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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.10.25

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O género de terror para (e com) adolescentes – em que um assassino mascarado persegue e mata um grupo de jovens – foi um dos mais bem-sucedidos das décadas de 80 e 90, com clássicos como 'Halloween' ou 'Sexta-Feira 13' a estabelecerem as bases que inúmeros filmes e franquias exploraram ao longo dos dez a quinze anos seguintes. Nos anos 90, ver-se-ia nova mudança de paradigma, com a trilogia 'Gritos' a redefinir o género injectando um toque de humor e meta-comentário à fórmula que continuava a ser seguida à risca por filmes como 'Sei O Que Fizeste No Verão Passado', 'A Faculdade' ou 'Destino Final' – uma mudança que seria tão bem recebida pelo público-alvo que daria a um grupo de humoristas de créditos firmados a ideia de amplificar os elementos humorísticos utilizados por aquela trilogia para criar uma paródia declarada de todo um género cinematográfico. O resultado – que viria, sem que ninguém soubesse ou esperasse, a originar tanto uma franquia própria como todo um novo género – chegava às salas de cinema nacionais há quase exactos vinte e cinco anos (a 13 de Outubro de 2000) e captava de imediato a atenção de toda uma demografia, que incorporaria várias das suas falas no 'calão' diário, num daqueles exemplos de existência de um 'meme' uma década antes de tal conceito ter sido inventado.

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A obra em causa era, claro, 'Scary Movie – Um Susto de Filme', um projecto dos irmãos Wayans que, de uma assentada, parodiava não só os mais populares filmes de terror adolescente, mas também outros trabalhos cinematográficos de realce à época – com alusões aos inevitáveis 'Matrix', 'O Sexto Sentido' e 'Projecto Blair Witch' – e até anúncios publicitários contemporâneos, um dos quais serve de base à mais famosa e icónica cena do filme. A fórmula, essa, era simples: recriações, muitas vezes plano a plano, de cenas dos referidos filmes, mas com variações inesperadas, irreverentes, e politicamente incorrectas: Carmen Electra (no papel originalmente interpretado por Drew Barrymore no início do primeiro 'Gritos') a escapar à morte graças ao silicone dos peitos, o personagem de David Arquette no mesmo 'Gritos', Dewey, a ser transformado em 'Doofy', uma caricatura de um indivíduo com deficiências cognitivas, um assassino que se 'moca' juntamente com o grupo de 'janados' local (sem nunca tirar a máscara), e mil e uma referências a alguns dos mais 'batidos' axiomas dos filmes para adolescentes, como a utilização de actores já algo longe da faixa etária que representam ou a tendência dos personagens para perderem a capacidade de reagir inteligentemente ao ouvirem um barulho.

Uma estratégia que resultava em pleno no imediato, mas que (um pouco como acontecia, na mesma altura, com o videoclip para 'All The Small Things', dos Blink-182) limitava o filme a um espaço e tempo tão determinado como limitado. Isto porque quem não soubesse a que se referia cada uma das piadas (ou seja, quem não fosse da faixa etária correcta ou conhecesse minimamente os filmes em causa) ficaria inevitavelmente 'perdido', sem saber porque (ou do que) era suposto estar-se a rir. Para quem percebia a premissa, no entanto (e tinha menos de vinte e cinco anos na altura da estreia) 'Scary Movie – Um Susto de Filme' era provavelmente a película mais divertida do ano, e punha milhares de jovens da viragem do Milénio a gritar 'Wazaaaaaaaap?' uns para os outros em pátios de escola de Norte a Sul do País – tal como, aliás, sucedia também em outras nações na mesma altura. E embora, hoje em dia, o mesmo deva ser devidamente contextualizado (sendo muito do seu humor actualmente visto como problemático, para não falar em datado) não haverá decerto quem tivesse cerca de quinze anos no ano 2000 e não diga que adorou 'Scary Movie' quando o foi ver ao cinema,

Face ao sucesso do filme junto do seu público-alvo, não é de admirar que Keenan, Shawn e Marlon Wayans tenham procurado tornar 'Scary Movie' numa franquia, tendo sido produzidos mais quatro (!) filmes ao longo da década seguinte; infelizmente, como costuma suceder neste tipo de casos, cada novo acrescento à série era menos original e bem-conseguido que o anterior, e nenhum chegava aos calcanhares do original – embora a primeira sequela não seja uma má proposta para uma Sessão de Sexta dupla, tendo inclusivamente um argumento mais forte que o do primeiro filme. O mesmo se pode dizer das inúmeras séries de 'imitadores' surgidos imediatamente após o lançamento do primeiro filme (embora alguns, como 'Oh, Não! Outro Filme De Adolescentes' chegassem a ser bem-conseguidos) e, sobretudo, da insuportável série de 'filmes temáticos' lançada por dois dos produtores em finais da década, cada um como paródia (sem qualquer graça) de um género específico, dos filmes de fantasia aos românticos, históricos ou de desastres.

Apesar deste legado mais do que questionável, no entanto – e de não ter envelhecido particularmente bem, tanto pelo conceito como pelo humor – 'Scary Movie – Um Susto de Filme' é, ainda assim, um dos filmes icónicos para a geração que atravessava a adolescência nos anos de viragem do Milénio, mais do que merecendo ser recordado na semana em que se completam vinte e cinco anos sobre a sua estreia nacional – um evento cuja melhor maneira de celebrar será, evidentemente, com um 'Wazaaaaaaaaaap??'

04.10.25

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-feira, 03 de Outubro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

No início dos anos 90, o género da comédia romântica moderna (a chamada 'rom-com') não era, ainda, tão prevalente quanto viria a ser na segunda metade da década, e durante grande parte da seguinte. Já havia, é claro, exemplos do género, mas mesmo estes apresentavam moldes um pouco diferentes daqueles que viriam a formar a tão conhecida e bem-sucedida fórmula que levaria milhões de casais às salas de cinema durante os dez a quinze anos seguintes. Isto porque, apesar de o famoso 'boy meets girl' ter sido o cerne da ficção – cinematográfica e não só – durante séculos, muitas das obras criadas até finais do século XX incorporavam outros elementos além da tensão romântica, e punham muitas vezes mais foco nestes do que propriamente nas desventuras do 'casalinho' de serviço.

Um dos filmes que ajudaria a mudar esse paradigma, e a lançar o género da 'rom-com' como a maioria dos 'millennials' o viriam a conhecer, chegava às salas de cinema portuguesas há exactos vinte e cinco anos, a 4 de Outubro de 1990, e afirmava-se imediatamente como um sucesso tão retumbante no nosso País como já o havia sido internacionalmente. E não é difícil perceber porquê – afinal, quem não se deixaria cativar pela velha história do 'ricaço' que descobre e se apaixona por uma jovem de origens comuns, mas com um coração de ouro e personalidade a condizer?

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Sim, a história de 'Pretty Woman: Um Sonho de Mulher' mais não era do que uma variação do enredo de 'My Fair Lady', transposto da Inglaterra vitoriana para a América urbanizada, transformando o 'professor distraído' num 'yuppie' e a vendedora de flores numa prostituta, mas mantendo, de outra forma, a premissa-base do clássico musical. Para viver as personagens desta espécie de 'actualização não declarada' eram escolhidos o veterano 'bonitão' Richard Gere – então já com uma década como 'sex symbol' de Hollywood – e uma jovem de apenas vinte e um anos, de sorriso luminoso e longos cabelos frisados, de quem este filme faria uma das maiores estrelas do planeta durante pelo menos uma década. O seu nome? Julia Roberts, pois claro.

Curiosamente, e um pouco em linha com o pensamento veiculado no parágrafo inicial deste 'post', 'Um Sonho de Mulher' – que conta ainda com a participação de Hector Elizondo e Jason Alexander, o George Costanza de 'Seinfeld' - não tinha, inicialmente, sido pensado como romance, e muito menos como comédia; pelo contrário, a ideia inicial do argumentista J. F. Lawton era criar um drama sério e sombrio sobre a prostituição que então grassava em Los Angeles, um conceito que não podia estar mais longe do filme que acabou por 'ir a cena'. De igual modo, nem Gere nem (especialmente) Roberts teriam sido primeiras escolhas da equipa técnica, que queria Karen Allan no papel da prostituta Vivian (com as alternativas a passarem por Molly Ringwald, a 'menina do lado' dos anos 80, e ainda por nomes como Jennifer Connelly, Wynona Ryder, Drew Barrymore, Brooke Shields, Kristin Davis, Uma Thurman e Patricia Arquette), e havia considerado nomes tão díspares como Al Pacino, Christopher Lambert, Burt Reynolds, Daniel Day-Lewis, Kevin Kline, Christopher Reeve, Albert Brooks e até Denzel Washington ou Sylvester Stallone (!!) para o papel do galã. Se a ideia de um filme em que Michael Corleone, o Super-Homem ou o Rambo contracenam com a Poison Ivy de 'Batman e Robin' ou com a 'menina bonita' de 'O Clube' é por demais intrigante, a mesma terá, no entanto, de permanecer exclusivamente (e infelizmente) no campo da imaginação, já que todos esses actores rejeitaram o convite dos produtores, com mesmo Gere a só ficar totalmente convencido após conhecer Julia Roberts.

Como se costuma dizer, no entanto, 'há males que vêm por bem', já que os dois actores viriam a beneficiar largamente da sua participação no projecto, o qual – já depois de transformado numa trama leve e de cariz romântico – viria não só a afirmar-se como um dos maiores sucessos de sempre no seu género, como também a fornecer a matriz para duas décadas de filmes com cartazes de fundo branco e casais em poses ligeiramente 'marotas' ou divertidas – embora, na maioria dos casos, sem as alusões ao trabalho sexual que o original utilizava como base. Tivessem Lawton e os restantes elementos técnicos do filme seguido a sua ideia original, talvez o panorama cinematográfico dos anos 90 e 2000 tivesse sido significamente diferente, e talvez Gere e especiamente Roberts nunca tivessem conhecido o sucesso de que gozaram durante esse período. Tal e como existe, no entanto, 'Um Sonho de Mulher' é, sem dúvida, um marco do cinema americano moderno, totalmente merecedor de homenagem, quando se celebram trinta e cinco anos desde o dia em que apresentou ao público português as personagens de Edward Lewis e da 'mulher bonita' Vivian Ward.

30.09.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

As adaptações localizadas para formatos bem-sucedidos no estrangeiro não são nada de novo, tendo sido uma fórmula adoptada pelos países mais periféricos desde os primórdios dos 'mass media'. Portugal não foi, de todo, excepção a esta regra, antes pelo contrário – são inúmeros os exemplos desta prática ao longo dos anos, sobretudo no espectro televisivo, onde os produtos deste tipo se dividem entre adaptações declaradas e o mais literais possíveis, e conceitos simplesmente inspirados por outros criados 'lá por fora'. A série que abordamos neste 'post', e sobre a estreia da qual se assinalaram este mês os exactos vinte e cinco anos, insere-se na primeira categoria, 'copiando' fielmente um formato britânico e aplicando-lhe uma 'demão' de 'verniz nacional', para mais facilmente captar e cativar o seu público-alvo. O resultado é uma série que, apesar de ficar bem aquém do sucesso do original, merece ainda assim ser relembrada por ocasião do seu quarto de século.

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Estreada a 7 de Setembro de 2000, na SIC (à época a principal veiculadora de 'sitcoms' nacionais) 'Cuidado Com As Aparências' é uma adaptação da série do mesmo nome produzida pela BBC em inícios dos anos 90, e cujo título original era 'Keeping Up Appearances'. Londres dá lugar a Lisboa, Hyacinth Bucket torna-se Jacinta Bimbó, mas tanto o conceito (uma mulher de classe baixa com pretensões à 'subida' social) como muitas das situações são transferidas directamente do original britânico – o que não é de estranhar, já que a maioria das mesmas era relativamente universal, sem grande 'carga' social específica do Reino Unido, e, como tal, fácil de adaptar a uma realidade tão diferente (mas também tão semelhante) como era a portuguesa.

A dar a cara e o corpo às 'aportuguesadas' aventuras de Jacinta e da sua família declaradamente e orgulhosamente popular estavam um conjunto de actores bem habituados às lides da comédia, e capazes de fazerem até as situações mais caricatas ressoar junto do público-alvo. Catarina Avelar (que vivia Jacinta), Helena Isabel, Lídia Franco, Margarida Carpinteiro ou Vítor de Sousa eram apenas alguns dos nomes num elenco fixo cujo talento era inversamente proporcional ao seu tamanho, e que era capaz, por si mesmo, de justificar a sintonização da série – como, aliás, sucedia com a maioria dos projectos em que se envolviam.

Infelizmente, conforme mencionado nas linhas iniciais deste texto, a versão portuguesa de 'Cuidado Com As Aparências' não logrou o mesmo sucesso da original, dando origem a apenas duas temporadas (por oposição às cinco da série da BBC) e encontrando-se hoje largamente esquecida pelo público telespectador da época. Ainda assim, a mesma não deixa de ser um exemplo relativamente bem conseguido – e absolutamente típico – de 'sitcom' portuguesa do período em causa, fazendo por merecer ser revisitada por fãs deste tipo de programa, no mês em que se celebram os vinte e cinco anos da sua primeira 'ida ao ar.'

15.09.25

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

'Um programa sobre nada'. É essa a premissa por trás daquela que é muitas vezes considerada uma das melhores séries televisivas de sempre, capaz de unir gerações na base da gargalhada, mesmo quando algumas das situações apresentadas são já algo ultrapassadas quer do ponto de vista social, quer mesmo de uma perspectiva funcional, sendo hoje improváveis ou muito fáceis quer de prevenir, quer de resolver. Ainda assim, o conceito-base – a dinâmica entre quatro melhores amigos solteirões, cada um com sua 'pancada', numa espécie de versão mais neurótica e sarcástica do contemporâneo 'Friends' – mantém-se universal, sendo presumivelmente, a par da genial escrita, o principal factor que continua a atrair espectadores de todas as idades, mesmo três décadas e meia depois da estreia original da série nos EUA.

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Falamos, claro, de 'Seinfeld', uma das mais famosas e populares 'sitcoms' de sempre, e que lançou as carreiras dos seus quatro protagonistas – não só do comediante e criador Jerry Seinfeld (que interpreta uma versão semi-ficcional de si mesmo) como dos coadjuvantes Julia Louis-Dreyfus (que interpreta Elaine, a representante do sexo feminino no grupo), Jason Alexander e Michael Richards, estes últimos as verdadeiras 'estrelas da companhia', nos papéis do ultra-neurótico e inseguro George Costanza e do declaradamente tresloucado Cosmo Kramer, respectivamente. Juntos (e bem apoiados por profissionais da comédia como Larry David ou Jerry Stiller) os quatro criaram, ao longo dos nove anos de existência da série, situações e dichotes que penetraram na cultura popular não só do seu país de origem, como também de nações como Portugal – afinal, quem nunca lançou um 'nosoupforyou!' ou 'get outta here!'?

Com esta combinação única de talentos cómicos, excelentes guiões, tiradas icónicas (sempre ancoradas pela não menos intemporal e reconhecível linha de baixo 'slap' ouvido no genérico e em todas as transições) não é de admirar que, aquando da sua chegada a Portugal (curiosamente, já depois de concluída a transmissão nos EUA) a série tenha imediatamente granjeado um enorme número de adeptos, que passaram a sintonizar fielmente a TVI todas as noites, para meia-hora de riso garantido. Apesar de concebida num país com uma cultura completamente diferente da lusitana, a série adaptava-se marcadamente bem ao ambiente vivido no nosso País durante aqueles últimos anos do século XX, e 'caiu no gosto' de toda uma geração sarcástica, irónica e que se revia parcialmente naqueles personagens tão 'complexados' e cheios de problemas mundanos quanto eles, mas que se recusavam a deixar-se 'afundar' nas suas depressões, ou a criar dramas a partir das mesmas – o que, já de si, demarcava 'Seinfeld' da maioria das séries suas contemporâneas, e lhe dava um apelo muito mais intemporal do que as mesmas, ao mesmo tempo que a falta de 'linha condutora' ou enredo entre episódios convidava à revisão isolada dos momentos favoritos.

Prova dessa intemporalidade é, aliás, o facto de 'Seinfeld' fazer regressos periódicos aos ecrãs nacionais até aos dias de hoje (a última das quais em inícios de 2024) e marcar presença perene em muitos serviços de 'streaming', pronta a ser encontrada e apreciada pelas novas gerações, da mesma forma que sucedeu com os seus pais e até avós. Nada mau, para um 'programa sobre nada...'

12.04.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 11 de Abril de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Nenhum membro da primeira metade da geração 'millennial' (aquela nascida, maioritariamente, durante a década de 80) e oriundo de um país ocidental necessita de quaisquer explicações quanto ao nível ou à razão da fama de Macaulay Culkin. Dois mega-sucessos de Natal em anos consecutivos – o filme de estreia 'Sozinho em Casa' e a sua primeira sequela – colocaram aquele 'puto' loirinho de sorriso maroto nas 'bocas do Mundo' e projectaram-no para um sucesso que talvez ainda fosse muito novo para gerir, transformando-o naquilo a que a revista Super Jovem chamava, no seu 'número zero', uma 'mini super-star' (e só o facto de uma revista emergente para jovens utilizar 'Mac' como chamariz já diz tudo o que é preciso saber sobre a influência do rapazinho na cultura popular juvenil da altura).

Não é, pois, de surpreender que, após o sucesso dos dois primeiros 'Sozinho em Casa', os produtores de Hollywood procurassem integrar o jovem nos seus projectos, nem tão-pouco que o próprio Culkin quisesse diversificar o seu repertório, fazendo alguns 'desvios' do seu nicho de comédia infantil, o principal dos quais foi o papel dramático e até sádico em 'O Bom Filho', ao lado de outra jovem revelação, Elijah Wood, ele próprio a menos de uma década do mega-estrelato. Mais curioso é perceber que dois desses filmes chegaram às salas de cinema portuguesas lado a lado, exactamente no mesmo dia - há quase exactos trinta anos, a 7 de Abril de 1995  - criando assim uma espécie de 'dose dupla' de 'Mac', que não terá deixado de fazer as delícias dos seus pequenos fãs.

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O primeiro, e mais ambicioso, destes filmes foi 'A Grande Viagem' (título bem mais genérico que o original 'The Pagemaster') que propunha uma arrojada combinação de acção real com animação, ao estilo do que a Disney havia feito, com excelentes resultados, durante os anos 60. À cabeça de um elenco 'de luxo' que inclui Christopher Lloyd, Whoopi Goldberg e dois dos mais emblemáticos tripulantes da nave 'Enterprise' (Patrick Stewart, que à época ainda não se sentara na cadeira de capitão, e Leonard Nimoy, maior ícone d''O Caminho das Estrelas' original) 'Mac' embarca numa viagem através de várias cenas típicas da literatura infanto-juvenil, apresentadas no estilo de animação típico da altura.

Uma abordagem que tinha tudo para agradar ao público jovem...mas, por uma razão ou outra, não agradou. Antes pelo contrário – o falhanço deste filme, juntamente com o de 'Gatos Não Sabem Dançar', de 1997, viria a colocar entraves no departamento de animação da Turner, adiando ou cancelando vários projectos. E se as razões para tal desprezo por parte do público são incertas, a verdade é que o filme pouco faz para se destacar de qualquer outro filme infantil da época, tendo sido largamente ignorado pela 'onda' nostálgica que entretanto tomou conta das redes sociais.

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E se 'A Grande Viagem' é apenas descartável, já o outro filme de Culkin estreado na mesma altura é notável apenas e só por ser a obra que veria Culkin, então com catorze anos, 'reformar-se' como actor infantil, entrando num hiato que viria a durar toda uma década, e que ficou marcado por uma 'espiral' de problemas pessoais por parte do jovem. Falamos de 'Riquinho', adaptação em acção real do desenho animado e banda desenhada do mesmo nome (ambas da Harvey) que vê 'Mac' interpretar o impossivelmente rico personagem principal, em mais uma comédia infantil sem nada de particularmente errado ou entusiasmante, sem grandes estrelas no elenco, e que só é mesmo lembrada por ter sido a 'despedida' de Culkin dos écrãs até à idade adulta, e por trazer o irmão mais novo da mini-estrela, Rory, como a versão de menos idade do personagem principal.

Dois filmes, portanto, que, sem serem obras-primas do cinema infanto-juvenil, ofereciam ainda assim ao seu público o suficiente para manter elevado o interesse na 'jovem estrela' do momento, e terão constituído uma excelente Sessão de Sexta dupla para os fãs do pequeno actor...

15.02.25

NOTA: Este 'post' é parcialmente respeitante a Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Independentemente da era ou geração, a Sessão de Sexta com a cara-metade – seja no sofá ou numa sala de cinema – continua a ser uma das opções mais populares para passar a noite de S. Valentim; e, naturalmente, dado o contexto, os filmes de romance contam-se, inevitavelmente, entre os mais populares e frequentemente escolhidos pelos casais aquando desta data e situação. Os anos da 'viragem' do século XX para o XXI não eram, de todo, excepção a esta regra, pelo que não deixava de ser fortuito que as décadas de 90 e 2000 vissem o género em causa – sobretudo na sua vertente mais leve e voltada para a comédia – viver uma verdadeira 'era de ouro', oferecendo muitas e boas opções a 'pombinhos' de todas as idades para uma Sessão de Sexta pintada de 'cor-de-rosa' e 'vermelho-coração'.

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Apenas alguns dos inúmeros filmes de romance produzidos durante os anos 90.

De facto, é dos anos 90 e – sobretudo – 2000 que emanam muitos dos maiores clássicos tanto do romance mais sério como da chamada comédia romântica. É esta a época, por exemplo, de 'Titanic', 'Antes do Amanhecer', 'Ghost – O Outro Lado da Vida', 'As Pontes de Madison County', 'A Paixão de Shakespeare' ou 'O Guarda-Costas', mas também de 'Enquanto Dormias', 'Nunca Fui Beijada', 'Notting Hill', 'Quatro Casamentos e Um Funeral', 'O Casamento do Meu Melhor Amigo', 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti', 'Ela É Demais', 'Miss Detective' e, claro, daquele que ainda hoje é um dos exemplos mais sinónimos com o género, 'Um Sonho de Mulher', estreado logo nos primeiros meses da década de 90 e que serviu como inspiração para quase tudo o que se lhe seguiu. Eram os anos áureos de 'meninos bonitos' como Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Tom Cruise, Keanu Reeves, ou Freddie Prinze Jr., e de galãs mais maduros e sofisticados como Matthew McConnaughey, Richard Gere, Robert Redford ou Kevin Costner, os quais contracenavam com 'meninas do lado' como Meg Ryan, Kate Hudson, Julia Roberts, Sandra Bullock ou Jennifer Lopez em filmes fáceis de identificar pelos cartazes cheios de letras cor-de-rosa com fontes arredondadas, fundos de cor pastel e fotos dos protagonistas numa pose que dava muitas pistas sobre a sua relação – normalmente abraçados ou, em filmes mais irreverentes, costas com costas, imitando a icónica pose de Gere e Roberts no supracitado 'Um Sonho de Mulher'. Um indicador óbvio e fácil para namorados de visita ao videoclube ou cinema local, em busca de uma película com a qual 'matar' duas horas.

Ao contrário de muito do que se fala nestas páginas, a comédia romântica continua 'viva e de saúde', embora hoje mais frequentemente confinada a plataformas de 'streaming'. Quem quiser recordar a juventude, no entanto, pode ainda fazê-lo de forma relativamente fácil, bastando procurar um dos supracitados filmes (ou dos inúmeros outros exemplos disponíveis à época) e, através dele, recordar aquelas Sessões de Sexta e Saídas de Sábado românticas dos seus tempos de 'miúdo' – ou, em alternativa, criar novas memórias ao lado do actual parceiro, na noite mais propícia do ano para o fazer.

 

14.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025.

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

De entre os vários géneros pelos quais a televisão portuguesa ficou conhecida em finais do século passado, a comédia de costumes talvez seja o mais destacado. Fosse em moldes mais brejeiros, em formato de 'sketch' ou no contexto de uma série propriamente dita, eram muitos, e de muita qualidade, os programas de índole cómica a captar a atenção dos telespectadores nacionais nos últimos anos do Segundo Milénio, normalmente concebidos e/ou representados por um grupo de 'suspeitos do costume' que eram garantia quase certa de gargalhadas. Era, precisamente, essa a fórmula por detrás de um dos mais icónicos exemplos deste género, o qual surgia pela primeira vez nos ecrãs portugueses pela mão da RTP, há pouco mais de trinta anos.

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Falamos d''A Mulher do Sr. Ministro', série cómica estreada a 29 de Novembro de 1994, e que imediatamente 'caiu no gosto' dos espectadores da emissora estatal, com a sua sátira mordaz de um dos 'alvos' mais fáceis da sociedade lusitana, os políticos. Capitaneada por dois dos supramencionados 'suspeitos do costume' – Ana Bola e Vítor de Sousa – realizada por um terceiro (Nicolau Breyner) e contando no elenco com vários outros – como as 'duas Marias' do humor nacional, Rueff e Vieira, o eterno 'braço-direito' de Herman JoséCândido Mota, ou nomes como Ricardo Carriço, Virgílio Castelo, Lídia Franco, José Raposo ou José Jorge Duarte – a série centrada na personagem titular e na sua relação com o plácido representante governamental com quem era casada trazia todos os elementos característicos das produções deste grupo, quer em termos de escrita quer de representação, levando o espectador para um espaço familiar e agradável, onde o mesmo se poderia 'perder' durante meia hora, por entre gargalhadas. Em conjunção com o supracitado elemento satírico, esta fórmula assegurava sucesso praticamente garantido à série, que se afirmaria mesmo popular o suficiente ente o público-alvo para se manter no ar durante uns honrosos três anos (uma 'eternidade' para qualquer programa de humor português não chamado 'Os Malucos do Riso') e justificar uma sequela, 'A Senhora Ministra', em que a própria Ana Bola assumia o cargo antes 'detido' por Vítor de Sousa.

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O casal de protagonistas, prova de que 'os opostos se atraem'...

E embora, hoje em dia, o panorama televisivo português se vai afastando cada vez mais deste tipo de séries (as quais foram, praticamente, 'deixadas' nos anos 90 e inícios dos 2000) a verdade é que, para toda uma geração de portugueses, as mesmas formaram parte integrante das suas semanas televisivas, e terão criado memórias nostálgicas suficientes para justificar estas breves linhas à laia de recordação – bem como, quiçá, um saltinho ao YouTube ou aos arquivos da RTP, onde a totalidade desta série se encontra disponível de forma gratuita, pronta a ser recordada por quem se recorda de, em criança ou adolescente, ter rido à gargalhada com as peripécias de Lola, Américo e respectiva 'posse'...

11.10.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

De entre os muitos géneros cinematográficos a gozar de uma 'idade de ouro' nos últimos anos do século XX e inícios do seguinte, um dos mais notáveis foram as comédias adolescentes, quer na vertente mais 'javarda' (de que é epítome 'American Pie – A Primeira Vez', que em breve aqui terá o seu espaço) quer na mais leve e romântica, a exemplo de 'Ela É Demais'. Escusado será dizer que estes dois géneros dividiam o seu público-alvo praticamente a meio, com o primeiro - de enredos e piadas centrados nos inuendos sexuais e funções corporais - a apelar sobretudo à parcela masculina, e o segundo – com a pitada de drama decorrente das relações interpessoais dos personagens – a cativar sobretudo as jovens do sexo feminino. Tal dicotomia resultava, por sua vez, em inúmeros debates à porta do cinema, ou no sofá durante uma Sessão de Sexta, normalmente ganhos pelas raparigas, que assim sujeitavam os namorados ou familiares masculinos a duas horas de Freddie Prinze Jr ou outro galã semelhante.

De quando em vez, no entanto, surgia um filme que - por balancear as duas vertentes ou simplesmente 'suavizar' o romance – acabava por encontrar consenso entre os dois sexos. Destes, o melhor exemplo talvez seja uma película que acaba de celebrar, há cerca de um mês, um quarto de século sobre a sua estreia em Portugal, e que continua a ser dos títulos mais respeitados dentro do género da comédia romântica para adolescentes; nada melhor, pois, do que elencar as Coisas Que Odiamos (ou antes, Amamos) sobre o mesmo.

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Chegado às salas de cinema portuguesas a 3 de Setembro de 1999, 'Dez Coisas Que Odeio Em Ti' insere-se na breve e bizarra fornada de adaptações de peças de Shakespeare a um formato contemporâneo e juvenil, que também deu ao Mundo filmes como 'Esquece...E Siga' (baseado em 'Sonho de Uma Noite de Verão') ou a adaptação 'mafiosa' de 'Romeu + Julieta' por Baz Luhrmann, esta em registo mais dramático. No caso de 'Dez Coisas...', a peça-base é 'A Fera Amansada', da qual o filme mantém o enredo-base, centrado num rapaz que deve arranjar um pretendente para a irmã da jovem em que está interessado, sob pena de não poder estabelecer uma relação romântica com a mesma. Aqui, esse papel cabe a Joseph Gordon-Levitt - hoje um actor conceituado mas, à época, ainda conhecido sobretudo como o Tommy de 'Terceiro Calhau a Contar do Sol' – com a então musa das 'rom-coms' Julia Stiles no papel da irmã 'megera' e um jovem bem-parecido e talentoso de nome Heath Ledger como o 'escolhido' para a procurar seduzir. Juntamente com Gabrielle Union (no papel da melhor amiga de Bianca, a jovem pretendida pelo protagonista) os três ajudam a elevar o filme acima da comum das comédias românticas, com excelentes prestações que mantêm o espectador cativo até ao inevitável desfecho final ao som dos Letters to Cleo (que contribuem com várias das suas músicas para a banda sonora do filme).

Também a favor de 'Dez Coisas...' está o seu guião, que mistura os habituais momentos típicos de qualquer comédia romântica adolescente com um sentido de humor algo mais 'politicamente incorrecto', bem ilustrado na cena em que Heath Ledger não só faz um 'figurão' como quase causa um incidente na sua escola com a escolha infeliz de uma letra de Aerosmith como 'canção de amor'. A própria Bianca, por quem o Cameron de Gordon-Levitt nutre a paixão que precipita o restante argumento, é retratada como algo superficial e falha em inteligência, por oposição à irmã, mais sarcástica, ponderada, e definitivamente 'não como as restantes raparigas'.

Estes pequenos e inesperados toques ajudam a alargar o apelo do filme, transformando-o numa das poucas 'rom-coms' que muitos rapazes não só não se importavam de ver, como viam com activo prazer, como era o caso com o autor deste 'blog'. E apesar de o filme ter algumas vertentes 'problemáticas' nos dias que correm, o mesmo continua, ainda assim, a constituir uma excelente Sessão de Sexta 'a dois' (ou mesmo a 'solo'), bem como uma óptima maneira de 'apresentar' Shakespeare aos jovens de forma 'encoberta' e num formato que lhes seja apelativo. Razões mais que suficientes para assinalarmos, ainda que tardiamente, o quarto de século desta obra-prima da comédia romântica, em que nem sequer uma coisa conseguimos encontrar para odiar, quanto mais dez...

17.11.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Um dos géneros cinematográficos e televisivos mais frequentemente associados com os anos 90 é o do humor escatológico e politicamente incorrecto. Se, nos anos 80, Hollywood se tinha tornado obcecada com as experiências recreativas e sensuais de personagens adolescentes, na década seguinte, foram as funções corporais que mais foco tiveram nas suas produções, algumas das quais herdavam moldes oitentistas e os actualizavam com ainda mais piadas, literalmente, porcas (como 'American Pie – A Primeira Vez') enquanto que outros aplicavam essa fórmula a géneros, à primeira vista, incompatíveis com o mesmo, como as comédias românticas.

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O filme desta Sexta como parte da colecção de VHS da TV Guia, já no século XXI.

Talvez o mais famoso e bem-conseguido exemplo desta última categoria estreava em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos (no penúltimo dia de Outubro de 1998) e viria a afirmar-se como um sucesso não só durante a sua exibição original como também em décadas subsequentes, nas quais continuou em alta rotação no mercado de vídeo e DVD, bem como na televisão, e reteve a sua relevância no contexto de conversas sobre cinema. Falamos de 'Doidos Por Mary', o filme mais conhecido por incluir uma cena em que, durante um jantar romântico, a personagem principal aplica o que pensa ser gel no cabelo, passando as cenas seguintes com um penteado tão estranho como icónico.

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A cena que imortalizou e catapultou a película dos irmãos Farrelly.

Há, no entanto, mais atractivos do que apenas uma piada bem conseguida no filme dos irmãos Farrelly, eles próprios mestres do estilo escatológico, ou 'gross-out'. Isto porque, em meio a todas as piadas sobre fluidos usados de forma mais do que indevida, o filme traz uma mensagem até algo feminista, em que os personagens mais abertamente misóginos ou machistas (ou mesmo apenas falsos) são prontamente desmascarados, e sofrem as consequências pelas suas acções, sendo o personagem mais genuíno e honesto, ainda que menos atraente ou atractivo (o Ted de Ben Stiller), o escolhido pela titular Mary, um dos papéis mais icónicos da lindíssima Cameron Diaz, uma beldade sem medo de gozar consigo própria, como bem o comprova a cena acima descrita.

É, precisamente, esse balanço entre piadas hilariantemente absurdas (nem todas escatológicas – também há aqui alguns óptimos diálogos) e uma vertente mais honestamente sentimental que ajuda a tornar 'Doidos Por Mary' um clássico num campo sobrepovoado, mas em que a maioria dos filmes têm dificuldade em gerir esta dicotomia; como tal, e ainda que nem tudo tenha 'envelhecido' bem no filme dos Farrelly, o mesmo continua a ser uma excelente escolha para ver com os amigos ou familiares, acompanhado de bebidas e aperitivos, ou mesmo como Sessão de Sexta em conjunto com um parceiro com tanto sentido de humor quanto a personagem feminina – pela qual é bem possível que fiquem, também eles, 'Doidos'...

 

27.06.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Tinha início o último fim-de-semana do mês de Julho de 2023 quando alastrava a notícia: o mundo do espectáculo português, e do humor em particular, ficava órfão de mais um nome, e logo de um actor bem mais jovem do que alguns dos 'históricos' lusitanos ainda em actividade. Tratava-se de Luís Aleluia, actor com extensa e reconhecida carreira no teatro e televisão mas que, para uma certa geração de portugueses, ficará para sempre eternizado como a versão televisiva, de 'carne e osso', do Menino Tonecas de José de Oliveira Cosme, protagonista de quatro temporadas de enorme sucesso na RTP1, em finais da década de 90.

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O actor no papel que o celebrizou junto de toda uma geração.

Nascido em Setúbal a 23 de Fevereiro de 1960, Luís Filipe Aleluia da Costa desde sempre esteve ligado à representação, na qual se estreou aos dez anos, numa récita da filial local da Casa do Gaiato, instituição caridosa à qual esteve ligado até aos dezasseis anos; a primeira experiência mais 'a sério', no entanto, surgiria já no final da adolescência, quando se junta a um grupo de teatro amador e ajuda a fundar outro na Escola Comercial de Setúbal, onde era aluno de Humanísticas.

O início da década de 80 vê o jovem actor entrar, pela mão de Vasco Morgado, no mundo do teatro de revista, onde ganharia fama, chegando mesmo a ganhar o prémio de Revelação do Teatro Musicado atribuído pela revista Nova Gente, no caso referente ao ano de 1984. Simultaneamente, vai acumulando também experiência em companhias de teatro itinerantes, onde adquire conhecimentos que põe, posteriormente, a uso no contexto da sua própria empresa de produção, a Cartaz, fundada em 1991.

É, também, por volta dessa altura que surge a oportunidade de trabalhar em televisão, primeiro como actor convidado na série 'Os Homens da Segurança', e posteriormente como membro fixo de 'Sétimo Direito', com Henrique Santana, Lia Gama e Cláudia Cadima. Torna-se, em seguida, membro da companhia de Nicolau Breyner, com quem leva a palco uma série de espectáculos teatrais, além de participar da novela 'Na Paz dos Anjos'. De volta ao teatro de revista, participa como convidado no 'Cabaret' televisionado de Filipe La Féria, e acumula participações especiais nos mais populares programas de humor da época, d''Os Malucos do Riso' da SIC (que aqui terá, paulatinamente, o seu espaço) à 'Companhia do Riso' da RTP.

É em 1996, no entanto, que se dá o grande momento de mudança para Luís Aleluia, quando, ao lado de Morais e Castro, ajuda a dar vida aos textos escritos no início do século por José de Oliveira Cosme, sobre um aluno pouco inteligente e muito atrevido, e respectivo professor 'sofredor'. Caracterizado como uma criança em idade de instrução primária estereotipada, de boné às riscas e calções com suspensórios, mas com rugas que não enganavam, dizia numa voz propositalmente esganiçada piadas brejeiras, muitas escritas por Cosme, outras tantas originais, num formato semelhante ao de programas como 'Escolinha do Professor Raimundo' ou 'El Chavo del Ocho' ('Chaves', na sua icónica dobragem brasileira).

Tinha tudo para dar errado, mas deu muito, muito certo, considerada a série de maior impacto na televisão portuguesa em toda a década de 90, 'As Lições do Tonecas' ficaria no ar de 1996 a 2000, e levaria mesmo à criação de um 'spin-off', 'O Recreio do Tonecas', que não conseguiu o mesmo sucesso. De súbito, a cara daquele actor até então restrito a papéis convidados ou de apoio tornava-se, para uma geração de crianças e jovens lusos, tão sinónima com o humor como a de Herman José ou Camilo de Oliveira. A própria indústria reconheceria o excelente trabalho de Aleluia, que voltaria a ganhar um troféu Nova Gente em 1997, agora na categoria de Melhor Actor de Televisão.

O problema de um papel de tal sucesso – especialmente ao tratar-se do primeiro, ao qual se ficará para sempre associado – reside, normalmente, na dificuldade em lhe dar seguimento, acabando muitos actores por nunca conseguir o mesmo nível de expressividade; tal não foi, no entanto, o caso com Aleluia, que continuou a 'somar e seguir' na televisão portuguesa, com papéis em diversas séries tanto humorísticas como mais 'sérias', além de posto fixo como argumentista e actor nos popularíssimos 'talk-shows' matinais da RTP, 'Praça da Alegria' e 'Portugal no Coração'. A carreira do actor continuaria, assim, a par e passo até ao fatídico dia 23 de Junho, quando foi encontrado sem vida na sua própria garagem, no que se veio mais tarde a revelar ter sido um suicídio. O mundo do teatro e da televisão portuguesas ficam mais pobres, e uma geração de ex-jovens chora o personagem (e actor) que tantas alegrias e risos lhes proporcionou durante quatro dos seus anos formativos, na recta final do século e Milénio passados. Descansa em paz, Tonecas.

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