Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.03.22

NOTA: Para celebrar a estreia, esta sexta-feira, do novo filme de Batman, todos os 'posts' desta semana serão dedicados ao Homem-Morcego.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As adaptações em texto de propriedades audio-visuais de sucesso – as chamadas novelizações ou serializações – não são, de todo, um fenómeno recente; pelo contrário, pode dizer-se que o verdadeiro auge deste tipo de obra ocorreu nos anos 80 e 90, altura em que praticamente todos os 'franchises' cinematográficos ou televisivos minimamente bem sucedidos eram alvo de adaptações literárias. De Indiana Jones a Street Fighter e até E.T – O Extraterrestre, eram inúmeros os exemplos de conversões de filme ou série televisiva para livro, normalmente com uma qualidade de escrita não mais do que aceitável, e sem grandes pretensões a serem mais do que uma fonte adicional de receitas para a propriedade que representavam.

Menos comuns, embora longe de inexistentes, eram as adaptações em banda desenhada. De facto, tirando as 'quadrinizações' dos filmes da Disney feitas pela americana 'Disney Adventures' e publicadas em Portugal pela revista Super Jovem, e mais tarde numa colecção de álbuns bilingues que já aqui abordámos, eram poucos ou quase nenhuns os filmes ou séries que tinham direito a adaptações em BD, e ainda menos as obras desse tipo que atravessavam o oceano até à Península Ibérica.

Talvez tenha sido precisamente por isso que a adaptação oficial em banda desenhada do terceiro longa-metragem de Batman, 'Batman Para Sempre' (a única das quatro realizadas para cada um dos filmes do herói a chegar às bancas portuguesas) se destacou de tal forma nas bancas de jornais à altura do seu lançamento; apesar de Portugal ser, tradicionalmente, um país com tradição de venda e compra de revistas aos quadradinhos (entre as quais várias do próprio Batman, bem como de outros super-heróis) este tipo de publicação era tudo menos familiar para o público-alvo das BD's da Marvel e DC em meados da década de 90 – um facto a que também ajudava a própria aparência e apresentação da revista, diametralmente oposta às publicações de super-heróis 'vulgares' que a Abril enviava para as bancas a cada quinze ou trinta dias.

Capture.PNG

De facto, com o seu formato A4 – tipico dos 'comics' norte-americanos, mas reservado, na Europa, a publicações do tipo almanaque ou álbum – e papel brilhante e oleoso, a adaptação em BD de 'Batman Para Sempre' posicionava-se, desde logo, como uma edição 'de luxo', em contraste directo com os 'livros aos quadradinhos' de formato A5 e papel rugoso a que as crianças e jovens da época estavam habituados; os traços distintivos não se ficavam, no entanto, por aí, sendo que os próprios conteúdos da revista tinham uma toada algo mais adulta do que o habitual para os 'comics' da época, com um estilo gráfico sombrio e razoavelmente realista, fiel à atmosfera do filme de Schumacher (da responsabilidade dos experientes Michael Dutkiewicz e Scott Hanna, na altura dois dos principais artistas na folha salarial da DC), e que a posicionava mais perto das chamadas 'graphic novels' do que das revistas quinzenais ou mensais, justificando assim o preço ligeiramente mais 'puxado' de 380$00, o equivalente a EUR 1.90 actuais.

DhH_ocPUEAEWZFV.jpg

Exemplo da arte gráfica do livro

A história, essa, era exactamente a mesma do próprio 'Batman Para Sempre', ou não se tratasse de uma adaptação oficial em BD. Apesar de algumas liberdades criativas – como mostrar um excerto do próprio guião na primeira página – o argumento de Dennis O'Neil segue fielmente o roteiro da obra de Schumacher, sem nunca tentar expandir sobre aquilo que o realizador mostrara, o que, dependendo da interpretação, tanto pode ser louvável como uma oportunidade falhada de mostrar os personagens e história de 'Para Sempre' de outros ângulos, enriquecendo assim a história do filme – uma táctica sobejamente utilizada pelas novelizações em prosa, mas de que a equipa responsável por esta transcrição para BD optou por não fazer uso.

Qualquer que seja a perspectiva sobre esta abordagem, no entanto, a verdade é que a adaptação em BD de 'Batman Para Sempre' justificava bem a compra – embora sobretudo como artigo de colecção, já que era extremamente improvável que alguém que não tivesse visto o filme se interessasse por algo deste tipo, e quem já conhecesse a história dificilmente estaria interessado em a reviver num formato gráfico. Ainda assim, foi louvável o esforço da DC em assegurar que esta adaptação correspondia aos padrões de qualidade das suas antecessoras, e que o seu público-alvo não dava o seu dinheiro por mal gasto; e nesse aspecto, pelo menos, pode considerar-se que a editora (e, por associação, a Abril-Controljornal) foi bastante bem sucedida, já que a adaptação em banda desenhada de 'Batman Para Sempre' é uma adição mais do que válida à colecção de qualquer entusiasta de Batman, ou de BD de super-heróis dos anos 90 em geral.

11.08.21

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Desde o início desta rubrica que temos vindo a focar as nossas atenções, sobretudo, no estilo de bandas desenhadas disponíveis nas tabacarias, papelarias e quiosques daquele Portugal dos anos 90. No entanto, este não foi o único tipo de BD a fazer sucesso entre a população jovem da época; houve um outro género que se popularizou, precisamente, durante essa década, e que perdurou até, pelo menos, meados da seguinte – os álbuns de tirinhas originalmente publicadas nos jornais diários e semanários norte-americanos, as chamadas ‘comic strips’. E dentro dos álbuns de ‘comic strips’; houve uma dupla que se notabilizou acima de todas, ao ponto de ser praticamente sinónima com este estilo para a maioria das crianças portuguesas.

cropped-Calvin-and-Hobbes-hugging-calvin-and-hobbe

Falamos, como é óbvio, de Calvin e Hobbes, o ‘pestinha’ de seis anos e o seu amigo imaginário / tigre de peluche com nomes de filósofos renascentistas que cativaram a juventude portuguesa da época com a sua mistura de tirinhas cómicas-sarcásticas com outras mais filosóficas e reflexivas, muito pouco habituais na era do ‘berrante e movimentado’.

Nascidos, ainda nos anos 80, da imaginação de Bill Watterson, um ex-‘cartoonista’ político, a dupla almejava representar, em simultâneo, a inocência, imaginação e poder de observação demonstrado pela maioria das crianças. Para almejar este objetivo, Watterson dividia a personalidade típica infantil entre dois personagens, ficando Calvin com a faceta mais imaginativa e irrequieta, e o seu tigre – em grande parte baseado na gata de Watterson - com a parte mais reflexiva, observante e sensata. Esta dinâmica, que o criador explorava de forma perfeita, dava à tirinha um equilíbrio que faltava em muitas outras, mais explicitamente viradas à comédia, fazendo de Calvin and Hobbes, os personagens, quase como que sucessores naturais dos famosos ‘Peanuts’, de Charles Schulz; e, tal como ‘Peanuts’, não tardou até a BD de Watterson se tornar um êxito entre o público jovem.

Portugal – onde a BD chegava em início dos anos 90, com a habitual meia-dúzia de anos de atraso, pela mão da editora Gradiva – não foi excepção à regra neste aspecto. De facto, a maioria das crianças portuguesas dos anos 90 e 2000 tinha na sua colecção pelo menos um dos álbuns de Calvin & Hobbes editados no nosso país – fosse um dos ‘normais’ ou um dos especialíssimos e muito cobiçados álbuns ‘grande formato’ e provavelmente várias peças de ‘merchandise’ alusivas à dupla - inevitavelmente, piratas, sendo que NUNCA houve ‘merchandising’ oficial de Calvin and Hobbes, por vontade expressa de Watterson, conforme o próprio conta no seminal álbum de aniversário da dupla, ‘Parabéns Calvin & Hobbes’.

Ainda assim, tal não impedia a existência de t-shirts, autocolantes e outros artigos ilustrados pelas mais famosas cenas desenhadas por Watterson, e que faziam as delícias das crianças e adolescentes portuguesas, e um pouco por todo o Mundo.

500x.jpg

s-l500.jpg

O seminal álbum de celebração dos dez anos da dupla, editado pela Gradiva, e um dos muitos produtos alusivos à mesma, de cariz não licenciado

Infelizmente, foi ainda na década de 90 que Bill Watterson resolveu encerrar actividades, desiludido com o rumo que a indústria de ‘comic strips’ norte-americana estava a tomar. Estávamos em 1995 quando o autor da mais famosa representante do género declarou que não criava mais…e não criou. Nos vinte e cinco anos seguintes, não saiu nem mais uma tira, nem mais um desenho, nem mais uma história alusiva à dupla, tendo os seus milhões de fãs espalhados pelo globo tido de se contentar com o material pré-existente.

Entretanto, a era de ouro dos sindicatos de ‘comics’ viria, também ela, a acabar e, com ela, a publicação em massa deste tipo de álbuns, que – embora ainda se vejam nas livrarias – já não têm a preponderância que em tempos tiveram entre a população jovem, mais virada para o digital que para as leituras. Ainda assim, a influência que um ‘puto traquina’ e o seu tigre de peluche tiveram em toda uma geração de leitores portugueses não pode ser menosprezada, e justifica bem a atribuição de meia dúzia de parágrafos num blog nostálgico a esta marcante série de BD do ‘nosso’ tempo…

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub