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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

01.02.22

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Numa era de constantes e infindáveis descobertas tecnológicas, como foram os anos 90, não constitui de todo motivo de espanto saber que as empresas e corporações de venda de produtos e serviços procuraram, precisamente, utilizar essa tecnologia como ferramenta para mover mais unidades dos seus produtos, através do estabelecimento de uma ligação entre os mesmos e a nova vaga tecnológica, especialmente na vertente informática.

Nos anos antes do advento da Internet, e subsequente nascimento dos sites de jogos em Flash, redes sociais e outros veículos hoje indissociáveis da experiência informática corporativa, a divulgação destes produtos, e subsequente atracção de novos clientes, fazia-se de forma um pouco diferente – nomeadamente, através da criação de jogos promocionais, destinados a serem oferecidos como brindes na compra do produto, ou contra o envio de provas de compras ou outro elemento semelhante; e apesar de em Portugal esta estratégia só se ter verdadeiramente popularizado na década seguinte - nos Estados Unidos, era já prática corrente em plataformas como a Nintendo original, cuja biblioteca inclui jogos da McDonald's e Domino's Pizza - a verdade é que a mesma ainda chegou a tempo de render um ou outro exemplo bem interessante desta tendência durante os anos 90.

O jogo dos douradinhos Croustibat, 'clonado' da série 'Gobliiins!', da Sierra

De um deles, 'Croustibat' (um clone directo de 'Gobliiiins! 2', da Sierra, com gráficos e história substancialmente alterados, e cerca de quinze minutos de conteúdo jogável) já falámos no post sobre os falhados aspirantes a concorrentes dos Douradinhos lançados pela Findus, e que o jogo ajudava a divulgar junto do público jovem; existe, no entanto, pelo menos mais um jogo lembrado com saudade e carinho por quem consumia produtos alimentares destinados ao público mais jovem durante aquela época: o jogo da Nesquik, disponibilizado em disquete (!) juntamente com os produtos da popular linha da Nestlé, em 1994-95.

Infelizmente, só existe na 'net' com textos em Alemão...

Oficialmente intitulado 'Tricky Quicky', trata-se de um jogo de plataformas bem típico da época, com gráficos coloridos, ao estilo Sonic, e que oferece uns generosos quinze níveis (espalhados por cinco 'mundos') através dos quais o jogador deve comandar a mascote da marca, evitando inimigos e recolhendo bolinhas do cereal Nesquik (que pode depois utilizar para eliminar os referidos inimigos com o poder do chocolate) bem como caixas inteiras do produto, e ainda as letras da palavra Nesquik espalhadas em cada nível, bem ao estilo dos jogos de Donkey Kong da época. Não faltam, claro está, as batalhas com o 'chefe' do jogo, um cientista malvado que procura apoderar-se da receita do popular achocolatado.

Um jogo absolutamente genérico para a altura em que foi lançado, mas que usufruía do factor novidade (não era habitual os cereais de pequeno-almoço oferecerem jogos de computador, ainda menos completos) e da cara reconhecível da mascote que o protagonizava para garantir a criação de memórias entre as crianças e jovens de meados de 90.

O jogo da LEGO Bionicle oferecido com os cereais da Nestlé, em 2001

Talvez tenha mesmo sido o sucesso deste jogo que motivou as companhias a, na década seguinte, expandirem a indústria de jogos promocionais oferecidos como brinde na compra dos próprios produtos, já que o início do século XXI foi palco de diversas iniciativas deste estilo, de um jogo da série Bionicle (da LEGO) oferecido novamente com os cereais Nestlé, até um jogo de corridas com a chancela de Tony the Tiger disponível com os cereais Kellogg's, além de muitos jogos licenciados, com ligação aos principais filmes, desenhos animados e mascotes da época.

Com o passar do tempo, e o crescimento da Internet, estes jogos acabaram por encontrar o seu 'habitat' natural, como elementos em Flash nos websites e redes sociais das respectivas companhias: no entanto, para a primeira geração a crescer com computadores (e última a fazê-lo sem Internet) ficará, para sempre, na memória a sensação entusiasmante de voltar do supermercado com os pais, abrir a caixa de barrinhas de pescada ou cereais para pequeno-almoço acabada de adquirir, e encontrar como brinde um jogo de computador completo, prontinho a ser explorado no PC lá de casa numa tarde de fim-de-semana...

13.01.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Para as crianças dos anos 90, o conceito de 'douradinhos' estava indelevelmente associado, ao ponto de ser quase sinónimo, com uma só marca – a Iglo, vertente europeia da anglófona Bird´s Eye – e respectiva mascote homónima – o Capitão Iglo (originalmente Captain Bird's Eye), um 'lobo do mar' da velha guarda cuja principal preocupação era garantir que, durante as suas expedições de pesca nos mares do Norte, os seus marujos apanhavam sempre o peixe mais fresco com o qual produzir os palitos de peixe panado ultra-congelados que tanto sucesso faziam entre a miudagem.

Este monopólio de mercado não impediu, no entanto, uma das principais rivais da Iglo de, em meados da década, tentar a sua sorte na comercialização deste tipo de produtos, sob a denominação Croustibat.

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Embalagem francesa do produto, que continua a ser comercializado no seu país natal

Originalmente idealizado em França (o próprio nome do produto parece, aliás, ser um 'portmanteau' de 'croustillants batôns', ou 'pauzinhos crocantes', o que acaba por ser uma descrição praticamente literal do que é um douradinho) e trazido para Portugal pela mão da Findus o conceito Croustibat 'amarava' em terras lusas pronto a comercializar, com grafismo, campanhas de marketing e até mascote própria, um peixe de chapéu de marinheiro e músculos à Popeye, pronto a enfrentar cara-a-cara o Capitão Iglo e acabar com a sua hegemonia. O investimento na penetração de mercado desta marca foi tal que chegou a ser feito um jogo de computador - uma adaptação gráfica de um dos jogos da série 'Gobliiiins!' com a mascote da gama como protagonista, que é hoje mais lembrado do que o próprio produto em si - uma honra a que, em Portugal, apenas o bem mais reconhecível Coelho Quicky havia, até então, almejado.

 

Vídeo integral do jogo de Croustibat, com direito até ao memorável anúncio da marca no início

Infelizmente, todos estes esforços se provaram ser em vão, já que os douradinhos Croustibat não duraram mais do que um par de anos nas prateleiras portuguesas, acabando por desaparecer das prateleiras de forma discreta, e sem nunca terem representado real ameaça ao domínio absoluto do Capitão Iglo sobre a arca dos congelados de peixe – o exacto oposto, certamente, do que a Pescanova pretendia ao importar para Portugal o conceito.

Quanto mais não seja, no entanto, a experiência Croustibat terá servido como caso de estudo, já que, nas três décadas subsequentes, nenhuma marca se atreveu a repetir a 'gracinha' de tentar fazer frente à Iglo no tocante a douradinhos, sendo que a única concorrência aos mesmos existente nos dias de hoje continua a vir das 'barrinhas de pescada' da Pescanova (que não quer, concerteza, incorrer em violação de uma marca e nome registados...) edos também já clássicos Peskitos, a alternativa aos douradinhos da Pescanova que ganha pontos por moldar os seus fritos em forma de peixe, mas perde por não te um nome ou mascote reconhecíveis -que ocupam um confortável segundo lugar como alternativa ao mais conhecido produto da Iglo. Quanto ao nome Croustibat em si, o mesmo acabou por ficar imortalizado, já no novo milénio, como denominação de uma banda integrante do movimento punk/hardcore português – mas isso seria já assunto para outra secção deste blog; para já, fica aqui a recordação desta história de David e Golias que, ao contrário da tradicional fábula, não se traduziu num triunfo do mais fraco, antes pelo contrário...

 

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