havia feito a sua formação; sem espaço no 'grande' croata, no entanto, o jovem Karoglan teria uma única presença pelo clube, transferindo-se, logo na época seguinte, para o modesto Iskra Bugojno, onde passaria cinco épocas, com utilização apenas esporádica.

A paragem seguinte seria o também inexpressivo Dínamo Vinkovci, onde se estabeleceria finalmente como parte importante da equipa titular, justificando a transferência, logo no início da década de 90, para o NK Zagreb, onde passaria uma época, participando em quase todos os jogos e contribuindo com um golo. Uma marca escassa para um ponta-de-lança, mas que seria, ainda assim, suficiente para assegurar a Karoglan, então com 26 anos, a primeira (e única) aventura internacional - motivada, em grande parte, pela guerra então vivida na ex-Jugoslávia, conforme o avançado revelou numa entrevista anos depois.

O destino era Portugal, nomeadamente Chaves, onde o croata rapidamente se destacou pela boa química com o parceiro de ataque, o finlandês Kimmo Tarkkio, que lhe valeu a condição de titular quase indiscutível; no total, em duas épocas, o avançado realizou sessenta e duas partidas, contribuindo com dezassete golos, e deixando indicações suficientemente boas para suscitar um suposto interesse do FC Porto (que nunca se chegaria, no entanto, a concretizar) e lhe garantir a transferência para um clube do nível seguinte – no caso, o emblema onde se viria a tornar 'herói', e a terminar a carreira profissional.

Chegado a Braga no início da época 1993/94, Karoglan rapidamente se estabeleceria como pedra basilar da equipa principal, tal como já acontecera em Chaves, tornando-se muito acarinhado pelos adeptos locais ao longo das seis épocas que passou no emblema arsenalista, durante as quais partilhou o balneário com outros 'Grandes dos Pequenos', como Gamboa, bem como com futuros 'famosos' como Quim (o outro grande nome da História do clube) e Elpídio Silva. Partidas, essas, foram mais de duzentas, com cerca de sessenta e cinco golos apontados, tornando o avançado num dos melhores da História dos arsenalistas, e deixando-o com um total de oitenta e dois golos marcados em oito temporadas passadas nos campeonatos nacionais, dos quais apenas dez não foram obtidos em jogos da Primeira Divisão; uma marca que, mais uma vez, pode parecer escassa para um 'ponta-de-lança', mas que foi ainda assim suficiente – em conjunto com os restantes atributos técnicos do futebolista – para render a Karoglan o estatuto de nome lendário da Primeira Divisão nacional, e de 'grande' de um 'pequeno' que nem o era assim tanto, conforme viria a provar em anos subsequentes...

Karoglan em acção.

29.01.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Cada época da História contemporânea teve, e continua a ter, os seus desportistas lendários, não tendo os anos 90 sido excepção a esta regra. Pelo contrário, não faltaram às crianças e jovens daquela época nomes para admirar dentro do Mundo do desporto, dos inevitáveis futebolistas a condutores de Fórmula 1 ou exímios praticantes de outras modalidades, como as atletas Rosa Mota e Fernanda Ribeiro ou os basquetebolistas da NBA (e, dentro de portas, também Carlos Lisboa).

No entanto, apesar desta diversidade, é inegável que o futebol centrava, naquela época como agora, a maioria das atenções, e produzia os mais exaltados ídolos, quer dentro de portas, quer a nível mais global – e, destes últimos, um dos mais destacados durante aquela década foi o homem que hoje completa cinquenta e sete anos de idade, e que muitos adultos hoje na casa dos 'trintas' e 'quarentas' se habituaram a ver 'fuzilar' redes de balizas um pouco por todo o Mundo: Romário de Souza Faria (vulgarmente conhecido apenas pelo seu primeiro nome), um dos mais prolíficos atacantes da História do futebol moderno e que, durante a primeira metade da década, foi esteio de uma das melhores selecções nacionais de sempre.

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Uma imagem que se tornou comum entre os adeptos dos anos 90.

Nascido, como tantos outros seus compatriotas, nos bairros pobres do Rio de Janeiro, Romário destacou-se desde tenra idade pelo seu invulgar talento, tendo sido recrutado pelo Vasco da Gama em 1981, aos catorze anos, após ter brilhado no seu clube local, o Olaria, na época anterior. A estreia profissional, essa, deu-se quatro anos depois, a meio da década de 80, lançando uma carreira que excederia todas e quaisquer expectativas; com uma média de golos por jogo mirabolante, Romário rapidamente se encontrou em trajectória ascendente, não tendo o tão cobiçado 'salto' europeu (objectivo máximo de qualquer futebolista brasileiro) tardado a surgir – apenas três anos após o seu primeiro jogo como sénior, e com já mais de oitenta golos marcados ao serviço do Vasco, Romário seria o escolhido para reforçar o ataque do PSV Eindhoven, do campeonato holandês.

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O jogador no clube que o notabilizou a nível europeu.

E rapidamente se constatou que a veia goleadora do atacante não se limitava ao 'Brasileirão', tendo Romário logrado apontar uma centena de golos nas cinco épocas em que representou os neerlandeses, e sido parte fulcral da conquista de três títulos de campeão nacional durante o mesmo período; uma marca que, naturalmente, conduziu a novo 'salto' na carreira. Desta vez, o destino era Barcelona, em Espanha, onde o brasileiro teria a honra de integrar um dos mais fortes plantéis do futebol mundial da época, ao lado de outro 'enorme' avançado da época, Hristo Stoichkov, e de nomes como Michael Laudrup ou Ronald Koeman. Mesmo em meio a tal 'chuva de estrelas', no entanto, Romário continuou a destacar-se, conseguindo trinta e quatro golos nos quarenta e seis jogos que realizou pelos 'blaugrana' entre 1993 e 1995, trinta dos quais na sua primeira época, incluindo um 'hat-trick' contra os 'eternos rivais' do Real Madrid, e uma 'cueca' ao 'enorme' Peter Schmeichel (mais tarde guardião do Sporting campeão nacional da época 99/2000) em pleno Old Trafford. Actuações como estas, e como as que realiou ao serviço da 'canarinha' no Mundial de 1994, valeram-lhe inclusivamente o merecido prémio FIFA de Jogador do Ano relativo a 1994. Este 'estado de graça' viria, no entanto, a terminar abruptamente logo em Janeiro do ano seguinte, quando um desentendimento com o técnico Johan Cruyff veria Romário abandonar o Barcelona e (numa decisão surpreendente) regressar ao Brasil, agora para representar o Flamengo.

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Romário durante a sua curta e frustrante passagem pelo Valência.

Sessenta golos em outros tantos jogos rapidamente lhe valeram, no entanto, o regresso a Espanha, para vestir a camisola do Valência. No entanto, pela primeira vez na sua carreira, Romário viria a não se afirmar num clube, fazendo apenas onze partidas pelos espanhóis (em que marcaria cinco golos) antes de voltar ao clube de onde recentemente saíra, agora por empréstimo, a fim de jogar com mais regularidade e manter os índices físicos em alta na preparação para o Mundial de França '98 – torneio que, ironicamente, viria a falhar por lesão muscular. Apesar deste relativo 'falhanço' no regresso a Espanha, no entanto, no Brasileirão, os golos continuariam a surgir em catadupa: vinte e dois em vinte e um jogos pelo Flamengo em 1997, e trinta e quatro em sessenta e cinco partidas na época seguinte.

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No Flamengo, o 'Baixinho' voltou a fazer o que melhor sabia.

O novo Milénjo veria Romário voltar à casa que o vira 'nascer' para o futebol, qual filho pródigo, e contribuir com quase oitenta golos para as campanhas de 2000/2001 e 2001/2002 do Vasco da Gama. Seguiu-se novo regresso ao 'Flu' (com passagem breve e pouco memorável pelo Al-Sadd, do Qatar) antes do retorno ao Vasco, ainda a tempo de marcar trinta e cinco tentos em cinquenta jogos na época 2005/2006. Já a nível internacional, a carreira do 'Baixinho' corria menos bem, tendo o mesmo sido deixado de fora do plantel da 'Canarinha' para a Copa América de 2001 e para o Mundial de 2002, por problemas disciplinares.

Apesar destes reveses, no entanto, os anos pareciam não passar pelo avançado o qual, aos quase quarenta anos, continuava a ser o mesmo goleador de classe mundial que se revelara ao mundo três décadas antes; de facto, até ao final de carreira em 2009, aos quarenta e três anos (!!), Romário representaria, ainda, quatro clubes, dois no estrangeiro (o Miami FC, da Major League Soccer norte-americana, e o Adelaide United, da Austrália, por empréstimo deste último) e dois dentro de portas: o seu Vasco do coração, ao qual regressaria pela quarta vez em 2007 (ainda a tempo de marcar treze golos em quinze jogos) e o América do Rio de Janeiro, pelo qual faria uma única partida, a sua última como jogador profissional. Um ponto final estranhamente discreto para um dos nomes 'de monta' do futebol noventista, dono de uma carreira que, em vários pontos, tocara as estrelas.

Penduradas as botas, Romário escolheu seguir, não a carreira de treinador escolhida por tantos dos seus contemporâneos, mas uma bastante mais inesperada: a de político. O 'Baixinho' tornou-se deputado e, mais tarde, Senador do Congresso brasileiro pelo Partido Socialista (de Lula), tendo passado a 'fuzilar' com a língua, em vez de com os pés. O seu alvo mais notável, a este respeito, talvez tenha sido o Mundial de 2014, realizado no seu país natal, e sobre o qual procurou denunciar os problemas de corrupção e lavagem de dinheiro em torno do evento. Mais tarde, o 'Baixinho' viria a trocar de 'lado' político, juntando-se primeiro ao partido Podemos, do qual foi presidente, e mais tarde aos Liberais de Jair Bolsonaro, ao qual chegou a declarar publicamente o seu apoio. Uma mancha, dirão alguns, na carreira de um homem que, apesar de alguns problemas derivados de uma forte personalidade, foi, e mereceu ser, idolo de muitos durante os seus anos áureos nos relvados mundiais. Parabéns, 'Baixinho'!

15.01.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer adepto de futebol, independentemente da idade ou era em que viveu, terá sempre os seus ídolos e ícones dentro do desporto, seja nos grandes clubes mundiais, seja nas agremiações do seu próprio campeonato. O Portugal dos 'noventas' não foi, de forma alguma, excepção a essa regra, tendo os adeptos nacionais da época tido o privilégio de ver jogar na então Primeira Divisão, não só os maiores nomes da Geração de Ouro, como também alguns jogadores internacionais muito acima da média. Um desses jogadores – um búlgaro de 'pézinhos de lã' que foi ícone de todos os clubes por que passou, e que era igualmente indiscutível na Selecção Nacional do seu país – celebrou há poucos dias os trinta e dois anos da sua estreia no campeonato onde viria a passar quatro inesquecíveis anos, tornando este Domingo o momento ideal para passar em revista a sua ilustre carreira.

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Uma imagem nostálgica para qualquer sportinguista,

Falamos de Krasimir Genchev Balakov, um daqueles 'fantasistas' que já ajudavam a definir o termo 'número dez' muito antes de cada jogador ter número próprio, e que só surgem num campeonato como o português muito de longe a longe. Reforço de Inverno do Sporting na primeira temporada completa da década de 90, o médio ofensivo contratado ao Etar Veliko Tarnovo - clube da sua Bulgária natal onde iniciara a sua carreira como sénior e pelo qual contabilizara quase cento e cinquenta jogos – faria a sua estreia menos de duas semanas após o início do ano de 1991, em jogo contra o Penafiel que o Sporting venceria por 2-0, com dois golos de Gomes.

Sem que ninguém soubesse, e de forma ainda algo discreta, ficava aí dado o mote para quatro épocas de 'magia', como parte de um plantel do Sporting ao qual sobrava em qualidade o que faltava em títulos (durante este período, o clube ganhou, tão-somente, uma Taça de Portugal, em 1994-95), e que contava também com nomes com outras 'lendas da Primeira Divisão' como Luís Figo, Paulo Sousa, Marco Aurélio ou o compatriota de Balakov, Yordanov. E a verdade é que, ao longo da sua estadia em Alvalade, Balakov viria a justificar o (parco) investimento do então presidente Sousa Cintra, tornando-se peça fulcral do 'onze' e fazendo 'mexer' a equipa com a mistura de 'arrebites' técnicos, clarividência e golos (no Veliko haviam sido trinta e cinco em sete épocas, no Sporting foram quarenta e três em quatro, incluindo 'obras de arte' históricas ao Benfica e Setúbal) que o tornaram um dos mais respeitados estrangeiros de sempre, não só do Sporting, como dos campeonatos portugueses em geral.

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O cromo de Balakov na caderneta do Euro '96 da Panini.

Não era, aliás, apenas 'dentro de portas' que Balakov 'dava cartas' e chamava a atenção: também a nível internacional o médio se vinha afirmando como um dos melhores do Mundo na sua posição, tendo inclusivamente sido seleccionado como parte do 'onze' ideal' do Mundial de 1994 – uma distinção que é, ainda hoje, o único jogador búlgaro a alguma vez ter recebido, sendo que nem mesmo compatriotas ilustres como Stoichkov conseguiram, alguma vez, igualar esse feito.

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O jogador em acção no Estugarda.

Melhor ainda é perceber que, após a sua saída do reduto dos 'leões', a carreira de Balakov não se 'perdeu', como a de tantos outros jogadores que partem para 'vôos' internacionais; pelo contrário, o búlgaro não só se conseguiu afirmar no seu novo clube, o Estugarda, como adquiriu o estatuto de 'símbolo' também naquele clube, onde passou sete épocas, sempre como presença regular na equipa, pela qual contabilizou mais de duzentas e cinquenta partidas. A sua parceria com Fredi Bobic e Giovane Élber originou, aliás, um daqueles 'tridentes mágicos' de que qualquer adepto do desporto-rei tanto gosta, por serem garantia de muitos golos – só por conta do búlgaro, foram cinquenta e quatro, um número talvez não tão prolífico quanto a sua marca no Sporting, mas ainda assim de respeito. É, também, como elemento do clube alemão que vê serem-lhe atribuídos os prémios de Melhor Jogador Búlgaro correspondentes aos anos de 1995 e 1997, sendo o troféu de 1996 atribuído a...Ivailo Yordanov, ex-colega de equipa no Sporting!

Tal como tantos outros nomes de que aqui falamos, também a carreira de Balakov transitou do interior dos relvados para a lateral dos mesmos, tendo o búlgaro assumido, logo em 2003, o cargo de adjunto num Estugarda que o idolatrava. Seguiram-se passagens pelo modesto Plauen (onde fez a sua última aparição oficial num relvado, aos trinta e nove anos, na qualidade de treinador-jogador) por vários clubes conhecidos da 'terceira linha' do futebol europeu, como St. Gallen, Grasshoppers, Chernomorets Burgas, Hadjuk Split, Kaiserslautern, Litex e CSKA Sófia, além do clube que o vira 'nascer' para o futebol, o Veliko Tarnovo, e da própria Selecção que tão briosamente representara em várias competições internacionais. E apesar de nunca ter dado o 'salto' para um grande clube na qualidade de treinador, é de crer que Balakov tenha adquirido, pelo menos, tanto respeito nesse seu novo cargo como tinha quando espalhava magia atrás dos avançados, nos relvados de Tarnovo, Alvalade ou Estugarda...

18.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um dos principais axiomas do futebol jovem é que poucos são aqueles que, destacando-se ao nível da formação, chegarão também a brilhar ao mais alto nível; de facto, na maioria dos casos, ocorre precisamente o contrário, e um jovem que integra as selecções jovens do seu país de origem acaba por não almejar mais do que uma carreira honrosa, mas longe das 'luzes da ribalta' atingidas por outros seus colegas - ou seja, torna-se um 'grande dos pequenos'.

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Tal é, sem qualquer dúvida, o caso de Rui Óscar Neves de Sousa Viana, internacional e campeão europeu sub-18 por Portugal, mas cuja carreira nunca chegou verdadeiramente a 'descolar' da forma que tal início poderia fazer prever; ainda assim, o percurso do ex-defesa pelo futebol profissional foi suficientemente destacado para que, no fim-de-semana em que completa 47 anos de idade, valha a pena dedicar-lhe algumas linhas nesta nossa rubrica sobre os 'actores secundários' dos campeonatos nacionais de futebol dos anos 90.

Natural de Gondomar e formado no FC Porto - ao serviço do qual se sagraria internacional sub-18 e conquistaria o Europeu de 1994 do escalão - Rui Óscar começou por dar nas vistas no histórico União de Lamas, emblema pelo qual realizou a sua primeira época como sénior, contribuindo com um golo ao longo de dezassete partidas. Um início bastante comum para um jovem futebolista da época, mas que não deixou de valer a Rui Óscar a atenção de uma agremiação de maiores dimensões - no caso o Leça, que, naquela época 1995-96, competia ao nível da Primeira Divisão nacional. O defesa nortenho tornou-se assim, durante uma temporada, colega de outro jogador que abordámos nesta rubrica, Serifo, tendo sido presença assídua na equipa leceira, com um total de vinte e sete presenças, e feito por merecer a chamada às Selecções tanto de sub-20 como de sub-21, que representaria, respectivamente, no prestigiado Torneio de Toulon e na qualificação para o Europeu de Sub-21 de 1998.

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O cromo do jogador nos tempos do Leça

Deu-se, então, um 'salto' para Rui Óscar que quase o desqualificaria desta rubrica, tivesse o jogador ido além das duas partidas ao nível sénior pelo FC Porto; ficou-se, no entanto, por aí a contribuição do defesa para o campeonato dos Dragões da época 1996-97, não tendo sequer tido direito a sagrar-se campeão pelo clube que o formara. A temporada  após esta 'aventura' falhada veria, assim, o defesa integrar o plantel do primeiro de dois clubes pelos quais pode reclamar o estatuto de 'grande dos pequenos' - o Marítimo, onde permaneceria durante três épocas e se afirmaria como 'esteio', amealhando um total de oitenta e sete jogos e apontando dois golos.

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Rui Óscar no Marítimo

Apesar do sucesso desta 'aventura' insular, no entanto, o dealbar do novo milénio veria, ainda assim, o defesa regressar à sua zona de origem, ainda a tempo de celebrar a inusitada e inédita conquista do Campeonato Nacional da I Divisão por parte do outro grande clube da cidade do Porto, o Boavista, que negava assim ao Sporting aquilo que, se tivesse acontecido, viria a ser um bi-campeonato, e mais tarde um 'tri'.

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O defesa ao serviço do Boavista

A essa época histórica, seguir-se-iam mais três, durante as quais Rui Óscar marcaria assiduamente presença na equipa boavisteira, ao lado de nomes como Martelinho ou Fary - no total, foram setenta e uma as presenças do defesa ao serviço dos axadrezados entre 2000 (ano em que conseguiu, também, a sua única internacionalização sénior, pela equipa B de Portugal) e 2004, quando se mudou um pouco mais 'para baixo' para representar o futuro clube do ex-colega boavisteiro Fary, o Beira-Mar de Aveiro.

download.jpgÓscar no Beira-Mar

Correu, no entanto, menos bem esta última aventura do ex-internacional português, que somaria apenas três partidas pelos aurinegros, e acabaria mesmo por 'pendurar as botas' no final da temporada, com apenas trinta anos de idade, e com capacidade para, pelo menos, mais um punhado de épocas ao nível a que jogava. Ainda assim, há que respeitar a decisão de um jogador que, nas dez épocas que passou como profissional de futebol, conseguiu deixar a sua marca nos campeonatos profissionais de futebol portugueses de finais do século XX e inícios do XXI, e conquistar o seu lugar entre os verdadeiros 'grandes dos pequenos' existentes no seio dos mesmos. Parabéns, Rui Óscar - e que conte muitos!

04.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa altura em que um treinador português é notícia no seu país natal por ter batido a selecção do mesmo, num jogo em que esta era favorita, nada melhor do que recordar os anos mais 'obscuros' da sua carreira de futebolista.

Falamos, é claro, de Paulo Jorge Gomes Bento, hoje seleccionador da Coreia do Sul, mas mais conhecido por ter treinado o Sporting Clube de Portugal durante alguns dos seus melhores anos no início do Milénio, altura em que se notabilizou pela sua peculiar cadência ao falar em conferências de imprensa. Muito antes disso, no entanto – uma década antes, para ser mais preciso – já o lisboeta se havia notabilizado dentro dos relvados, como peça importante das estratégias de ambos os rivais de Lisboa durante os anos 90 e inícios de 2000.

O que muitos adeptos menos atentos tendem a esquecer, no entanto, é que, muito antes de envergar a águia benfiquista ou o leão do Sporting, Paulo Bento já se havia destacado numa série de equipas de menor dimensão, entre elas dois históricos das divisões profissionais portuguesas: o Estrela da Amadora, por quem alinhou nas duas primeiras épocas da década de 90, realizando um total de trinta e sete partidas e celebrando a conquista de uma Taça de Portugal, e o Vitória de Guimarães, onde passou três anos (vários deles ao lado do também futuro 'seleccionável' e seu colega nos 'leões', Pedro Barbosa) e onde foi peça fulcral, realizando perto de cem partidas e contribuindo com treze golos – presumivelmente, o tipo de desempenho que terá chamado a atenção do clube da Luz, para onde se transferia no início da época 1994-95 (a tempo de participar 'naquele' derby) e da Selecção Nacional do início da fase Geração de Ouro, pela qual realizaria os primeiros jogos logo em 1992. Para trás ficava, ainda, o Futebol Benfica, outro histórico do futebol luso, onde Bento faria a primeira época como sénior (após passar os anos formativos no extinto Académico de Alvalade e ainda no Palmense) realizando vinte partidas e marcando dois golos.

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O jogador ao serviço de Estrela da Amadora e Guimarães, as duas equipas onde se notabilizou

Apesar do início auspicioso, no entanto, pode dizer-se que foi após a passagem para o Benfica que a carreira de Paulo Bento verdadeiramente 'descolou', tendo o médio defensivo ganho lugar preponderante (embora não cativo) na 'águia' de meados da década, realizando perto de cinquenta jogos e marcando dois golos antes de 'agarrar' a oportunidade internacional oferecida pelo Oviedo. No total, foram quatro épocas no país vizinho, durante as quais o português se afirmou como peça fulcral da equipa espanhola, realizando mais de cento e trinta jogos e marcando quatro golos ao longo da sua estadia na La Liga.

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Bento nos tempos do Benfica e Oviedo, respectivamente

Assim, foi sem surpresas que os adeptos portugueses (e a sua Lisboa natal) acolheram de volta o médio, pouco depois da viragem do Milénio, e agora do outro lado da Segunda Circular lisboeta, onde realizaria quatro épocas de verde e branco, uma das quais veria o clube lisboeta conseguir o seu segundo título em três temporadas, e atingir uma histórica 'dobradinha' sob a alçada do romeno Lazlo Boloni.

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O médio nos 'leões'.

Alvalade continuaria, aliás, a ser a 'casa' do médio mesmo depois de 'penduradas as botas' em 2004, tendo Bento transitado directamente para as funções de treinador da equipa de juniores leonina e, uma época depois, da equipa principal, função que desempenharia durante quatro anos, sempre com resultados extremamente consistentes; assim, e apesar dos atritos que marcaram o final da sua estadia em Alvalade, o treinador continua a ser tido como um dos melhores a passar pelo Sporting nas últimas décadas, a par de Boloni, Augusto Inácio ou Jorge Jesus.

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Bento na transição para treinador, ao serviço do Sporting.

Após a saída do Sporting, a carreira de treinador de Bento daria o 'salto' máximo, vindo o mesmo a ser contratado para o cargo de seleccionador nacional português, que assumiu durante a fase de preparação para o Euro 2012 e que viria a deixar seis anos depois, logo no início da qualificação para o Euro 2016. Após este revés, o português tornar-se-ia um de muitos a explorar as oportunidades oferecidas pelo campeonato brasileiro (o chamado Brasileirão), tomando as rédeas do Cruzeiro – cargo que viria a ocupar apenas por alguns meses, antes de regressar à Europa para treinar o Olimpiacos da época 2016-17. A temporada seguinte vê-lo-ia rumar à China, para treinar o Chongqing Lifang, da liga chinesa (outro destino habitual para treinadores portugueses) antes de ser convidado a treinar a Coreia do Sul, selecção que comanda desde 2018 e com quem agora faz História no Mundial do Qatar. Apenas mais um ponto alto numa carreira recheada deles, e que pode parecer quase inacreditável ter começado num clube como o Futebol Benfica, e que faz do médio uma das mais notáveis Caras (Des)conhecidas do futebol português...

24.11.22

NOTA: As imagens neste post foram cedidas em exclusivo ao Anos 90 pelo Sr. Joel Pereira, a partir da sua colecção pessoal. Ao mesmo, os nossos sinceros agradecimentos.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Enquanto principal competição futebolística ao nível das Selecções, não é de estranhar que cada novo Campeonato do Mundo desperte, durante as duas semanas em que se desenrola, o interesse dos periódicos desportivos um pouco por todo o Mundo, não sendo Portugal, de todo, excepção neste campo. No entanto, enquanto a maioria das publicações se contenta em fazer algumas capas alusivas ao certame, outros há que vão mais longe, dedicando suplementos inteiros à análise da competição em curso. O lendário jornal desportivo português 'A Bola' insere-se nesta última categoria, tendo dedicado, ao longo dos anos, vários números especiais da sua revista-suplemento a diferentes Mundiais – incluindo, em 1994, ao dos Estados Unidos.

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A capa do suplemento (crédito: Joel Pereira/OLX)

Esta revista, simplesmente designada pelo mesmo nome da competição, e que se encontra hoje quase totalmente Esquecida Pela Net (obrigado, Sr. Joel, pela cooperação no envio de fotos) tinha uma estrutura semelhante à de outros números do Magazine A Bola, reunindo uma série de artigos e secções mais ou menos detalhadas alusivas ao tema em causa; no caso, podemos encontrar entre as suas páginas, entre outros, uma galeria de cartazes alusivos à competição, bem exemplificativos do estilo gráfico adoptado pelos organizadores, e uma relação de atletas com ligação ao Campeonato Português presentes entre as equipas em prova – sempre com a qualidade jornalística que era, e continua a ser, apanágio do jornal em causa. O resultado é um suplemento que, à época, terá certamente feito as delícias dos leitores do periódico – entre os quais não deixavam de se contar uma enorme quantidade de crianças e jovens – da mesma forma que alguns dos seus outros congéneres, como o relativo à Geração de Ouro, lançado alguns anos depois, e de que aqui, paulatinamente, falaremos.

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Algumas das páginas e secções da revista (crédito: Joel Pereira/OLX)

Em suma, com a produção e lançamento desta revista em conjunto com o diário-base, 'A Bola' soube capitalizar sobre um nicho de mercado pouco explorado – é, aliás, de admirar que este seja o único suplemento deste tipo a surgir na senda de um certame como um Mundial de Futebol – sem com isso descurar os seus habituais padrões de qualidade, criando uma publicação com um 'tempo de vida' e interesse forçosamente mais limitado do que outros da mesma série, mas que não deixa, ainda assim, de ser um valioso documento de época para fãs de futebol que desejem reviver (ou, até, conhecer) um dos Mundiais da fase áurea de finais do século XX

20.11.22

NOTA: Dada a natureza temporalmente sensível do post de hoje, trocámos a ordem dos posts de Domingo, sendo que celebraremos o Domingo Divertido na próxima semana.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

E numa altura em que tem início mais um Mundial de futebol – o qual, apesar de uns meses adiantado em relação ao 'normal' e envolto em controvérsia, não deixa ainda assim de ser um evento de monta no panorama desportivo mundial – nada melhor do que recordarmos as competições deste calibre que tiveram lugar nos anos 90.

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E a verdade é que os adeptos noventistas não tiveram de esperar muito para ver o primeiro Mundial de Futebol da nova década, o qual teve lugar logo no primeiro Verão da mesma. Tratou-se do Mundial de Itália  '90 (segunda nação 'repetente' no tocante à recepção de eventos deste tipo) hoje em dia melhor lembrado pelo mítico jogo licenciado lançado para a Sega Mega Drive, mas que, visto a mais de três décadas de distância, marcou também uma certa transição entre o futebol da 'velha escola' dos anos 80 e o estilo que marcaria a primeira metade da década seguinte; esse sentimento de 'fim de uma era' é, aliás, hoje em dia exacerbado pela presença da Alemanha Ocidental, vencedora do certame e que, sem o saber, participava no seu último evento desportivo nessa capacidade, vindo a queda do Muro e respectiva unificação vindo a ocorrer meros meses depois, em Outubro de 1990, e das equipas da União Soviética e Checoslováquia, também elas à beira da dissolução como resultado da Guerra Fria, no ano seguinte. Mais a Oeste, o Mundial de '90 foi, também, responsável pelo 'nascimento' dos Camarões para o Mundo do futebol, bem como pela re-emergência do futebol inglês das trevas em que habitara na década de 80, tendo começado a criar as condições para a criação daquele que é, hoje, o maior campeonato de futebol do Mundo (a famosa Premiership) alguns anos mais tarde. Em termos futebolísticos, no entanto, tratou-se de um Mundial pobre, longe das emoções e momentos de antologia criados pelos seus antecessores directos, e que se destaca apenas por ter proporcionado aos adeptos uma das últimas oportunidades de ver craques como Diego Maradona em acção a nível internacional.

1994_FIFA_World_Cup.svg.png

O mesmo não se pode dizer do Mundial de 1994, disputado nos EUA, um país ainda hoje emergente para o futebol, mas certamente entusiástico em relação ao mesmo, e cuja equipa conseguiria uma inesperada qualificação para os oitavos-de-final (na qualidade de 'melhor terceiro'), tendo sido eliminados pelos futuros campeões, o Brasil (ironicamente, no Dia da Independência norte-americano, 4 de Julho.). Agora já com a Alemanha unificada e a Rússia (enquanto país independente) no lote de participantes, este Mundial ficou marcado pela final decidida a 'penalties' – a primeira na História da competição – e pela consagração da segunda 'fase imperial' do Brasil enquanto nação futebolística, com uma equipa extraordinária em que pontificavam nomes como Bebeto, Dunga, Romário e tantos outros bem conhecidos dos adeptos da época. Os 'canarinhos' não eram, no entanto, a única equipa a revelar ao Mundo autênticos craques – a Bulgária, por exemplo, viu despontar nesta competição a 'lenda' Hristo Stoichkov, grande responsável pela sua surpreendente prestação na prova. No cômputo geral, um Mundial de transição, mas bem melhor sucedido do que o seu antecessor.

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Qualquer marca atingida pela prova de '94 seria, no entanto, largamente superada pelo seu sucessor, o lendário Mundial de França '98 – talvez a mais 'presente' e memorável competição internacional da década para a maioria das crianças e jovens da época. Vencida pela anfitriã França - então ainda 'movida' a Zinedine Zidane - frente a um Brasil já sem muitos dos seus nomes do certame anterior, mas que contava na frente de ataque com um certo jovem de cabeça rapada e apelidado de 'Fenómeno', a prova mostrou já um estilo de futebol exacerbadamente moderno, próximo ao praticado hoje em dia, e proporcionou aos adeptos momentos de enorme emoção, como os provocados pelos intensamente emotivos jogos das meias-finais (que viram o Brasil eliminar a entusiasmante Holanda, praticante do segundo melhor futebol do certame, e a França sobrepôr-se à 'surpresa' Croácia) e da própria final, em que a nação anfitriã, 'movida' a Zinedine Zidane, soçobraria perante a 'Canarinha', que se sagraria assim vice campeã mundial.

No cômputo geral, e apesar de a Selecção Nacional portuguesa – então a assistir ao dealbar da Geração de Ouro - ter primado pela ausência de qualquer das três competições, os Mundiais da década de 90 não deixaram (ainda mais que os da anterior, e quase tanto como os da seguinte) de deixar a sua marca entre os jovens adeptos da época, portugueses e não só; pena, pois, que o estilo de futebol nelas praticado se encontre, há muito, extinto em favor de um futebol mais táctico, pausado e pensado. Ainda assim, quem lá esteve (ou antes, quem viu pela televisão) certamente se lembrará das emoções que cada uma destas provas suscitou no seu pequeno coração de adepto, fazendo, sem dúvida, crescer a sua paixão pelo desporto-rei – o que, no fundo, se pode considerar um sucesso no que toca a uma competição deste tipo.

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