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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

01.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A psique humana, com as suas diversas 'nuances' e desvios, sempre serviu como uma das melhores fontes para material artístico – fosse ele literário, musical ou cinematográfico – não tendo o final do século XX sido, de todo, excepção a esta regra. Antes pelo contrário, só no mundo do cinema, a última década do Segundo Milénio viu serem produzidos uma série de clássicos dentro do género do 'thriller' psicológico, de 'Se7en – Sete Pecados Mortais' a 'Clube de Combate'. 'Conhece Joe Black?' ou ao filme que abordamos nesta Sessão de Sexta, no final da semana em que se comemoram os vinte e cinco anos da sua estreia nas salas de cinema portuguesas, a 28 de Janeiro de 2000.

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Com a sua complexa e difícil temática em torno da obsessão e de outros impulsos menos desejáveis do subconsciente humano, 'Beleza Americana' está longe de ser o tipo de filme que apele à juventude, normalmente mais virada para tramas de acção, ficção científica ou comédia; no entanto, a presença da bela Mena Suvari – à época em alta entre a demografia juvenil, após a sua participação em 'American Pie – A Primeira Vez' – como parte de uma dupla de protagonistas adolescentes levou muitos menores de idade às salas de cinema para ver a longa-metragem de estreia do hoje conceituado Sam Mendes, acabando os mesmos por ter uma experiência, quiçá, algo distinta do esperado.

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Mira Sorvino e Kevin Spacey na cena mais icónica do filme.

Ainda assim, apesar da primeira impressão algo 'enganosa', qualquer pessoa que tenha visto 'Beleza Americana' terá pouco que apontar à reputação do filme, que merece largamente os elogios críticos que então lhe foram dispensados, bem como os galardões que amealhou – a saber, três Globos de Ouro (incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento) e nada menos do que seis Óscares, incluindo as três categorias principais – Melhor Filme, Actor e Actriz – e ainda as relativas à cinematografia, música e edição de imagem, o que, na era pré-'Senhor dos Anéis', representava um consenso e domínio crítico poucas vezes visto em tais cerimónias.

Não é, pois, de espantar que a película de Mendes se tenha rapidamente afirmado como um dos muitos 'clássicos' estreados num dos melhores anos da História do cinema moderno – um estatuto que continua a merecer mesmo após um quarto de século, e um sem-número de mudanças no paradigma cinematográfico, talvez pela ausência de efeitos especiais e outros 'truques' que acelerem o seu envelhecimento, ou talvez apenas pela qualidade de execução que apresenta em todos os seus aspectos. Um candidato mais que merecedor, portanto, a uma das nossas 'celebrações' retrospectivas, poucos dias após o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nacional.

19.01.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2025.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

'Eu vejo pessoas mortas.' Nos primeiros meses do Século XXI e do Terceiro Milénio, esta frase (ou alguma variação da mesma) era praticamente inescapável, sendo reproduzida, referenciada ou parodiada nos mais diversos meios e veículos de comunicação, sobretudo os de índole humorística, podendo facilmente inserir-se no restrito grupo de elementos mediáticos que constituíam 'memes' mais de uma década antes de esse termo ser criado ou penetrar na cultura popular. No entanto, toda esta exposição mediática acabava por constituir uma 'faca de dois gumes', já que o foco exclusivo nessa única linha de diálogo acabava por quase eclipsar a criação mediática da qual era proveniente – nomeadamente, um dos maiores (e melhores) filmes da viragem do Milénio.

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Estreado nas salas de cinema portuguesas há quase exactos vinte e cinco anos (a 14 de Janeiro de 2000, menos de duas semanas após o início do novo ano, século e Milénio), 'O Sexto Sentido' conseguia a proeza de fazer da sua estrela principal o elemento menos falado e elogiado da sua produção, recaindo as atenções quase exclusivamente nos dois nomes que ajudou a lançar, a saber, o realizador indo-americano M. Night Shyamalan e a 'mini-estrela' Haley Joel Osment, então com apenas onze anos, cuja personagem (uma criança com poderes psíquicos) era responsável pela famosa linha que ainda hoje simboliza o filme. E a verdade é que, ainda mais do que Bruce Willis (o referido actor principal, aqui em interpretação incaracteristicamente subtil e cheia de 'nuances') ambos estes nomes mereciam plenamente a aclamação de que eram alvo, o primeiro pela realização acima da média e inesperada conclusão do argumento, e o segundo por uma prestação muito acima da de outros actores da sua idade, ficando famosa a comparação entre esta sua actuação e a de Jake Lloyd como Anakin Skywalker em 'Guerra das Estrelas Episódio I – A Ameaça Fantasma', alguns meses antes. E embora ambos ficassem aquém do seu potencial em termos de carreira - com Shyamalan a revelar rapidamente ter apenas um único truque na manga (as conclusões cada vez menos inesperadas) e Osment a deixar o Mundo do cinema poucos anos depois, ainda adolescente - neste seu filme de estreia em particular, ambos pareciam ter pela frente futuros auspiciosos nas suas respectivas profissões.

Foi, portanto, sem surpresas que o público cinéfilo (português e não só) viu 'O Sexto Sentido' tornar-se num dos maiores sucessos daquele primeiro ano do 'novo calendário', e inscrever o seu nome na História do cinema como um dos 'clássicos modernos' do género 'thriller' psicológico. E ainda que, hoje em dia, o mesmo seja lembrado sobretudo graças 'àquela' frase (e às suas incontáveis paródias) não restam dúvidas de que se trata mesmo de um filme acima da média, merecedor de toda a atenção que mereceu aquando do seu lançamento, e também da homenagem que ora lhe prestamos, no final da semana em que se celebra um exacto quarto de século sobre a sua estreia em Portugal.

17.05.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Qualquer fã de cinema reconhece que os diferentes estilos e géneros inerentes à Sétima Arte têm, por sua vez, dentro de si uma miríade de sub-géneros, cada um com parâmetros e estereótipos bem definidos (como, aliás, acontece também com as artes concomitantes, como a música e a literatura). O género do crime, por exemplo, tem desde os anos 90 uma popular e vincada sub-categoria, focada não tanto nos 'gangsters' e máfias clássicas, mas em bandidos mais modernos, com tanta lábia como mira para disparar, cujas vidas se entrelaçam de alguma forma durante noventa minutos ou duas horas, com resultados invariavelmente divertidos para os fãs do género. E se, em solo norte-americano, o mestre deste sub-estilo se chama Quentin Tarantino, do lado europeu, um nome se agiganta como incontornável dentro do mesmo: Guy Ritchie, o britânico que, há quase exactos vinte e cinco anos, se apresentava aos cinéfilos portugueses através da sua primeira – e imediatamente icónica – obra.

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Realizado e produzido ainda em 1998, 'Um Mal Nunca Vem Só' (um daqueles títulos traduzidos inexplicáveis para um filme que se chama, no original, 'Lock, Stock and Two Smoking Barrels') era vítima do 'atraso cultural' habitual em produtos mediáticos da época, acabando por 'amarar' em solo lusitano apenas vários meses após o lançamento no seu Reino Unido natal, no caso a 14 de Maio de 1999. Foi nessa data que os fãs nacionais ficaram, pela primeira vez, a conhecer o estilo hiperactivo, estilizado e movido a diálogos jocosos que, já no Milénio seguinte, seria 'revisto e melhorado' em filmes como 'Snatch – Porcos e Diamantes', 'Rock'n'Rolla: A Quadrilha' ou 'Revolver'. Muitos dos 'actores fetiche' de Ritchie também fazem aqui a sua estreia, casos de Vinnie Jones e da futura estrela de acção Jason Statham, aqui marcadamente mais 'magricelas' e com a oportunidade de demonstrar os seus dotes como actor – sim, Jason Statham sabe representar, e bem! Já a trama desenrola-se no habitual 'rebuliço' também característico de Richie, que, a páginas tantas, faz até o cinéfilo mais persistente deixar de tentar perceber o que se passa, resignando-se a desfrutar dos excelentes diálogos e cenas de acção. Em suma, um compêndio do que viriam a ser os 'clichés' das obras do realizador britânico, de cuja junção resulta um dos melhores filmes de crime do cinema moderno.

De facto, um quarto de século volvido sobre a sua estreia em Portugal (e ligeiramente mais do que isso sobre o seu lançamento original) 'Um Mal Nunca Vem Só' continua a oferecer uma experiência tão prazerosa e entusiasmante como naquele dia de Maio de 1999 em que pela primeira vez chegou às salas lusas, e a servir de inspiração para inúmeros 'imitadores', nenhum dos quais chega aos níveis de qualidade aqui almejados por Richie. Razões mais que suficientes, pois, para dedicarmos esta homenagem à obra de estreia do britânico, quando a mesma atinge tão destacado marco em solo português.

09.04.24

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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No Portugal de finais do século XX e inícios do XXI, ainda mais do que no de hoje, certas frases, bordões e dichotes logravam transpõr o seu contexto original e transformar-se em parte integrante da cultura popular. Entre dizeres oriundos de séries, filmes ou concursos de televisão, músicas e 'slogans' de anúncios, e uma ou outra frase de origem mais esotérica (como o lendário 'Oh, Elsaaaa!', nascido no festival de música do Sudoeste) eram inúmeros os exemplos desta mesma tendência – e, para quem fazia, à época, parte de determinada demografia, um dos mais memoráveis será uma frase em Inglês 'macarrónico' dita por um venerando senhor de fato num dos mais populares programas de humor da História da televisão portuguesa. Falamos, é claro, do lendário 'let's luque etta traila' que era imagem de marca de Lauro Dérmio, um dos muitos 'bonecos' de inspiração real criados por Herman José para os seus vários programas humorísticos, no caso a sua icónica 'Enciclopédia'. O que muitos dos jovens que riam com a caricatura talvez não soubessem, no entanto, era que a inspiração de Herman para o personagem dispunha, ela própria, de um programa, à época acabado de sair do ar, mas que marcara os hábitos televisivos de muitos cinéfilos nacionais durante os anos transactos.

A caricatura de Herman José era mais popular do que o próprio programa que parodiava.

Tratava-se de 'Lauro António Apresenta', um programa de antevisões a filmes então prestes a chegar ao cinema transmitido pela TVI a partir de inícios de 1994, que, pontualmente, servia também como sessão de cinema, procurando neste caso destacar-se das várias (e excelentes) propostas semelhantes veiculadas pelos outros canais (muitas até aos dias de hoje) através de uma abordagem mais personalizada e intelectual no tocante aos conteúdos mostrados. Isto porque, como o próprio nome do programa indica, os filmes exibidos eram especialmente escolhidos pelo titular cineasta, responsável pelo premiado filme 'Manhã Submersa', e que se encarregava também de fazer uma pequena introdução a cada uma das películas escolhidas – fornecendo assim, involuntariamente, inspiração para a posterior caricatura engendrada pelo 'rei' do humor português.

No total, foram cinco os filmes exibidos por Lauro António, e pela TVI, como parte destas sessões, cuja cronologia se dispersa ao longo de três anos. As primeiras duas emissões, sobre as quais se assinalaram na semana transacta exactos trinta anos, foram dedicadas ao filme italiano 'Barrabás', de 1961, e às duas partes do famoso épico 'Cleópatra', realizado dois anos depois e com interpretações de Elizabeth Taylor, no papel da lendária rainha egípcia, Rex Harrison, Roddy McDowall e Martin Landau, entre outros. Após estes dois 'eventos' pascais, no entanto, a emissão extinguir-se-ia durante mais de nove meses, regressando apenas a 14 de Janeiro de 1995, com a exibição de 'Não o Levarás Contigo', de 1938. Seguir-se-iam mais quatro meses de hiato (contados quase ao dia) até ao regresso com 'O Mundo A Seus Pés', clássico de Orson Welles, a 13 de Maio.

Por mais longas que fossem estas pausas entre emissões, no entanto, nada se comparou ao intervalo entre o filme de Welles e a seguinte obra-prima apresentada por Lauro António, que iria ao ar a 22 de Fevereiro...de 1997, mais de um ano e meio após a última edição da sessão! A exibição da película francesa sobre a vida de Molière, datada de 1978, assinalaria, aliás, não só o filme mais moderno seleccionado para o programa, mas também o último, em meio a uma mudança de paradigma não só por parte da própria TVI, como do panorama televisivo nacional em geral, que 'tiraria' o programa do ar ainda nesse mesmo ano.

Esta calendarização errática, aliada à opção deliberada por filmes mais antigos e de índole mais artística, mesmo nas emissões mais 'normais' – por oposição às habituais comédias e filmes de acção preferidas pelo público infanto-juvenil – terá contribuído para que Lauro António e o respectivo programa fossem, para muitos jovens de finais do século XX, conhecidos sobretudo pelo 'boneco' paródico criado por Herman José; no entanto, a nível conceptual, há que louvar o esforço do realizador e da TVI (então ainda apostada em injectar cultura ao panorama televisivo, ao contrário do que sucederia no Novo Milénio) para alargar os horizontes do público das sessões da tarde, e lhe apresentar filmes clássicos e importantes da História da Sétima Arte – missão que, certamente, terá tornado 'Lauro António Apresenta' memorável para muitos cinéfilos nacionais, tornando-o merecedor de destaque nestas nossas páginas, por alturas dos trinta anos da sua primeira emissão. E porque não há, neste caso, 'trailers' para visionar, aqui ficam dois excertos do programa, com agradecimentos ao YouTube...

13.01.24

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Na última Sessão de Sexta, falámos dos ciclos e mostras de cinema independente, bem como das salas que escolhiam prescindir dos maiores êxitos de bilheteira para divulgar este tipo de filmes, por intermédio de distribuidoras como a Medeia Filmes. Nada melhor, portanto, do que dedicarmos a Saída deste Sábado a explorar um pouco mais a fundo esses espaços emblemáticos de finais do século XX, e – infelizmente – praticamente desaparecidos nos dias que correm.

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Normalmente situadas nos locais mais insuspeitos – em ruas residenciais ou paralelas às grandes artérias urbanas, caves de centros comerciais de bairro, ou até no interior de instituições e centros culturais – estas salas mais pequenas e independentes tinham, normalmente, em comum o clima e atmosfera no seu interior, que remetia a tempos mais clássicos, com poucos lugares, o ecrã muito próximo até mesmo das filas de trás, e aquele silêncio quase reverente que as gerações anteriores ao aparecimento dos 'multiplex' se habituaram a associar com a experiência de ir ao cinema. Este claro contraste com as luzes, ruído e banca de pipocas e refrigerantes das referidas salas de 'shopping', coadunava-se com a própria oferta de filmes, sendo as obras exibidas neste tipo de cinema, regra geral, mais intimistas e menos 'bombásticas' do que os típicos filmes de Verão ou Natal.

Não quer isto dizer, é claro, que um ou outro desses filmes não surgisse nos cinemas em causa, sendo que os filmes da Disney, em particular, tendiam a ser exibidos nestes espaços. Mesmo nesses casos, no entanto, estas salas marcavam a diferença, normalmente através da exibição da versão legendada, por oposição à dobrada, mantendo assim a vertente mais inteligente e intelectual que as caracterizava, ao mesmo tempo que se estabeleciam como a única escolha para quem quisesse ver os filmes em versão original, atraindo assim uma quota-parte garantida de público.

Infelizmente, o advento do DVD, e a maior diversificação dos lançamentos em formato caseiro – que passaram a incluir muitos títulos independentes e 'de autor', antes totalmente inacessíveis fora do contexto de salas deste tipo – veio ditar o 'início do fim' dos cinemas independentes, que passariam as duas décadas seguintes a definhar numa triste 'morte lenta', até ao inevitável fecho e reconversão em qualquer outro tipo de negócio. Como consequência, hoje em dia, apenas um número irrisório de entre todas as salas deste género existentes no País à época se encontra ainda em actividade, tendo as mostras e ciclos de cinema passado, quase exclusivamente, para as cinematecas e instituições culturais como a Culturgest, em Lisboa – p que não invalida que as salas em causa vivam na memória de quem nelas assistiu a muitos e bons filmes que, de outra forma, talvez nunca tivesse visto, justificando assim a sua escolha como destino para a primeira Saída de Sábado do ano de 2024.

12.01.24

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Uma das primeiras Saídas de Sábado deste nosso blog foi ao cinema, para recordar a experiência de ir, com os pais ou amigos, ver um filme 'da moda' numa sala de bairro, ou num dos muitos 'multiplexes' que iam surgindo por esse País fora, como parte integrante dos 'shopping centers' que se vinham, também eles, espalhando pelo território continental. No entanto, havia ainda uma terceira categoria de cinema – e segundo tipo de filme – não contemplados por esse primeiro artigo; é, precisamente, essa mesma categoria que iremos abordar nesta Sessão de Sexta, a qual terá um cariz algo mais intelectual do que de costume. Isto porque, esta Sexta, recordaremos as mostras e ciclos de cinema independente, prática corrente dos anos 90 e 2000 que, como tantas outras abordadas nestas páginas, tem vindo progressivamente a perder fôlego ao longo dos últimos quinze anos, mas que fez as delícias de duas gerações de jovens cinéfilos portugueses, apresentando-lhes filmes aos quais, de outra forma, não teriam necessariamente acesso na era pré-serviços de 'streaming'.

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A Medeia Filmes foi uma das principais distribuidoras de cinema independente e de autor em Portugal.

De facto, numa época em que eram poucos e selectos os lançamentos em VHS (e mesmo, mais tarde, em DVD) estes ciclos temáticos ou exibições num número limitado de salas mais pequenas eram a única forma de contacto com um certo tipo de cinema mais 'de autor', mais condicente com um clima mais sério e introspectivo do que com as pipocas e música-ambiente das salas de 'shopping'. Certos cinemas mais históricos ou menos centrais das grandes capitais (e não só) faziam mesmo da exibição deste tipo de filme o seu principal factor distintivo, destacando-se orgulhosamente das salas mais 'comerciais' e apelando abertamente a um público mais cinéfilo, como era o caso, entre outros, dos cinemas King ou Star, ambos na zona de Roma/Alvalade, em Lisboa. E embora o advento do Novo Milénio, a chegada do DVD e a considerável expansão no volume e cariz dos lançamentos disponíveis em edição nacional tenham, inevitavelmente, causado uma mudança no teor deste tipo de iniciativa, a mesma gozou, ainda, de mais uma década de enorme visibilidade, com as salas e cinematecas a aproveitarem as potencialidades do novo formato, muitas vezes exibindo o filme directamente a partir do mesmo.

Ainda assim, estes espaços mais pequenos viram-se incapazes de travar o progressivo avanço dos mega-cinemas comerciais, e a organização de ciclos e mostras de cinema passou, progressivamente, para o domínio das associações privadas, universidades, e outros espaços semelhantes, onde se mantém até aos dias de hoje, tendo a maioria das salas conhecidas por mostrarem filmes 'alternativos' soçobrado ao inevitável domínio dos filmes da Disney, Marvel, Star Wars e outros 'blockbusters' semelhantes. Os cinéfilos da Geração Z vêem-se, assim, obrigados a recorrer à Internet (ou às colecções de filmes dos pais) para conhecerem alguns dos mesmos clássicos que os seus antecessores tiveram o privilégio de ver em ecrã gigante, numa qualquer sala ao fundo de umas escadas ou na divisão do fundo de um centro comercial de bairro, vinte ou trinta anos antes...

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