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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

26.04.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

E porque na última edição desta rubrica falámos das partidas por telefone, nada melhor do que recordar as hoje obsoletas instalações a partir das quais muitas destas brincadeiras eram feitas: as cabines telefónicas.

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Dois exemplos bem típicos deste tipo de instalação.

Essenciais na era pré-telemóveis e Internet, por constituírem o único método de comunicação à distância ou para quem se encontrava fora de casa, as cabines telefónicas tiveram precisamente na última década do século XX e primeira do seguinte o seu período de 'ocaso', em que se foram tornando progressivamente menos comuns, até eventualmente desaparecerem por completo, deixando para trás apenas as cabines em si, já sem a parte 'telefónica', como meros esqueletos (ou ruínas) daquilo que em tempos havia sido parte integrante e importante da sociedade portuguesa.

De facto, durante o seu período de relevância, era possível encontrar nas ruas, cafés, supermercados, estações de transportes públicos e até centros comerciais portugueses mais do que um tipo de instalação deste tipo. Havia os tradicionais 'abrigos' implantados na calçada, sinónimos com a própria denominação dos telefones públicos, mas também as implantadas em pilares com um telefone de cada lado (também, geralmente, no meio da rua) as cabines de parede (com uma divisória a separar cada um do seguinte) e ainda os tradicionais telefones azuis e pretos presentes em qualquer balcão de cafetaria ou restaurante para usufruto dos clientes.

Também os métodos de pagamento e utilização primavam, em finais do século XX, pela variedade, indo das tradicionais moedas (primeiro de Escudo e depois, já no Novo Milénio, de Euro) aos icónicos Credifones, passando pelo pré-pagamento por um determinado número de impulsos, característico dos telefones localizados em estabelecimentos comerciais privados. Independentemente da forma fisica ou de funcionamento, no entanto, todos os telefones públicos tinham em comum a presença de listas telefónicas para referência e a  possibilidade de ligar gratuitamente para certos números de informação ou emergência – uma característica de que, como vimos há um par de semanas, os 'putos' da época usavam e abusavam.

Hoje em dia, é praticamente impossível encontrar uma cabine telefónica em Portugal, sendo um daqueles conceitos que a geração que começa agora a ter filhos terá de lhes explicar de forma puramente teórica, já que as poucas que ainda restam estão, conforme referido acima, reduzidas a 'esqueletos' exteriores, ou foram reconvertidas para outros usos. Tal facto não é, no entanto, surpreendente, já que, hoje em dia, a ubiquidade dos telemóveis tornou este tipo de equipamento perfeitamente desnecessário – e, sem a vertente cultural e tradicional de que gozam, por exemplo, no Reino Unido, era normal que os mesmos tendessem a desaparecer. Ainda assim, quem cresceu naquela época de comunicação menos que instantânea decerto terá tirado considerável usufruto das cabines telefónicas enquanto as mesmas existiram – fosse para contactar os pais durante uma Saída de Sábado, ou simplesmente para 'torturar' uma pobre telefonista, em conjunto com os amigos...

27.04.22

NOTA: Este post é relativo a Terça-feira, 27 de Abril de 2022.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

O período compreendido entre o início da década de 80 e o dealbar do novo milénio foi, sem dúvida, um dos mais marcantes e revolucionários de todo o século XX no que toca à evolução tecnológica, em particular no domínio da chamada 'electrónica para o lar'; em pouco mais tempo do que leva a uma criança a atingir a idade adulta, a sociedade ocidental viu surgir um volume de novos recursos electrónicos sem precedentes, cujo período médio de obsolescência passava das várias décadas compreendidas entre, por exemplo, o gramofone e o gira-discos para os poucos anos que mediaram entre o auge de popularidade dos Walkman e a popularização dos seus sucessores, os Discman' – isto sem sequer falar no surgimento e rapidíssima evolução de novos meios de comunicação, em particular os hoje indispensáveis telemóveis.

Em meio a tal 'avalanche' de novos desenvolvimentos, não é de estranhar que algumas das tecnologias e 'engenhocas' surgidas durante esse fertilíssimo período em finais do século passado tenham ficado 'pelo caminho' antes mesmo de terem tempo de se popularizar – e, dessas, uma das primeiras que vem, de imediato, à mente são os chamados 'bips' ou 'pagers'.

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Concebidos e comercializados pela primeira vez ainda nos anos 80, mas chegados a Portugal nos primeiros meses da década seguinte, os 'bips' são daqueles apetrechos difíceis de explicar ou até justificar a um nativo digital das gerações pós-'millenials', mas que para estes (e para os X que os antecederam) não só faziam todo o sentido, como se afiguravam como uma inovação tecnológica estonteante, que vinha revolucionar por completo o campo da comunicação à distância; no fundo, e vistos do futuro, o que aqueles pequenos rectângulos de afixar ao cinto representavam era nada mais, nada menos do que uma espécie de protótipo primitivo daquilo que viriam a ser os telemóveis.

Tal como estes, cada 'bip' tinha um número próprio, que quem quisesse contactar com o seu dono deveria marcar; a diferença residia no facto de que, ao invés de uma chamada, era enviada uma mensagem para o aparelho, assinalada pelo característico som que lhe deu o nome em Português; uma vez recebido este aviso (que não está muito longe das 'notificações' enviadas por telemóveis, computadores e 'websites' modernos) cabia ao dono do 'bip' ligar para o centro de controlo de chamadas para ouvir a mensagem recebida, a qual lhe era então transmitida quer por um operador humano, quer por uma voz robótica. Mais tarde, à medida que as possibilidades da tecnologia digital iam sendo descobertas, muitos 'pagers' substituiram este método analógico pelo envio de mensagens de texto digitalizadas, ao mesmo tempo que expandiam as suas funcionalidades para incluir o envio e recepção de 'emails', por exemplo.

Apesar destes avanços tecnológicos, no entanto, o 'bip' teve os dias contados praticamente desde o momento em que os primeiros telemóveis (dispositivos de certa forma semelhantes, mas muito mais imediatistas e avançados) chegaram ao mercado; o aparecimento, ainda antes do final da década, dos chamados PDAs (que estavam para os 'smartphones' actuais como os 'bips' estavam para os telemóveis da época) apenas veio acelerar o declínio destes aparelhos, cuja utilização em Portugal, como um pouco por todo o Mundo, sofreu uma queda a pique nos últimos anos do século XX. A chegada do novo milénio, com todas as suas possibilidades tecnológicas, trouxe consigo a 'morte anunciada' destes objectos, que – em pouco mais de uma década – passavam de prémio mais cobiçado de uma lendária promoção da Coca-Cola a peça de 'sucata' obsoleta, constituindo o exemplo prático perfeito de como a marcha tecnológica se alterou naqueles anos de 'viragem' de ano, século e milénio.

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O icónico e muito desejado 'pager' da Coca-Cola

Corria ainda o ano de 2001 quando a TMN, principal fornecedora nacional do serviço, decide colocar um ponto final no mesmo, efectivando assim a 'morte' em definitivo de uma tecnologia que, dez anos antes, entusiasmara tantos portugueses, cansados de ficarem 'reféns' das cabines telefónicas e de 'tecnologias' como o Credifone; um fim algo inglório para um aparelho que, na sua época de lançamento, era inegavelmente útil, mas que chegou a terras lusitanas demasiado tarde para evitar ser 'apanhado' na 'enxurrada' tecnológica de que a última década do século XX foi palco.

Actualmente, os ´pagers´ sobrevivem, ainda e apenas, no sector médico e de saúde, onde encontraram uma demografia 'de nicho' para quem ainda retêm a utilidade, e em sistemas de irrigação e controlo de trânsito, que utilizam a mesma tecnologia; para o grande público da década de 2020, no entanto, estes aparelhos não são, hoje, mais do que uma memória, mais ou menos vagamente recordada após contacto com artigos como este...

27.10.21

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em plena segunda década do século XXI, numa altura em que é possível ver filmes, comunicar por vídeo, fazer compras, reservar viagens e até actualizar documentos a partir de uma só peça de equipamento, pode tornar-se difícil de acreditar que, há escassas duas décadas e meia, quem quisesse comunicar com família, amigos ou colegas de trabalho a partir de um espaço público tinha de apostar numa combinação de sorte e preparação; sorte, porque os únicos sítios que permitiam levar a cabo tal objectivo (as cabines telefónicas) apenas eram encontradas em localizações estratégicas, quase todas elas de cariz urbanizado, e preparação, porque mesmo que se conseguisse encontrar uma cabine, ou convencer o dono de um qualquer café a ceder temporariamente o seu telefone, era preciso ter no bolso dinheiro suficiente para assegurar que o referido telefone conseguia não só ser activado, mas conectar a chamada durante o tempo necessário.

E no entanto, era precisamente isto que se passava, ainda, em finais dos anos 90, um pouco por todo o país; mesmo depois de os telemóveis serem já um acessório conhecido e em fase de rápido crescimento e globalização, grande parte das chamadas feitas do exterior ainda eram efectuadas das velhinhas cabines, com recurso às boas e velhas moedas de 10, 20, 50 ou 100 escudos.

Terá, pois, sido para pôr cobro – ou, pelo menos, facilitar – a situação dos viajantes frequentes desta era das telecomunicações nacionais que a Portugal Telecom (então ainda conhecida como Telecom Portugal) terá introduzido, na década de 90, o conceito do Credifone, uma espécie de 'cartão de crédito' para chamadas telefònicas públicas, cujo modo de funcionamento antecipava já aquilo que viriam a ser os cartões pré-pagos das redes móveis, cerca de uma década depois.

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O modelo inicial de Credifone

O modo de utilização dos Credifones era, por demais, simples; tratavam-se de cartões pré-carregados com um determinado número de impulsos, adquiríveis em qualquer tabacaria ou estabelecimento semelhante, e que podiam ser utilizados em qualquer cabine compatível, isto é, equipada com a ranhura para inserção do referido cartão, de aspecto muito semelhante à de uma caixa Multibanco. Uma vez inserido, cada cartão permitia utilizar livremente o número correspondente de impulsos, findos os quais a chamada era desconectada. Um método bem mais simples do que a anterior busca frenética por 'trocos' para continuar a chamada e que, como tal, rapidamente contou com considerável adesão por parte da população portuguesa.

No entanto, uma das mais interessantes particularidades do Credifone prende-se com o facto de, para um determinado sector da referida população, o seu interesse ir muito além da conveniência no momento de efectuar chamadas em cabines públicas; de facto, para muitas crianças e jovens daqueles anos 90, os cartões telefónicos da PT tornaram-se, antes, objectos de coleccionismo, religiosamente reunidos (depois de vazios, claro) e guardados nas proverbiais caixas ou capinhas, com o intuito de serem, mais tarde, revisitados ou mostrados aos amigos; cada nova edição especial deste tipo de cartões – ou cada espécime diferenciado encontrado numa qualquer cabine por esse país fora – se tornava, portanto, motivo de regozijo para estes mini-coleccionadores, pela oportunidade que apresentava de aumentar, expandir e embelezar as suas colecções. Não é, pois, de estranhar que a maioria das memórias da 'nossa' geração relativamente a estes cartões tenha mais a ver com o coleccionismo do que propriamente com o uso...

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Uma das muito cobiçadas edições especiais, que faziam as delícias dos coleccionadores quando encontradas abandonadas numa qualquer cabine...

Qualquer que tenha sido o seu impacto na vida de cada um, no entanto, é inegável que os Credifones marcaram época, afirmando-se como uma solução inovadora para um problema existente – e que, por isso mesmo, encontrou facilmente o seu nicho de mercado – e, ao mesmo tempo, uma pioneira daquilo que viriam a ser as tecnologias da comunicação nos dez a quinze anos seguintes. E embora, hoje em dia, as cabines telefónicas já sejam quase unicamente uma relíquia do passado (pelo menos em Portugal) continua, ainda, a haver no nosso país uma enorme simpatia por aquele cartãozinho que, em inícios da década de 90, veio revolucionar a forma de comunicar em espaços públicos na era pré-telemóveis...

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