13.01.24
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.
Na última Sessão de Sexta, falámos dos ciclos e mostras de cinema independente, bem como das salas que escolhiam prescindir dos maiores êxitos de bilheteira para divulgar este tipo de filmes, por intermédio de distribuidoras como a Medeia Filmes. Nada melhor, portanto, do que dedicarmos a Saída deste Sábado a explorar um pouco mais a fundo esses espaços emblemáticos de finais do século XX, e – infelizmente – praticamente desaparecidos nos dias que correm.
Normalmente situadas nos locais mais insuspeitos – em ruas residenciais ou paralelas às grandes artérias urbanas, caves de centros comerciais de bairro, ou até no interior de instituições e centros culturais – estas salas mais pequenas e independentes tinham, normalmente, em comum o clima e atmosfera no seu interior, que remetia a tempos mais clássicos, com poucos lugares, o ecrã muito próximo até mesmo das filas de trás, e aquele silêncio quase reverente que as gerações anteriores ao aparecimento dos 'multiplex' se habituaram a associar com a experiência de ir ao cinema. Este claro contraste com as luzes, ruído e banca de pipocas e refrigerantes das referidas salas de 'shopping', coadunava-se com a própria oferta de filmes, sendo as obras exibidas neste tipo de cinema, regra geral, mais intimistas e menos 'bombásticas' do que os típicos filmes de Verão ou Natal.
Não quer isto dizer, é claro, que um ou outro desses filmes não surgisse nos cinemas em causa, sendo que os filmes da Disney, em particular, tendiam a ser exibidos nestes espaços. Mesmo nesses casos, no entanto, estas salas marcavam a diferença, normalmente através da exibição da versão legendada, por oposição à dobrada, mantendo assim a vertente mais inteligente e intelectual que as caracterizava, ao mesmo tempo que se estabeleciam como a única escolha para quem quisesse ver os filmes em versão original, atraindo assim uma quota-parte garantida de público.
Infelizmente, o advento do DVD, e a maior diversificação dos lançamentos em formato caseiro – que passaram a incluir muitos títulos independentes e 'de autor', antes totalmente inacessíveis fora do contexto de salas deste tipo – veio ditar o 'início do fim' dos cinemas independentes, que passariam as duas décadas seguintes a definhar numa triste 'morte lenta', até ao inevitável fecho e reconversão em qualquer outro tipo de negócio. Como consequência, hoje em dia, apenas um número irrisório de entre todas as salas deste género existentes no País à época se encontra ainda em actividade, tendo as mostras e ciclos de cinema passado, quase exclusivamente, para as cinematecas e instituições culturais como a Culturgest, em Lisboa – p que não invalida que as salas em causa vivam na memória de quem nelas assistiu a muitos e bons filmes que, de outra forma, talvez nunca tivesse visto, justificando assim a sua escolha como destino para a primeira Saída de Sábado do ano de 2024.