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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.11.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Qualquer português nascido ou crescido nos anos 90, independentemente do seu interesse em videojogos, reconhece o 'Templo dos Jogos' da SIC como um dos mais bem-sucedidos e icónicos programas televisivos daquela década. Numa altura em que a Internet dava ainda os primeiros passos, o conceito de um programa onde eram mostradas, em exclusivo, imagens dos jogos de computador e consola mais 'badalados', em conjunto com algumas informações sobre os mesmos, era genial na sua combinação de simplicidade e utilidade, servindo o programa, essencialmente, como um Telejornal de videojogos, em que os apresentadores acabavam por servir como pouco mais do que 'pivots', deixando a verdadeira 'ribalta' para aquilo que todos queriam ver – as imagens dos jogos em si.

Tendo em conta este sucesso, não é de estranhar que uma das concorrentes da estação de Carnaxide – no caso, a RTP – tenha querido copiar a fórmula que tanto sucesso de audiências fazia na 'colega' privada; no entanto, talvez motivada pelo desejo de apresentar algo único e que não parecesse um 'xerox' tão descarado, a emissora estatal adicionou ao seu programa algumas 'nuances' que, embora bem-sucedidas em o tornar diferente, contribuíram também para o tornar menos interessante. No fundo, a RTP não percebeu o que estava, verdadeiramente, por detrás do sucesso do 'Templo', e viu a sua própria tentativa falhar como consequência do seu 'erro de cálculo'.

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Patrocinado (e de forma nada subtil) pela SEGA, 'Cybermaster' tinha como premissa combinar o formato do 'Templo' da SIC com uma vertente competitiva, de concurso infantil televisivo, adornando o todo com uma estética 'cyberpunk', bem típica dos filmes de ficção científica de série B que os jovens da altura traziam todos os fins-de-semana do seu videoclube local. Os apresentadores, assistente e o próprio cenário exibiam figurinos algures entre 'O Quinto Elemento' (então ainda em produção) e 'Mad Max', e o próprio conceito do concurso colocava os jovens concorrentes em luta directa, não só entre si, mas com o malvado personagem-título, interpretado pelo actor João D'Ávila com um visual 'à la' Bela Lugosi – uma missão que envolvia, sobretudo, disputas mano-a-mano em alguns dos jogos da SEGA mais populares da altura, incluindo vários da então ainda recente Sega Saturn, azarada pioneira das consolas 32-bits.

Uma fórmula interessante, mas que não foi suficiente para garantir a longevidade do programa, que acabou por ficar no ar durante apenas um ano, entre 1996 e 1997, e é, hoje em dia, bem menos lembrado do que o 'Templo' - algo que não deixa de causar alguma estranheza, já que o formato era sólido, e tinha tudo para atrair a atenção do público-alvo. Talvez tenha sido pela necessidade de complicar em demasia um conceito simples, ou talvez pelo falhanço de vendas da Sega Saturn, que, à época, vinha já sendo pesadamente derrotada em volume pela rival PlayStation; seja qual tiver sido a razão, a verdade é que 'Cybermaster' é, hoje, uma daquelas relíquias 'de época' algo perdidas no tempo, capaz de causar nostalgia a uma parcela da geração 'millennial' portuguesa, mas que, para a maioria dos ex-'putos' noventistas, apenas causará estranheza, e uma sensação de 'como é que eu nunca vi isto?' Para esses, ficam abaixo não apenas um, mas dois episódios completos do programa, para que possam preencher essa lacuna na cultura 'pop' juvenil portuguesa de finais do século XX.

Pode parecer um delírio da imaginação, mas não é - este programa existiu mesmo...

17.10.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

As décadas de 80 e 90 foram palco de um estranho sub-género de concurso televisivo, em que as provas eram mais focadas na habilidade física do que intelectual, consistindo muitas vezes de corridas de obstáculos ou confrontos de cariz quasi-desportivo, cujo mais famoso exemplo são os icónicos 'Jogos Sem Fronteiras'. Já aqui falámos, numa ocasião anterior, de um desses programas, o mítico 'Jogo do Ganso', produzido em Espanha e transmitido pela TVI, e, em tempo, aqui falaremos dos referidos 'Jogos' e da variante japonesa, 'Takeshi's Castle', conhecido em Portugal pelo insólito título de 'Nunca Digas Banzai'; esta semana, no entanto, a nossa atenção recairá sobre a versão americana deste tipo de programa, que cativou a atenção dos jovens portugueses aquando da sua transmissão na SIC, há exactos trinta anos.

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No ar nos seus EUA natais desde finais da década anterior, 'Gladiadores Americanos' tinha, já, o seu formato (um cruzamento entre o conceito dos supramencionados 'Jogos Sem Fronteiras' e a estética da luta-livre americana) mais do que bem definido quando, em 1993, atravessou o Atlântico para apresentar aos jovens lusitanos os 'guerreiros' titulares – todos musculados, com fatos de 'lycra' justos e nomes como Blade e Hawk, bem ao estilo do que faziam a WWF e WCW – e as mirabolantes provas a que os mesmos submetiam os concorrentes, algumas das quais (como a da 'justa' sobre plataformas oscilantes) chegaram a entrar no imaginário da cultura pop norte-americana.

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A prova mais célebre do programa

E apesar de o programa não ter tido, em Portugal, o mesmo sucesso de que gozava no seu país natal (onde teve direito a seis temporadas, além de um breve retorno em 2008) o mesmo não deixou, ainda assim, de marcar época na TV portuguesa, muito graças ao comentário do icónico, inigualável e inconfundível Jorge Perestrelo – o qual, como Tarzan Taborda no programa da WWF  transmitido pela RTP na mesma época, ajudava a dar um colorido especial à emissão, com o seu entusiasmo e expressões características.

Mesmo sem este 'bónus' acrescido da locução de Perestrelo, no entanto, 'Gladiadores Americanos' era tudo o que um jovem da altura poderia querer de um programa deste tipo, com provas frenéticas e fisicamente intensas, e personagens que simbolizavam o ideal de perfeição da época, e que ajudavam a disfarçar o facto de o próprio conceito do programa ser injusto; afinal, toda a competição se centrava em torno de disputas físicas entre jovens perfeitamente normais e atletas profissionais com físicos 'de ginásio', e a quem havia sido dito que não refreassem os seus esforços! Ainda assim, acabava sempre por haver quem se conseguisse superiorizar aos 'empregados' do programa, e almejar a tão cobiçada vitória final, num daqueles desfechos de 'David Contra Golias' que nunca deixam de ser satisfatórios.

Apesar desta junção de factores bem apelativos, no entanto, 'Gladiadores Americanos' nunca foi tão bem-sucedido que justificasse a produção de uma versão portuguesa, como havia já acontecido em outros países; no entanto, quem chegou a acompanhar aquela transmissão dobrada e adaptada dos primórdios da SIC certamente guardará, ainda hoje, a memória daqueles homens e mulheres musculosos a lutar com paus de borracha sobre uma plataforma oscilante, ao som da voz característica de Jorge Perestrelo...

Publicidade ao programa exibida na SIC à época da transmissão do mesmo.

 

05.09.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Ao falar de um concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, a resposta de dez em cada dez 'X' e 'Millennials' lusitanos será, certamente, apenas uma: 'Arca de Noé', o lendário concurso que tornou Fialho Gouveia, Carlos Alberto Moniz e Ana do Carmo nomes conhecidos e acarinhados entre as demografias mais jovens. No entanto, a verdade é que, sensivelmente na mesma altura, ia também ao ar na RTP um outro concurso de cultura geral dirigido a um público infanto-juvenil, com dupla de apresentadores masculina e feminina e canções sobre animais posteriormente lançadas em disco, e com a participação directa de um cantautor chamado Carlos e conhecido pelas suas composições especificamente dirigidas às crianças e jovens.

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Podem parecer demasiadas coincidências, mas a verdade é que se deram mesmo, sendo que, durante um breve período em inícios dos anos 90, o Tio Carlos e o Avô Cantigas fizeram concorrência um ao outro pelos corações das crianças portuguesas, com dois programas muito semelhantes. De facto, 'Vitaminas' quase pode ser considerado uma versão de 'Arca de Noé' produzida sob o efeito de drogas psicotrópicas, com os cenários sóbrios a darem lugar a um mundo de banda desenhada psicadélico, onde cabiam tanto a faceta de concurso como números musicais e até 'sketches' humorísticos, como aqueles em que um personagem totalmente 'sem noção' (no caso Félix Fracasso, interpretado por António Cordeiro) invadia o auditório e atrapalhava o andamento do programa, tão populares nos concursos 'para graúdos' da altura, e aqui adaptados ao contexto infantil.

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A dupla de apresentadores do programa.

Particularmente dignos de nota eram os segmentos em que Carlos Alberto Vidal 'entrevistava' animais (ou antes, pessoas dentro de fatos de animais, como é óbvio) como forma de transmitir alguns factos sobre os mesmos – uma preocupação partilhada com o 'concorrente' directo. Cada um dos 'animais' assim entrevistado virava, depois, tema do número musical do episódio, tendo estes, mais tarde, formado a base do LP alusivo ao programa, lançado na mesma época e interpretado por Carlos Alberto Vidal. Também notáveis, pela sua bizarria, era a rubrica 'Patati Patata', em que os dois apresentadores, Vidal e Sofia Sá da Bandeira, vestiam a pele dos personagens titulares e habitavam um espaço perpetuamente acelerado, alucinado e abstracto, que pouco ou nada parecia ter a ver com a porção competitiva do programa.

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O LP com as músicas do programa.

Era, precisamente, esta fusão única de humor, 'performance' artística e concurso competitivo que tornava 'Vitaminas' mais do que apenas um 'aproveitador' da fama de 'Arca de Noé', fazendo com que valesse a pena sintonizar a RTP1 aos Sábados de manhã para ver que bizarrias guardava o episódio daquela semana. E ainda que, hoje em dia, o programa pouco mais seja do que uma distante memória psicadélica na mente do então público-alvo, a verdade é que, à época, constituiu um conceito inovador – talvez até em demasia, já que o seu 'tempo de antena' foi de apenas cerca de um ano, vindo a concluir-se algures em 1992. Ainda assim, quem viveu aquelas transmissões em 'primeira mão' certamente estará, neste momento, a ver 'desenterram-se' dos cantos mais recônditos do seu cérebro imagens, frases e refrões de cantigas sobre animais julgadas há muito esquecidas – por aqui, é certamente esse o caso...

Peça alusiva ao programa na rubrica 'Retroescavadora', da RTP Memória, onde se podem ver alguns trechos do mesmo.

25.07.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Era inevitável: durante um qualquer intervalo para publicidade, surgia nos ecrãs da juventude portuguesa um anúncio a um concurso de termos e prémios irrecusáveis, ou de um serviço absolutamente irresistível para a demografia em causa, e, na parte inferior do ecrã, lá estava o fatídico indicativo – 0641 (mais tarde 0670 ou apenas 760) – e, em letras microscópicas, o aviso legal sobre os custos (geralmente astronómicos) de efectuar tais chamadas.

Exemplo típico do formato, com uma pergunta ridiculamente fácil destinada a atrair o público-alvo.

Sim, no tempo em que ainda não existiam redes sociais nem 'sorteios' de YouTubers, as chamadas de valor acrescentado representavam um dos principais meios de 'extorquir' dinheiro aos mais novos – ou antes, aos seus pais – criando conjunturas de probabilidades imensamente reduzidas, mas que apelavam maravilhosamente àquele instinto de 'e se for eu?', ou ainda serviços legítimos (como truques e dicas para jogos de PC e consola, anedotas ou chamadas com 'celebridades' como o Pai Natal), mas oferecidos a taxas altamente inflacionadas, e 'debitados' a um ritmo o mais lento possível, de forma a obrigar os jovens a ficar em linha vários minutos. Era um negócio, ao mesmo tempo, legal e completamente desonesto, magnificamente capaz de explorar a 'zona cinzenta' em que se encontrava, e que apenas o advento da Internet – não a dos anos 90, mas aquela que conhecemos hoje em dia, em que tudo é possível com um ou dois cliques – conseguiu erradicar.

De facto, quando os serviços oferecidos por estas linhas passaram a estar disponíveis, sem custos, nos mais variados 'websites', e os concursos passaram a envolver o preenchimento de um formulário em vez de repetidas tentativas de ligar para um determinado número, as chamadas de valor acrescentado deixaram de fazer sentido, e acabaram por desaparecer do 'mainstream' televisivo - embora sobrevivessem, ainda e sempre, nas emissões 'fora de horas' de certos canais privados.

Linhas como esta, destinada a informações sobre a programação dos canais da RTP - sim, a sério! - tornar-se-iam completamente obsoletas após a massificação da Internet.

O conceito em si, no entanto, não se extinguiria completamente – apenas se transmutaria, com as chamadas telefónicas a serem substituídas por SMS (também de valor altamente inflacionado, claro) utilizados para fins tão diversos como obter a música 'da moda' no famoso formato de 'toque polifónico', falar com aquilo a que se viriam a chamar 'chatbots', ou até algo tão simples como ter uma anedota enviada para o telemóvel. Sob esta nova forma, este tipo de serviço sobreviveria ainda cerca de uma década, até o advento dos 'smartphones' vir tornar obsoleta a necessidade de 'sacar' toques oferecidos por serviços mais do que manhosos, e pagos a peso de ouro.

Ainda assim, uma década após a sua extinção derradeira, e trinta anos após o seu auge, este tipo de serviços continua a ser recordado por toda uma geração de portugueses como uma das maneiras mais certas de levarem uma 'bronca' dos pais no fim do mês; já para a Geração Z, esta será mais uma das muitas experiências que nunca chegarão a viver pessoalmente – embora, neste caso, isso talvez não seja necessariamente algo de negativo...

20.04.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Apesar de ter a forte concorrência da Panrico e dos cereais Nestlé e Kellogg's, nenhum cidadão português nascido entre as décadas de 80 e 2000 disputará o título da Matutano como rainha dos brindes promocionais e 'febres' de recreio de finais do século XX e inícios do seguinte. Dos inesquecíveis e icónicos Tazos às Matutolas, passando pelos Pega-Monstros e Caveiras Luminosas, foram tantas e tão memoráveis as promoções das “batatas” durante esse período que, a dado ponto, qualquer conceito que a Matutano tocasse se transfornava em sucesso garantido – mesmo que envolvesse algo tão pouco atrante para a demografia-alvo como a Matemática.

Ainda assim, muitas vezes, a magnata dos “snacks” salgados em Portugal escolhia não arriscar, e investir num conceito já testado em outros ambientes e circustâncias, e simplesmente adaptado à realidade das batatas fritas e salgadinhos. Foi o caso com uma promoção de finais dos anos 90, hoje algo “eclipsada” pelos clássicos elencados acima, mas que não deixou, ainda assim, de fazer furor à época do lançamento: as “Raspadinhas” Matutano.

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(Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

De conceito aparentemente semelhante ao do jogo de sorte promovido pela Santa Casa da Misericórdia, esta versão do popular “cartão de raspar” funcionava de modo ligeiramente diferente: ao invés de tentar encontrar ou alinhar três símbolos iguais, o jogador era desafiado a encontrar o “caminho” para o prémio contido em cada cartão. Para esse efeito, era necessário ir “raspando” as diferentes casas, e esperar que as setas contidas por baixo de cada uma delas permitissem continuar o caminho em direcção ao tão cobiçado objectivo, o qual, normalmente, se traduzia na obtenção de um segundo pacote de batatas inteiramente grátis – o que, convenhamos, era um prémio mais que apetecível para o público-alvo do jogo!

Infelizmente, a versão da Matutano para o jogo da “Raspadinha” continha uma enorme lacuna, rapidamente explorada pela maioria dos jogadores – nomeadamente, o facto de os cartões serem translúcidos, permitindo ver a sua própria “solução” quando postos contra uma fonte de luz apropriada. Escusado será dizer que havia pouco quem não tirasse partido desta “manha”, a qual não seria, decerto, apreciada pelos donos de estabelecimentos alimentícios da época, pela quantidade de pacotes de “graça” em que se traduzia...

Mau-grado esta fraqueza – ou talvez por causa dela – as Raspadinhas Matutano tiveram um nível de sucesso suficiente para justificar novas séries, como o Jogo da Moeda – que propunha a raspagem de quatro de entre dez mãos, com o intuito de fazer coincidir o valor da aposta com os números nelas contidos, sem “rebentar” - ou uma colecção tematizada em torno da série Guerra das Estrelas/Star Wars, que regressava naquela época ao cinema com pompa e circunstância, com a primeira de três “prequelas”.

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O Jogo da Moeda, sucessor da raspadinha nos pacotes da Matutano. (Crédito da foto: Enciclopédia de Cromos)

Nenhuma destas continuações teve, no entanto, o impacto da original, levando a que a Matutano explorasse outro tipo de alternativas em promoções subsequentes; a série original, no entanto, afirma-se ainda hoje – merecidamente – como um dos 'clássicos menores' do período hegemónico da companhia, em que cada nova promoção (incluindo esta) parecia apenas cimentar mais o nome da marca junto de toda uma geração de crianças.

18.04.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Em edições passadas desta mesma rubrica, temos ao longo do tempo vindo a abordar concursos icónicos da televisão portuguesa de finais da década de 80 até ao dealbar do Novo Milénio; esta semana, chega a altura de juntar mais um programa a essa vasta lista de 'game shows' icónicos, e recordar outro saudoso concurso das noites daquela época; o 'Palavra Puxa Palavra'.

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Apresentado por António Sala – futuro sucessor de Carlos Cruz no 'Um, Dois, Três' e 'cara' da versão portuguesa de 'Você Decide', além de eterna 'voz' do 'Despertar' da Rádio Renascença – o concurso era, como a maioria dos seus congéneres da época, uma adaptação directa de um formato estrangeiro, no caso norte-americano, e propunha uma espécie de jogo de 'charadas', a pares, entre dois concorrentes e dois convidados especiais. A cada elemento do duo era, alternadamente, dada uma palavra, que o mesmo deveria tentar transmitir ao seu parceiro através de cinco pistas; no final, sobrava apenas um dos dois concorrentes, o qual se juntava ao convidado da sua escolha para tentar identificar dez palavras no espaço de um minuto. Pelo meio, havia também 'palavras-cheque', que davam direito a bónus, mas apenas se adivinhadas em três pistas ou menos, o que acentuava o seu carácter 'especial' e aumentava a dificuldade dos turnos em que surgiam. Um conceito original, relativamente fácil de 'vender' a um público-alvo habituado a jogar às 'Charadas', e que compreendia a tensão inerente a ter que descobrir a palavra correcta em poucos segundos, e com ajuda limitada. 

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Exemplo de um turno da primeira fase do programa.

Talvez estivesse aí um dos 'trunfos' por detrás do sucesso do programa, que conseguiu manter-se no ar durante honrosos quatro anos, de 1990 a 1994 – menos do que 'dinossauros' como 'O Preço Certo' ou o referido 'Um, Dois, Três, mas mais do que muitos dos seus contemporâneos – tendo durante três deles feito parte da grelha da RTP2 (então um pouco menos 'culta e adulta' do que hoje em dia) e no último do principal canal estatal, numa transição directa que não implicou quaisquer alterações ao formato ou sequer mudança de apresentador, pesassem embora os compromissos de Sala no 'Um, Dois, Três'.

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O carismático apresentador do programa.

À distância de trinta anos, a impressão que fica é a de um concurso que, apesar de não se encontrar ao mesmo nível dos grandes 'clássicos' da RTP neste campo, não deixava de ter todos os elementos necessários ao sucesso dentro do seu campo, do formato interessante ao apresentador carismático, e que conseguiu deixar pelo menos alguma 'marca' nostálgica na geração que passou as noites de semana no sofá, em família, a ver concorrentes 'esmifrarem-se' para ganhar prémios numa série de programas absolutamente icónicos – da qual este faz também, merecidamente, parte. Tanto assim que, findo o programa, o mesmo foi substituído por outro de formato quase exactamente idêntico, com o mesmo patrocinador e locutor, agora intitulado 'A Grande Pirâmide' – e dado que, como diz um ditado anglófono, 'a imitação é a mais sincera forma de homenagem', 'Palavra Puxa Palavra' deve, certamente, ter sido bem-sucedido naquilo a que se propunha...

21.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos alguns dos principais concursos televisivos do Portugal de finais do século XX, tendo nessas ocasiões também mencionado que este tipo de conteúdos constituía um dos principais 'esteios' da programação dos quatro canais 'abertos' portugueses da época. No entanto, havia, até agora, uma lacuna de vulto na nossa cobertura de programas desse tipo, lacuna essa que procuramos agora preencher: chegou, finalmente, a altura de falar do Um, Dois, Três.

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Considerado por muitos como o expoente máximo dos 'game shows' portugueses da fase clássica – mais ainda do que 'O Preço Certo' – o programa em causa conseguiu permanecer no ar durante praticamente uma década e meia, com muito poucas alterações ao formato, e apenas uma mudança de apresentador durante todo esse período. Da sua estreia há quase exactamente trinta e nove anos (a 19 de Março de 1984) à última emissão em 1998, o concurso baseou-se quase sempre numa prova de 'endurance' mental em várias fases, subordinada a um tema específico que 'rodava' semanalmente, e disputada a pares por três casais. O objectivo final do casal vencedor – e, consequentemente, apurado para a segunda fase - passava por adivinhar, com base nas pistas dadas pelo apresentador e seus coadjuvantes, o grande prémio de cada episódio, o qual consistia quase sempre dos habituais automóveis e viagens, mas podia também tratar-se de algo cómico e insólito, à laia de partida – quase sempre uma réplica da mascote do programa, a carismática Bota Botilde. (Esta última ideia seria, aliás, adoptada com grande sucesso por Olga Cardoso para o seu 'A Amiga Olga', grande êxito dos primórdios da TVI.)

Além desta prova central, que ocupava a grande maioria do tempo de antena do programa, o 'Um, Dois, Três' contava ainda com as habituais apresentações musicais e cómicas, estas últimas a cargo de nomes tão conceituados do humor da época como Carlos Miguel (o 'Fininho'), Herman José, Raul Solnado ou Marina Mota, cujo papel era o de entreter não só o público presente nos estúdios da Tóbis, como também os espectadores a assistir ao programa em casa.

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O apresentador sinónimo com o programa.

Por entre todos estes nomes sonantes, no entanto (incluindo o de Botilde), havia um que se destacava, e que se tornou ao longo dos anos ainda mais sinónimo com o programa do que a própria bota: Carlos Cruz. O carismático apresentador, então em estado de graça e ainda longe do escãndalo Casa Pia, representava, à época, uma presença constante na sala de estar dos portugueses durante o serão, e o seu típico 'charme' era responsável por grande parte do sucesso do 'Um, Dois, Três' – tanto assim que, durante o seu tempo de vida, o concurso apenas teve dois outros apresentadores: o igualmente carismático António Sala, em 1994-95, e Teresa Guilherme, durante a breve 'ressurreição' do programa no século XXI. Os restantes treze anos tiveram sempre Carlos Cruz ao 'leme', tornando o concurso praticamente sinónimo com toda a carreira do apresentador.

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António Sala ao comando do programa.

Em suma, o 'Um, Dois, Três' foi uma daquelas adaptações de formatos estrangeiros (no caso, da vizinha Espanha) que acabam por gozar de enorme sucesso também em Portugal, sendo ainda hoje um dos programas mais carinhosamente lembrados pela geração que cresceu com Carlos Cruz a 'entrar-lhe pela sala dentro' todos os princípios de noite, e que, quiçá, tenha mesmo chegado a ter junto ao gira-discos o LP da Bota Botilde...

O icónico genérico do programa.

Emissão completa da era António Sala.

 

07.02.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Há programas assim. Para cada transmissão televisiva nostálgica, e fomentadora de múltiplos artigos nos mais diversos blogs e sites por essa Internet afora, há tantos outros que parecem ter caído no esquecimento total, e sobre os quais poucas informações se podem encontrar, à excepção daquelas que, por uma razão ou outra, retivemos na memória. O concurso de que falamos hoje pertence a esta última categoria, sendo o nosso tema mais Esquecido Pela Net desde os sumos do Astérix, e um dos (muito) poucos para os quais não nos foi possível encontrar imagens, vídeos, ou qualquer outra referência para além de uma página de créditos no iMDB; de facto, quase seria possível descartar este programa como fruto da nossa imaginação infantil, não fosse o não-tão-pequeno detalhe de termos feito parte do mesmo.

Sim, leram bem – com a tenra idade de nove anos, o autor deste blog foi escolhido para representar a sua turma do quarto ano (e, por arrasto, a sua escola) como uma das crianças encarregues de 'dar as pistas' aos concorrentes de 'Trocado em Miúdos', um concurso cujo ciclo de vida foi breve, e o impacto nostálgico, ao que parece, praticamente nulo. O que não deixa de ser pena, visto que o formato tinha uma premissa, até, bem divertida – em cada emissão, um grupo de concorrentes (adultos) tentava adivinhar uma série de palavras e conceitos definidos, em vídeo, por grupos de crianças em idade de instrução primária. O resultado era, previsivelmente, hilariante, com os 'definidores' a dividirem-se, normalmente, entre os genuinamente precisos e concisos, aqueles que tentavam arranjar definições mais criativas, como foi o caso daquele que vos escreve, e os que simplesmente se atrapalhavam e 'atropelavam' nos pensamentos, dificultando ainda mais uma tarefa já de si nada simples.

E pronto – acabámos de descrever tudo aquilo de que nos conseguimos lembrar do concurso (tirando, claro, a parte das filmagens em si, levada a cabo na ludoteca da escola, em poucos 'takes', e com a equipa técnica visivelmente a divertir-se com as divagações mentais do seu 'protagonista'). O resto fica por conta do iMDB, que aponta a participação de nomes 'carimbados' da televisão portuguesa (e da TVI daquele período, em particular) como são os casos de Teresa Guilherme, Ricardo Carriço, Maria Vieira, Henrique Viana e até Sérgio Godinho! Infelizmente, conforme referimos acima, não nos é possível confirmar, ou mesmo apresentar provas, para qualquer destas informações, dado não haver sequer um vídeo de YouTube ou Dailymotion sobre o programa; ainda assim, não quisemos deixar de recordar um dos programas da época que mais memória nos deixou – quanto mais não fosse pelo envolvimento pessoal – e cuja total ausência do mundo cibernético não se pode considerar menos do que muito estranha...

10.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

por diversas vezes aqui apresentámos provas cabais de que os concursos se encontravam entre os formatos televisivos mais populares dos anos 80 e 90 (e, embora em menor escala, também do Novo Milénio). Desde sempre presentes nas tardes dos portugueses, sob as mais diversas formas e formatos e subordinados aos mais variados temas, este tipo de programa nunca deixava de se afirmar como um sucesso de audiências junto do público-alvo. A adição a este genéro feita pela SIC há quase exactos vinte e cinco anos – a 12 de Janeiro de 1998, escassos dois meses após o quinto aniversário da emissora – não é excepção a esta regra, e conseguiu mesmo atrair alguma atenção durante os pouco mais de três anos em que esteve no ar.

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Tratava-se de 'Roda dos Milhões', uma espécie de mistura entre 'A Roda da Sorte' e o clássico sorteio televisionado do Totoloto que, mais do que um mero programa de televisão, se tornou num verdadeiro 'franchise', com direito a revista própria, CD alusivo aos artistas que actuavam no programa, e até uma raspadinha com o seu nome.

Apresentado inicialmente pela dupla de Jorge Gabriel (símbolo máximo do programa) e Mila Ferreira – ambos então em alta – e mais tarde também por Fátima Lopes, o programa oferecia ainda outros atractivos, como música ao vivo a cargo de artistas tanto nacionais como internacionais, mas era nos diversos jogos e passatempos que residia o principal interesse do formato, pelo menos para quem não jogava no Totoloto.

download.jpgOs dois grandes símbolos do programa.

Isto porque, à boa maneira do seu antecessor espiritual, 'A Roda da Sorte', o concurso contava em estúdio com a roda homónima, que os concorrentes da semana podiam girar para ganharem prémios imediatos em dinheiro, bem como com outros jogos, como a 'Marca da Sorte', em que o prémio era um automóvel; assim, mesmo quem não 'arriscava' nos números da Santa Casa tinha vastas razões para sintonizar semanalmente a estação de Carnaxide às Segundas, em horário nobre – especialmente porque se atravessava, à época, o longo período entre o fim d''A Roda da Sorte' original, com Herman José, e a chegada das versões 'revitalizadas' do concurso, na época seguinte, servindo a 'Roda dos Milhões' como honroso substituto.

Assim, foi com naturalidade que o programa se assumiu como mais um dos muitos sucessos da estação de Carnaxide durante a sua 'fase imperial' na segunda metade dos anos 90 – pelo menos até a SIC findar, abruptamente, a sua transmissão, por impossibilidade de manter o horário das Segundas à noite, e perder o formato para a televisão estadual, onde o seu destino seria exactamente o inverso, tendo a versão com Nuno Graciano como apresentador durado exactos três meses antes da extinção total do formato, a 6 de Junho de 2001. Nada que belisque a reputação ou marca histórica e cultural de um concurso que, ainda que simples e simplista, não deixou (com maior ou menor mérito) de ser um sucesso, e, como tal, é bem digno de ser celebrado na semana em que se completa um quarto de século sobre a sua estreia.

27.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A programação natalícia em Portugal é sinónimo de uma série de coisas bem conhecidas: o 'Sozinho em Casa', o Circo de Natal, a missa...e a mais antiga de todas essas tradições, o concurso internacional de canto infantil conhecido como Sequim D'Ouro. Uma espécie de Festival da Eurovisão para crianças (ou, se preferirmos, um 'Mini Chuva de Estrelas' à escala internacional, e sem a vertente 'cosplay') este concurso realiza-se anualmente, sem falta, desde finais dos anos 50 (normalmente em Novembro), e é transmitido de forma igualmente assídua pela televisão estadual portuguesa, como parte da sua grelha de Natal.

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O conceito do concurso requer que cada mini-concorrente (oriundo dos quatro cantos do continente europeu, exactamente como na versão 'dos crescidos') interprete uma música original em duas versões - a primeira na sua língua natal e a segunda em Italiano, a língua do país organizador do concurso; cada interpretação é, depois, julgada por um júri especializado, sendo no final escolhido um vencedor. Um formato simples, e que permite que o foco seja posto onde verdadeiramente deve: nos esforços vocais dos jovens intérpretes, sempre devidamente acompanhados pelo coro infantil residente do Teatro Antoniano de Bolonha, onde o festival é tradicionalmente gravado.

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Durante o auge da sua popularidade, o  boneco Topo Gigio era presença habitual no concurso.

Nos anos 80 e 90, a transmissão anual deste concurso trazia, ainda, o atractivo adicional da presença do Topo Gigio, mascote nativa americana que, à época, gozava de alguma popularidade em Portugal, fruto do programa homónimo que tinha 'apresentado' na RTP, em inícios dos anos 80, e que na década seguinte renovaria essa mesma popularidade ao surgir no programa-estandarte da SIC ao lado de João Baião; só mais um incentivo para as crianças portuguesas sintonizarem a estação estadual no dia de Natal, e assistirem a uma emissão que reunia vários ingredientes perfeitos para a programação desta época do ano, e que continua, ainda hoje (mais de seis décadas após a sua estreia) a afirmar-se como um clássico da mesma, quanto mais não seja pela longevidade e inevitabilidade da sua presença na grelha natalícia nacional, que rivaliza já com a do referido 'Sozinho em Casa' e respectiva segunda parte...

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