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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.03.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Hoje em dia, comprar roupa remotamente já não é nada de novo; pelo contrário, as lojas online de grandes retalhistas, pequenas lojas independentes em sites como o Etsy, ou até serviços de importação e expedição como a Shein e BooHoo vão-se cada vez mais tornando o método por excelência para adquirir novos artigos de vestuário a preços mais convidativos e com maior variedade do que as lojas tradicionais, e iguais facilidades de troca.

Muito antes de qualquer destes serviços sequer pensar em existir, no entanto, já uma outra companhia multi-nacional inovava e 'disrupcionava' o mundo do comércio de moda, com um esquema muito semelhante ao hoje seguido por estas lojas – com o benefício adicional de os clientes não terem de ir à procura do catálogo, que era automaticamente enviado para a sua caixa do correio duas a três vezes por ano.

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Falamos, claro, da La Redoute, o primeiro contacto que muitos jovens portugueses dos anos 90 tiveram com o conceito de compras à distância. Com um historial cujo início se perde no tempo, a produtora têxtil francesa terá começado por ser uma fábrica de fiação tradicional – sedeada na rua que lhe dá o nome, em Roubaix, no Norte da França – até os elevados volumes de stock terem dado ao fundador Pierre-Joseph Pollet, um ex-agricultor transformado em magnata têxtil, a ideia de vender as suas peças por correspondência, primeiro através de anúncios num jornal local e, mais tarde, mediante a distribuição de um catálogo próprio. O sucesso desta iniciativa ultrapassou quaisquer metas que o fundador pudesse ter delineado, sendo que, quatro décadas depois de Poullet ter tido a sua revolucionária ideia, uma em cada cinco familias francesas comprava artigos La Redoute.

Com tais níveis de popularidade, o próximo passo era óbvio, e passava pela expansão internacional, sendo Portugal um dos países contemplados pela mesma. Surge assim, em 1987, a La Redoute Portugal, parte do grupo de venda à distância Europirâmide, e responsável pela criação e distribuição dquele catálogo que tantas crianças se habituaram a ver na pilha do correio ou mesa de cabeceira de casa, e a folhear para ver o que continha. Com 16 páginas e uma tiragem inicial de 60 mil exemplares, o catálogo foi um sucesso de tal modo retumbante que permitiu à La Redoute Portugal tornar-se sócia maioritária do grupo Europirâmide e, mais tarde, adquiri-lo por completo.

A década seguinte apenas veria exacerbar-se o sucesso da La Redoute Portugal, que lançaria um segundo catálogo especializado em tamanhos grandes e, já no ocaso da década, um cartão de fidelidade próprio, semelhante ao utilizado pela maioria dos supermercados e outras grandes superfícies. Pelo meio ficaria, ainda, uma distinção como melhor empresa comercial portuguesa, em 1993, bem como a retoma integral do catálogo francês (com excepção da secções de móveis e electrodomésticos) em 1997.

Este paradigma manteve-se até aos primeiros anos do novo milénio, sendo que os primeiros cinco viram surgir mais dois catálogos impressos, ao mesmo tempo que a empresa se expandia para as emergentes plataformas 'online'; subsequentemente, já na década de 2010, o clássico e tradicional catálogo seria finalmente extinto, afirmando-se a La Redoute exclusivamente como uma retalhista online, na linha do que vinham fazendo as suas concorrentes directas e indirectas.

Ainda assim, e apesar da sua extinção efectiva, o clássico catálogo da companhia francesa continua vivo nas memórias de toda uma geração de jovens, que o associam a todo um conjunto de memórias da sua infância e adolescência, prolongando assim, senão a sua vida útil, pelo menos a sua vida enquanto artefacto cultural de uma certa época da sociedade portuguesa.

11.12.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

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A época natalícia não se resumia, para um jovem dos anos 90, apenas ao dia e às festividades que o rodeavam; para as crianças daquele tempo, o Natal começava bem mais cedo – com a recepção do primeiro catálogo de brinquedos na caixa do correio – e englobava uma série de momentos absolutamente mágicos, dos quais temos vindo a falar ao longo deste mês: a última semana de aulas antes das férias de Natal, a saída para ver as iluminações e, claro, a ida ao hipermercado ou 'shopping' para ver, ao vivo e a cores, os brinquedos cobiçados e avidamente assinalados no referido catálogo.

Já aqui falámos, numa ocasião anterior, do 'frisson' que era ir ao hipermercado, numa altura em que os mesmos estavam, ainda, nas primeiras etapas da sua penetração em Portugal, e confinados sobretudo às duas maiores cidades; no entanto, qualquer ex-criança que tenha visitado um destes espaços na altura do Natal certamente se recordará da dimensão extra que tal visita acarretava, e concordará que a mesma merece o seu próprio post separado.

O elemento que tornava esta experiência ainda mais mágica no mês de Dezembro é fácil de identificar, e ainda mais fácil de explicar – a visão daqueles múltiplos corredores repletos apenas e só de brinquedos era suficiente para fazer subir os níveis de adrenalina de qualquer criança, e dar asas a sonhos de ter todos e cada um daqueles produtos debaixo da árvore no dia 25. Para alguém cuja visão do Mundo era ainda 'à escala', as prateleiras de bonecas, figuras de acção, carros telecomandados, peluches, jogos, consolas ou artigos electrónicos – as quais ocupavam, cada uma, todo um corredor da loja – pareciam esticar-se até ao tecto, oferecendo uma variedade assoberbadora de escolhas que tornava ainda mais difícil escolher apenas um ou dois presentes para receber do Pai Natal; e para além dos brinquedos propriamente ditos, havia ainda as bicicletas, os skates, os patins, as motas e carros eléctricos, as bolas, os vídeos de desenhos animados, e toda uma imensidão de outros artigos de particular interesse para a demografia infanto-juvenil, que dificultavam ainda mais a tarefa, e faziam com que esta fosse uma visita que se queria o mais prolongada possível, para ter tempo de ver e vivenciar tudo o que o espaço tinha para oferecer – incluindo, com sorte, uma visita à 'Gruta do Pai Natal', para falar com o velhote em pessoa (ou com um dos seus assistentes, dependendo do que os pais nos diziam.)

Hoje em dia, a experiência de ir ao hipermercado tornou-se algo mais corriqueira, o que, aliado ao facto de os brinquedos serem cada vez mais electrónicos, e de coisas como os jogos de tabuleiro terem caído em desuso, torna a visita por altura do Natal algo menos mágica do que o era nos 'nossos' anos 90; que o diga quem lá esteve, e se imaginou perdido entre aquelas prateleiras infinitas de brinquedos, e com acesso ilimitado a todos eles...

30.10.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Nas primeiras edições desta rubrica, abordámos o fenómeno dos hipermercados e dos shoppings, e o fascínio que – por factores como a dimensão e a novidade – os mesmos exerciam nos jovens portugueses dos anos 90; hoje, damos conscientemente um passo atrás, a fim de demonstrar como uma ida ao bom e honesto supermercado do bairro podia, também, ser uma experiência divertida e fascinante, ainda que não tão memorável quanto as atrás descritas - até porque bastante mais corriqueira.

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De facto, ao passo que uma ida ao hipermercado implicava, muitas vezes, um planeamento cuidado de todo ou quase todo o dia, a visita ao supermercado fazia-se de forma bem mais espontânea, estando o único planeamento relacionado com a execução de uma lista de compras e uma vista de olhos ao folheto, para perceber onde cada produto se poderia encontrar mais barato. A partir daí, bastava pôr pés a caminho até à sucursal local do supermercado pretendido e adquirir os produtos necessários.

A simplicidade e mundaneidade deste processo escondiam, no entanto, um atractivo adicional para as crianças e jovens mais curiosos. Isto porque os supermercados dos anos 90, muito menos padronizados e mais individuais que os de hoje em dia, escondiam mil e uma surpresas, fossem os carrinhos que apenas se soltavam após a inserção de uma moeda, os expositores de nozes a granel (das quais se conseguiam sempre 'roubar' algumas para a boca) as secções de brinquedos (bem mais pequenas que as dos hipermercados, mas ainda assim de algum interesse) ou até simplesmente produtos bem do agrado das crianças, como bolachas, sobremesas, bolos, iogurtes ou cereais - já para não falar da oportunidade de ajudar os pais ou familiares a procurar cada produto, tirá-lo do expositor e colocá-lo no carrinho, um acto simples, mas que deixava muitos de nós pouco menos que ufanos da nossa utilidade.

Para as crianças mais pequenas, havia ainda o divertimento de se sentar dentro do próprio carrinho e ser 'conduzido' numa visita guiada às prateleiras, sendo que alguns supermercados incorporavam mesmo uma área para este fim nos seus carrinhos, talvez a fim de evitar que as crianças tivessem de se sentar na área destinada às compras. No fim da visita, para os mais bem comportados, havia ainda a (forte) possibilidade de ser presenteado com um doce – como um chupa-chupa, um chocolate, um pacote de Sugus ou uma simples pastilha – ou uma banda desenhada, como recompensa pela maturidade demonstrada. Razões mais do que suficientes para considerar a simples e singela visita ao supermercado da esquina, na companhia dos pais ou avós, como parte integrante da experiência da infância, quer nos anos 90, quer hoje em dia.

21.03.21

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(NOTA: Este post é referente a Sábado, 20 de Março de 2021.)

Aos Sábados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais excitantes locais para se visitar naquela época.

E nada melhor para começar esta rubrica do que falar num conceito que – pelo menos em Portugal – teve início em meados dos anos 80, e que revolucionou para muitas famílias o conceito de ‘ir às compras’: os hipermercados, um conceito já existente em muitos países estrangeiros, mas que apenas se popularizou no nosso país em finais do século passado, com o Continente na linha da frente, tanto no Norte (o Continente de Matosinhos, inaugurado em 1985, foi o pioneiro deste conceito no nosso país) como mais a Sul, onde o Continente da Amadora, aberto em 1987, se afirmou como o primeiro espaço deste tipo na capital.

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O Continente de Matosinhos, o primeiro hipermercado em Portugal, inaugurado em 1985.

Hoje em dia, este tipo de superfície é comum ao ponto de constituir só mais uma parte da vida quotidiana dos portugueses; nos anos 90, no entanto, não era assim. À época, os supermercados (a grande maioria de pequena dimensão, e localizados nos próprios bairros residenciais) eram lojas como quaisquer outras - sítios até algo aborrecidos, uma espécie de mercearia da esquina em ponto grande, onde a melhor perspetiva que uma criança tinha era a de ir para casa com uma caixa dos seus cereais favoritos, ou quanto muito, uma BD ou um chupa-chupa comprados na caixa.

Os hipermercados vieram mudar tudo isso, oferecendo não só um local para fazer as compras, como toda uma experiência, que passou a atrair milhares de famílias todos os fins-de-semana, criando uma nova espécie de ‘ritual’ para os Sábados e Domingos. Tanto assim é que, aquando da sua abertura, o Continente de Matosinhos chegou a dar azo a excursões organizadas, apenas para conhecer o espaço!

Escusado será dizer que, se os adultos não ficavam incólumes aos encantos destas superfícies, as crianças ainda menos lhes resistiam. Ir ao hipermercado, sobretudo na altura do Natal ou dos anos, correspondia a ter todo um mundo de possibilidades ao alcance da mão (e do dinheiro dos pais), desde t-shirts ou ténis a discos, vídeos, livros, brinquedos, aparelhos eletrónicos e até bicicletas – tudo isto num espaço suficientemente grande para tornar até a compra do tal pacote de cereais numa experiência memorável e excitante, e que obrigava a atenção redobrada para nunca perder de vista a família.

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Aproximação mais ou menos fiel da experiência de uma criança dos anos 90 ao entrar num hipermercado.

Como se isto não bastasse, os hipermercados de maior dimensão tinham, à sua volta, uma espécie de mini-centro-comercial, o que – numa época em que os ‘shoppings’ propriamente ditos eram também eles locais quase mitológicos – tornava ainda mais atrativa aquela ‘romaria’ às compras, e dava às crianças ainda mais que ver e antecipar. No entanto, mesmo que estas lojas extra não existissem, a experiência de visitar um hipermercado não seria, para um ‘puto’ dos 90s, muito menos excitante; pelo contrário, o simples ato de subir a escada rolante já causava um ‘frisson’ de antecipação para aquilo que aí vinha, justificando plenamente a inclusão destes espaços como primeira Saída de Sábado deste blog.

E vocês? Que memórias têm de ir ao hipermercado naquela época? Deste lado, fica a memória de ter visto, pela primeira vez, uma Sega Saturn (e respetivo jogo Virtua Fighter) na ‘praceta’ do Carrefour de Telheiras, ali em meados da década, e de ficar ‘especado’ a babar nos gráficos 3D, rudimentares pelos padrões de hoje em dia mas, à época, revolucionários. Têm alguma experiência semelhante, ou igualmente marcante? Partilhem-na nos comentários!

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