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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.11.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Em edições passadas desta rubrica, passámos em revista alguns dos principais títulos da literatura infanto-juvenil produzida durante os anos 90, tanto em Portugal, como no estrangeiro. No entanto, apesar de termos tentado ser o mais metódicos possível, deixámos, na altura, que um par de obras importantes nos 'escapassem' por debaixo do 'radar'; e se, numa Quarta posterior, corrigimos esse erro em relação à colecção Viagens no Tempo, chega agora o momento de abordar outro dos grandes títulos 'esquecidos' pela nossa quadrilogia de posts, e que fez parte integrante da juventude literária da maioria da geração de 80, 90 e 2000.

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Falamos de 'A Lua de Joana', obra de Maria Teresa Maia Gonzalez (metade do duo responsável pela série ''O Clube das Chaves') editada em Outubro de 1994 e que se afirma, acima de tudo, como a resposta (ou antes, a versão) portuguesa de 'Perguntem À Alice', obra popular durante a década de 1970 e cuja temática e estrutura eram praticamente idênticos ao do livro aqui em análise, cuja única (mas crucial) diferença é a ausência da 'artimanha' que tornou o referido livro famoso à época do lançamento e, mais, tarde, infame. De facto, 'A Lua de Joana' nunca tenta fazer-se passar pelo testemunho real de uma verdadeira adolescente toxicómana; pelo contrário, o nome da autora figura de forma bem proeminente na capa, permitindo a qualquer potencial leitor saber que se trata de uma obra de ficção - ainda que sobre um problema bem real, especialmente à época. De resto, tanto o formato em primeira pessoa (no caso sob o formato de cartas a uma amiga falecida, por oposição a um diário) como o percurso da protagonista rumo a um final inevitavelmente infeliz fazem lembrar o relato da antecessora estrangeira, ainda que devidamente adaptado à realidade portuguesa.

Reside precisamente aí um dos factores do sucesso desta obra: enquanto que Alice vivia na realidade dos anos 70, e personagens como os irmãos Dores (da duologia 'Mania da Saúde') eram 'emigrantes' localizados (no caso, do Reino Unido), Joana e a sua família e amigos são portugueses de raiz e de 'gema', e vivem uma existência bem típica de uma família de classe média-alta nacional de meados dos anos 90 – a mesma que, certamente, muitos dos leitores conheceriam do seu próprio dia-a-dia, embora neste casos sem a presença de drogas. Por sua vez, esse facto torna mais fácil a identificação e empatia com a protagonista, factor essencial para o sucesso do livro.

Com isso em mente, não é de admirar que 'A Lua de Joana' tenha sido, e continue a ser, um sucesso de vendas (a edição mais recente é já a vigésima-sexta!) tendo, inclusivamente, sido alvo de uma adaptação para teatro, quase uma década e meia após o seu lançamento, que foi vista por mais de vinte e cinco mil pessoas durante os seis meses em que percorreu o País, e que, espera-se, continue a ser instrumento importante na sensibilização da nova geração para os perigos das drogas pesadas; afinal, por muito que a sociedade tenha mudado nos quase trinta anos desde a morte de Joana, esse continua, infelizmente, a ser um flagelo bem relevante, e de cariz universal...

28.06.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

As adaptações portuguesas de formatos de concurso concebidos no estrangeiro não é nada de novo – pelo contrário, esta prática constitui a base da indústria para este tipo de programa desde há já várias décadas. Os anos 90 não foram, de todo, uma excepção à regra nesse particular, tendo rendido diversos exemplos de maior ou menor sucesso, dos mais efémeros (como 'A Amiga Olga') aos absolutamente icónicos, como 'O Preço Certo' ou aquele sobre o qual versa o 'post' desta semana.

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Estreada em 1990, a versão portuguesa de 'A Roda da Sorte' (ou 'Wheel of Fortune', conceito criado em 1975 pelo americano Merv Griffin) conheceu, quase desde logo, sucesso imediato, muito à custa da sua carismática equipa de apresentação e locução, encabeçada por um Herman José em estado de graça, e que também contava com o inconfundível Cândido Mota na cabine, e a bela Ruth Rita como 'menina do quadro', posição que, no original americano, confere praticamente o estatuto de celebridade. Mais do que o próprio formato, eram as interacções naturais e bem-humoradas deste trio – juntamente com as frases feitas e improvisos de Herman – que garantiam que milhões de lares portugueses sintonizavam semanalmente a RTP por volta das 18h20, para acompanharem as aventuras e desventuras de cada novo lote de concorrentes.

Isto não significa, no entanto, que as provas em si não fossem memoráveis; pelo contrário, qualquer ex-jovem que tenha assistido ao programa ainda hoje se lembra de momentos como o 'puzzle' de palavras, que os concorrentes tinham de resolver, ou as próprias 'casas' da Roda, que tanto podiam render ao concorrente vários milhares de escudos ou um prémio, como retirar-lhe todo o dinheiro que houvesse conquistado, através da famosa 'Bancarrota'.

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O quadro e a própria Roda, os dois principais elementos identificadores do programa

Esta primeira edição da 'Roda' logrou manter-se no ar durante quatro anos, antes de ser substituído por 'Com a Verdade M'Enganas', novo concurso também apresentado por Herman; o sucesso ao longo deste período foi tanto, no entanto, que, já no novo milénio, o formato seria 'ressuscitado', desta vez pela SIC, novamente com apresentação de Herman, agora assistido por Vanessa Palma.

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A versão de 2008 do programa durou apenas dois meses no ar

Portugal, no entanto, havia mudado muito em uma década e meia, e esta nova versão do concurso teve destino diametralmente oposto ao da original, tendo ficado no ar uns míseros dois meses (!) em finais de 2008, antes de ser discretamente retirado da grelha de programação; nada, no entanto, que manche a reputação ou sucesso do original, ainda hoje um dos concursos mais carinhosa e saudosamente recordados por uma larga faixa da população nacional.

Crédito: Enciclopédia de Cromos

 

27.08.21

Nota: Este post é relativo a Quimta-feira, 26 de Agosto de 2021.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Hoje em dia, quando a maioria das crianças dispõe, pelo menos, de um telemóvel com que se entreter nos tempos mortos, pode parecer caricato que um pedacinho de papel dobrado, com pintas de diversas cores e algumas palavras escritas no interior, pudesse ocupar um intervalo de recreio inteiro seja de quem for. E no entanto, na ‘nossa’ década (como nas quatro ou cinco décadas anteriores), tal instrumento foi fonte de muitos e bons momentos de diversão entre colegas, amigos ou até familiares.

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Sim, o ‘quantos-queres’, uma criação de trabalhos manuais cujas origens se perdem no tempo, mas que qualquer criança (pelo menos qualquer criança de há algumas décadas atrás) parece ter nascido a saber fazer e utilizar. Mais: cada grupo de crianças tinha a sua própria maneira de preencher aquela ‘florzinha’ de papel. Alguns (sobretudo as raparigas) tinham mais cuidado na ‘decoração’, enquanto outros a mantinham mais simples; alguns utilizavam-na como modo de elogiar o colega que estivesse a cargo de escolher a cor (preenchendo as diversas dobras com elogios), outros para gozar ou insultar, e ainda outros como forma de estabelecer pequenos desafios, alguns genuínos, outros humilhantes (por exemplo, quem escolhesse a cor preta tinha de fazer determinada acção ou ultrapassar determinada prova.) Cada ‘quantos-queres’ se tonava, assim, precisamente naquilo que se pretendia que fosse – uma caixinha de surpresas (ou, como diria Forrest Gump, uma ‘caixa de chocolates’, em que nunca se sabe o que se vai obter.) Era, precisamente, esse o atractivo deste passatempo, e que fazia com que qualquer jogador inevitavelmente quisesse repetir a vez.

Em suma, este é (foi?) um daqueles passatempos cuja obsolescência se veria com alguma tristeza, visto ter entretido, de forma ‘caseira’ e mais ou menos inocente, gerações e gerações de crianças. Por isso, se ainda se lembrarem de como se faz um ‘quantos-queres’, por favor passem esse conhecimento aos vossos filhos, para que pelo menos esta ‘tradição’ de recreio do nosso tempo não se perca…

 

16.05.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

E porque ontem houve ’derby’ de Lisboa, nada melhor do que falar desses jogos que apaixonavam os pequenos fãs de futebol durante a década de 90.

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Dimas, um dos grandes nomes do futebol português dos anos 90, aqui em jogo contra o Sporting.

Um ‘derby’ – ou seja, uma confrontação directa entre dois clubes historicamente rivais, normalmente da mesma cidade ou de localizações adjacentes – tende a ser, invariavelmente, um dos pontos altos de qualquer campeonato, especialmente se disputado entre equipas de qualidade equivalente, e que ambas militem no primeiro escalão dos respectivos campeonatons nacionais. Os ‘derbies’ portugueses reúnem ambas estas condições, e adicionam-lhe uma terceira – nomeadamente, o facto de as equipas intervenientes serem as maiores e mais poderosas do campeonato. Assim, não é de estranhar que os jogos entre essas equipas sejam sempre os de maior interesse para adeptos de todas as idades, e especialmente para as crianças, que sentem o futebol como ninguém.

Por sorte, quem cresceu nos anos 90 teve oportunidade de assistir a alguns ‘derbies’ verdadeiramente apaixonantes. Os ‘três grandes’ portugueses tiveram, ao longo da década, equipas muito equilibradas, com alguns grandes jogadores - entre eles a grande maioria dos elementos da chamada 'Geração de Ouro' - que ajudavam a garantir a emoção e o bom futebol a cada confronto directo.

No início da década, por exemplo, o Sporting apresentava uma equipa ‘movida’ a Balakov, e que contava ainda com nomes como Figo, Carlos Xavier, Paulo Torres, Oceano ou Cadete; o Benfica, por sua vez, respondia com Rui Águas, Veloso, Paulo Madeira, Paneira, Sánchez e Magnusson, enquanto o Porto apresentava uma equipa muito física, com nomes como Aloísio, Fernando Couto, João (Manuel) Pinto, Jorge Couto, Kostadinov, Madjer e, claro, Domingos. Ao longo dos anos seguintes, pontificariam nos diferentes ‘grandes’ nomes que marcaram época no futebol português, como o binómio Drulovic/Zahovic, Iordanov, Michel Preud’Homme, Vidigal, Marco Aurélio, e os vários ‘Paulos’ que se destacavam à época (como Bento, Futre, Sousa ou Paulinho Santos.)

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Figo (à esquerda) num dos 'derbies' em que participou

Ainda mais à frente, fariam história na I Divisão portuguesa nomes como João Vieira Pinto - um dos mais talentosos futebolistas portugueses de todos os tempos - Rui Jorge, Jorge Costa ou Dimas, além de estrangeiros de enorme qualidade como Karel Poborsky (vindo do Manchester United de Cantona e onde despontava já a Class of '92) ou o incontornável e exímio cabeceador brasileiro, Mário Jardel. Já no final da década, um Sporting campeão após jejum de 18 anos contava com Peter Schmeichel na baliza (uma das mais inacreditáveis contratações da história do futebol nacional) e um ‘velhote’ reabilitado chamado Acosta a mandar ‘charutadas’ na frente, e a rivalizar com o goleador do outro lado da estrada, um jovem de cabelo comprido chamado Nuno Gomes. Mais a Norte, o Porto segurava Jardel mais um ano e revelava ao mundo do futebol um ‘mago’ descoberto no Salgueiros – Anderson Luís de Souza, mais conhecido como Deco…

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Jorge Costa em acção contra o Benfica

É claro que, com nomes deste calibre, os ‘derbies’ da década de 90 (e inícios da seguinte) nunca poderiam ser menos do que emocionantes; no entanto, o entusiasmo natural decorrente deste tipo de jogo era, ainda, aumentado por alguns resultados atípicos em termos de volume de golos, como o 3-3 entre Benfica e Porto, em 1993, o histórico 3-6 do Benfica ao Sporting em Alvalade, em 1994, o 1-4 (novamente em Alvalade) na época seguinte, o outro empate a 3 bolas, desta vez entre os rivais de Lisboa, em 1998-99, ou os ‘três secos’ do Porto ao Sporting, na época em que este último se sagraria campeão. E embora este tipo de resultados acabasse sempre por ‘doer’ a alguém – e ainda mais tratando-se de adeptos jovens e ainda na fase da paixão assolapada pelos ‘seus’ clubes – a verdade é que em termos de espectáculo, estes jogos contavam-se entre o melhor que o campeonato português ainda algo ‘desnivelado’ da época tinha para oferecer.

Infelizmente, a evolução do futebol nas duas décadas subsequentes, de um jogo mais emocional e disputado para outro mais clínico e táctico, tornou este tipo de resultado cada vez menos frequente – o que torna resultados como o 4-3 de ontem (conseguido num jogo emotivo e bem disputado, à moda antiga) ainda mais dignos de nota. Pena, pois, que o contacto das gerações futuras com este tipo de partida tenda a ser cada vez mais ocasional, pois a verdade é que, para um jovem adepto, estes são os jogos que tendem a ficar na memória para sempre…

E vocês? Que memórias têm dos ‘derbies’ daquela época? Por quem ‘sofriam’? Partilhem as vossas histórias nos comentários! Entretanto, fiquem com a recordação da noite mais memorável (seja positiva ou negativamente) do futebol daquela década...

 

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