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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.10.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Hoje em dia, o conceito de 'pacotes-mistério' – ou seja, embalagens opacas que prometem uma figura ou brinde da colecção a que são alusivas, mas não especificam qual, estando parte da emoção, precisamente, no mistério – é por demais popular entre as crianças e jovens das gerações 'Z' e 'Alfa'; no entanto, o referido sistema tem raízes bastante mais antigas do que se possa pensar, fazendo já sucesso junto das demografias 'X' e 'millennial'. De facto, uma das instâncias mais antigas desse tipo de fenómeno em Portugal remonta ao início dos anos 90, quando grande parte das crianças e jovens nacionais decidiram coleccionar porquinhos.

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Alguns dos muitos porquinhos da colecção.

Sim, nos anos antes dos ovos Kinder popularizarem as colecções de 'bonequinhos' como brinde alimentar, já uma companhia havia procurado explorar esse mercado de forma mais tradicional, através do lançamento de uma colecção de porquinhos 'humanizados' (ainda que não antropomórficos) com as mais variadas temáticas, de bebés de touca ou babete a árbitros de futebol ou boxeadores, passando por porcos de fato (um dos quais fazia lembrar a icónica indumentária de Babar) ou porcas fêmeas de batom ou a fazer bailado, entre muitas outras figuras altamente coleccionáveis, e apelativas para ambos os sexos – embora, claro, houvesse sempre algumas consideradas demasiado femininas para os rapazes, ou vice-versa.

Escusado será dizer que o próprio conceito da linha, muito semelhante ao subjacente às cadernetas de cromos, não só fomentava como praticamente exigia a troca de figuras, de modo a completar ao máximo possível a colecção – um factor absolutamente necessário ao procurar criar uma 'febre de recreio'. E apesar de estes porquinhos não terem chegado ao nível de iconicidade e 'culto' de uns Tazos, Pega-Monstro ou Caveiras Luminosas – encontrando-se mesmo algo Esquecidos Pela Net – o volume que se pode encontrar para venda no OLX indicia que terá havido uma percentagem significativa de portugueses e portuguesas não só a coleccionar estas figuras à época do seu lançamento, como também a guardar a sua colecção de infância para propósitos nostálgicos; para esses, aqui fica mais uma lembrança daquela que foi uma das pioneiras do conceito de 'pacotes-mistério' em território nacional.

02.05.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Há precisamente uma semana, falámos neste mesmo espaço dos ovos Kinder, uma das mais icónicas guloseimas entre as crianças e jovens de Portugal desde a sua entrada no mercado, há já mais de quatro décadas; e apesar de, nesse 'post', termos abordado de relance os brindes dos referidos ovos, é inegável que aquela que, para muitos, era a principal razão para comprar estes ovos merece o seu próprio capítulo neste nosso 'blog'. É, pois, sobre as Quinquilharias contidas naqueles memoráveis cilindros amarelo-ocre que falaremos esta Quinta – especificamente, sobre as colecções de figuras que representavam o 'Santo Graal' desta categoria de brinde.

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De facto, apesar de nunca deixar de ser agradável encontrar dentro do ovo o tradicional carrinho ou avião, ou uma das assumidamente criativas obras de micro-engenharia baseada em eixos e rodas-dentadas, qualquer criança ou jovem na posse de um Kinder Surpresa tinha a secreta esperança de que o mesmo ocultasse um 'boneco' de qualquer que fosse a série então vigente – e foram muitas as promovidas pela Kinder durante este período. Normalmente tematizadas em torno da antropomorfização de uma espécie animal e de um qualquer conceito-base (como hipopótamos desportistas ou incongruentes tubarões persas) estas colecções exibiam, invariavelmente, enorme atenção ao detalhe, praticamente ao nível da dos brindes que o McDonald's veiculava, na mesma época, no tradicional Happy Meal – ainda que a uma escala bastante mais pequena, aproximadamente do mesmo tamanho das Matutolas, da Matutano, ou das figuras da linha Monsters In My Pocket – tornando-as assim particularmente apetecíveis para um público-alvo com gosto tanto pelo coleccionismo como pelos 'bonecos' e figuras de acção.

Foi, pois, com naturalidade que estas diferentes colecções conseguiram sucesso consecutivo junto da demografia em causa, e se tornaram os mais desejados e cobiçados de todos os brindes oferecidos pela Kinder ao longo da sua existência em território luso, o que, por sua vez, torna também natural que sejam motivo de destaque da secção dedicada a pequenas 'bugigangas' neste nosso 'blog' nostálgico - sobretudo por, algures no Novo Milénio, a Kinder ter deixado de lado estas colecções, 'atirando-as' para a categoria de 'relíquias' que as gerações Z e Alfa nunca terão ensejo de partilhar com os seus antecessores. Quem cresceu com estes bonecos, no entanto, certamente não terá dificuldade em explicar aos mais jovens a razão do apelo dos mesmos – bastando, para isso, mostrar-lhes a presente edição desta nossa rubrica...

08.12.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Numa altura em que mais um ano se aproxima a passos largos do final, chega a altura em que, em décadas passadas, seria necessário actualizar uma parte essencial não só da decoração da cozinha ou escritório, mas também da carteira. Falamos, é claro, do calendário, uma das Quinquilharias que não podia faltar no bolso de qualquer cidadão português dos anos 90, 'entalado' entre o Cartão Jovem e o BI na carteira ou – mais tarde – enfiado na bolsa traseira das primitivas bolsas para telemóvel.

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Exemplo de um calendário promocional, no caso da CP

Rivalizando apenas com os isqueiros, canetas, porta-chaves e baralhos de cartas em termos de variedade e criatividade de 'decoração', os calendários de bolso tinham em comum o facto de serem, na sua esmagadora maioria, obtidos de graça, normalmente (embora nem sempre) como brinde promocional de uma qualquer empresa ou prestador de serviços; e, tal como as outras categorias de Quinquilharias acima enumeradas, era inevitável que a gaveta das 'bugigangas' de qualquer lar médio português acabasse repleta de um sem-número de calendários do mesmo ano (alguns deles, inclusivamente, duplicados) cujo último e fatídico destino era o balde do lixo – ou, com sorte, a colecção de algum dos residentes mais novos.

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Colecções como esta existirão ainda, certamente, em muitas casas de infância Portugal afora.

Sim, à semelhança dos objectos acima referidos – e de outros, como os Credifones – a natureza variada e facilidade de obtenção dos calendários de bolso tornava-os escolhas frequentes para os coleccionadores infanto-juvenis; é, aliás, bastante provável que haja, ainda, uma infinidade de colecções desse tipo espalhadas por sótãos e garagens por esse Portugal fora, prontas a render dinheiro em sites como o OLX, ou simplesmente – para os menos ambiciosos – a despertar memórias de tempos que já lá vão e não voltam, em que os telefones eram fixos (ou extremamente básicos) e a existência de objectos como calculadoras, 'pagers' ou calendários de bolso não só fazia sentido, como era activamente necessário – prova, como se a mesma ainda fosse necessária, de quanto a tecnologia revolucionou a forma de viver da sociedade ocidental (Portugal incluído) nos últimos trinta anos...

15.09.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Já anteriormente aqui mencionámos que o coleccionismo, enquanto 'hobby' infanto-juvenil, atravessou durante os anos 90 uma das suas fases 'em alta'; e se os Tazos da Matutano e os cromos (quase sempre) da Panini representam as faces mais visíveis desse passatempo, as cartas coleccionáveis também não lhes ficam muito atrás, ocupando inegavelmente o terceiro lugar deste pódio. E apesar de o Magic: The Gathering ser o 'rei' incontestado deste sector, isso não impediu muitas outras colecções de tentar fazer frente ao jogo dos monstros fantásticos, de forma mais ou menos estruturada.

Firmemente 'entrincheirada' do lado do 'menos' encontramos a Quinquilharia desta semana, um daqueles produtos que ninguém sabe muito bem de onde vieram (não eram brinde de qualquer produto alimentar, nem uma daquelas colecções 'formais' com caderneta ou dossier para guardar) parecendo ter-se simplesmente materializado, de um dia para o outro, nos bolsos e estojos das crianças de finais dos anos 90, algures após a estreia nacional do 'anime' que viria a revolucionar indelevelmente a cultura popular infanto-juvenil da época, o lendário Dragon Ball Z; o propósito das referidas cartas tão-pouco era claro, não havendo qualquer jogo associado às mesmas, que se pareciam destinar, pura e simplesmente, a serem coleccionadas..

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Os designs das cartas nem sempre eram por aí além de interessantes.

Previsivelmente, esse carácter misterioso faz com que seja difícil encontrar na Internet de hoje em dia informações sobre estas cartas, que nem sequer figuram na ultra-compreensiva lista do site 'Dragon Ball Z Coleccionador', embora haja várias listagens de vendas das mesmas no OLX – presumivelmente, de ex-crianças que deram com um 'molho' delas 'perdido' no fundo de qualquer gaveta da infância, a coleccionar cotão. Tudo o que se sabe é que as cartas foram suficientemente bem-sucedidas para justificarem uma segunda série, o que não é de estranhar, dada a sua associação àquele que talvez ainda hoje seja o desenho animado mais bem-sucedido da História da televisão portuguesa.

E a verdade é que só mesmo esse 'laço milionário' poderia justificar o sucesso de uma colecção tão tosca a nível do design (a maioria das cartas ofereciam apenas uma imagem de um qualquer episódio, sem grande contexto, e muitas vezes sem grande interesse, inserida num desinteressante rebordo azulado) e sem qualquer caderneta ou qualquer outro tipo de tentativa de organização, como que a cimentar o estatuto descartável e 'do momento' destas cartas. Ainda assim, era (e é) difícil não gostar de uma coisa feita tão descaradamente 'à pressão' e para aproveitar o momento, uma motivação a que os jovens empreendedores de onze anos que vendiam fotocópias 'malaicas' nos corredores da escola não ficavam indiferentes; e depois, claro, havia o facto de ser um produto alusivo ao 'Dragon Ball Z', o que, só por si, já lhes garantia o sucesso. Hoje em dia, no entanto, estas cartas servem, sobretudo, como 'activadores' de memórias esquecidas da infância, além de como prova de que, com 'marketing' bem feito e ligação à propriedade intelectual certa, até o produto mais 'desastrado' consegue ter sucesso...

05.05.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Os anos 90 e 2000 foram, talvez, a última grande década para o coleccionismo. Antes de a Internet 2.0 transformar tudo em digital e efémero, praticamente não havia criança que não arrebanhasse, numa gaveta da cómoda ou orgulhosamente dispostos na prateleira do quarto, diferentes objectos de um determinado tipo, muitos deles conseguidos à custa de muito suor e lágrimas; e, destes, um dos mais clássicos eram os porta-chaves.

Uma escolha curiosa, visto a maioria das crianças não possuir quaisquer chaves para neles colocar, mas fácil de explicar pelo simples facto de os porta-chaves dos anos 90 serem verdadeiras obras de arte publicitária; de facto, fossem alusivos a um determinado local, licenciados a uma qualquer propriedade intelectual ou simplesmente destinados a divulgar uma marca ou produto, quase todos os exemplos deste tipo de objecto criados durante esta época eram extremamente apelativos do ponto de vista visual, não sendo, pois, de estranhar que 'caíssem no gosto' do público jovem, tradicionalmente susceptível a esse factor.

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Alguns porta-chaves dos anos 90 e 2000, da nossa colecção pessoal

Esta preferência tornou-se, aliás, ainda mais arraigada na ponta final da década, com o advento dos porta-chaves em formato de peluche, os quais se transformaram numa verdadeira 'febre' nos primeiros anos do novo milénio, sobretudo entre o público adolescente. Fossem os tradicionais ursinhos ou algo mais 'interessante', como personagens de banda desenhada ou de desenhos animados, este tipo de porta-chaves passou a ter lugar cativo em redor dos fechos da mochila de qualquer estudante do ensino secundário, posição essa que não perderia até já bem tarde na década seguinte. Apenas mais uma desculpa para se coleccionar este tipo de objecto (por aqui, reuniram-se os quatro personagens principais da série South Park) agora com o bónus adicional de o mesmo poder, também, servir a sua verdadeira função – afinal, ao contrário das crianças mais novas, o adolescente português comum da época já dispunha, pelo menos, das chaves de casa...

Fossem quais fossem os motivos por trás do fascínio daquela geração com os porta-chaves, no entanto, o mesmo era inegável – tanto assim que apostamos que, se muitos dos ex-jovens daquela época remexerem hoje nas gavetas ou garagens da sua infância e juventude, não deixarão de encontrar vários exemplares desse tipo bem particular de 'quinquilharia'...

03.03.22

NOTA: Para celebrar a estreia, esta sexta-feira, do novo filme de Batman, todos os 'posts' desta semana serão dedicados ao Homem-Morcego.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Um dos mais demonstráveis axiomas dos anos 90 era que qualquer propriedade intelectual popular entre o público jovem seria alvo da sua própria colecção de cromos; e com bom motivo, já que s autocolantes temáticos coleccionáveis estavam em alta entre a referida demografia, e lançar uma colecção alusiva a uma série, artista ou obra literária de sucesso era receita segura para manter a mesma ou o mesmo relevante junto do sector infanto-juvenil, prolongando assim a sua popularidade ao mesmo tempo que se aumentavam as receitas de vendas. Foi assim com o Dragon Ball Z, as Tartarugas Ninja, os Simpsons, A Máscara e – numa altura em que o Cavaleiro das Trevas atravessava a sua fase de maior exposição mediática até então, graças à sua popular série de filmes e a algumas excelentes histórias nas suas bandas desenhadas – era de prever que assim fosse, também, com Batman.

A diferença entre o caso do Vingador Mascarado e os referidos no parágrafo anterior reside no facto de que, sendo a sua popularidade bem mais 'continuada' do que a da maioria das propriedades intelectuais para crianças, o mesmo teve direito, não a uma, mas a duas colecções de cromos durante a década a que este blog respeita, conseguindo através das mesmas fazer parte das memórias coleccionistas de duas gerações distintas.

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O primeiro dos dois lançamentos (nenhum dos quais, surpreendentemente, lançado pela Panini) deu-se logo no início da década, aquando da estreia do primeiríssimo filme do justiceiro de Gotham, da autoria de Tim Burton, o qual foi alvo de uma aguerrida campanha de marketing e divulgação, na qual a caderneta da Editorial Impala se inseria. Com cromos que retratavam as diferentes cenas do filme, o álbum oferecia às crianças e jovens um meio de recordar o filme de que tanto haviam gostado no cinema, ao mesmo tempo que aguçava o 'apetite' de quem ainda não o tinha visto – exactamente como se pede a uma publicação deste tipo.

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O mesmo, aliás, se passava com a segunda caderneta, lançada em 1995 pela Merlin como complemento ao terceiro filme da série, 'Batman Para Sempre'. De facto, apesar do aspecto visual algo mais cuidado, e que reflectia a passagem de tempo que se havia verificado deste a caderneta original, esta colecção possuía estrutura e conteúdos muito semelhantes aos da sua antecessora, oferecendo uma visão geral simplificada do filme, passível de agradar tanto a quem o vira no cinema, como a quem ainda não tinha tido oportunidade. E é claro que também não faltavam os habituais cromos 'especiais', duplos e quádruplos, que tornavam a experîência de completar a colecção ainda mais desafiante e emocionante.

No cômputo geral, e apesar de não apresentarem rigorosamente nada de novo em relação a outras colecções marcantes da época, os dois álbuns de cromos de Batman lançados nos anos 90 mostravam-se exímios naquilo que se pedia a uma colecção de cromos à época, possuindo múltiplos pontos de interesse para o público que se dedicava a este tipo de actividade.

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Uma das cadernetas de Batman lançadas já no novo milénio

O Homem-Morcego seria, aliás, um filão que o meio continuaria a explorar em décadas subsequentes, com pelo menos mais dois álbuns alusivos ao Cavaleiro das Trevas a serem lançados desde então; esses, no entanto, ficam já fora do âmbito deste blog, pelo que hoje nos ficamos por recordar as duas colecções que marcaram o início do percurso do herói de Gotham no mundo das cadernetas de cromos...

 

20.01.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Uma das principais características da maioria das crianças e jovens – seja qual for a época em que nascem e crescem – é o gosto pelo coleccionismo. Há algo na perspectiva de acumular todas as variantes disponíveis de alguma coisa que desperta o interesse inato do ser humano em fase formativa, sendo essa predisposição intangível o principal factor por detrás do sucesso de fenómenos como as colecções de cromos, jogos como os Tazos, o Magic the Gathering e conceitos como o do 'franchise' Pokémon.

No entanto, e ainda que todos os produtos atrás enumerados convidem ao coleccionismo parametrizado (no caso, pelo número de cromos, Tazos, cartas ou até monstrinhos virtuais à disposição do utilizador) existe – ou pelo menos existiu – uma vertente bem mais espontânea e anárquica deste passatempo, traduzida no coleccionismo de um determinado tipo de produto ou objecto, independentemente da sua proveniência e sem estar restrito aos moldes artificialmente criados por uma determinada empresa.

Esta vertente do 'hobby' de coleccionar, que encontra raízes em décadas mais ou menos remotas da sociedade ocidental, estava ainda bem viva nos anos 90, sendo que muitas crianças e jovens desse tempo tinham, ainda, o hábito de coleccionar 'quinquilharias', fossem elas selos, autocolantes, seixos da praia, postais, caricas, fotografias de artistas, ou até algo mais inusitado, como Credifones.

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Os porta-chaves eram apenas um dos muitos objectos quotidianos potencialmente coleccionáveis para um jovem dos anos 90

Dependendo da seriedade de cada indivíduo, estas colecções podiam chegar a durar anos, e – pela sua organização e armazenamento tão anárquicos quanto o próprio método de colecção – corriam sério risco de serem deitadas fora, oferecidas a terceiros ou (na melhor das hipóteses) vendidas quando se tornasse necessário desocupar espaço nos armários, juntar dinheiro, ou proceder a uma alteração no estilo de vida. Melhor sorte tinham as que ficavam guardadas na garagem depois de o seu dono perder o interesse, à espera de serem encontradas e nostalgicamente recordadas algumas décadas depois.

Fosse qual fosse o seu fado, no entanto, a verdade é que as colecções eram, nos anos 90, levadas muito a sério pela faixa mais jovem da população – ao ponto de, nas habituais secções de correspondência que eram parte integrante de qualquer revista para jovens da época, aparecerem muitas vezes anúncios relativos à troca de elementos de colecção, fossem essas trocas directas – selos por selos, por exemplo – ou entre elementos de dois tipos distintos (como um coleccionador de caricas que trocasse tampas raras por postais ou autocolantes potencialmente interessantes, por exemplo.) A natureza necessariamente postal destas interacções fazia ainda com que, muitas vezes, aquilo que começava como um 'negócio' de interesse puro e duro se transformasse em algo mais, por força do volume de cartas e encomendas trocadas entre ambas as partes – decerto terá havido muitas amizades a ter início na secção de Trocas do Correio do Leitor de uma qualquer revista dirigida ao público juvenil...

Tal como muitos outros fenómenos de que falamos nestas páginas, no entanto, também o coleccionismo acabou por cair em desuso. Embora o sucesso da série de jogos de 'Pokémon' demonstre que a atracção quase obsessiva pelo coleccionismo não desapareceu por completo entre a demografia mais jovem, os membros da mesma parecem mais interessados em coleccionar seguidores no YouTube ou Instagram do que em juntar paciente e dedicadamente produtos físicos semelhantes ao longo de vários anos; uma pena, pois – além de divertido – o coleccionismo fomenta conceitos tão valiosos quanto as supracitadas dedicação e paciência, a perserverança, o desenvolver de interesses próprios ou o sentido de organização e responsabilidade. Ainda não é, no entanto, demasiado tarde – talvez a última geração a ter crescido a coleccionar 'bricabraques' em caixas e frascos mantidos na prateleira do quarto ainda consiga mostrar à que lhes sucedeu o porquê de este passatempo ter sido, em tempos, a tal ponto popular...

18.11.21

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Na primeiríssima edição desta rubrica, falámos um pouco sobre os 'Tazos', talvez o brinde alimentício mais recordado e nostálgico dos anos 90; hoje, falamos finalmente da 'febre' que lhes sucedeu, e que atingiu níveis de sucesso quase (QUASE) semelhantes, embora se tenha afirmado como menos icónica a longo prazo.

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Falamos das Matutolas, pequenas figuras de plástico sólido ou translúcido em forma de cabeça (ou se quiserem, 'tola') que, tal como os seus antecessores, fomentavam não só a vertente coleccionista inerente a qualquer criança, mas também a veia competitiva existente dentro dela. Isto porque, como os 'Tazos', as Tolas eram, ao mesmo tempo, objectos de colecção e peças de jogo, destinadas a serem apostadas, ganhas e perdidas nos recreios e pátios por esse Portugal afora – objectivo esse que, previsivelmente, foi mais do que confortavelmente atingido.

Tão-pouco era este o único ponto em comum entre as Tolas e a colecção que lhes antecedera; as próprias regras de como jogas Matutolas eram muito semelhantes às do jogo dos 'Tazos', ainda que esta variante se desenrolasse numa perspectiva vertical, ao invés de horizontal. Como nos 'Tazos', cada jogador apostava as suas Tolas, no caso colocando-as em pé, lado a lado, sobre uma superfície plana; cada participante utilizava, então, outra Tola para tentar derrubar o maior número possível de peças em jogo, passando (ou voltando) cada peça derrubada a ser pertença desse jogador.

Um jogo, no mínimo, tão viciante como o dos 'Tazos', e que veio preencher o 'vazio' que o fim dessa colecção havia deixado no instinto coleccionador das crianças portuguesas – pelo que não é de admirar que a recepção e expansão do mesmo tenham sido tão rápidas, e praticamente tão abrangentes, como as dos seus antecessores. No ano após o fim dos 'Tazos', não havia criança portuguesa que não coleccionasse, trocasse e apostasse as pequenas cabeças grotescas da Matutano com os amigos, e que não tivesse em casa um qualquer recipiente (fosse um Portatolas oficial ou simplesmente um qualquer tubo ou 'tupperware') recheado com as suas várias aquisições, muitas delas com falhas à laia de 'cicatrizes de batalha' (as Tolas de plástico translúcido, em particular) rachavam-se com surpreendente facilidade, e haverá decerto muito poucas que tenham sobrevivido inteiras até aos dias de hoje.)

Menos popular seria a inexplicável caderneta de autocolantes (?!) que servia função dupla como livro de regras - como se um jogo de recreio necessitasse de regras oficiais escritas num livro de instruções...

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Os tubos de transporte 'Portatolas' e a inexplicável caderneta

Um último ponto em comum entre as Tolas e os 'Tazos' prendia-se com o facto de, também aqui, existirem modelos não ligados à Matutano, facilmente adquiríveis se se soubesse onde procurar, e muitas vezes mais esteticamente cuidadas que as próprias originais; no entanto, ao contrário do que acontecia com os 'Tazos', as Tolas 'falsas' eram tão bem acabadas que acabavam por ser poucos os jogadores que não as aceitassem como 'moeda de aposta' em meio às oficiais – o que, simultaneamente, facilitava sobremaneira a vida a quem não tinha por hábito (ou não era autorizado a) comer batatas fritas.

gogos-crazy-bones-nostalgia-anos-90-matutolas.jpgUm pacote de Matutolas 'não-oficiais' - ou antes, de Go Go Crazy Bones, o conceito que havia sido adaptado e renomeado como Matutolas...

Em suma, uma moda que, embora algo derivativa da que a precedera, foi ainda assim uma das três maiores da Matutano durante aquela década - juntamente com os Tazos e os Pega-Monstros, vindo as Caveiras Luminosas ainda um pouco atrás em termos de nostalgia nos tempos que correm - que marcou época tanto quanto qualquer uma delas, e que, como elas, acabou por conseguir lugar cativo no coração de muitas ex-crianças daquele tempo – embora as mesmas apenas tendam a lembrar-se dela após (e geralmente como consequência de) terem recordado os 'Tazos'...

31.10.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O fim dos anos 89 e início da década seguinte viu despontar no mercado infanto-juvenil uma tendência, algo insólita, para figuras moldadas em borracha monocromática e de dimensões extremamente reduzidas. A primeira linha deste tipo a obter sucesso (ainda que nem tanto em Portugal) foram os lutadores de M.U.S.C.L.E., os quais – com os seus modelos baseados em minotauros ou em forma de mão – acabaram por abrir caminho à linha de que falamos hoje: Monsters in My Pocket.

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Algumas das figuras da linha

Lançada pela Matchbox – sim, a dos carrinhos – mesmo no dealbar da década de 90, esta linha de figuras seguia exactamente o mesmo princípio de M.U.S.C.L.E., mas substituindo o tema inspirado na luta-livre daquela série por outro baseado nos monstros clássicos, tanto da mitologia como do cinema. Frankenstein e Drácula conviviam, assim, lado a lado com figuras baseadas na mitologia grega, como a Hidra ou a Medusa, para além de alguns monstros mais 'genéricos' e sem qualquer filiação especial, mas ainda assim muito bem desenhados e moldados, fazendo jus à reputação da Matchbox como fabricante de brinquedos de qualidade.

Também a mecânica de jogo – sim, estas figuras eram criadas para servir como instrumentos de jogo – era semelhante à de M.U.S.C.L.E., com cada figura a ter impresso nas costas um número, correspondente ao seu 'poder'; a vertente competitiva consistia em pôr frente a frente duas figuras e comparar os respectivos números, ganhando – previsivelmente – o jogador que tivesse o número maior. Um processo tão simples que mal contava como 'jogo', mas que era ainda assim suficiente para cativar o público-alvo de rapazes pré-adolescentes, sempre dispostos a 'medir forças' seja sob que pretexto fôr.

Como seria de esperar para qualquer linha infanto-juvenil de sucesso nos anos 90, Monsters in My Pocket (que, estranhamente, nunca viu o seu nome traduzido para português) teve direito a uma série de itens de 'merchandise', dos mais bizarros (um jogo para a Nintendo original, ou NES) aos mais previsíveis, como a obrigatória caderneta de cromos da Panini.

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A inevitável caderneta da Panini

Apesar de tudo, no entanto, a 'febre' das figuras em miniatura em Portugal foi algo menor do que noutros países (incluindo a vizinha Espanha) tendo esta linha, como as suas congéneres, sido algo ofuscada por outras ofertas da altura, como os Pega-Monstro; ainda assim, a mesma afirmou-se como suficientemente memorável para merecer uma menção nas páginas deste nosso blog, ainda que sómente no contexto de um Especial Halloween...

29.10.21

Nota: Este post é relativo a Quinta-feira, 29 de Outubro de 2021.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Hoje em dia, a Matutano dos anos 90 é, sobretudo, recordada pela febre extrema e até hoje inigualada que foram os Tazos; no entanto, a verdade é que a marca de batatas fritas teve várias outras promoções de sucesso ao longo da década. De uma delas, os Pega-Monstros, já aqui falámos, e das Matutolas, falaremos noutra ocasião; desta vez, e porque é Halloween, vamos falar do brinde que a marca lançou em 1993 – as Caveiras Luminosas.

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Ao contrário dos Tazos e das Tolas, não há muito que saber sobre os pequenos moldes plásticos em forma de esqueleto que passaram a sair nas batatas por volta de 1996 ou 97. De facto, este é daqueles produtos em que a informação está (quase) toda contida no próprio nome; tratam-se de Caveiras que brilham no escuro – portanto, Luminosas. A parte do 'quase' diz respeito ao facto de estes brindes terem, cada um, um capuz ou carapuço distinto – o qual 'servia' a todas as outras figuras da colecção, permitindo assim trocar as caras e criar, essencialmente, Caveiras novas e diferentes, num sistema de constante mutação que tornava a linha essencialmente infinita – bem como um buraco na parte inferior, onde uma cabeça real ligaria ao pescoço. O objectivo deste orifício, e um dos principais pontos distintivos da colecção das Caveiras Luminosas, era permitir às crianças usar as suas caveiras na ponta dos dedos, de um lápis, ou de qualquer outra superfície onde as mesmas coubessem – um toque inteligente, que ajudava a dar alguma versatilidade às Caveiras, e que ajudou a torná-las populares entre a juventude da época.

Não que a colecção precisasse de qualquer ajuda, atenção – com as suas caras ao estilo Skeletor do He-Man, os carapuços estilo Ceifeira da Morte e o esquema de cores estilo álbum de heavy metal clássico da década anterior, as Caveiras eram feitas à medida para o público-alvo (essencialmente rapazes em idade pré-adolescente, embora possam também ter sido do agrado de jovens mais velhos de inclinação gótica) e conseguiram uma recepção previsivelmente positiva por parte do mesmo. Sem chegar ao nível dos Tazos (mas nada, nunca mais, chegou) estes brindes eram também avidamente trocados e coleccionados nos recreios do Portugal de então, e conseguiram afirmar-se como a última de três promoções verdadeiramente bem-sucedidas por parte da Matutano (quatro, se quisermos incluir os Pega-Monstros) durante a década de 90 – além do assunto perfeito para uma viagem nostálgica por brindes e quinquilharias por alturas do Halloween...

 

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