08.12.24
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Quando se fala em emblemas históricos do futebol português, entretanto desaparecidos ou caídos em desgraça, existem, desde logo, alguns nomes incontornáveis. Campomaiorense, Beira-Mar, Tirsense, Felgueiras ou Espinho são apenas alguns dos clubes que os jovens de finais do século XX se habituaram a ver nas cadernetas anuais da Panini, e que, hoje em dia, se encontram muito longe desses anos áureos, não mais tendo logrado recuperar a popularidade de que gozavam nesses tempos. No entanto, talvez o nome maior dessa lista seja o clube cuja encarnação original completa este fim-de-semana cento e dez anos de existência (sem contar com três em que se encontrou inactivo), e que viveu os seus tempos áureos, precisamente, na última década do Segundo Milénio. Falamos do Sport Comércio e Salgueiros (vulgarmente conhecido apenas pelo seu último nome), o 'Benfica do Norte' que era conhecido por fazer a 'vida negra' aos adversários que visitavam o extinto Estádio Vidal Pinheiro, hoje uma estação de Metro com o mesmo nome do clube e da zona onde o mesmo se situava.
Fundado em 1911, foi, no entanto, na década de 30 que o Salgueiros adquiriu a sua identidade, ao fundir-se com o também local Sport Comércio para dar origem ao clube que a classe operário portuense se habituaria a seguir. De facto, longe do elitismo dos outros clubes da cidade, nomeadamente o rival Boavista, o Salgueiros era uma agremiação declaradamente popular, o que ajudou a fomentar a sua popularidade naquelas primeiras décadas, e lhe outorgou o seu lugar no panorama futebolístico português.
No entanto, apesar do carinho que lhe era dispensado pelos trabalhadores portuenses, o clube apenas conseguiu deixar de fazer parte do 'pelotão' de emblemas da então II Divisão de Honra, e aspirar a mais altos vôos, volvidos quase oitenta anos desde a sua formação, e cinquenta desde a junção ao Sport Comércio; de facto, seria apenas já nos primeiros meses da década de 90 que o clube almejaria a sua segunda subida à divisão principal do futebol nacional, após quase quatro décadas e meia no segundo escalão. E se a primeira subida pouco tivera de notável ou extraordinário, esta 'segunda oportunidade' viria mesmo a colocar o clube portuense no 'mapa' de emblemas a ter em conta no futebol português, tornando-o num dos 'crónicos' da antiga Primeira Divisão, e proporcionando-lhe mesmo uma inédita experiência europeia, embora a mesma não tenha ido além de uma eliminação a duas mãos frente ao Cannes, de França, a contar para a primeira eliminatória da Taça UEFA 91-92, após ter conquistado o quinto lugar do campeonato na época anterior.
Foi também neste período que o clube se afirmou como 'viveiro' de jovens talentos, tendo produzido ou ajudado a notabilizar futuros craques como Deco, Sá Pinto, Feher, Nandinho ou Moreira (histórico guardião do Benfica parcialmente formado no clube) e visto ainda passar pelas suas fileiras veteranos como Silvino, Panduru ou Iliev, os quais, embora já longe dos seus tempos de glória, não deixaram ainda assim de dar o seu contributo para a História do mítico emblema. E embora essa mesma História tenha tido um final tudo menos feliz (com o clube a ser despromovido 'na secretaria' para as divisões amadoras, e subsequentemente extinto, por questões financeiras, na época 2004-05), o Salgueiros logrou 'recomeçar do zero', renascendo das cinzas em 2008, muito longe da grandeza de outros tempos mas, ainda assim, vivo. Mais de quinze anos volvidos, o clube não conseguiu ainda regressar ao nível a que os adeptos dos anos 90 se habituaram a vê-lo, mas mantém ainda assim a esperança de, um dia, conseguir voltar a inscrever o seu nome entre os 'grandes' do futebol português, tal como sucedeu nessa época. Parabéns, e que conte ainda muitos.