31.08.23
Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.
As visitas ao médico de família, salão de beleza, ou qualquer outro local dotado de uma sala de espera serviram como principal ponto de contacto entre os jovens dos anos 90 e 2000 e certas revistas que, de outro modo, nunca chegariam necessariamente a entrar no seu 'radar'. Isto porque, se quase todos os lares portugueses da época tinham uma pilha de 'TV Guias' ou 'TV 7 Dias' na sala de estar, tal não era, necessariamente, o caso com revistas mais especializadas, cuja compra requeria um interesse pelo menos passageiro na temática que abordavam, mas que, no contexto acima descrito, ajudavam a passar o tempo, quanto mais não fosse olhando para as fotografias.
A revista de que falamos esta semana integrava esse lote, tendo-se, ao longo dos seus já quarenta anos de publicação, tornado um dos 'clássicos' das salas de espera nacionais.Trata-se de 'Casa Cláudia', a versão portuguesa da revista brasileira do mesmo nome, que chegava às bancas há pouco mais de quatro décadas, em Maio de 1988 – onze anos depois da fundação da sua congénere sul-americana – através da inevitável Abril (ainda longe de ser Controljornal).
Como o próprio nome indica, a revista tem como principal foco a decoração de interiores, com tudo o que a mesma acarreta – ou seja, muitas (mesmo muitas!) fotografias de casas e acessórios que, hoje, seriam descritos como 'Instagramáveis', naquela espécie de 'catálogo disfarçado de revista' que continua a fazer as delícias de um certo tipo de público. E se, para as crianças e jovens, o tema em causa dificilmente detinha grande interesse, não deixava, ainda assim, de ser divertido ajudar os mais velhos a obter inspiração para potenciais projectos de decoração ou renovação, descobrindo assim, ao mesmo tempo, o gosto pessoal neste campo.
Claro está que o conteúdo da revista não se limitava a esse tipo de artigo, abrangendo ainda a análise a acessórios de exterior, a ocasional visita a casas de famosos, e até algumas peças de índole mais técnica, com instruções para projectos do estilo 'faça-você-mesmo' que permitiam, com algum jeito, poupar algum dinheiro no processo de renovação ou criação do lar. Uma fórmula que, longe de ser inovadora, encontrava tracção entre um determinado público-alvo, que assegurou o sucesso de vendas da revista até ao início da muito anunciada 'morte' da imprensa escrita em formato físico, em finais da década de 2010 – altura em que, aliás, a própria 'Casa Cláudia' havia já seguido o exemplo de outras publicações semelhantes e expandido a sua área de abrangência através de duas revistas-satélite, uma sobre arquitectura e outra dedicada exclusivamente a ideias sobre decoração.
Mesmo a referida transição para formatos digitais, e subsequente quebra nas vendas, não foi, no entanto, suficiente para 'matar' a 'Casa Cláudia', que se mantém nas bancas até aos dias de hoje, num de vários exemplos de resiliência por parte de publicações que, como Astérix, 'resistem ainda e sempre ao invasor' cibernético, e que – por esse mesmo motivo – se tornam merecedoras de destaque nas páginas deste nosso blog.