Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.01.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de ser o elemento que menos participa num jogo de futebol, o guarda-redes não deixa de ser uma figura tão ou mais digna de nota do que os seus companheiros de campo, não só por ser sua a responsabilidade directa de não deixar entrar golos na sua baliza, como também por constituir, muitas vezes, uma voz de comando dentro das quatro linhas, função para a qual é necessária uma personalidade muito particular; os melhores guarda-redes tendem, pois, a ser figuras carismáticas e até um pouco excêntricas, às quais seria impossível passar despercebidas em campo.

Os anos 90 não foram, de todo, excepção neste particular, antes pelo contrário; até o adepto mais 'distraído' seria capaz de nomear pelo menos uma dúzia de guardiães memoráveis do futebol da época, tanto a nível interno como internacional. De Bento, Baía, William e Preud'Homme a Schmeichel, Chilavert, Rogério Ceni, Taffarel, Barthez, Songo'o ou Peruzzi – para citar apenas alguns dos nomes mais destacados – é longa a lista de 'figurões' responsáveis pela defesa das balizas das maiores equipas da época.

A esta lista há, também, que juntar o nome de um cabo-verdiano naturalizado português, o qual – não fosse a morte prematura, a poucos meses de completar sessenta anos – teria celebrado este fim-de-semana o seu aniversário, talvez fomentando a sua 'segunda paixão' através de uma sessão de 'karaoke'.Falamos de Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros, mais conhecido na cultura popular portuguesa pelo apelido de Neno, o lendário guardião das balizas de Benfica e Vitória de Guimarães durante as épocas de 80 e 90 que era tão conhecido pelo seu sorriso 'de gaiato' como pela sua apetência para o canto, que lhe valia as alcunhas de 'guarda-redes cantor' e 'Julio Iglesias português', tendo-lhe mesmo valido uma presença em palco ao lado desse seu ídolo.

download.jpg

No clube que o notabilizou.

Nascido em Cabo Verde, mas formado nas escolas do histórico Barreirense, Neno passaria os seus três primeiros anos de sénior com as cores do conjunto alvirrubro, afirmando-se como guardião titular na sua segunda época completa, ainda antes de completar vinte anos. As boas exibições durante as duas temporadas seguintes valer-lhe-iam o interesse de um outro clube alvirrubro, este de maior dimensão, e a subsequente transferência no início da época 1983/84.

Neno nem chegaria, no entanto, a 'aquecer o banco' do Benfica antes de regressar ao Barreiro, agora por empréstimo, para ali realizar mais uma época. A temporada seguinte veria o guardião ser novamente emprestado, desta feita ao Vitória de Setúbal, onde se voltou a impôr, realizando vinte e cinco partidas. Seria o último empréstimo da carreira do guardião, que, na época 1985/86, seria reintegrado no plantel das 'Águias', embora apenas como opção de banco ao titularíssimo Manuel Bento. Passar-se-iam assim duas temporadas, após as quais Neno decidiu dar novo rumo à sua carreira, e aceitar a proposta do Vitória de Guimarães.

89263.jpg

Com a camisola do Guimarães.

E o mínimo que se pode dizer é que essa foi uma opção acertada, já que – após uma primeira época com pouco espaço – Neno viria a tornar-se num 'histórico' dos alvinegros, cujas cores defenderia durante o resto da década de 80 e nos primeiros meses da de 90, sempre como titular. Esta boa fase da carreira valer-lhe-ia o 'regresso a casa' em inícios da temporada de 1990/91, desta vez como figura bastante mais destacada dentro do plantel, contestando a posição de primeira escolha para a baliza encarnada com Silvino, e sendo mesmo o titular indiscutível durante a época de 1993/94, que viu o Benfica sagrar-se campeão nacional.

Infelizmente para Neno, a chegada à Luz, em 1994, de outra figura incontornável da História das 'Águias', o lendário Michel Preud'Homme, viu o cabo-verdiano ser novamente relegado para uma posição secundária e de 'banco'. Face a este retrocesso na carreira, o guardião não hesitaria em fazer 'ouvidos moucos' ao provérbio popular e regressar ao lugar onde já fora feliz, voltando a assinar pelo Vitória de Guimarães no Verão de 1995, exactos cinco anos após ter deixado o Estádio D. Afonso Henriques. Seguir-se-iam mais duas épocas como titular indiscutível da baliza vimaranense antes de, já com idade avançada, o cabo-verdiano se ver forçado a aceitar nova posição como 'segunda escolha', a qual ocuparia durante as quatro últimas épocas da sua carreira – duas delas passadas na equipa de Veteranos do clube – antes de 'pendurar' oficialmente as chuteiras, já no Novo Milénio, aos trinta e nove anos de idade.

Esta seria, normalmente, a fase da carreira de um futebolista moderno em que o mesmo enveredaria por um cargo técnico, potencialmente num dos clubes 'do coração'; em inícios do Novo Milénio, no entanto, tal opção não era, ainda, tão comum, e como tal, Neno contentar-se-ia com uma vida pacata na zona da Polvoreira, em Guimarães, cidade que o conquistara a ponto de ali se estabelecer durante as duas últimas épocas da sua vida, até a doença o 'levar' prematuramente no Verão de 2021. Como legado, o luso-caboverdiano deixava duas décadas como um dos melhores e mais reconhecidos guarda-redes dos campeonatos nacionais da Primeira Divisão (tendo, inclusivamente, sido escalonado por nove vezes para defender as cores da Selecção Nacional, entre 1989 e 1996), e uma reputação como cantor que lhe valera, inclusivamente, a gravação de um álbum musical, em 1999. Que descanse em paz.

25.12.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 24 de Dezembro de 2023.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer adepto português dos anos 80, 90 e 2000 tem 'na ponta da língua' o nome de uma série de jogadores históricos dos campeonatos da época, dos elementos da Geração de Ouro a ídolos mais modernos, como o já lendário Cristiano Ronaldo. Numa categoria logo abaixo da destes, menos 'universais' mas não menos conceituados, existe todo um outro lote de jogadores que chegam a ídolos dentro do seu próprio clube, sem nunca extravasarem por aí além esse patamar, do qual, em Portugal, fazem parte nomes como Aloísio, Iordanov ou Isaías, para citar apenas exemplos ligados aos três 'grandes'.

É, também, deste último grupo que faz parte o nome que hoje recordamos, que celebra neste dia 24 de Dezembro o seu sexagésimo-sexto aniversário e que, há exactos trinta anos, partia para os últimos seis meses de uma carreira que abrangeu mais de uma década e meia, quase sempre ao serviço de apenas dois emblemas. Falamos de António Santos Ferreira André, médio-defensivo vila-condense formado no Rio Ave mas que, entre finais da década de 70 e meados da de 90, se celebrizou ao serviço primeiro do 'vizinho' Varzim e, mais tarde, do Futebol Clube do Porto, onde foi esteio do meio-campo durante grande parte da sua carreira.

855c5f07-5fa0-46e2-b6b9-eefe6367208a_698x521.jpg

De facto, à excepção dos três primeiros anos da carreira sénior (passados com as camisolas do Rio Ave e Ribeirão) António André foi 'homem de dois clubes', amealhando mais de cem jogos pelo Varzim entre finais da década de 70 e meados da seguinte antes de se transferir para os 'Dragões' do Norte, onde viria a passar as nove temporadas até ao final de carreira. Durante esse período, o médio viria a disputar mais de duzentos e setenta e cinco jogos pelo clube das Antas, e ganharia tudo o que havia para ganhar: sete títulos de Campeão Nacional da I Divisão (o último dos quais celebrado há exactas trinta épocas, no Verão de 1994), três Taças de Portugal, seis Supertaças e, em 1987, a 'tríplice' europeia, com uma Taça dos Campeões Europeus, uma Supertaça Europeia e uma Taça Intercontinental, feito apenas superado já no século e Milénio seguintes, quando o 'super-Porto' venceria a Taça UEFA e a Liga dos Campeões em anos consecutivos. Pelo meio, ficaria também a natural e expectável chamada à Selecção Nacional, pela qual alinhou no Mundial de 1986 - aquele que viria a ficar na História por um dos melhores golos de todos os tempos, da autoria de Diego Maradona.

Ao 'pendurar as botas' e transitar para a função de olheiro (do FC Porto, claro), António André podia, assim, gabar-se de uma carreira ilustre, da qual se retirava com estatuto de ídolo, senão para a geração 'Millennial', pelo menos para os adeptos da 'X' - e sobre a qual se encontrará, certamente, a reflectir nesta quadra natalícia em que também completa sessenta e seis anos, na companhia do filho, o também futebolista André André, notabilizado no Vitória de Guimarães. Parabéns, e que conte ainda muitos!

10.12.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A História da Selecção Nacional Portuguesa, bem como dos três 'grandes' do País, está repleta de nomes sonantes, instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto nacional, e muitas vezes, também para os de fora de Portugal; no entanto, por 'detrás' dessas 'mega-estrelas', existe todo um contigente de outros jogadores que, sem terem tido carreiras ao nível dos seus compatriotas mais ilustres, não deixaram ainda assim de ter impacto no futebol português, tanto a nível interno como internacional. Uma dessas figuras é o homem de quem falamos este Domingo, por ocasião do seu quinquagésimo-quarto aniversário: um avançado suficientemente talentoso para ser opção principal para a linha frontal de um 'grande', mas cuja restante carreira se desenvolveu (quase) exclusivamente como Cara (Des)conhecida. Falamos de Paulo Lourenço Martins Alves, ou simplesmente Paulo Alves, o 'homem do Norte' que se viria a destacar um pouco mais a Sul, em meados dos anos 90.

174.jpg

Com a camisola do clube ao qual o seu nome ficaria mais ligado, o Gil Vicente. (Crédito da foto: LastSticker.com)

Natural de Vila Real, região na qual iniciou a sua formação, Paulo Alves chegava à idade sénior como mais um dos inúmeros jovens das escolas de um 'grande' (no caso, o Futebol Clube do Porto) sem espaço no plantel principal, e, como tal, forçado a procurar opções alternativas para a sua carreira. Para o jovem Paulo, a solução encontrada foi o ingresso no Gil Vicente, histórico da região Norte onde o avançado principiaria a explanar o seu talento, conseguindo afirmar-se primeiro como opção válida e, mais tarde, como primeira escolha no plantel dos gilistas. O início da década de 90 assistiria, assim, à melhor das três épocas de Alves em Barcelos, com dez golos obtidos em trinta e oito partidas – isto já depois de ter sido Campeão do Mundo de sub-20, em 1989, ao lado de vários jogadores que se viriam a tornar históricos na Selecção Nacional AA ao longo das duas décadas seguintes, como parte da famosa 'Geração de Ouro'.

113_20230118123919_paulo_alves_1674045559.png

Com a malha das Quinas.

Apenas na época de 1991/92 se assistiria, pois, a nova 'mudança de ares' por parte de Paulo Alves, que transitaria para outro histórico nortenho, o Tirsense, onde passaria uma época, jogando ao lado de outro ex-formando do FC Porto quase exactamente dois anos mais velho, Agostinho Caetano, que celebrou também este fim-de-semana o seu quinquagésimo-sexto aniversário. Em Santo Tirso, Alves conseguiria oito golos em trinta e três jogos, sendo sempre opção principal, e impressionando o suficiente para conseguir, na época seguinte, a transferência para o Marítimo, onde passaria a época e meia seguintes.

palves.jpg

Ao serviço dos insulares do Marítimo. (Crédito da foto: Cromo dos Cromos)

Num ambiente marcadamente diferente daquele a que estava habituado, Alves não deixaria, ainda assim, de se afirmar como escolha recorrente na equipa, tendo as suas exibições justificado nova transferência, há quase exactos trinta anos, no defeso de Inverno da temporada 1993/94. O avançado regressava, pois, ao 'seu' norte, para representar o Braga, mas seria 'sol de pouca dura', tendo Alves almejado apenas quatro presenças pelos arsenalistas antes de regressar ao Marítimo, onde faria a melhor época da sua carreira até então, conseguindo dezassete golos em pouco mais de quarenta exibições, e afirmando-se como peça fulcral dos verderrubros insulares.

Paulo-Alves.webp

No Sporting, o maior clube que representou na sua carreira sénior.

Seria, precisamente, a sua impressionante prestação ao longo da época 1994/95 que valeria a Paulo Alves o primeiro grande 'salto' da carreira, ao ser contratado pelo Sporting. As três épocas seguintes veriam, pois, o avançado alinhar com a 'listada' verde e branca (com excepção de um breve empréstimo ao West Ham, de Inglaterra, que assinalaria a primeira experiência internacional do jogador) quase sempre como opção principal, e conseguindo médias bastante razoáveis de golos, tornando-se assim um dos nomes mais lembrados do ataque leonino da década de 90. As suas boas prestações ao serviço dos 'Leões' suscitariam, também, a sua convocatória para os Jogos Olímpicos de Atlanta '96, bem como o interesse de novo clube internacional – no caso o Bastia, de França, para o qual Paulo Alves se transferiria no início da época 1998/99.

14356.jpg

Durante a aventura em França.

Tal como a primeira 'aventura' internacional do jogador, no entanto, também esta teria curta duração, tendo o avançado regressado a Portugal ainda antes da viragem do Milénio, agora para um patamar bastante mais modesto, ao serviço de outro histórico nacional, o União de Leiria, onde passaria as duas épocas seguintes; o final de carreira, esse, viria a dar-se no mesmo sítio onde a trajectória de Alves havia começado – em Barcelos, onde surgia em 2001/02, com o estatuto de 'veterano famoso', e onde continuaria a 'dar cartas' durante as quatro épocas seguintes, até ao pendurar das botas, no final da temporada 2004/2005, quando contava já trinta e cinco anos.

mw-320.webp

Durante um jogo do União de Leiria.

Foi também sem surpresas que os adeptos gilistas viram o seu 'ídolo' enveredar pela carreira de treinador dentro do próprio clube, onde passaria duas épocas antes de regressar à sua 'casa' anterior, o União de Leiria. Seguir-se-ia uma passagem pelo Vizela e uma fugaz nomeação como Seleccionador Nacional sub-20, antes de Alves voltar a Barcelos, para mais quatro épocas - o último período de estabilidade naquela que se viria a tornar uma carreira 'papa-léguas', que veria Alves passar por todos os escalões do futebol nacional e treinar clubes no Irão e Arábia Saudita, além de regressar mais uma vez ao Gil Vicente, para meia temporada, em 2017/2018. O mais recente projecto de Alves foi, no entanto, o Moreirense, que orientou na campanha transacta, na Liga Sagres, provando ter tanta qualidade enquanto treinador como teve dentro das quatro linhas, como Cara (Des)conhecida ou nome algo mais digno de nota. Parabéns, e que conte muitos.

img_476x268$2023_05_05_12_21_28_2125566.png

Na função de treinador.

12.11.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O caso de um jogador dispensado ou enviado para 'rodar' por um dos 'grandes' portugueses e que acaba a brilhar noutro não é, de todo, nova ou inédita, continuando a verificar-se com assustadora regularidade até aos dias de hoje. Nomes hoje tão famosos como Deco, Miguel Veloso ou Silvestre Varela foram, a dado ponto, considerados insuficientes para as ambições dos três principais clubes nacionais, aos quais viriam, mais tarde, a dar 'chapadas de luva branca'; o mesmo se passaria, também, com o jogador cuja carreira recordamos neste post, um dia depois de ter completado quarenta e seis anos. Falamos de Nuno Ricardo Oliveira Ribeiro, o médio lisboeta que atingiria fama internacional como esteio da equipa 'conquistadora' do Futebol Clube do Porto e da Selecção Nacional da fase pós-Geração de Ouro, sob a alcunha de Maniche.

original.webp

Maniche na Selecção.

Formado, juntamente com o irmão mais novo (e menos famoso), Jorge Ribeiro, nas escolas do Benfica, Maniche demonstrou talento suficiente para merecer a estreia pela equipa principal das Águias ainda com idade de júnior de primeiro ano, em Setembro de 1995, tendo sido lançado em dois jogos pelo treinador Mário Wilson. Apesar do sonho tornado realidade, no entanto, Maniche não mais voltaria a figurar pelos encarnados nessa época, tendo, no defeso seguinte, sido cedido ao Alverca, clube-satélite do Benfica, para o qual eram, à época, enviados as principais promessas dos 'encarnados'; seria ali, e novamente sob o comando de Wilson, que o médio viria, verdadeiramente, a estabelecer-se como valor seguro do futebol português.

Maniche FC Alverca.jpg

Um jovem Maniche com a camisola do Alverca.

Nas três épocas que passou no emblema ribatejano (duas na II Liga e uma no escalão principal), sempre como figura importante da equipa - ainda que sem ser titular indiscutível – Maniche destacou-se o suficiente para obter a primeira experiência internacional, ao serviço dos sub-21 portugueses, e tornou-se um jogador mais maduro e completo, pronto a agarrar a oportunidade na equipa principal das 'águias', à qual o médio regressava quatro anos após a sua fugaz estreia.

manichexpkh7.jpg

No regresso à Luz

Apesar de ter sido presença frequente no 'onze' ao longo das duas épocas seguintes, no entanto, Maniche não conseguia, ainda assim, garantir a titularidade indiscutível, tendo mesmo sido 'despromovido' à equipa B durante os seus últimos meses no clube, em 2002. Ainda assim, foi com considerável surpresa que os adeptos benfiquistas viram aquele que parecia um valor seguro da sua formação assinar por um eterno 'rival' logo no Verão seguinte, com Maniche a trocar uma capital por outra, e a rumar ao Norte, para representar o Futebol Clube do Porto, então treinado por outro ex-Benfica, José Mourinho. E a verdade é que, juntos, ambos os homens viriam a demonstrar o enorme erro das 'águias' em os dispensar, ganhando tudo o que havia para ganhar, tanto a nível interno como Europeu, ao longo das três épocas seguintes; em todas elas, Maniche figuraria como um dos pilares do meio-campo portista, normalmente ao lado de Costinha, com quem também formava, à época, a dupla de 'pivots' da Selecção Nacional portuguesa.

gettyimages-3250521-612x612.jpg

Com a camisola que o celebrizou.

Desse ponto em diante, a carreira do médio é sobejamente conhecida: as boas exibições na 'montra' da Europa suscitam o interesse dos principais 'tubarões' europeus, e Maniche não tarda a dar o 'salto' para o estrangeiro, assinando contrato com o Dínamo de Moscovo no início da época 2005/2006, juntamente com os colegas de equipas Seitaridis e (inevitavelmente) Costinha, e já depois de Derlei ali ter rumado no defeso de Inverno anterior.

gettyimages-53471933-1024x1024.jpg

Maniche participa no 'derby' de Moscovo.

A experiência russa não seria, no entanto, agradável para nenhum dos jogadores em causa, e passar-se-iam menos de seis meses até Maniche 'mudar de ares' e rumar a Londres, para representar, por empréstimo, o Chelsea, então em plena fase hegemónica; num meio-campo recheado de talento, no entanto, o médio teria oportunidade limitada para se mostrar, não sendo as apenas onze presenças que efectuou, sequer, suficientes para Maniche adicionar o título de campeão inglês ao seu palmarés.

645.jpg

O médio com a camisola do Chelsea.

Ainda assim, nem tudo seria mau naquela temporada de 2005/2006, tendo Maniche conseguido, já no mercado de Verão, assegurar uma transferência que lhe permitiria relançar a sua carreira, no caso para o Atlético de Madrid, onde passaria duas épocas e meia, apenas interrompidas por um breve empréstimo ao Inter de Milão, em 2008, e onde voltaria a reencontrar o eterno parceiro de meio-campo, Costinha.

95690973baab86e7b6d2b074e404a294.jpg

No Atlético, clube onde relançaria a carreira.

Ali, e após o 'desastre' da época anterior, a dupla teria a oportunidade de voltar a mostrar toda a sua classe e de se afirmar como esteio da equipa – pelo menos até Maniche se desentender, primeiro, com o treinador Javier Aguirre (o que motivou o empréstimo ao Inter) e, mais tarde, com o seu substituto, Abel Resino. Assim, pouco menos de dois meses antes de o seu contrato com os 'Colchoneros' expirar – e tendo já rejeitado nova oferta – o médio era oficialmente dispensado pelo clube madrileno, terminando a época novamente desempregado.

Maniche-1024x682.jpg

Durante a breve passagem pelo Inter, em 2008

Para um jogador da sua classe, no entanto, nunca seria excessivamente complicado encontrar nova colocação, e a época seguinte vê Maniche ingressar na sua terceira grande liga europeia, ao assinar pelos alemães do Colónia, onde militava o ex-colega do Benfica, Petit. A época subsequente correria de feição ao médio,que se afirmaria como figura importante da equipa, pelo que foi com alguma surpresa que os adeptos alemães viram Maniche sair, após apenas uma época, para regressar à sua cidade-natal, embora, agora, do 'outro lado' da via rápida que o vira nascer para o futebol, e com uma camisola listada de verde e branco.

maniche-koln-1579179563-29929.jpg

Maniche no Colónia.

Sim, seria mesmo o Sporting a ter a honra de acolher o fim de carreira de Maniche, e apenas dezassete presenças foram suficientes para inscrever o jogador no limitado lote de jogadores a representar todos os três 'grandes' portugueses, ao lado de Romeu, Eurico Gomes, Carlos Alhinho, Paulo Futre, Fernando Mendes, Emílio Peixe e do ex-colega portista Derlei - apenas mais uma marca bonita numa carreira que terminava como começara – com Maniche como opção de 'rotação' num 'grande' português – mas que, pelo meio, vira o médio atingir as mais altas glórias nacionais, europeias e até internacionais.

download.jpg

Ao serviço do Sporting, na última época como profissional.

Ao contrário de muitos dos nomes que aqui abordamos, Maniche não enveredou, após o final da carreira, por uma carreira técnica; apesar de ter chegado a ser treinador-adjunto de Paços de Ferreira e Académica, o ex-internacional português encontra-se, desde 2016, totalmente afastado do Mundo do futebol, preferindo ser lembrado pelas suas contribuições dentro de campo; e a verdade é que as mesmas mais do que justificam esta homenagem retrospectiva, no fim-de-semana em que completa quarenta e seis anos de idade. Parabéns, Maniche, e que contes ainda muitos!

23.10.23

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 22 de Outubro de 2023.

NOTA: Por motivos de relevância temporal, este Domingo será Desportivo; regressaremos aos Domingos Divertidos na próxima semana.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O que determina a carreira de um desportista profissional? Esta é, certamente, a pergunta que se colocam muitos fãs dos mais diversos desportos ao verem um atleta com todos os atributos técnicos e mentais para ser 'gigante' notabilizar-se apenas num clube de menores dimensões, sem nunca conseguir dar o 'salto' para um patamar superior, ou, dando-o, 'estatelar-se' ao comprido, nunca passando de 'arraia miúda' entre outros desportistas ao seu nível. É inegável que a sorte tem papel determinante nesta trajectória, quase tanto como atributos como a ética, brio profissional e dedicação – e um dos melhores exemplos disso mesmo é o atleta de que falamos neste post, no dia exacto em que completaria sessenta anos de vida, não fosse a doença prolongada que o vitimou prematuramente ainda antes dos cinquenta anos de idade, em 2012.

20210311_161312-e1634136930794.webp

O jogador com a 'sua' camisola.

Falamos de Rashidi Yekini, um dos mais famosos e ilustres 'Grandes dos Pequenos' de sempre do futebol português, e que quase redifine o conceito deste termo, tal como o definimos nos primórdios deste 'post'. Isto porque, apesar de os seus anos áureos terem sido passados ao serviço de um emblema fora da esfera dos 'três grandes', o jogador foi condecorado, durante esse mesmo período, não só com a Bota de Ouro para o então Campeonato Nacional da Primeira Divisão como também com o título de maior goleador de sempre pela Selecção do seu país, a Nigéria, na qual era presença frequente ao lado de nomes como Jay Jay Okocha, Finidi George, Daniel Amokachi, Victor Ikpeba, e os também 'portugueses' Emmanuel Amunike e Peter Rufai, este último outro 'Grande dos Pequenos' que aqui terá, em breve, o seu espaço; coube-lhe, aliás, a honra de marcar o primeiro golo de sempre do seu país numa competição internacional sénior, ao abrir o marcador na vitória por 3-0 frente à Bulgária no Mundial de 1994, momento que também rendeu uma das imagens icónicas do torneio. Para além deste feito histórico, Yekini fez parte da equipa Olímpica da Nigéria para os Jogos Olímpicos de Seoul, em 1988, teve papel determinante na conquista da Taça das Nações Africanas desse mesmo ano (onde foi o melhor marcador), e voltaria a marcar presença, há pouco mais de vinte e cinco anos, no histórico França '98, já com quase três décadas e meia de vida, mas ainda com o pé bem 'afiado'.

download (1).jpg

A imagem que correu Mundo em 1994.

Como, portanto, é que um jogador destes tem como ponto alto da carreira as quatro épocas em que se tornou ídolo sadino? Especialmente tendo em conta que, durante esse período, Yekini fez pleno uso do seu principal atributo – o 'faro' de golo - marcando mais de noventa tentos em cerca de cento e quinze jogos e superiorizando-se a qualquer dos avançados dos 'grandes' na época iniciada há exactos trinta anos, em que conquistaria o título de melhor marcador, com vinte e um golos – isto já depois de, na época anterior, ter ultrapassado a bitola de um golo por jogo, marcando trinta e quatro em trinta e duas partidas (!) numa temporada que veria o Vitória FC regressar ao principal escalão do futebol profissional luso. Qualquer jogador com este tipo de trajectória meteórica (mesmo tendo já vinte e sete anos) teria, normalmente, bilhete 'carimbado' para um dos 'grandes' nacionais, senão mesmo europeus

É, no entanto, precisamente neste ponto da carreira de Yekini que a sorte entra em jogo. Isto porque o avançado almejou, sim, dar esse 'salto' - não para um 'grande' nacional, mas directamente para o estrangeiro - mas o mesmo não lhe correu, de todo, de feição. Incompatibilidades com os colegas de equipa nos gregos do Olimpiacos encurtaram a estadia do nigeriano no clube helvético (onde, mesmo assim, conseguiu uma média de quase um golo por cada parte de futebol jogada, marcando seis em apenas quatro partidas!) e a época seguinte, apesar de passada num dos maiores campeonatos do Mundo (a La Liga) viu o atleta disputar apenas catorze partidas, e conseguir uns parcos três golos, em dezoito meses ao serviço do Sporting de Gijón – de longe a pior marca da carreira do avançado até então.

1336244637_extras_mosaico_noticia_1_g_0.jpgYekini no Gijón

Tudo 'chamava' Yekini para 'casa' – e foi, precisamente, para lá que o nigeriano regressou, 'saltando' a fronteira e ainda chegando a tempo de fazer, em seis meses, números semelhantes aos que conseguira em Espanha no ano e meio anterior. Era, no entanto, óbvio que o avançado já não era o mesmo (a idade também pesava...) e a segunda passagem de Yekini pelo Setúbal saldou-se em apenas seis meses, findos os quais o nigeriano rumou à Suíça, para, ao fim de quatro longos e agonizantes anos, fazer finalmente uma temporada ao seu nível, obtendo uma média de um golo a cada dois jogos ao serviço do Zurique – catorze em vinte e oito partidas.

optimized_120506_yekini_01.jpg

No Zurique, o jogador gozou de um 'segundo fôlego' na carreira.

A carreira do goleador parecia, assim, gozar de um segundo fôlego, apesar da provecta idade (pelo menos em termos futebolísticos), mas foi sol de pouca dura. Os anos seguintes viram o avançado 'saltar' de emblema inexpressivo em emblema inexpressivo, até um novo regresso (no caso ao Africa Sports, 'gigante' africano onde um jovem Yekini se notabilizara) lhe permitir explanar de novo a veia goleadora, marcando mais de cento e dez golos em cento e trinta partidas entre 1999 e 2002.

download (2).jpg

Yekini voltaria, em final de carreira, ao clube onde primeiro se revelara.

A carreira, no entanto, não foi terminada nessa segunda 'casa', nem na portuguesa, mas sim no Julius Berger, do seu país natal, onde ainda foi a tempo de contribuir com dez golos nas trinta partidas em que participou – isto, claro, se não contarmos com a temporada que realizou ao serviço do também nigeriano Gateway, aos quarenta e um anos (!), marcando sete golos em vinte e cinco partidas na temporada de 2005. Sete anos depois, problemas de saúde física e mental vitimavam o homem que, mais de uma década após a sua morte e três depois do seu período áureo, naquele que seria o dia do seu sexagésimo aniversário, continua a ser lembrado como o maior goleador de sempre do seu país, ídolo eterno do Estádio do Bonfim, e exemplo 'acabado' tanto de 'Grande dos Pequenos' como de jogador que merecia mais do que conseguiu na sua carreira. Que descanse em paz.

 

15.10.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O chamado 'jogador de um clube só' – aquele atleta que faz toda a carreira em apenas um emblema desportivo, mantendo-se fiel através de todos os altos e baixos do mesmo – sempre foi uma espécie rara, e nos dias que correm - em que o dinheiro fala, invariavelmente, mais alto – encontra-se praticamente em vias de extinção, pelo menos ao nível do futebol de alta competição. No período a que este blog diz respeito, no entanto, era ainda possível encontrar alguns atletas dessa estirpe, os quais – sem contar com os habituais empréstimos em inícios de carreira – passavam todo o seu período activo num só clube, normalmente aquele que os havia formado. O jogador de que falamos hoje, e que completa este fim-de-semana cinquenta e dois anos de idade, esteve perto de fazer parte desse lote, não fora um desentendimento com a 'casa-mãe' em finais de carreira; ainda assim, é a esse mesmo clube que qualquer adepto português da 'velha escola' o associa, e é também a ele que o seu nome ficará, indelevelmente, ligado.

3267.jpg

O jogador com a camisola do clube de sempre.

E, no entanto, até mesmo Jorge Paulo Costa Almeida – mais conhecido pelo seu primeiro nome e primeiro apelido – chegou, a dada altura, a ser Cara (Des)conhecida nos campeonatos nacionais, apenas mais um jovem promissor a desenvolver o seu futebol em emblemas históricos, mas fora da esfera dos três 'grandes' portugueses. De facto, após a chegada à idade sénior, logo no início da década de 90, aquele que viria a ser um dos grandes defesas-centrais do futebol luso era enviado para rodar durante uma época no 'vizinho' CS Penafiel, onde começaria desde logo a chamar a atenção, afirmando-se como elemento importante da equipa e amealhando vinte e três presenças, no decurso das quais contribuiria com dois golos.

A próxima aventura do central seria significativamente menos confortável, 'atirando-o' da cidade onde nascera e crescera para o ambiente insular da Madeira, onde viria a representar um dos maiores clubes das ilhas, o Marítimo. Tal desafio não amedrontou Jorge Costa, no entanto; pelo contrário, o jogador emprestado pelo Porto viria a afirmar-se como peça-chave da equipa, participando em quase todos os jogos da época 1991-92 e marcando ainda um golo pelos verde-rubros insulares.

033 - Jorge Costa.jpg

Cromo de um jovem Jorge Costa ao serviço do Marítimo.

Esta segunda época ao mais alto nível foi, aliás, suficiente para garantir ao central a inclusão no plantel principal do FC Porto, do qual não voltaria a sair até um desentendimento com o então treinador Octávio Machado, mais de uma década depois. No total, esta primeira fase de Jorge Costa no Porto veria o central representar o clube em quase duzentos jogos, sempre como esteio defensivo, ao lado de nomes como Paulinho Santos, Fernando Couto, Jorge Andrade ou Ricardo Carvalho, sagrar-se penta-campeão nacional, e notabilizar-se tanto como figura-chave na fase hegemónica do FC Porto como como um dos melhores do País na sua posição - distinção que lhe valeu lugar quase cativo também na Selecção Nacional, que representaria em cinquenta ocasiões e quatro torneios no decurso dessa mesma década, muitas vezes ao lado dos mesmos nomes com que emparceirava no centro da defesa portista.

s-l1200.webp

Cromo do jogador na caderneta do Euro 96, um dos torneios em que representou a Selecção Nacional.

Apenas um voto ao 'ostracismo' por parte de Octávio Machado, na segunda metade da época 2001/2002, seria capaz de afastar o carismático jogador do clube que o formara, sendo o mesmo forçado a embarcar na sua primeira aventura internacional, no caso ao serviço do Charlton, de Inglaterra, por quem ainda chegaria a tempo de figurar duas dezenas de vezes até ao final da Premiership daquele ano.

13744-zoom.jpg

O jogador durante o seu breve período no Charlton.

Durou pouco, no entanto, este afastamento, e na época seguinte, sob as ordens do novo treinador José Mourinho, Jorge Costa via restituído o seu estatuto de peça-chave numa equipa que, sem ainda o saber, estava prestes a embarcar numa segunda fase hegemónica, que culminaria com a histórica conquista da Liga dos Campeões, em 2005, já após a igualmente inédita captura da Taça UEFA, na época anterior. Em ambas as ocasiões, Jorge Costa marcava presença no centro da defesa, contribuindo com toda a sua experiência para aqueles que estavam entre os momentos mais gloriosos da História dos 'Dragões'.

download.jpg

Jorge Costa celebra a conquista da Liga dos Campeões de 2004/2005, ao lado de outra lenda do FC Porto, Vítor Baía.

Poucos meses depois, no entanto, nova reviravolta, com a chegada de Co Adriaanse à equipa nortenha, e subsequente nova perda de estatuto por parte do capitão portista, que era novamente (e publicamente) afastado; tal como anteriormente, o central optou, nesta ocasião, por ingressar numa aventura no estrangeiro, desta vez a título definitivo, e seria no Standard de Liège, ao lado do ex-colega Sérgio Conceição, que viria a fazer a última época da sua carreira, aos trinta e quatro anos. Vinte partidas e dois golos longe dos holofotes europeus marcavam, assim, a despedida de um jogador que, doze meses antes, tinha ocupado lugar de destaque sob os mesmos – um final algo indigno para um dos melhores e mais notáveis jogadores dos campeonatos portugueses das décadas de 90 e 2000, e da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro'.

Costa.jpg

No Standard de Liège, durante a última época como profissional.

Tal como tantas outras caras – (Des)conhecidas ou não – de que aqui vimos falando, também Jorge Costa optou, após o término de carreira, por enveredar pela carreira de treinador, a qual iniciaria logo após o encerramento de actividades nos relvados, como adjunto do Braga. Dentro em breve, assumiria o comando dessa mesma equipa como técnico principal, e os anos seguintes vê-lo-iam treinar emblemas tanto em Portugal – Académica, Olhanense, Paços de Ferreira, Arouca, Académico de Viseu e Vila das Aves, onde actualmente milita – como um pouco por toda a Europa - tendo passado pelos romenos do Cluj e Gaz Metan, pelos cipriotas do AEL Limassol, pelos gregos do Anorthosis, pelos franceses do Tours - e até em países como a Tunísia (com duas passagens pelo CS Sfaxien) e Índia (onde treinou o Mumbai City FC), além da Selecção Nacional sénior do Gabão.

3layqsc8ql6i.jpg

Na qualidade de treinador.

Uma carreira cuja diversidade surge como contraponto à relativa estabilidade de que o portuense gozara enquanto jogador de campo, e que, infelizmente, nunca almejou o mesmo estatuto ou sucesso, mas que oferece uma continuidade honrosa para uma das 'lendas' da Primeira Divisão nacional 'das antigas'. Parabéns, e que conte ainda muitos.

images.jpg

A camisola 2 é, ainda hoje, sinónima com o jogador.

03.09.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Cada janela de transferências do futebol português reserva, inevitavelmente, muitas surpresas, com toda e qualquer equipa – do maior 'grande' ao mais modesto clube distrital – a apresentar invariavelmente um sem-número de novas aquisições que, idealmente, os possam levar a um novo patamar de ambição. Destes novos nomes, a maioria acaba por se inserir em duas grandes categorias: os que convencem, conquistando um lugar no 'onze', e os que não se afirmam, rapidamente rumando a outras paragens. Dentro do primeiro grupo, no entanto, existe ainda uma sub-categoria de cariz extremamente selecto, na qual se inserem aqueles jogadores que demonstram ainda mais do que o já se lhes vaticinava, 'saltando' de equipas históricas mas mais modestas para a ribalta nacional e, muitas vezes, internacional.

Há exactos trinta anos, chegava a Portugal, pela mão do Vitória de Guimarães, um jogador destas características: um jovem médio jugoslavo de vinte e dois anos, que apesar de ainda jovem, trazia já créditos firmados em dois clubes da sua terra natal, entre eles o histórico Partizan, onde vinha sendo usado de forma tão intermitente como qualquer outro jovem da sua idade (trinta e sete jogos em três épocas, entre os dezoito e os vinte e dois anos) mas ainda assim impressionando com o seu inegável talento. O que os adeptos vimaranenses não podiam adivinhar era que o jogador que acabavam de apresentar se tornaria um dos grandes nomes do futebol nacional dos próximos quinze anos, durante os quais viria a conquistar quase todos os principais títulos do desporto-rei nacional. O seu nome? Zlatko Zahovic.

20 - 95 96 Zahovic 2.jpg

Um jovem Zahovic ao serviço do Guimarães.

Sim, Zahovic, o histórico titular quase indiscutível do Porto penta-campeão, conhecido por assistir na perfeição para a cabeça de Jardel, e que mais tarde viria também a afirmar-se em outro 'grande' do futebol português, o Benfica, onde foi o 'dez' de serviço até se desentender com o treinador Giovanni Trapattoni e rescindir contrato, abandonando assim o campeonato que o vira florescer durante uma década e meia, após a sua chegada ao Norte de Portugal no mercado de Verão da época 1993-94.

E se a primeira experiência de um jovem jogador num país desconhecido pode, muitas vezes, ser inibidora ou intimidatória, tal não foi o caso para Zahovic, que começou de imediato a demonstrar a sua qualidade ao serviço dos vimaranenses, que ajudaria a qualificarem-se para a Taça UEFA em duas das suas três épocas, e onde 'cavaria' um lugar que não viria a perder até a sua saída para 'mais altos vôos', no Verão de 1996, um ano depois do ex-colega de equipa Pedro Barbosa ter rumado a Lisboa para representar o Sporting, e dois depois de Paulo Bento ter feito o mesmo caminho, rumo ao também futuro clube de Zahovic, o Benfica. No total, foram quase oito dezenas de jogos com a camisola alvinegra, durante os quais obteve treze tentos, o mais importante dos quais frente ao FC Porto, em 1995-96, garantindo a vitória dos vimaranenses em plenas Antas, por 2-3, e, ao mesmo tempo, um lugar para si mesmo no plantel dos 'Dragões' da época seguinte, numa daquelas 'novelas' de transferência ainda hoje tao comuns no futebol luso.

zlatko zahovic matches and goals in european cups.

No Porto, já com a icónica 'gadelha'.

O período seguinte da carreira do médio dispensa maiores análises – juntamente com Drulovic, Capucho e, claro, Mário Jardel, Zahovic formou uma frente de ataque temível para qualquer defesa adversária, e que levaria o clube portuense ao pentacampeonato, estabelecendo os 'azuis e brancos' como a principal equipa portuguesa da segunda metade dos anos 90. A nível pessoal, há que destacar a sua última época ao serviço dos 'Dragões', há exactos vinte e cinco anos, durante a qual almejou um recorde pessoal de golos, marcando vinte e dois no global das competições internas e sete na Liga dos Campeões, onde entrou no pódio dos melhores marcadores, atrás dos históricos Andriy Schevchenko, então no Dínamo de Kiev, e Dwight Yorke, avançado-centro da melhor equipa do futebol mundial noventista. Um feito notável a juntar a tantos outros que Zahovic já amealhara durante as três épocas transactas, e que lhe valeria, no último defeso de Verão do século XX, a transferência para o Olimpiacos, da Grécia, então considerado um 'grande' do futebol internacional.

405.jpg

Com a camisola do Olimpiacos.

A experiência por terras helénicas não correria, no entanto, de feição a Zahovic, que alinharia menos de uma dezena e meia de vezes pelo seu novo clube na única época que ali realizou; ainda assim, o médio conseguiria uma média de um golo a cada duas aparições (num total de sete), fazendo 'corar' muitos avançados de raiz. Seguir-se-ia o Valência, onde as coisas correriam ligeiramente melhor ao agora esloveno, que amealharia vinte presenças pelos espanhóis, e contribuiria com três golos – um desempenho muito distante dos tempos de glória do jogador, apenas um par de anos antes, mas que se saldaria como honroso para um atleta que continuava a 'contar' ao mais alto nível do futebol mundial, não foram os desentendimentos constantes com o seu treinador, derivados da falta de utilização...

46 - 2000 01.jpg

No Valência, já no novo Milénio.

O verdadeiro renascer da carreira do médio deu-se, no entanto, mais uma vez em Portugal, agora mais a Sul, ao serviço de um dos 'grandes' lisboetas, o Benfica, onde ingressava em 2001. Pelas 'águias', Zahovic faria mais três épocas a grande nível, como parte importante dos excelentes plantéis dos 'encarnados' da época, que contavam com nomes como o do ex-colega no Porto, Drulovic, as 'lendas' benfiquista Mantorras e Nuno Gomes, Petit, Simão Sabrosa, Geovanni, Luisão ou o tragicamente malogrado Miklos Feher - que, numa coincidência trágica, viria a falecer, precisamente, no decurso de um jogo contra a equipa que revelara Zahovic.

image.png

No Benfica, onde viria a terminar a carreira.

Tudo viria a mudar, no entanto, com a chegada do italiano Giovanni Trapattoni à Luz, que resultaria na perda de preponderância e subsequente descontentamento do médio; a chegada ao clube, no mercado de Janeiro, de Nuno Assis (jogador que ocupava a mesma posição de Zahovic) foi a 'gota de água', tendo o médio rescindido contrato com o Benfica ainda nesse mesmo mês, seis meses antes do término oficial do seu vínculo com as 'águias'. Aos trinta e quatro anos, Zahovic punha, aparentemente, fim a uma carreira que, sem atingir níveis 'galácticos', o tornava nome sonante no contexto da Liga Portuguesa, ao mesmo nível de um João Vieira Pinto, por exemplo.

zlatko_zahovic_maribor_.webp

No papel de director desportivo do Maribor, da sua terra natal.

Não estava, no entanto, concluído o percurso do jogador oitenta vezes internacional pelo seu país, e cujas exibições no Euro 2000 suscitavam comparações a David Beckham; em 2007, Zahovic rejeitaria uma oferta por parte do seu ex-clube, o Benfica, para ser treinador dos Juniores, e regressaria ao seu país natal, onde ocuparia o cargo de director de futebol do NK Maribor, posição que viria a ocupar até 2020, ajudando o clube a conquistar oito títulos de campeão nacional esloveno e a conseguir a qualificação para duas Ligas dos Campeões e uma Taça UEFA, além de ajudar a revelar o próprio filho, o avançado Luka Zahovic, que viria, inclusivamente, a marcar ao Sporting no contexto das competições europeias.

Além deste cargo administrativo, há, ainda, registos de Zahovic ter alinhado em onze partidas por um clube amador do seu país, o Limbus-Pekre, pelo qual terá marcado doze golos durante a época 2008-2009. Um final de carreira propositadamente discreto para um jogador que, em muitas ocasiões, demonstrou não o ser, mas que conseguiu, ainda assim, afirmar-se como nome maior do futebol do país a que chegava há exactos trinta anos, como Cara (Des)conhecida do Vitória nortenho.

20.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo dos tempos, poucos são os desportistas que merecem o rótulo de 'génios'; nomes como Messi, Ronaldo, Figo, Maradona ou Pelé aparecem, no máximo, uma ou duas vezes por geração. No entanto, o patamar logo abaixo está repleto de atletas que, sem serem foras-de-série, se afirmam como muito acima da média, e conseguem construir carreiras a condizer. No caso do futebol português, um desses atletas é o homem de quem falamos neste post, no fim-de-semana em que acaba de completar cinquenta e dois anos de idade.

s_3628_123_2013_03_22_1.webp

JVP na Selecção

Natural do Porto, seria, no entanto, na capital portuguesa que João Manuel Vieira Pinto viria a fazer carreira, afirmando-se, em momentos distintos, como uma das principais figuras dos dois 'grandes' lisboetas - de facto, um dos aspectos mais curiosos da sua carreira é o facto de o único 'grande' a nunca ter representado ser o da sua cidade-natal, que o recusou aquando de um treino de captação, ainda em idade de formação. Foi, pois, no outro grande clube da cidade, que o jovem médio-ofensivo - descrito pelo seleccionador nacional de sub-20, Carlos Queiroz, como 'loirinho e magrinho' - se começou pela primeira vez a destacar pelo seu fino toque de bola e qualidade de passe, corriam ainda os últimos anos da década de 80.

Com apenas dezassete anos, é natural que o jovem não 'pegasse imediatamente de estaca' na equipa do Boavista, mas ainda assim, os dezassete jogos que realizou pela formação axadrezada (marcando quatro golos) foram suficientes para que o mundo futebolístico internacional pusesse os olhos naquele jovem mais do que promissor - especialmente depois de este ter sido peça fulcral na conquista do bi-campeonato do Mundo sub-20 por parte da Geração de Ouro, em 1989 e 1991.

532131.png

No estádio que o consagraria, ao serviço da Selecção de sub-20, em 1991.

Aquando desta segunda conquista, aliás, o jovem gozava já de experiência internacional, enquanto parte da equipa de reservas do 'gigante' Atlético de Madrid, pela qal realizaria trinta jogos durante a primeira época completa dos anos 90, contribuindo com nove golos. Sem espaço nos 'colchoneros', o jovem seria, no entanto, 'devolvido à precedência' na temporada seguinte, que passaria a reafirmar-se como estrela do clube que o revelara, que ajudaria mesmo a conquistar a Taça de Portugal de 1991-92, contra o rival nortenho que, em tempos, o havia rejeitado. Previsivelmente, as suas exibições ao longo da referida temporada não tardaram a atrair novamente a atenção de um clube maior, mas, desta vez, a proposta veio de 'dentro de portas' - concretamente, do Benfica, clube com o qual ficaria associado durante a meia década seguinte.

image.jpg

Durante a breve passagem pelo Atlético de Madrid, em inícios da década de 90

De facto, foi nos 'encarnados' de Lisboa que João Vieira Pinto verdadeiramente atingiu e cimentou o estatuto histórico de que gozou durante os últimos anos do século XX. Mesmo após um 'susto' que quase ameaçou terminar-lhe com a carreira (um pneumotórax contraído durante um jogo de qualificação para o Mundial de 1994) o eterno 'Menino de Ouro' benfiquista continuou a afirmar-se, época após época, como um dos melhores jogadores portugueses da sua geração, atingindo o estatuto de capitão e referência da equipa, bem como de ídolo incontestado dos adeptos. No total, foram mais de duzentos e vinte os jogos de 'JVP' de águia ao peito, entre os quais se contam exibições tão históricas quanto a do famoso 'derby' lisboeta de 1994, em que dizimou quase por si só o eterno rival do Benfica. Tal era a importância do '8' para o jogo dos encarnados, aliás, que o mesmo viria, inclusivamente, a assinar um contrato vitalício com o clube, em finais da década, já depois de ter sido um dos poucos pontos altos 'daquela' equipa orientada por Graeme Souness.

35169_ori_joao_pinto.jpg

Com a camisola que o tornaria famoso.

Tendo tudo isto em conta, terá sido com pasmo, choque e até fúria justificada que os adeptos benfiquistas viram o seu símbolo ser, na 'virada' do Milénio, dispensado a custo zero pelo então presidente Vale e Azevedo, e prontamente realizar a viagem até ao outro lado da Segunda Circular para reforçar o rival - isto já depois de ter sido, enquanto jogador livre, uma das figuras da honrosa campanha portuguesa no Euro 2000.

O crucial golo que cimentou a vitória de Portugal sobre a Inglaterra, no Euro 2000.

Para piorar ainda mais a situação, na sua segunda época de verde e branco, João Pinto conseguiria o feito que sempre lhe escapara em seis anos de Benfica, sagrando-se Campeão Nacional de 2001-2002, naquele que seria o segundo título do Sporting em três épocas. Seguiram-se mais duas épocas, sempre como figura fulcral dos 'Leões', pelos quais realizaria cerca de cento e quinze jogos, marcando quase seis dezenas e meia de golos e servindo como 'assistente' para nomes como Mário Jardel, Marius Niculae e até um jovem extremo madeirense de talento fora do vulgar, de nome próprio Cristiano...

images.jpg

Ao serviço do Sporting.

Este 'segundo estado de graça' de João Pinto não ficou, no entanto, imune a algumas controvérsias - a maior das quais custaria a Portugal uma vitória importante no Mundial de 2002, na Coreia e Japão, palco do famoso murro de JVP ao árbitro espanhol Ángel Sánchez, após o mesmo lhe ter mostrado o cartão vermelho, que resultaria na suspensão do avançado de jogos internacionais por um período de seis meses. Também bem conhecida era a sua animosidade em relação a Paulinho Santos - a qual era, aliás, reciprocada pelo belicoso ícone da fase 'sarrafeira' do Futebol Clube do Porto.

O momento que terminaria a carreira internacional de João Pinto.

Estes incidentes não deixaram de afectar mentalmente o jogador que, após o término da carreira internacional e duas épocas medianas no Sporting, se veria novamente na condição de jogador livre, e de volta a 'casa', envergando pela terceira vez a camisola axadrezada, desta vez enquanto jogador experiente e 'patrão' da equipa. Esta terceira incursão de Pinto pelo clube que o revelara saldar-se-ia em pouco menos de setenta jogos em duas épocas, com mais onze golos a juntar ao seu pecúlio pessoal.

262897338.jpg

No regresso ao Boavista.

Seria um fim de carreira digno para um dos pilares da 'Geração de Ouro', no clube que o ajudara a lançar, mas JVP optaria por realizar, ainda, mais uma época ao mais alto nível, ao serviço do Sporting de Braga, onde viria a encerrar definitivamente actividades após uma época e meia como titular quase indiscutível.

949572198.jpg

No Braga.

Apesar de ainda ter realizado testes junto do Toronto FC, clube canadiano então na Major League Soccer, o eterno '8' da Selecção viria mesmo a 'pendurar as botas' em Fevereiro de 2008, transitando mais tarde para cargos de dirigente no seio da Federação Portuguesa de Futebol. Não terminava aí, no entanto, o legado da família Pinto no mundo do futebol, já que o jogador deixava um 'herdeiro', Tiago, defesa-esquerdo formado no Sporting e que continua a prosseguir uma carreira honrosa até aos dias de hoje, jogando actualmente pelo Ankaragucu, da Turquia.

Quanto ao pai, uma análise global à sua carreira deixa a imagem de um jogador que, sem nunca ter vingado a nível internacional ou mundial, não deixou de ter uma carreira extraordinária 'dentro de portas' e enquanto esteio da Selecção Nacional, reunindo muitas vezes o consenso até junto de adeptos rivais dos clubes que representava - entre eles este que vos escreve, nos tempos em que o médio ofensivo actuava no Benfica. Fica aqui, pois, a nossa singela e sentida homenagem a um dos melhores jogadores que tivemos o prazer de ver jogar; parabéns, JVP, e obrigado por tudo.

Talvez o momento áureo da carreira de João Pinto.

06.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A figura é familiar para qualquer adepto que tenha acompanhado os Campeonatos Nacionais de futebol de inícios da década de 90, e também para quem tenha tido interesse no campeonato italiano da segunda metade da mesma década e inícios da seguinte: um 'centralão' de expressão plácida e cabelo à 'roqueiro' dos anos 80, que, assim soava o apito, se tornava verdadeiramente intratável, servindo como esteio defensivo não só dos clubes por onde passou como também da Selecção Nacional da fase 'Geração de Ouro', com a qual participou em três Campeonatos Europeus (em 1996, 2000 e 2004) e um Mundial, de má memória, em 2002. Falamos, claro está, de Fernando Manuel Silva Couto, autêntica 'lenda' do FC Porto que, ao lado de nomes como Jorge Costa e Aloísio, garantia solidez no sector mais recuado dos 'Dragões' de inícios da década.

472.jpg

Fernando Couto, ainda adolescente, com a camisola que o notabilizaria.

O que poucos saberão (ou se recordarão) é que Fernando Couto não ficou imune ao habitual processo de empréstimos comum a quase todos os jovens jogadores de um clube 'grande'. Apesar de se ter destacado o suficiente nas camadas jovens do Espinho e Lusitânia de Lourosa para despertar o interesse do Porto, e de ter sido, por uma vez, aposta 'de banco' de Tomislav Ivic na época 1987-88 (ainda em idade de júnior), o jovem Fernando rapidamente se veria 'enviado' para outras paragens, como forma de amadurecer e desenvolver o seu promissor futebol. Ou seja, até um jogador tão famoso e talentoso como Fernando Couto foi, a dado ponto da sua carreira, uma Cara (Des)conhecida em clubes menores do panorama futebolístico nacional.

No caso do central, foram duas as 'paragens' nesta fase da sua carreira, com resultados diametralmente opostos; no Famalicão, realizaria apenas uma partida durante a época 1988-89 (algo que não o impediu de alinhar ao lado de nomes como Rui Costa e João Vieira Pinto no Campeonato do Mundo de sub-20, em Riade, que Portugal viria mesmo a conquistar), enquanto que na Académica, seria figura importante, alinhando em vinte e quatro partidas e contribuindo mesmo com dois golos no decurso da época 1989-90, na qual amealhou também sete presenças na Selecção Nacional Sub-21. Pode, pois, dizer-se que foi enquanto membro do plantel dos 'Estudantes' que Couto verdadeiramente se afirmou como um talento a ter em conta – algo que não passou despercebido aos responsáveis do Futebol Clube do Porto, que o reintegrariam no plantel no início da época seguinte, desta vez de forma permanente.

EUdSNxqWAAAXSxI.jpg

O jogador na Académica, ao lado de Abel Silva, seu companheiro na Selecção Sub-20 que conquistara o Mundial de Riade no Verão de 1989.

O resto da história é bem conhecido: quatro épocas de alto nível ao serviço do Porto, coroadas com seis títulos, que o tornariam peça indiscutível da Selecção Nacional portuguesa levariam à mudança para o campeonato italiano, onde faria mais uma excelente época ao serviço do Parma, ajudando à conquista da Taça UEFA por parte dos italianos. Na segunda época, teria menos proeminência, mas faria, ainda assim, o bastante para assegurar um contrato com o Barcelona de Romário, onde faria mais uma época de alto nível e (apesar de menos utilizado após a chegada de Louis Van Gaal) adicionaria uma Taça dos Vencedores das Taças ao seu palmarés, em 1996-97.

news321g.jpg

Couto no Barcelona.

Na época seguinte, dar-se-ia a maior mudança da sua carreira, no caso o regresso ao Calcio para ser ídolo da Lazio, clube com o qual é mais frequentemente associado e onde permaneceria até ao final da época 2003-04, criando uma relação com clube e adeptos que apenas uma disputa salarial viria a quebrar.

472 (1).jpg

Na Lazio, onde passou a maior parcela da sua carreira e onde se tornou ídolo dos adeptos.

O resultado desse desentendimento seria um regresso ao Parma, onde, aos trinta e cinco anos, Couto provaria que ainda tinha muito para dar ao futebol, realizando mais duas épocas de grande nível antes de 'perder gás' na terceira, a de 2007-08, que acabaria também por ser a sua última,depois de já se ter 'despedido' da Selecção quatro anos antes, após ter 'passado o testemunho' a Ricardo Carvalho durante o Euro 2004. Uma saída em alta, portanto, para um dos mais históricos jogadores portugueses de sempre – e que torna ainda mais difícil acreditar que, em tempos, o mesmo tenha andado 'perdido' em empréstimos por esse Portugal afora.

784.jpg

Com a camisola do Parma.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos futebolistas que abordamos nesta rubrica, Fernando Couto nunca escolheu enveredar pela carreira de treinador, preferindo ser recordado, acima de tudo, pelo seu legado em campo – algo que procurámos, precisamente, fazer nas breves linhas deste 'post', como forma de homenagear um dos melhores defesas centrais portugueses de sempre na semana em que completou cinquenta e quatro anos. Parabéns, Fernando, e obrigado por tudo.

23.07.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

download (1).jpg

O jogador com a última camisola que envergaria.

Era só mais uma jornada, de só mais um Campeonato Nacional da Primeira Divisão. O Benfica viajava até Guimarães para defrontar o Vitória local, numa fria noite de Janeiro de 2004. Do banco, saltava um avançado loiro, contratado a custo zero após rescisão com o FC Porto, e que vinha, a pouco e pouco, conquistando o seu espaço na equipa. E a verdade é que, neste jogo, o mesmo jogador não tarda a deixar a sua marca, fazendo a assistência para o golo da vitória dos encarnados, o único da partida, marcado por Fernando Aguiar. Mais tarde, o mesmo jogador seria admoestado com um cartão amarelo e, em reacção, esboçaria um sorriso irónico e inclinar-se-ia para a frente, pondo as mãos nos joelhos; momentos mais tarde – mas que pareceram uma eternidade – colapsaria no terreno de jogo, suscitando acção imediata por parte das equipas médicas de ambos os clubes, bem como do INEM, que levaria o jogador de urgência para o hospital. Infelizmente, o jovem não viria a conseguir recuperar do acidente cardíaco e, nesse mesmo dia, era noticiado o seu falecimento, aos vinte e quatro anos de idade. Chamava-se Miklos Feher, teria feito há poucos dias quarenta e quatro anos, e a sua morte é ainda hoje lembrada por qualquer adepto português daquela época como talvez a maior tragédia de sempre no desporto-rei nacional.

download (2).jpg

A primeira experiência de Feher fora da Hungria foi a sua passagem atribulada pelo Porto.

Do que muitos talvez não se recordem, no entanto, é que Feher vinha já fazendo uma carreira honrosa em Portugal antes da sua chegada à Segunda Circular lisboeta, tendo sido Cara (Des)conhecida num par de 'históricos', e tido mesmo a sua afirmação num deles. Contratado pelo FC Porto ao Gyori ETO, da sua Hungria natal, no defeso de Verão de 1998, pouco antes ou pouco depois de completar dezanove anos de idade (nasceu a 20 de Julho de 1979), o ponta-de-lança já internacional sub-21 pelo seu país ver-se-ia, no entanto, sem espaço no plantel portista da altura, tendo conseguido amealhar apenas dez presenças pela equipa principal dos Dragões (um golo) e mais sete pela equipa B (dois golos) antes de seguir o habitual percurso de empréstimos para ganhar experiência.

download.jpg

O jogador no Salgueiros...

A primeira paragem foi o 'vizinho' Salgueiros, onde ingressou logo no dealbar do ano 2000, ainda a tempo de efectuar catorze jogos e contribuir com cinco golos; já a primeira época completa do Milénio vê-lo-ia afirmar-se no Braga, onde marcaria catorze golos em vinte e seis jogos, uma média de mais de um golo a cada dois jogos. Pelo meio, ficariam ainda vinte e cinco internacionalizações pela equipa A da Hungria, pela qual marcaria sete golos.

FJ8JWhRWUAEiO15.jpg

...e no Braga, onde faria a sua melhor época.

Seriam estas boas exibições que viriam a despertar o interesse do Benfica, com o qual Feher assinaria contrato no final da época 2001-2002, após mais uma temporada 'gorada' no Porto, e por quem chegaria aos trinta jogos e sete golos, sendo opção regular a partir do banco, e ganhando aos poucos a confiança dos adeptos. Tudo viria, no entanto, a terminar naquela noite de Janeiro, em que a morte ceifaria uma carreira que, caso contrário, talvez ainda tivesse continuado durante pelo menos mais uma década, quiçá nas divisões inferiores, ou em outros 'históricos' das ligas portuguesas, até se dar a inevitável transição para o posto de treinador, que talvez ainda ocupasse nos dias de hoje.

Miklos_Feher_memorial.jpg

A estátua a Feher no Estádio da Luz.

Tal como sucedeu, no entanto, a História trataria de eternizar Miklos Feher como aquele jovem de 'farripas' loiras e sorriso malandro, vestido com a camisola encarnada com patrocínio da Vodafone, que tiraria um momento para descansar no fim de um jogo físico e intenso, e não tornaria a levantar-se, e que é hoje homenageado com uma estátua no Estádio da Luz, e tributado sempre que uma equipa húngara visita Portugal. Que descanse em paz.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub