13.12.23
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
Figura central do imaginário natalício ocidental, o Pai Natal tem servido, ao longo das décadas, uma função dupla como, por um lado, o distribuidor dos mais desejados brinquedos e prendas e, por outro, figura de austera autoridade que pode, caso se justifique, trocar os referidos presentes por um bocado de carvão ou algo igualmente desagradável. Esta dualidade de critérios não impede, no entanto, as crianças de, todos os meses de Dezembro, desejarem visitar o bom velhinho no seu 'trono' no hipermercado ou centro comercial mais próximo, e lhe escreverem uma carta em que listam o que mais desejam ver debaixo da árvore na noite de dia 24 para dia 25. Em meados dos anos 80, os CTT aproveitaram esta tradição informal, que lhes 'inundava' os serviços todos os meses de Dezembro, para lançarem uma campanha de 'cartas ao Pai Natal', que permitia às crianças viverem a ilusão no seu expoente máximo, e que perdura até aos dias de hoje.
O principal diferencial desta campanha em relação à escrita independente de cartas – para além do incentivo extra que oferecia às crianças – era o facto de todas as cartas receberem resposta, por vezes acompanhada de uma pequena lembrança simbólica. Este pequeno-grande detalhe não só permitia alimentar a bonita ilusão em torno do residente do Pólo Norte, mas também oferecia aos remetentes (a maioria ainda muito nova) a sua primeira experiência de recepção de correspondência – algo praticamente insignificante, e até algo obsoleto, nos tempos actuais, mas capaz de entusiasmar qualquer criança da era pré-massificação do email.
A juntar a estes argumentos, havia ainda o facto de muitas escolas primárias terem aderido à campanha nos seus anos iniciais, permitindo aos alunos elaborar as cartas na sala de aula, e mesmo, em certos casos, acompanhando-os ao marco de correio para ali as depositarem, como foi o caso na instituição frequentada pelo autor deste blog. Tal gesto vinha, por sua vez, adicionar a toda a experiência do Natal na sala de aula, juntando-se aos inevitáveis desenhos de sininhos e Pais Natais numa tradição anual por que muitos alunos da faixa etária em causa esperavam.
Conforme acima mencionado, a tradição das cartas ao Pai Natal enviadas através dos CTT perdura até aos dias de hoje, embora seja de crer que muitas das mesmas sejam, hoje, já remetidas por email. Ainda assim, continua a tratar-se de uma iniciativa louvável, que alimenta a fantasia natalícia das crianças ao mesmo tempo que lhes permite treinar a escrita e lhes oferece um primeiro contacto com o processo de envio de correspondência.