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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.06.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Tinha início o último fim-de-semana do mês de Julho de 2023 quando alastrava a notícia: o mundo do espectáculo português, e do humor em particular, ficava órfão de mais um nome, e logo de um actor bem mais jovem do que alguns dos 'históricos' lusitanos ainda em actividade. Tratava-se de Luís Aleluia, actor com extensa e reconhecida carreira no teatro e televisão mas que, para uma certa geração de portugueses, ficará para sempre eternizado como a versão televisiva, de 'carne e osso', do Menino Tonecas de José de Oliveira Cosme, protagonista de quatro temporadas de enorme sucesso na RTP1, em finais da década de 90.

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O actor no papel que o celebrizou junto de toda uma geração.

Nascido em Setúbal a 23 de Fevereiro de 1960, Luís Filipe Aleluia da Costa desde sempre esteve ligado à representação, na qual se estreou aos dez anos, numa récita da filial local da Casa do Gaiato, instituição caridosa à qual esteve ligado até aos dezasseis anos; a primeira experiência mais 'a sério', no entanto, surgiria já no final da adolescência, quando se junta a um grupo de teatro amador e ajuda a fundar outro na Escola Comercial de Setúbal, onde era aluno de Humanísticas.

O início da década de 80 vê o jovem actor entrar, pela mão de Vasco Morgado, no mundo do teatro de revista, onde ganharia fama, chegando mesmo a ganhar o prémio de Revelação do Teatro Musicado atribuído pela revista Nova Gente, no caso referente ao ano de 1984. Simultaneamente, vai acumulando também experiência em companhias de teatro itinerantes, onde adquire conhecimentos que põe, posteriormente, a uso no contexto da sua própria empresa de produção, a Cartaz, fundada em 1991.

É, também, por volta dessa altura que surge a oportunidade de trabalhar em televisão, primeiro como actor convidado na série 'Os Homens da Segurança', e posteriormente como membro fixo de 'Sétimo Direito', com Henrique Santana, Lia Gama e Cláudia Cadima. Torna-se, em seguida, membro da companhia de Nicolau Breyner, com quem leva a palco uma série de espectáculos teatrais, além de participar da novela 'Na Paz dos Anjos'. De volta ao teatro de revista, participa como convidado no 'Cabaret' televisionado de Filipe La Féria, e acumula participações especiais nos mais populares programas de humor da época, d''Os Malucos do Riso' da SIC (que aqui terá, paulatinamente, o seu espaço) à 'Companhia do Riso' da RTP.

É em 1996, no entanto, que se dá o grande momento de mudança para Luís Aleluia, quando, ao lado de Morais e Castro, ajuda a dar vida aos textos escritos no início do século por José de Oliveira Cosme, sobre um aluno pouco inteligente e muito atrevido, e respectivo professor 'sofredor'. Caracterizado como uma criança em idade de instrução primária estereotipada, de boné às riscas e calções com suspensórios, mas com rugas que não enganavam, dizia numa voz propositalmente esganiçada piadas brejeiras, muitas escritas por Cosme, outras tantas originais, num formato semelhante ao de programas como 'Escolinha do Professor Raimundo' ou 'El Chavo del Ocho' ('Chaves', na sua icónica dobragem brasileira).

Tinha tudo para dar errado, mas deu muito, muito certo, considerada a série de maior impacto na televisão portuguesa em toda a década de 90, 'As Lições do Tonecas' ficaria no ar de 1996 a 2000, e levaria mesmo à criação de um 'spin-off', 'O Recreio do Tonecas', que não conseguiu o mesmo sucesso. De súbito, a cara daquele actor até então restrito a papéis convidados ou de apoio tornava-se, para uma geração de crianças e jovens lusos, tão sinónima com o humor como a de Herman José ou Camilo de Oliveira. A própria indústria reconheceria o excelente trabalho de Aleluia, que voltaria a ganhar um troféu Nova Gente em 1997, agora na categoria de Melhor Actor de Televisão.

O problema de um papel de tal sucesso – especialmente ao tratar-se do primeiro, ao qual se ficará para sempre associado – reside, normalmente, na dificuldade em lhe dar seguimento, acabando muitos actores por nunca conseguir o mesmo nível de expressividade; tal não foi, no entanto, o caso com Aleluia, que continuou a 'somar e seguir' na televisão portuguesa, com papéis em diversas séries tanto humorísticas como mais 'sérias', além de posto fixo como argumentista e actor nos popularíssimos 'talk-shows' matinais da RTP, 'Praça da Alegria' e 'Portugal no Coração'. A carreira do actor continuaria, assim, a par e passo até ao fatídico dia 23 de Junho, quando foi encontrado sem vida na sua própria garagem, no que se veio mais tarde a revelar ter sido um suicídio. O mundo do teatro e da televisão portuguesas ficam mais pobres, e uma geração de ex-jovens chora o personagem (e actor) que tantas alegrias e risos lhes proporcionou durante quatro dos seus anos formativos, na recta final do século e Milénio passados. Descansa em paz, Tonecas.

10.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre todos os géneros de cinema, a comédia foi – a par dos filmes de acção – aquele que mais 'nomes sonantes' teve durante a década de 90, tendo actores como Jim Carrey, Robin Williams, Eddie Murphy e Will Smith - entre muitos outros - feito as delícias dos jovens daquele tempo, e deixado para a posteridade uma filmografia repleta de obras memoráveis para qualquer 'puto' de finais do século XX.

Nem só os 'rapazes' tinham direito a brilhar, no entanto, e a década a que este blog diz respeito revelou, também, uma congénere feminina para os nomes anteriormente citados, na pessoa de Whoopi Goldberg. Com o seu icónico e inconfundível visual, voz rouca, e capacidade de ser tão expressiva e exagerada como Carrey e tão emocionalmente sincera como Williams, a actriz afro-americana viveu um autêntico estado de graça em finais dos anos 80 e inícios dos 90, em que o seu nome num cartaz era suficiente para suscitar interesse num filme; e ainda que nem todas as escolhas de Goldberg tenham sido as mais acertadas (longe disso), dois dos seus filmes pareceram expressamente escritos com a actriz em mente, e são hoje universalmente aclamados como 'tesouros' nostálgicos.

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Falamos da duologia 'Do Cabaré Para o Convento' (no original, 'Sister Act'), cujo primeiro filme celebrou recentemente o trigésimo aniversário da sua estreia em Portugal, a 28 de Janeiro de 1993. E porque, nessa semana, preferimos falar dos filmes de James Bond, rectificamos agora o nosso lapso, debruçando-nos não só sobre esse trabalho, como também sobre a sua sequela, potencialmente ainda mais reconhecida e bem-amada pela geração noventista.

Ambos os filmes vêem Whoopi encarnar a mesma personagem, uma cantora de cabaré que, devido a peripécias várias, se vê obrigada a fazer-se passar por freira, sob o nome de Irmã Mary Clarence. Escusado será dizer que a vida espartana de um convento pouco ou nada combina com a extrovertida Dolores (o nome verdadeiro da personagem) que – no primeiro filme - rapidamente tenta 'animar' um pouco as hostes através de mudanças no repertório do coro. Como não podia deixar de ser, estas mudanças são veementemente recusadas pela Madre Superiora e restantes responsáveis do convento, mas (também previsivelmente) Dolores acaba por fazer valer a sua vontade e ganhar a confiança de todas as residentes do convento.

Já a sequela vê as Irmãs tornarem-se professora numa escola de bairro social, plena de alunos difíceis (entre os quais uma jovem Lauryn Hill, mais tarde membro dos lendários Fugees), que Dolores deverá tentar conquistar através da música e do canto, numa espécie de versão comédica de filmes como “Mentes Perigosas” e “Escritores da Liberdade” - ambos, curiosamente, posteriores à obra de Whoopi! E se o original rendera alguns bons momentos sem, no entanto, se destacar particularmente em nenhum aspecto, este segundo filme traz uma cena final absolutamente icónica, em que a turma de Dolores/Mary Clarence participa numa competição de coros, e tem um desempenho por demais memorável. Só por isso, a sequela já supera o original; no entanto, este não é o seu único argumento, sendo que a 'parte 2' conta, também, com melhor argumento e uma série de bons desempenhos por parte dos jovens actores que interpretam os alunos, com óbvio destaque para Hill no papel de Rita, uma jovem cujos pais não aprovam o sonho de uma carreira musical.

Em suma, sem serem tão icónicos, histórica e culturalmente relevantes ou até memoráveis como alguns dos outros filmes de que vimos falando nesta rubrica, os dois 'Do Cabaré Para o Convento' não deixam, ainda assim, de constituir escolhas perfeitamente válidas para uma 'sessão dupla' de cinema em casa ao fim-de-semana, continuando a 'aguentar-se' tão bem no mundo do celulóide actual como no de há trinta anos atrás; e ainda que Whoopi Goldberg tenha, no entrementes, perdido muita da preponderância que então tinha em Hollywood, o seu legado mantém-se ainda assim vivo, em grande parte devido a estes dois filmes, que continuam a atrair gerações de novos fãs de todas as idades até aos dias de hoje.

23.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de a principal vertente da sua fama ter surgido no contexto do cinema de acção - do qual foi um dos grandes heróis durante os anos 80 e 90, tendo participado numa série de filmes marcantes do género - Arnold Schwarzenegger atravessou, no início e meados da última década do século XX, uma fase em que se tentou, também, afirmar como actor de comédia, tirando proveito do seu aguçado 'timing' cómico; e a verdade é que esta experiência, apesar de nem sempre totalmente bem conseguida, não deixou de render pelo menos um verdadeiro clássico, no excelente 'Um Polícia no Jardim-Escola', lançado logo em 1990. E apesar de os filmes seguintes do actor no mesmo registo - como 'Júnior' ou 'O Último Grande Herói' - não terem conseguido o mesmo sucesso, 'Arnie' viria, ainda, a contribuir para mais um filme de culto entre a juventude dos anos 90, bem como entre os fãs dos filmes de Natal. É desse filme, que completou esta semana vinte e seis anos sobre a sua estreia em Portugal, que falaremos nesta última Sexta de Sucessos antes da Consoada.

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Trata-se de 'O Tesouro de Natal' ('Jingle All The Way' de seu título original) estreado em terras lusas a 20 de Dezembro de 1996, numa altura em que a imagem de Schwarzenegger era, ainda, suficiente para 'vender' filmes por si só. E a verdade é que, sem 'Arnie', este filme talvez nem tivesse adquirido o estatuto de 'meme' 'tão mau que é bom' de que hoje goza, já que é das 'caretas' e dichotes de efeito do actor que advêm os momenos mais memoráveis da película, ficando as intervenções sem graça do insuportável Sinbad e restantes tentativas falhadas de fazer rir a audiência algo 'esquecidas' por comparação.

Schwarzenegger é responsável por muitos dos melhores momentos do filme.

Tal como existe, e longe de ser um bom filme ou merecer o estatuto de clássico da época natalícia gozado por filmes como 'Gremlins', 'O Estranho Mundo de Jack' ou o binómio 'Sozinho em Casa', 'O Tesouro de Natal' vale o visionamento apenas pela exibição tresloucada de 'Arnie', ao estilo das que tornam, hoje, conhecido Nicolas Cage, mas bastante mais intencional, e que transforma uma comédia de Natal comercial e medíocre em algo ainda hoje lembrado - ainda que ironicamente - por toda a geração que a ela assistiu há um quarto de século.

25.11.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos que viveram um 'estado de graça' durante os anos 90, a comédia foi um dos principais; a primeira metade da década, em particular, forneceu uma série de verdadeiros clássicos ao género, muitos deles protagonizados pelo binómio Robin Williams e Jim Carrey, responsáveis por êxitos como 'Doidos À Solta', 'Papá Para Sempre', 'A Máscara', 'A Gaiola das Malucas' ou a duologia 'Ace Ventura', (quase) todos eles tão bem-sucedidos entre o público jovem como entre os mais velhos. Para lá desse eixo, no entanto, existia todo um outro género de filme de comédia, mais declaradamente apontado a um público juvenil, e cujo humor se baseava na falta de inteligência dos seus protagonistas, normalmente adolescentes; era o Mundo das ainda hoje hilariantes duologias 'Bill e Ted' e 'Quanto Mais Idiota Melhor', e é também o 'habitat' natural do filme que hoje abordamos, uma 'cópia' de segunda linha do conceito que conseguiu, ainda assim, afirmar-se como um 'clássico menor' entre os fãs deste tipo de película.

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Falamos de 'O Rapaz da Pedra Lascada' ('Encino Man' no original e 'California Man' em vários pontos da Europa), filme que completa este fim-de-semana trinta anos sobre a sua estreia em Portugal, e que ajudou a revelar ao Mundo aquele que viria a ser outro nome de monta da comédia noventista e dos anos 2000: Brendan Fraser, que surge aqui no seu primeiro papel principal como o cavernícola homónimo, desenterrado de um quintal suburbano (!) e subsequentemente retirado de um bloco de gelo pelo habitual duo de protagonistas desmiolados (no caso Sean Astin, o futuro Sam Gamgee de 'O Senhor dos Anéis', e Pauly Shore, um dos muitos pretendentes falhados ao trono de Mike Myers, Keanu Reeves e Jim Carrey) que prontamente decidem inscrevê-lo na escola secundário que ambos frequentam.

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O trio de protagonistas do filme, dois dos quais se viriam, num futuro próximo, a tornar verdadeiras estrelas de cinema.

É claro que esta decisão rapidamente dá azo ao tipo de peripécias bem típico e esperado neste estilo de filme, e que poderão ou não arrancar uns sorrisos ao espectador, dependendo da sua tolerância para a variante humorística em causa. Isto porque 'O Rapaz da Pedra Lascada' não é mais nem menos do que um filme perfeitamente dentro da média para o estilo em que se insere, e daquilo que a Disney vinha produzindo durante aqueles anos ao nivel dos filmes de acção real - ou seja, longe do nível dos líderes 'Bill e Ted' ou 'Quanto Mais Idiota...' (ou até de 'Jamaica Abaixo de Zero', futuro clássico infanto-juvenil da mesma companhia lançado no ano seguinte) mas passível de proporcionar bons momentos cinematográficos a um espectador menos exigente numa tarde de fim-de-semana de chuva.

Nos dias que correm, no entanto, não há como negar que o principal mérito desta película é o de ter servido de plataforma de impulso para a carreira não só de Fraser (que meia-dúzia de anos depois estaria a combater múmias em CGI e a ser seduzido por uma Elizabeth Hurley em 'fase imperial') e de Astin como também de Robin Tunney, futura protagonista principal feminina de 'Prison Break' e 'O Mentalista' (de entre o restante elenco, destaque ainda para Michael DeLuise, filho do então também hiper-requisitado Dom, e que viria posteriormente a participar em séries como 'Rua Jump, 21' e 'Gilmore Girls'.) Quanto mais não seja pela sua importância enquanto 'trampolim' para estas futuras estrelas do cinema e televisão, 'O Rapaz da Pedra Lascada' merece, no trigésimo aniversário da sua estreia em terras lusas, ser 'desenterrado' (passe a piada) do esquecimento, e 'brindado' com estas breves linhas, à laia de retrospectiva.

11.11.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

As décadas de 80 e 90 foram palco para, provavelmente, a 'era de ouro' da comédia britânica, com programas tão lendários e ainda hoje recordados como 'Fawlty Towers' (que passou em Portugal durante a 'nossa' década com o título 'A Grande Barraca'), 'Alô Alô', 'A Ilustre Casa de Blackadder', ou ainda produções mais recentes, como 'Doido Por Ti', 'Absolutamente Fabulosas' ou a versão britânica de 'Friends' que era 'Couplings'. Em meio a toda esta qualidade, no entanto, uma figura se destacava, não só pela bizarria como também pelo sucesso trans-geracional de que gozava: um homenzinho de figura algo patética, sempre com um 'blazer' de xadrez bastante surrado, que guiava um Mini amarelo-canário e cujas expressões faciais conseguiam, por si só, fazer rir o mais sisudo dos 'rezingões' desta vida.

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Falamos, claro, de Mr. Bean, o personagem mais famoso de Rowan Atkinson em todo o Mundo, excepto, curiosamente, no seu Reino Unido natal, onde é, até hoje, conhecido sobretudo como Edmund Blackadder. Tal dever-se-à, talvez, à comédia sobretudo física e estilo 'pastelão' do solteirão atrapalhado Bean (um personagem conhecido, aliás, por ser de MUITO poucas palavras), por contraste ao humor sofisticado e baseado em jogos de palavras de Blackadder e seus comparsas. Seja qual fôr o motivo, a verdade é que Mr. Bean fazia as delícias de muitos espectadores portugueses nos anos 90, entre eles muitas crianças e jovens, para quem o humor de Atkinson e do seu personagem pareciam feitos à medida - tanto assim que a série original, produzida pela BBC na década de 80, teve honras de lançamento em VHS por terras lusitanas na década seguinte, pela mão da Orbis-Fabbri, no então habitual formato periódico e distribuído em bancas de jornal.

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O subtítulo nacional não podia ser mais adequado...

Com isto em mente, não é de admirar que Hollywood tenha procurado capitalizar sobre o sucesso do personagem com uma longa-metragem sobre ele centrada: o que surpreende é o facto de os estúdios norte-americanos terem conseguido estragar uma fórmula que praticamente se escreve a si própria – a exemplo, aliás, do que já haviam feito com Tom e Jerry alguns anos antes, num filme de que aqui paulatinamente falaremos. O resultado, o profeticamente intitulado 'Bean - Um Autêntico Desastre' (filme que completou há um par de meses vinte e cinco anos sobre a sua estreia nacional, a 6 de Setembro de 1997) é uma autêntica comédia (involuntária) de erros, que consegue cometer o 'pecado capital' de um filme centrado sobre um personagem como Mr. Bean – nomeadamente, o de não ter graça.

De facto, a primeira longa-metragem de uma das mais carismáticas e cómicas figuras da televisão noventista – algo que apenas precisava de ser um 'episódio alargado' da mega-popular série de 'sketches' humorísticos protagonizada pela personagem – chega ao ponto de RETIRAR O FOCO do seu personagem principal, colocando-o, sobretudo, na típica família americana com quem o mesmo se cruza durante as férias em Hollywood (daquele tipo de personagens usados neste tipo de filmes para 'ancorar' o espectador americano, mas insuportáveis para o resto da população mundial), antes de se ver envolvido em peripécias relacionadas com uma tentativa de roubo do popular quadro 'A Mãe', do pintor James McNeill Whistler. Sim, o filme dá mesmo prioridade ao argumento e personagens secundários do que ao suposto protagonista, aparentemente não compreendendo que -Mr. Bean é uma espécie de versão moderna de Cantinflas, e que – como acontecia com este, ou ainda com nomes como Bucha e Estica - ninguém vai ver uma película sua pela história!

Seria, no entanto, desonesto dizer que não há QUAISQUER bons momentos em 'Bean – Um Autêntico Desastre'; esporadicamente (MUITO esporadicamente) o filme até consegue arrancar algumas gargalhadas, sobretudo (e previsivelmente) quando dá ao seu público-alvo aquilo que o mesmo quer de um filme deste tipo, colocando o seu protagonista em situações comprometedoras que põem em evidência os dotes de comédia física do actor, e os peculiares métodos de resolução de problemas do seu personagem. O melhor destes, centrado sobre um 'acidente' com o referido quadro causado por Bean, quase merecia ser um 'sketch' em si mesmo, em vez de ficar 'esquecido' em meio a um filme que (como 'Tartarugas Ninja III' ou 'Super Mário' alguns anos antes) nem sequer a um público-alvo já 'convertido' (e, como tal, extremamente tolerante) consegue agradar, e que se encontra hoje em dia (algo merecidamente, diga-se) quase votado ao esquecimento.

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O 'Filme Bom' de Mr. Bean, que mostra como transpôr a fórmula para o grande ecrã correctamente.

Felizmente, Hollywood aprenderia com o fracasso deste primeiro filme de Bean, e – quase uma década e meia depois – 'emendaria a mão' com o divertidíssimo 'Mr. Bean de Férias', que mostra como é fácil transpôr CORRECTAMENTE a fórmila do personagem de Atkinson para o grande ecrã e mitiga um pouco o 'sabor a amargo' do original, um daqueles incompreensíveis 'casos de estudo' sobre como interpretar o sucesso de uma propriedade intelectual da forma mais errada possível.

 

19.04.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Quando se fala de humor feito em Portugal, pelo menos na era pré-Gato Fedorento, um nome se levanta acima de todos os outros: Herman José. Com carreira iniciada ainda no tempo do preto-e-branco, o actor e humorista (cuja carreira não dá, aliás, sinais de abrandar) atingiu o seu auge na década de 80, tendo explanado o seu humor entre o brejeiro e o satírico (e sempre no limiar do politicamente incorrecto) ao longo uma série de programas de enorme sucesso, como 'O Tal Canal' e 'Hermanias'; na década seguinte, no entanto, o luso-alemão sofreu uma inflexão na carreira, que o tornou conhecido, sobretudo, como apresentador de concursos e programas de variedades, entre os quais se destacam 'A Roda da Sorte' e 'Parabéns', dois programas de que paulatinamente aqui falaremos.

Já no final da referida década, no entanto, Herman sentiu o 'bichinho' da comédia (que nunca, verdadeiramente, o abandonara) 'morder' de novo, e não tardou a reunir novamente a sua posse de fiéis seguidores e cúmplices, com vista à criação de um novo programa de 'sketches' humorísticos, semelhante aos que o haviam notabilizado nos 'velhos tempos'; o que nem ele, nem ninguém poderia saber é que o mesmo se tornaria, aos olhos de muitos, não só o seu melhor programa, como um sério concorrente ao título de melhor programa de humor português de sempre.

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Falamos, é claro, da mítica 'Herman Enciclopédia', sobre cuja estreia se celebrararam neste fim-de-semana pascal exactos vinte e cinco anos (foi ao ar pela primeir vez a 15 de Abril de 1997) mas que continua, de uma forma ou de outra, a influenciar o humor criado em território nacional até aos dias de hoje.

Larga porção dessa influência deve-se ao facto de a geração que hoje cria programas de humor ter crescido com Herman, e ter provavelmente passado uma grande parte da sua infância e adolescência a citar ou até imitar cenas da 'Enciclopédia'. De facto, a penetração do programa na cultura popular portuguesa de finais do século XX foi tal que até mesmo quem não via conhecia (e utilizava no dia-a-dia) todos os principais personagens e bordõe; do mítico Diácono Remédios, para quem nunca 'habia nexexidade, ze, ze' (e respectiva mãe, sexóloga liberal) à não menos lendária Super Tia e o seu 'caturreiraaaa!', passando pelos televendedores Mike e Melga, da MELGASHOP, para quem tudo era 'fantáááástico!' ou pelos 'pastiches' de Artur Albarran (vivido por José Pedro Gomes, e conhecido por iniciar cada segmento com as palavras 'a tragédia, o drama, o horror') ou Lauro António (Lauro Dérmio, sinónimo com a sugestão 'let's luque et da treila'), foram inúmeros os 'bonecos' introduzidos pela 'Enciclopédia' no imaginário popular, muitos dos quais ainda nostalgicamente recordados por quem assistiu 'em tempo real' ao seu aparecimento.

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Diácono Remédios, provedor da 'Enciclopédia' e talvez o personagem mais popular de todos os introduzidos pelo programa.

Pode parecer incrível que um programa com este tipo de penetração e impacto cultural apenas tenha tido direito a duas temporadas, mas acredite-se ou não, foi esse o tempo de vida da 'Herman Enciclopédia' na televisão portuguesa; período talvez curto para uma emissão com o sucesso de que esta desfrutou, mas mais que suficiente para que, um quarto de século depois, toda uma geração retenha, ainda, memórias vívidas e nostálgicas das criações de Herman e seus asseclas, fazendo com que haja - ao contrário do que o Diácono Remédios poderia pensar - mesmo muita 'nexexidade' de prestar homenagem, por alturas do seu aniversário, a mais este marco da televisão portuguesa.

25.02.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nas Olimpíadas de Inverno de 1988, disputadas em Calgary, no Canadá, uma equipa de um país totalmente improvável protagonizou uma daquelas histórias de 'sangue, suor, lágrimas e triunfo' que normalmente só se vêem nos filmes; cinco anos depois, essa mesma história teve direito ao inevitável tratamento 'Hollywoodesco', que transformava a saga puramente 'underdog' da equipa jamaicana de 'bobsledding' (e que estranho é pensar que algo assim existiu MESMO, e não apenas na mente de um argumentista sob o efeito de drogas) numa daquelas comédias infantis coloridas e barulhentas típicas dessa época do cinema infantil. O que talvez não fosse de esperar seria que dessa manobra potencialmente cínica resultasse um filme que (no fim-de-semana em que se celebram exactos vinte e oito anos da sua estreia em Portugal, a 26 de Fevereiro de 1994) continua a ser um dos melhores representantes do seu estilo de cinema, e a agregar novos fãs a cada geração.

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Vendo bem as coisas, talvez isso não seja assim TÃO surpreendente – afinal, 'Jamaica Abaixo de Zero' (o horrendo título lusófono para 'Cool Runnings', o filme de que aqui se fala) teve a chancela da Walt Disney Pictures, ela que já havia sido responsável, um ano antes, por outro clássico do género, 'A Hora dos Campeões' (no original, 'The Mighty Ducks'), cuja sequela, lançada um ano depois de 'Cool Runnings', continua ainda hoje, a constituir o 'standard' máximo para as comédias desportivas infanto-juvenis. Uma companhia que percebia da 'poda', portanto, e que utilizou as suas décadas de experiência no ramo do cinema para crianças para assegurar que o filme sobre os jamaicanos a andar de trenó obedecia aos seus padrões de qualidade.- uma missão que não se pode considerar nada menos do que um retumbante sucesso.

De facto, 'Jamaica Abaixo de Zero' é aquele raro filme que consegue ter piada sem sacrificar o âmago da história – no caso, a luta dos quatro protagonistas (jamaicanos, mas interpretados por quatro actores nova-iorquinos...) para conseguirem a 'missão impossível' de qualificar pela primeira vez o seu país para as Olimpíadas de Inverno, com a ajuda de um treinador caído em desgraça, interpretado pelo malogrado John Candy.

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Os quatro protagonistas do filme

Um enredo que facilmente seria transformável numa sucessão de quedas supostamente 'humorísticas', mas que na verdade, deriva muito do seu humor e momentos mais memoráveis das interacções entre os personagens, cinco personalidades muito diferentes (e, por vezes, diametralmente opostas) que se vêem forçados a aprender a conviver em prol do bem comum; sim, há algumas quedas (a esmagadoria maioria protagonizadas pelo personagem de Doug E. Doug, Sanka Coffie, suscitando, inevitavelmente, o memorável bordão 'Sanka, morreste?') mas mesmo essas são bem contextualizadas pelos treinos e dificuldades da equipa em se adaptar a um desporto totalmente novo, nunca parecendo gratuitas ou forçadas.

E depois, claro, há o final, em que a Disney, numa atitude de louvar, decidiu preservar a verdade dos factos, em vez de optar pelo tradicional final feliz, que retiraria algum do impacto; tal como acaba, o filme suscita uma mistura de sentimentos perfeitamente deliciosa, que dificilmente se esperaria de um filme deste tipo. Um dos poucos casos em que o eterno 'cliché' do aplauso lento que vai aumentando de intensidade é bem merecido.

Grande parte destas decisões talvez derivem do facto de, na sua génese, 'Jamaica Abaixo de Zero' ter sido pensado como um filme totalmente sério, uma autobiografia ficcionada daquela equipa heróica, cuja história superava qualquer guião. Dificuldades na criação desta versão do filme ditaram, no entanto, a mudança de tom e toada, e a verdade é que – como sucederia com 'Pacha e o Imperador', do mesmo estúdio, alguns anos mais tarde – o filme não ficou a perder; antes pelo contrário, 'Cool Runnings' continua (conforme mencionado no início deste texto) a ser muitíssimo bem cotado por membros da 'geração X' e seguintes, tendo sobrevivido às enormes mudanças vividas pelo mundo do cinema nos últimos trinta anos. Como a equipa que retrata, o filme afirma-se como um 'sobrevivente', conseguindo manter-se à tona de sucessivas 'mudanças de maré', como que desafiando a que alguém pergunte: 'filme, morreste?', para que possa triunfalmente responder 'ná, meu...'

19.11.21

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os meados de Novembro marcam, no calendário de muito boa gente – e, certamente, da maioria das empresas e estabelecimentos de comércio – o início da época natalícia. As iluminações, armadas e colocadas nos respectivos lugares desde há pelo menos seis semanas, são finalmente acesas; os supermercados inserem uma série de temas natalícios nas suas 'playlists' musicais; o comércio de rua toma a liberdade de começar a decorar as montras com Pais Natais, árvores decoradas e desenhos de flocos de neve; e milhares de ex-crianças dos anos 90 começam a tentar prever em que data passará na televisão o 'Sozinho em Casa'.

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Uma imagem que está indelevelmente gravada na memória de todos nós.

Um dos três filmes de Natal inescapáveis em Portugal – ao lado de 'Mary Poppins' e 'Música no Coração', sendo, nos últimos anos, também provável que alguma emissora exiba um dos filmes da série 'Shrek' – 'Sozinho em Casa' é uma das obras cinematográficas mais imediatamente associadas a esta época do ano por qualquer pessoa que fosse da idade certa quando o mesmo estrou nos cinemas de todo o Mundo há quase exactamente trinta e um anos, a 16 de Novembro de 1990. E ainda que a constante e quase anual repetição do filme nos diversos canais da TV portuguesa tenha contribuído para reduzir significativamente a boa-vontade exibida por essa mesma geração em relação ao filme, a verdade é que também há pouco quem se oponha a ver o filme ainda mais uma vez...

Vendo bem, em retrospectiva, era inevitável que 'Sozinho em Casa' fizesse sucesso entre o público-alvo da altura, que não podia deixar de se rever no protagonista Kevin McAllister, interpretado por um rapazinho de nove anos que se viria em anos subsequentes a tornar um dos principais actores juvenis de Hollywood – o inconfundível Macaulay Culkin, cuja cara seria em breve objecto de capa de revistas infanto-juvenis como a Super Jovem, sempre acompanhada do icónico 'pullover' castanho-avermelhado envergado por Kevin durante a grande maioria da hora e 45 do filme. Quanto ao realizador Chris Columbus, vir-se-ia também a tornar uma estrela por direito próprio, tendo o seu segundo momento de glória surgido quase exactamente uma década após o primeiro, quando foi seleccionado para realizar as primeiras duas adaptações cinematográficas da estratosférica saga 'Harry Potter'.

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Macaulay Culkin, então e agora

E se a carreira do seu actor principal viria eventualmente a descarrilar, levando Culkin a afastar-se do mundo do cinema durante quase vinte anos, o legado do filme em si sobreviveria, tanto por culpa das repetições constantes como parte da programação natalícia de canais de televisão em todo o Mundo, como por mérito próprio do seu guião, assumidamente 'pastelão' a pontos de se assemelhar a um desenho animado de acção real, mas ao mesmo tempo alicerçado numa situação realista q.b., e tão excitante quanto aterrorizante para o seu público-alvo – ser esquecido pelos pais aquando de uma viagem, e ter que defender a sua casa contra assaltantes. Junte-se a isto uma pitada de sentimentalismo, sem exageros, e muitos, muitos momentos memoráveis (encabeçadas pela impagável cena do 'after-shave' e pelo icónico 'keep the change, ya filthy animal!') e está encontrada a receita perfeita para o maior filme de Natal do ano – ou, no caso de Sozinho em Casa, um dos maiores filmes do ano, ponto (ao que também ajudou o facto de a proposta da Disney para esse Natal ser 'Bernardo e Bianca na Cangurulândia', um dos filmes menos lembrados da safra anos 90 da companhia.) 

Méritos à parte, o facto é que Sozinho em Casa foi um estrondoso sucesso (só por aqui, foram CINCO as idas ao cinema para ver o filme!), tendo não só justificado, à época, a inevitável sequela (por sinal muito abaixo do nível do original) como também dado origem, anos mais tarde, a um inenarrável 'franchise' de lançamentos 'direct-to-video', já sem o envolvimento de qualquer membro da equipa original (Columbus só não sentirá vergonha destes filmes porque deve receber 'royalties' relativas aos mesmos), e com orçamentos significativamente mais reduzidos. Isto sem esquecer o 'remake' recém-estreado no canal Disney +, agora com um jovem britânico (Archie Yates, de 'Jojo Rabbit') inexplicavelmente residente nos EUA, no papel outrora interpretado pelo americaníssimo Culkin. MV5BNDI1MzM0Y2YtYmIyMS00ODE3LTlhZjEtZTUyNmEzMTNhZW

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A primeira regra das sequelas de 'Sozinho em Casa' é que não se fala das sequelas de 'Sozinho em Casa'...

Pelo caminho, o filme original foi também indelevelmente incorporado na cultura 'pop' (na Primark britânica podiam, há uns anos, encontrar-se 'pullovers' de Natal com a legenda 'Merry Christmas, you filthy animal!') a um ponto que tornava inevitável que o seu aniversário fosse celebrado, e lhe fossem dadas honras de abertura da época natalícia, neste nosso blog nostálgico. Chegou, pois, oficialmente a altura de começar a consultar as grelhas de programação dos diversos canais (vai passar ALGURES. Todos sabemos que vai passar ALGURES!) e a 'arrumar' a agenda para, no momento certo, podermos estar à frente da televisão a ver o gorro de Joe Pesci a pegar fogo e Daniel Stern a apanhar com a bola de bólingue na cabeça pela 6,427,139ª vez... Feliz Natal, seus animais!

05.10.21

NOTA: Este post é respeitante a Segunda-feira, 5 de Outubro de 2021.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Nas últimas edições desta rubrica, temos vindo a falar de séries para adolescentes americanas dos anos 90 que, por alguma razão, tiveram igual repercussão por terras lusitanas; e depois de termos falado das principais representantes da vertente mais séria e mais cómica do estilo, chega hoje a vez de falarmos do terceiro concorrente nesta competição pelo interesse dos espectadores mais jovens, o qual não chegou a conseguir o mesmo nível de sucesso das suas congéneres, mas deixou ainda assim a sua marca entre o público infanto-juvenil da época.

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Falamos de ‘Parker Lewis’ (ou ‘Parker Lewis Can’t Lose’, como era conhecido no seu país de origem), uma ‘sitcom’ da Fox que pegava em alguns dos elementos utilizados pela série rival, ‘Já Tocou!’, os aumentava a um nível quase caricatural, e os misturava com uma boa dose de inspiração retirada do filme ‘O Rei dos Gazeteiros’, que muitos dos nossos leitores mais provavelmente conhecerão pelo seu título original, ‘Ferris Bueller’s Day Off’.

Tal como o filme de 1982, ‘Parker Lewis’ segue as aventuras do gazeteiro e ‘gozão’ do mesmo nome (interpretado por Corin Nemec, que não viria a ter quaisquer outros papéis de nota), um sucedâneo (ou sucessor) de Ferris Bueller que frequenta  uma escola secundária californiana e que, com a ajuda dos seus dois melhores amigos e alguns outros colegas menos chegados, faz a vida negra à directora da escola, enquanto tenta evitar os ‘ataques’ estilo partida de Carnaval da sua maléfica irmã mais nova.

Uma premissa bastante comum, e até algo gasta, para uma série deste tipo, mas que, neste caso específico, era apimentada com uma dose considerável de referências à cultura ‘pop’da época e daquilo a que se convencionou chamar ‘fourth wall breaking’ – aquele fenómeno em que os personagens sabem estar dentro de uma ficção, e utilizam alguns dos elementos da mesma a seu favor. Embora não totalmente original – Zack Morris, de ‘Já Tocou!’, também era conhecido por se dirigir directamente aos espectadores, por exemplo – esta abordagem granjeava algum interesse a ‘Parker Lewis’, e ajudava a série a cimentar um lugar no concorrido mercado de ‘sitcoms’ para adolescentes, tanto nos EUA como em Portugal.

parker-lewis-cant-lose-the-complete-first-season-2O personagem principal em modo 'fourth wall break'

Ainda assim, o sucesso das aventuras de Parker e seus amigos não foi tão pronunciado que levasse à exibição em Portugal das três séries criadas pela Fox entre 1990 e 1993; a série passou em terras lusas durante apenas um ano, substituindo precisamente ‘Já Tocou!’ na grelha da TVI. Nesta batalha em particular, no entanto (e apesar dos ‘gadgets’ de que Parker e os seus comparsas dispunham na sua base secreta por baixo do ginásio) pode dizer-se que o liceu de Bayside saiu claramente a ganhar do confronto com o liceu de Santo Domingo - e que Parker Lewis, que segundo o próprio título da série, 'não pode perder'...perdeu. Ainda assim, os planos de Parker foram suficientemente bem sucedidos para lhe granjear algumas linhas – bem como a honra de concluir a retrospectiva sobre séries para adolescentes dos anos 90 - aqui neste nosso blog…

27.09.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E se na última edição desta rubrica falámos de um ‘one-hit wonder’ português de meados dos anos 90, com músicas voltadas ao humor e cantadas na nossa própria língua, hoje, falaremos de outro, substancialmente mais conhecido e menos ‘esquecido’, e cujo único sucesso continua, ainda hoje, a marcar presença em certos contextos, seja dentro do espectro das artes criativas, seja como banda sonora de um qualquer evento de ar livre; e porque se vivem precisamente, neste altura, os últimos resquícios da maravilhosa estação estival portuguesa, nada melhor do que deixarmos que essa mesma banda nos recorde das muitas razões para apreciar essa época do ano.

Como já devem ter percebido, estamos a falar d’A Fúria do Açúcar, grupo musical e humorístico imortalizado na consciência colectiva portuguesa pelo hino estival ‘Eu Gosto É do Verão’, mas que pouco mais sucesso conseguiu atingir, apesar de celebrar este ano as suas três décadas (!) de carreira.

Formada em 1991 por três personalidades do circuito humorístico – entre elas o líder João Melo, mais tarde apresentador de um programa televisivo também voltado a este espectro – A Fúria do Açúcar começou por ser um projecto de estética café-concerto, intercalando números musicais com ‘sketches’ humorísticos. Não demorou muito, no entanto, para que este paradigma se alterasse, com o grupo a decidir enveredar por um caminho estritamente musical, cujo primeiro fruto foi o álbum homónimo de estreia, lançado em 1996.

No entanto, seria apenas com o seu segundo registo, ‘O Maravilhoso Mundo do Acrílico, lançado no ano seguinte, que o grupo de João Melo verdadeiramente penetraria na consciência popular – especificamente, através do segundo single retirado do álbum, uma faixa de índole sardónica cuja letra focava a comercialização em torno da época de Verão, e da idealização de que a mesma é alvo por parte da maioria dos seres humanos. No fundo, uma daquelas faixas que apenas aparenta ser ‘parva’, tendo na verdade um significado escondido, à espera de quem o queira encontrar; o problema foi que, em 1997, quase ninguém quis.

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A capa do álbum de consagração do grupo

De facto, a maioria daqueles que cantarolavam alegremente esta música no carro, na escola ou até em casa certamente não terá dedicado muito tempo a esmiuçar o significado da letra, prestando mais atenção à voz pateta-de-propósito de Melo ou à instrumentação bem ao estilo surf-rock, que tornava a música numa ‘malha’ bem pegajosa. O resultado inevitável desta tendência foi a percepção daquilo que se pretendia que fosse uma denúncia social como precisamente aquilo que aparentava (ou fingia) ser – uma música tola e descartável para consumo imediato. Pior, essa é ainda hoje a principal forma como a canção é abordada, tendo a vertente de crítica social vindo a ser cada vez mais ignorada – algo que, certamente, não deixará de frustrar os músicos da banda.

Também certamente frustrante será o facto de – apesar de, como resultado do seu sucesso. se ter tornado banda residente do programa apresentado pelo vocalista – o projecto Fúria do Açúcar nunca ter conseguido replicar o sucesso daquele ‘single’ de 1997. Apesar de contar já com seis discos (um dos quais lançado após um hiato de quase exactamente dez anos), a banda de João Melo continua a ser conhecida e recordada por uma, e apenas uma, música. Música essa que – diga-se em abono da verdade – continua a ser tocada nos mais diversos e variados contextos, o que não deixa de ser um feito para uma faixa cómica lançada há quase um quarto de século; ainda assim, não será descabido pensar que Melo e Cª teriam certamente preferido que essa mesma faixa tivesse feito menos sucesso, se tal significasse que o resto do seu repertório se tornaria mais conhecido…

Seja como for, a verdade é que o ‘one hit’ destes ‘one-hit wonders’ se tornou bem mais icónico e duradouro do que a maioria das músicas deste tipo, sendo ainda hoje um hino nostálgico para toda uma faixa demográfica que viveu os seus melhores anos nas décadas entre 1980 e 2000; candidato ideal, portanto, para inclusão nesta secção do nosso blog…

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