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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.09.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O mercado de produções filmográficas tem, desde o advento do 'cinema em casa', estado tradicionalmente dividido em dois grandes grupos: o dos filmes que chegam às salas de cinema, e o dos que se ficam pelo lançamento directamente em vídeo, DVD ou Blu-Ray. O cinema infantil não é excepção, antes pelo contrário – esta categoria conta, se possível, com mais filmes 'directos para vídeo' do que qualquer género dirigido a adultos, quase todos eles episódios alargados de séries populares, 'imitações' baratas dos filmes dos grandes estúdios, ou sequelas falhadas para franquias em tempos populares. No entanto, o mercado em causa conta ainda com uma quarta categoria, mais rara, mas significativa o suficiente para merecer atenção: a dos filmes que, por uma razão ou outra, nunca chegam a estrear em sala, apesar de exibirem qualidade suficiente para tal.

Nos anos 90, a principal afectada por este tipo de prática era a Warner Brothers, que para cada filme que chegava aos cinemas via outros dois irem directamente para o mercado caseiro, apesar de, muitas vezes, nada ficarem a dever aos lançados no grande ecrã. Um dos melhores exemplos desta tendência tinha lugar há exactos vinte e cinco anos, quando o mercado caseiro nacional via ser lançado um filme da companhia, realizado no ano anterior, mas que nunca chegara a passar pelas salas de cinema, e cujo destino aparentemente trágico lhe viria, no entanto, a outorgar inesperado sucesso.

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A caixa do VHS lançado em Portugal.

Lançado em Portugal na dobragem brasileira habitual à época (sem que haja registo de uma versão original), 'Gatos Não Sabem Dançar' nada fica a dever, pelo menos ao nível visual, ao grande lançamento da Warner naquele ano, 'A Espada Mágica'; e se as músicas e mesmo a história são menos memoráveis do que as daquele filme, a verdade é que as aventuras de Danny, o gato aspirante a artista de Hollywood, não deixam de ter o seu mérito como forma de ocupar uma hora e meia, e apresentam a qualidade esperada de um estúdio especialista em animação, como era a Warner - até porque o filme possui um subtexto que, sem interferir na experiência das crianças, agrada também aos adultos, visto tratar-se de uma homenagem muito pouco velada aos velhos musicais de Hollywood. Dos cenários extravagantes às complexas coreografias, passando pela mimada e sádica estrela infantil (que parece irmã mais velha do Bebé Herman, do clássico da Disney 'Quem Tramou Roger Rabbit') tudo remete à era em que Frank Sinatra, Judy Garland e outros nomes semelhantes dominavam as preferências do público cinematográfico mundial.

Esta declarada homenagem, a animação cuidada, e os números musicais a cargo de Randy Newman (ele mesmo, de 'Toy Story') não foram, no entanto, suficientes para prevenir o fracasso de 'Gatos Não Sabem Dançar' nos seus EUA natais, onde o filme sofreu de falta de promoção, resultante num desempenho muito abaixo do esperado. Talvez tenha sido essa a razão para o filme nunca ter sido lançado em sala no nosso País, mas a verdade é que o seu aparecimento em vídeo acabou, até, por ser benéfico para uma obra que, vista em sala, correria o risco de ser rapidamente esquecida – algo que nunca aconteceria sendo a mesma alvo de visualização semanal no ecrã caseiro. Assim, a estratégia de marketing 'acidental' da Warner Bros acabou por tornar o filme numa memória afectiva da infãncia de muitos portugueses, os quais, ao ler este texto, já estarão potencialmente a recordar alguns dos momentos mais marcantes do filme, e a planear uma 'Sessão da Tarde' em que o possam mostrar aos filhos- Para esses, aqui fica o 'link' para uma playlist do filme completo no YouTube, tal e como surgia em Portugal no Verão de 1998; para os restantes, vale a homenagem a assinalar os vinte e cinco anos de um filme que parecia 'nado-morto', mas que acabou por deixar uma marca maior do que inicialmente se esperava.

26.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sexta-Feira, 25 de Agosto de 2023.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje em dia, o nome de Quentin Tarantino é sinónimo de um certo e determinado tipo de cinema, pleno de referências à cultura 'pop', diálogos inteligentes e cheios de palavras incomuns, humor negro e, muitas vezes, doses cavalares de 'molho de tomate'. Mas se, hoje em dia, o cinema do realizador (com todos os elementos supracitados) faz parte das referências de qualquer cinéfilo, em Maio de 1993, o mesmo era um ilustre desconhecido - pelo menos para os jovens lusitanos, que se preparavam (sem o saber) para tomar contacto com a sua primeira obra-prima.

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Terceiro filme do realizador (embora seja o primeiro de maior expressão, e considerado por muitos como a sua verdadeira estreia), 'Cães Danados' ('Reservoir Dogs', no original) traz já todos os elementos supracitados, bem como outros típicos de Tarantino (como a 'ponta' do próprio realizador numa das cenas), tendo sido responsável por os implementar e apresentar ao grande público. E se, em trabalhos subsequentes, QT se desdobraria em arroubos de história, aqui, o argumento não pode ser mais simples: todo o filme se passa num único local, um armazém abandonado, e se centra num único grupo de seis homens, ali refugiados após um assalto mal-sucedido. Sem saberem nada uns sobre os outros, além dos nomes de código referentes a cores, os mesmos acabam, ainda assim, por desenvolver relações interpessoais de cariz tragicómico, num resultado final que fica entre a comédia negra e a vertente mais sarcástica dos filmes de crime (ao estilo Guy Ritchie).

Alicerçado nas excelentes exibições de Harvey Keitel, Steve Buscemi, Tim Roth e Michael Madsen, 'Cães Danados' não tardou a ganhar renome como um dos filmes mais sangrentos até então filmados, e também como uma descontrução dos filmes de crimes, semelhante à sua inspiração directa, 'The Killing', de Stanley Kubrick. O seu sucesso contribuiu também, em larga medida, para estabelecer o nome de Tarantino como jovem realizador a ter em conta, um estatuto que seria cimentado pelo seu trabalho seguinte, o lendário 'Pulp Fiction', lançado em 1994. 'Cães Danados' é, no entanto, muito mais do que apenas um 'ensaio geral' para esse filme, e continua a merecer os elogios de que é alvo, mesmo após completadas três décadas sobre a sua chegada a Portugal.

28.07.23

NOTA: Por motivos de relevância, esta Sexta será também de cinema. Voltaremos a falar de moda na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O Verão foi, e continua a ser, tradicionalmente uma 'época alta' no que toca a estreias de filmes, sobretudo 'blockbusters' e películas destinadas a um público mais jovem, tendo, inclusivamente, sido um dos dois períodos do ano, juntamente com o Natal, em que era expectável um novo lançamento por parte da Disney; e, tendo os anos 90 sido um dos períodos áureos do cinema infanto-juvenil (com a própria Disney, por exemplo, em plena 'Renascença'), não é de estranhar que os últimos dias de Julho tivessem, tanto há trinta anos como há um quarto de século, visto chegar ao nosso País filmes capazes de entusiasmar o público mais jovem, e que se tornariam clássicos nostálgicos para os hoje adultos da geração 'millennial'.

De facto, os dias 30 e 31 de Julho tanto de 1993 como de 1998 assinalaram a estreia nacional de nada menos do que três longas-metragens hoje recordadas com carinho pelos portugueses na casa dos trinta a quarenta anos, duas delas explicitamente destinadas a um público infantil, e a terceira um potencial alvo para o tradicional visionamento 'às escondidas', com amigos ou depois de os pais já terem ido para a cama.

Começando pelo 'início' – isto é, pelo filme mais antigo dos três – o dia 30 de Julho de 1993 via chegar às salas lusas 'Ferngully', filme de Don Bluth que, em Portugal, receberia o incompreensivelmente longo sub-título de 'As Aventuras de Zak e Krysta na Floresta Tropical'. Lançada no auge da era de ouro da sensibilização para a ecologia, a longa-metragem conta com uma mensagem de protecção da natureza, envolta na habitual história de um humano comum 'puxado' para um reino mágico que deve ajudar a proteger - neste caso, o das fadas protectoras da 'última floresta tropical', que se encontra ameaçada por madeireiros.

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Com o padrão de qualidade habitual de Bluth, e talentos vocais de qualidade (entre eles Robin Williams, então em estado de graça após a sua interpretação do Génio em 'Aladdin', do ano anterior, e que ainda em 1993 faria outro clássico, 'Papá Para Sempre') o filme divide, hoje em dia, opiniões, com muitos críticos a apontarem para a mensagem do filme e para o número musical do personagem de Williams, Batty - que interpreta um 'rap' bem ao estilo da década então em curso - como pontos negativos. Para quem lá esteve em 1993, no entanto - a duas semanas de completar oito anos, 'impante' e ufano por ter conseguido bilhetes para a ante-estreia – nada disso era minimamente relevante, e 'Zak e Krysta' pareceu um excelente filme; ou seja, para o público-alvo, menos preocupado com questões de detalhe, esta foi, e provavelmente continuará a ser, uma excelente forma de passar uma hora e meia com uma animação de qualidade, a qual fez sucesso suficiente para, inclusivamente, dar azo a uma sequela, esta sem qualquer repercussão em Portugal.

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Um dia após a estreia da última obra de Bluth, a 31 de Julho, chegava ao nosso País um futuro 'clássico' dos canais de filmes a cabo: 'O Último Grande Herói', uma comédia de acção que via Arnold Schwarzenegger fazer um papel bem 'meta-textual', interpretando o personagem titular, o típico herói musculado da época, que se vê a braços com um jovem espectador que, graças a um bilhete mágico, consegue entrar no filme, e se vê envolto na trama do mesmo. Os dois membros deste insólito par têm, assim, de trabalhar juntos para travar o vilão, aliando a força e armamaento de Arnie ao conhecimento sobre estereótipos e fórmulas cinematográficas do seu jovem coadjuvante.

E é, precisamente, a química entre os 'músculos de Bruxelas' e o jovem Austin O'Brien que rende os momentos mais divertidos deste filme, como aquele em que o Danny Madigan de O'Brien menciona, jocosamente, o facto de todos os números de telefone do filme começarem por 555, o indicativo tradicionalmente usado por Hollywood neste tipo de situações. Apesar de não ser uma obra-prima intemporal (o único filme de Arnie qualificado para essa categoria continua a ser 'O Predador') trata-se de uma longa-metragem bem divertida, que doseia bem o humor e a acção (à maneira de antecessores como 'O Caça-Polícias' e de sucessores como 'Hora de Ponta'), sabe explorar a veia cómica de Schwarzenegger, e conta com uma banda sonora à altura, povoada por nomes como AC/DC, Alice in Chains, Def Leppard, Queensryche, Aerosmith, Anthrax ou Cypress Hill, entre outros.

Exactos cinco anos após a literal explosão de Arnie nos cinemas nacionais, estreava em Portugal outro filme teoricamente para um público mais 'maduro', mas que muitas crianças terão, decerto, visto em anos subsequentes, no contexto do 'home video' – aqui, por exemplo, viu-se aos cerca de treze ou catorze anos, na noite de cinema da colónia de férias.

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Falamos de 'O Enigma do Horizonte' (no original, 'Event Horizon') um excelente filme de ficção científica encabeçado por Laurence Fishburne (em 'ensaios' para 'Matrix', dois anos depois), Sam Neill e Jason Isaacs e realizado pelo hoje conceituado Paul W. S. Anderson. Com uma história algo semelhante à de 'Alien – O Oitavo Passageiro' (em que uma equipa de salvamento espacial fica presa numa nave abandonada, à mercê de uma força sinistra) o filme é notável, sobretudo, pelos efeitos especiais, de entre os quais se destaca o 'rio' de sangue a descer um dos corredores da nave – imagem que deixou boquiaberto aquele adolescente de finais do Segundo Milénio, sentado em colchões no chão da sala principal de uma colónia de férias presencial na Margem Sul do Tejo. Mesmo para um público mais adulto e exigente, no entanto, este filme continua a ser uma boa proposta para uma noite mais escura e chuvosa, de preferência em boa companhia...

Em suma: em apenas dois dias de dois anos distintos, o público infanto-juvenil português viu surgirem nas telas nacionais três excelentes filmes (mais ou menos) apropriados à sua faixa etária, e que ainda hoje são conceituados dentro dos seus respectivos estilos – uma coincidência, sem dúvida, digna de nota nas páginas deste 'nosso' Portugal Anos 90, numa altura em que se assinalam aniversários marcantes sobre as estreias de todos os três.

21.07.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes 'de animais' sempre foram um dos géneros mais populares (e, como tal, lucrativos) do chamado 'cinema de família'; afinal, quem não gosta de passar uma hora e meia a ver patuscas criaturas livrarem-se de todo o tipo de peripécias? Não é, pois, de estranhar que este 'filão' tenha, tradicionalmente, sido bastante explorado por Hollywood ao longo das décadas, ainda que de formas algo diferentes: se em meados do século XX, os filmes tendiam a ser mais bucólicos e centrados nas façanhas dos animais em si, à medida que os anos avançaram, esta tendência inverteu-se, dando lugar à grande vaga de filmes com 'animais falantes' (ou quase) de finais do século. No entanto, apesar das diferenças, estas duas 'fases' do cinema 'de animais' têm, pelo menos, um elemento em comum: um filme em que dois cães e uma gata atravessam zonas rurais dos Estados Unidos na senda para se reunirem com os donos.

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De facto, 'Regresso a Casa' (no original, 'Homeward Bound: The Incredible Journey') acaba por ser o exemplo perfeito da mudança de sensibilidades entre as décadas de 60 e 90; isto porque se o filme de que é 'remake' – 'A Incrível Jornada', de 1963 – se focava mais nas façanhas dos três animais protagonistas e na beleza das zonas rurais da Califórnia, já a 'actualização' três décadas mais nova (e que celebra este fim-de-semana exactos trinta anos sobre a sua chegada a Portugal) aposta todas as suas 'fichas' nas piadas incessantemente 'debitadas' pelos actores de 'primeira linha' contratados para dar voz ao trio de personagens principais.

Reside, aliás, aí a principal diferença entre os dois filmes, já que os dois cães e gato de 1963 eram mudos, sendo as suas aventuras narradas por um elemento externo, enquanto que o Chance, Shadow e Sassy de 1993 relatam (de forma constante) as suas próprias aventuras, pelas vozes de, respectivamente, Michael J. Fox (inconfundível, mas aqui numa prestação frenética mais ao estilo Jack Black ou Robin Williams), Don Ameche e Sally Field, de 'Papá Para Sempre' e 'Matilda, a Espalha-Brasas'. E se Ameche consegue transmitir a dignidade necessária ao seu golden retriever sénior, e Field faz o mesmo quanto ao sarcasmo da adequadamente chamada Sassy (Atrevida), Fox é absolutamente insuportável no papel do jovem buldogue americano (que, no original, era um bull terrier) encarregue de carregar o arco dramático secundário da história, em que aprende a respeitar os seus companheiros e a amar os humanos que os acolhem – uma adição perfeitamente desnecessária a um filme onde as motivações e conflitos ficam já de si evidentes na própria premissa.

Também desnecessários são elementos como a relação das crianças com o novo padrasto, ou uma sequência de 'pastelão' passada num canil que parece só existir porque 'Sozinho em Casa' popularizara este género. Isto porque, na sua essência, o 'Regresso a Casa' de 1963 quer ser precisamente o mesmo que o seu antecessor – um filme de família tocante sobre um acontecimento naturalmente emotivo, ao estilo de um 'Voando P'ra Casa' mas com toques de comédia; e a verdade é que, a espaços, consegue mesmo atingir esse desiderato, nomeadamente nas cenas retiradas do primeiro filme, como a luta com uma mãe ursa ou a famosa cena em que a gata é apanhada pela corrente do rio. Pena, pois, que estes bons momentos sejam minimizados pelas CONSTANTES (e fraquinhas) 'piadolas', que nada acrescentam ao todo, e que tornam os primeiros minutos, em particular, praticamente inassistíveis.

Ainda assim, e apesar destes defeitos, 'Regresso a Casa' fez sucesso suficiente junto de crítica e público para justificar uma sequela, numa época em que qualquer filme para crianças tinha de ter, pelo menos, uma continuação. Lançado três anos após o original, 'Regresso a Casa II: Perdidos em São Francisco' traz 'mais do mesmo', mas agora em ambiente urbano, por oposição às florestas e montanhas do primeiro filme – e, curiosamente, na mesma cidade para a qual a família vai em lua-de-mel no primeiro filme, suscitando a necessidade de deixar para trás os animais...

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Como costuma suceder com este tipo de filme, no entanto, a segunda parte ficou aquém da primeira em termos de recepção, o que – a juntar às mudanças no panorama dos filmes infantis na ponta final do século XX – ditou o final prematuro do que, de outra forma, seria certamente uma franquia ao estilo 'Beethoven' ou 'Air Bud'.

Hoje, trinta anos após a sua estreia e vinte e sete após a sequela, 'Regresso a Casa' parece uma espécie de 'cápsula do tempo' para o início dos anos 90, tendo muito mais em comum com contemporâneos como 'Libertem Willy', 'Paulie', 'Querida, Encolhi Os Miúdos' ou o supramencionado 'Voando P'ra Casa' do que com obras como 'À Dúzia É Mais Barato', que representariam o protótipo do cinema infantil a partir de 1997 ou 98. Ainda assim, para quem se queira distanciar do humor mais 'vulgaróide' dessas obras (e tenha tolerância para um Michael J. Fox em 'modo Jim Carrey', requisito essencial para sequer pensar em abordar esta duologia) estes dois filmes continuam a constituir uma forma tolerável de passar uma tarde de chuva em família, especialmente quando combinados com o seu excelente antecessor, em formato 'Sessão Tripla', de forma a 'educar' a geração mais nova no que toca a bons filmes para a sua faixa etária...

26.05.23

NOTA: Por motivos de relevância temporal, o post desta Sexta será sobre cinema. As Sextas com Style regressam para a semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

A passada Quarta-feira, dia 24 de Maio de 2023, ficou marcada pelo falecimento de um ícone da música pop e 'soul' das décadas de 80 e 90, a icónica e inimitável Tina Turner. Como tal, e enquanto preparamos a inevitável homenagem à mesma, iremos, esta Sexta, recordar o filme biográfico alusivo à sua vida, e sobre cuja estreia em Portugal se assinalam, em Novembro próximo, exactas três décadas.

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Baptizado com o mesmo nome de um dos maiores sucessos da cantora, 'What's Love Got To Do With It' (abreviado, na versão Portuguesa, para o consideravelmente mais simples e menos icónico 'Eu, Tina', mesmo titulo da autobiografia da cantora, que o filme tem por base) trazia Angela Bassett no papel principal – uma escolha tão acertada que quase parecia inevitável, dadas as semelhanças físicas entre a actriz e a cantora (após, claro está, a adição da inconfundível cabeleira 'afro' que era imagem de marca de Tina) – e Laurence Fishburne (outra escolha acertada) como o controverso Ike Turner. Na cadeira de realizador sentava-se o britânico Brian Gibson, um relativamente anónimo realizador de televisão cujos principais créditos, à época, eram a realização de 'Kilroy Was Here' (o filme que servia de 'teledisco' para o álbum conceptual do mesmo nome da banda de rock sinfónico Styx) e da sequela de 'Poltergeist'. Um candidato tão improvável quanto estarrecedor, para quem esta filmo-biografia da diva helvético-americana continua a ser, talvez, o projecto de maior monta até aos dias de hoje.

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Os dois actores principais partilham bastantes semelhanças físicas com o verdadeiro casal.

Apesar da falta de um nome sonante ao 'leme' do projecto (e das objecções do verdadeiro casal quanto à falta de veracidade e liberdades tomadas com a história), no entanto, 'Eu, Tina' foi um sucesso de bilheteira, e ambos os seus actores principais nomeados para os Óscares de Melhor Actor e Melhor Actriz na cerimónia daquele ano; Angela Bassett viria, mesmo, a arrecadar um Globo de Ouro pela sua prestação como Tina, na categoria de Melhor Actriz de Comédia ou Musical, mostrando porque havia sido escolhida em detrimento de nomes mais jovens e populares, como Hale Berry, Janet Jackson ou a sucessora natural de Tina, Whitney Houston, que havia sido protagonista de um dos maiores sucessos do ano anterior, 'O Guarda-Costas', e para quem esta teria sido a oportunidade perfeita de dar continuidade à carreira cinematográfica.

Conforme referimos, no entanto, Bassett foi uma escolha acertada, não só pelas semelhanças com Tina como por se tratar de uma actriz experiente, e capaz de desempenhar um papel complexo e emotivo como o da diva 'pop' sem se 'assustar' nem ficar além das expectativas. O seu desempenho, juntamente com o de Fishburne, é, aliás, o principal argumento a favor deste filme, que – mesmo trinta anos após o seu lançamento – se afirma como uma excelente forma de prestar homenagem a Tina, e à influência que a sua música, personalidade e até história de vida tiveram na música 'pop' dos anos 80 e 90.

05.05.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de as mais diferentes formas de ficção se continuarem a centrar na ideia de que os sonhos se podem tornar realidade, na vida real, tal raramente acontece, sendo que, na maioria dos casos, até os esforços mais aturados se revelam inglórios. Talvez seja por isso que, quando um caso destes tem, efectivamente, lugar, o mesmo se revele tão satisfatório para o chamado 'grande público' – e um dos principais exemplos deste fenómeno surgiu em finais dos anos 90, quando um guião escrito de forma independente por dois actores conseguiu ir de rejeitado a mega-sucesso de bilheteira.

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Falamos de 'O Bom Rebelde' ('Good Will Hunting', no original), um dos vulgarmente chamados 'projectos de paixão' para Matt Damon e Ben Affleck, dois nomes, à época, já estabelecidos, mas ainda longe do estrelato de que mais tarde viriam a gozar. Os dois actores, ainda hoje melhores amigos, viram o guião que haviam passado a primeira metade da década a escrever (a partir de uma ideia que Damon tivera ainda durante o curso de Cinema em Harvard) ser rejeitado por praticamente todos os estúdios de Hollywood (incluindo uma 'mudança de ideias' por parte da Castle Rock Entertainment), forçando-os a usar os seus 'conhecimentos' dentro da indústria – no caso, o realizador independente de culto, Kevin Smith – para fazer chegar o trabalho à Miramax.

Contra todas as expectativas, a companhia dos irmãos Weinstein aprovou mesmo o guião, bem como a proposta de Damon e Affleck para que eles próprios ocupassem os papéis principais, e não tardou até que os dois actores se encontrassem em posição de escolher um realizador para o seu filme – um cargo que acabaria por caber a Gus Van Sant, depois de o próprio Smith ter rejeitado essa incumbência. Mais, os dois jovens actores veriam ser adicionado ao elenco um nome de vulto do cinema da altura – nada mais, nada menos do que Robin Williams, que regressava assim aos papéis dramáticos para interpretar o psicanalista do titular Will Hunting, o contínuo do MIT que descobre, quase por acaso, ser sobredotado para a Matemática, um facto que virá a mudar a sua vida.

Ainda hoje aclamado como um dos grandes filmes não só dos anos 90 como da era moderna, 'O Bom Rebelde' consegue a proeza de não cair em nenhuma das 'armadilhas' que a presença de alguns dos nomes envolvidos poderia suscitar: não se trata de um filme pretensioso, como os que Gus Van Sant costuma realizar, nem lamechas, pese embora a presença de Robin Williams, e até mesmo Affleck se encontra em 'dia sim' em termos de representação, sendo este um dos seus melhores papéis da sua já longa carreira. A soma de todas estas partes resulta num filme que (pouco mais de vinte e cinco anos após a sua estreia em Portugal, em Março de 1998) continua a valer mesmo a pena ver, e a justificar a aclamação crítica que lhe foi dedicada, tanto à época como em anos subsequentes. Em suma, um 'conto de fadas real' com final feliz - tanto para os dois actores e argumentistas, que conseguiram fazer 'sair do chão' o projecto a que haviam dedicado parte da juventude, como para os cinéfilos, que se viram, naquela Primavera de 1998, brindados com um excelente e justamente premiado drama.

21.04.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os anos 80 e 90 viram nascer diversos novos sub-géneros cinematográficos, quer dirigidos a um público adulto, quer às crianças e jovens; e, destes, um dos mais prolíficos e bem-sucedidos foi o chamado 'slasher movie' – aquele género de filme em que um assassino mascarado persegue indefesas vítimas adolescentes, por motivos normalmente revelados no fim do filme.

Tendo em 'Halloween', de 1979, a sua obra-génese, este género dominou as salas de cinema tanto na década seguinte (em que títulos como 'Sexta-Feira 13', 'Pesadelo em Elm Street' ou o próprio 'Halloween' geraram séries de sequelas aparentemente intermináveis) como nos anos 90, quando uma semi-paródia do género intitulada 'Gritos' ajudou, ironicamente, a despertar o interesse de toda uma nova geração por este estilo de filme. Como consequência (previsível, diga-se de passagem) o público jovem assistiu, durante a década seguinte, ao aparecimento de uma verdadeira 'torrente' de filmes de terror nestes moldes, alguns dos quais viriam a fazer tanto sucesso quanto 'Gritos', e a gerar tantas sequelas (como a série 'Destino Final') mas cuja grande maioria não almejava a ser mais do que entretenimento descartável, destinado a gerar uns 'cobres' no imediato, mas sem pretensões a clássico do género.

O filme de que falamos esta semana – e que celebrou recentemente o vigésimo-quinto aniversário da sua estreia nas salas lusas – ficas lgures entre estas duas vertentes: o seu estatuto de 'primeiro seguidor' de 'Gritos' confere-lhe alguma distinção e memorabilidade extra por comparação com produtos posteriores, mas a obra em si rendeu, à época, uma única sequela, não tendo chegado aos píncaros de popularidade gozados pela franquia rival, e sendo hoje, sobretudo, lembrado como um dos vários filmes parodiados no primeiro 'Um Susto de Filme', alguns anos depois.

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Falamos de 'Sei o Que Fizeste no Verão Passado', estreado 'por cá' na Primavera (a 3 de Abril de 1998) e que trazia nos papéis principais os então ícones da cultura adolescente Sarah Michelle Gellar (a eterna protagonista de 'Buffy, a Caçadora de Vampiros', e que também marcaria presença na primeira sequela de 'Gritos', lançada no mesmo ano), Jennifer Love Hewitt, Ryan Phillippe e o 'bonitão' Freddie Prinze Jr. Um elenco feito 'à medida' para levar o público-alvo às salas de cinema, e que se encontrava bem escudado pela experiente Anne Heche, no papel da irmã do homem atropelado pelos quatro jovens protagonistas durante um passeio de carro, e que volta para se vingar dos mesmos da maneira mais extrema possível.

Este elenco de jovens (e não tão jovens) talentos é, aliás, crucial para credibilizar um filme que, a nível de guião, pouco ou nada acresce ao género, traduzindo-se essencialmente na habitual hora e meia de pessoas bonitas a gritar enquanto tentam fugir de um assassino, e a tomar todas as habituais decisões erradas que resultam na sua inevitável morte (à exepção, claro está, do casalinho principal.) Ou seja, exactamente a mesma fórmula que informara as obras originais do género, quinze a vinte anos antes, e que já na altura era parodiada de forma mais ou menos 'brutal' pelo referido 'Gritos 2', e mais tarde por 'Um Susto de Filme', já no Novo Milénio – algo que até nem é de estranhar, dado a inspiração do filme ter vindo de um livro publicado em 1973, anos ANTES do primeiro filme do género ser concebido.

Ainda assim, talvez pelo factor 'novidade' para o público jovem da altura (que não conhecia, necessariamente, os referidos pioneiros do género) o filme conseguiu suplantar esta falta de originalidade e afirmar-se como um relativo sucesso de bilheteira, capaz de gerar uma 'pegada cultural' suficiente para justificar uma sequela no ano seguinte.

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Com o óbvio título de 'Ainda Sei o Que Fizeste o Verão Passado', este segundo (e último) capítulo traz novamente Love Hewitt e Prinze Jr na pele do casal principal, aos quais se juntam outros nomes culturalmente relevantes para os jovens da altura, como Brandy, Mekhi Phifer e Matthew Settle. Desta feita, a trama desenrola-se num cenário paradisíaco – que irá, claro, tornar-se de pesadelo para o grupo de protagonistas, e sobretudo para a Julie de Hewitt, de quem o assassino pretende vingar-se após os eventos do primeiro filme. Uma sequela que – mais uma vez – adopta uma fórmula típica, sem grandes inovações ou novidades, mas que conseguiu ainda assim ser um sucesso de bilheteira.

É, portanto, pouco claro porque é que 'Sei o Que Fizeste...' foi incapaz de se tornar numa franquia a nível de 'Gritos', 'Destino Final' ou de qualquer das séries originais do género 'slasher'; ainda assim, quem era de uma certa idade em 1997 certamente terá pelo menos algumas memórias deste filme, cuja relevância (à época, mais do que actualmente) lhe confere o merecido direito a uma menção nesta nossa rubrica ao quarto de século da sua estreia em Portugal.

07.04.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O ano de 1998 pode ser considerado como assinalando o verdadeiro 'despontar' de Leonardo DiCaprio enquanto actor de 'primeira linha' em Hollywood; embora o bem-parecido jovem já contasse, à época, com alguns papéis dignos de nota (alguns, inclusivamente, aclamados pela crítica, como o do irmão do Gilbert Grape de Johnny Depp no filme homónimo) foi em finais de 1997 que o actor verdadeiramente 'explodiu' na cena cinematográfica, com a conquista do papel principal no mega-sucesso 'Titanic', ainda hoje uma das maiores receitas de bilheteira da História do cinema moderno.

Este novo estatuto trazia consigo, no entanto, um novo desafio: o de escolher entre a vertente de carreira como ídolo juvenil e a que conduzia ao reconhecimento como actor 'a sério'. A solução encontrada pelo jovem foi a de assumir uma posição de compromisso, não hesitando em fazer uso da sua aparência física para 'vender' filmes mas, ao mesmo tempo, entregando-se a projectos algo mais desafiantes do que as típicas comédias românticas que o 'rival' pelas afeições das jovens da época, Brad Pitt, vinha ainda fazendo. O primeiro desses projectos, que completa este fim-de-semana de Páscoa vinte e cinco anos sobre a sua estreia em Portugal, foi uma adaptação de um romance de Alexandre Dumas, onde DiCaprio encabeçava um elenco recheado de estrelas do calibre de Gérard Dépardieu, Jeremy Irons ou John Malkovich.

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Tratava-se de 'O Homem da Máscara de Ferro', obra do relativamente desconhecido Randall Wallace que chegava às salas portuguesas a 10 de Abril de 1998, e que trazia DiCaprio no papel do mítico prisioneiro francês do reinado de Luís XIV, o qual se vê a braços com os quatro famosos mosqueteiros do 'Rei Sol', aqui já bastante envelhecidos e interpretados com maestria por Irons, Malkovich, Dépardieu e Gabriel Byrne. Para crédito de DiCaprio, o mesmo não faz má figura frente a estes mestres da representação, conseguindo manter bem distintos os papéis do prisioneiro (conhecido apenas como Philippe) e do próprio Rei, seu irmão gémeo secreto. O resultado é um filme que, apesar de relativamente mal recebido pela crítica à época do seu lançamento, continua a afirmar-se como uma obra de qualidade um quarto de século após o seu lançamento, e que tem o mérito indelével de ter destronado 'Titanic' do seu hegemónico reino de seis meses sobre as bilheteiras norte-americanas. tendo-se assim DiCaprio 'substituído' a si mesmo no lugar cimeiro da tabela. Título bem merecedor, portanto, da distinção que lhe prestamos neste vigésimo-quinto aniversário do seu lançamento em Portugal, e que continua a constituir uma excelente opção para uma tarde ou noite de cinema em família.

24.03.23

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Os filmes de animação de finais do século XX tendiam a estar associados a um de três nomes: por um lado, o da tradicional e decana Walt Disney, então a atravessar um 'renascimento' que lhe viria a render um segundo estado de graça, por outro o da 'estreante' Pixar e, apenas um meio passo atrás, o do realizador Don Bluth, o qual, em parceria com a Amblin Entertainment de Steven Spielberg, deixaria um legado de 'clássicos' de animação modernos. E apesar de a melhor fase do criador ter tido lugar entre meados da década de 80 e inícios da seguinte – quando produziu obras-primas como 'Fievel, Um Conto Americano' (e respectiva sequela), 'Em Busca do Vale Encantado' e 'Todos os Cães Merecem o Céu' – os últimos anos do século XX ainda veriam ser lançado pelo menos mais um clássico com o nome de Bluth à cabeça: 'Anastasia', uma versão ficcionalizada, bem ao estilo da concorrente Disney, da história verídica de Anastasia Romanoff, czarina russa que, reza a lenda, terá sobrevivido ao atentado que vitimou a sua família em 1917.

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Considerado hoje como o filme que marcou o regresso à forma do realizador norte-americano após obras menos conseguidas como 'Um Duende no Parque', 'Hubie, o Pinguim' ou a sequela de 'O Segredo de Nimh', a animação estreou em Portugal há quase exactos vinte e cinco anos, tendo chegado aos cinemas nacionais a 27 de Março de 1998, e conseguido boa aceitação entre o público infanto-juvenil nacional, apesar (ou talvez por causa) das semelhanças com as obras que a Disney vinha, à época, lançando anualmente. E se é verdade que o filme contém muitos dos elementos que se tornaram sinónimos com as animações da companhia do Rato Mickey – da protagonista que deseja mais da vida ao par romântico 'atrevido' e bem-parecido, sem esquecer os alivios cómicos, o vilão de traços angulares e, claro, as canções - nem por isso o mesmo deixa de ser um exemplo extremamente bem conseguido de um filme de família, capaz de maravilhar e até assustar o público-alvo (muito por conta do vilão Rasputin, uma daquelas criações que a equipa de animadores da Disney talvez desejasse ter concebido) sem descurar o público mais adulto – uma dicotomia que os melhores filmes animados e de família tendem a valorizar, e a saber balancear.

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O núcleo central de personagens do filme era bastante bem conseguido, com destaque para o pérfido vilão, Rasputin.

Talvez por isso 'Anastasia' se tenha tornado um dos 'clássicos menores' da animação dos anos 90, que, sem chegar ao nível de notabilidade de um 'Aladino' ou 'O Rei Leão', não deixa ainda assim de fazer parte das memórias nostálgicas de muitas crianças – portuguesas e não só. E a verdade é que tanto a animação quanto a história do filme 'envelheceram' marcadamente bem, afirmando-se como perfeitamente aceitáveis (e até acima da média) mesmo um quarto de século após o seu lançamento, e fazendo de 'Anastasia', ainda hoje, uma excelente proposta para um fim-de-semana chuvoso em família, em frente à televisão – quem sabe, como comemoração da data marcante que ora se assinala...?

16.03.23

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

A imprensa portuguesa dos anos 90 e 2000 albergava uma série de títulos especializados de produção cem por cento nacional e alusivos aos mais diversos temas, que nada ficavam a dever aos seus equivalentes internacionais; da música aos videojogos. banda desenhada, veículos, desportos radicais ou até defesa do consumidor eram inúmeras as instâncias deste tipo, que faziam as delícias não só dos mais jovens como do público em geral, com os seus elevados padrões de qualidade e clara paixão pelos campos e temas abordados.

Um meio em particular não tinha, durante esta década, direito à sua própria publicação especializada – o cinema. Apesar do enorme sucesso que a maioria dos 'grandes' filmes atingia no nosso País, tardava a surgir uma revista ou jornal exclusivamente àcerca deste meio que viesse suceder às publicações análogas existentes em décadas anteriores, tendo os leitores mais curiosos de se contentar com as críticas e secções sobre filmes incluídas nos jornais generalistas da época. Foi apenas já na ponta final da década de 90, a um escasso par de meses do século XXI e do Novo Milénio, que se verificou a primeira tentativa de criar uma publicação deste tipo, através da habitual adaptação de um modelo estangeiro; o resultado seria a mais bem sucedida  revista especializada sobre cinema e filmes a surgir em Portugal até à data.

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(Crédito da foto: OLX)

Baptizada Premiere e lançada pela primeira vez nas bancas em Novembro de 1999, pelo grupo editorial francês Hachette, esta publicação de aspecto e apresentação luxuosos (como convinha a uma revista sobre as estrelas de Hollywood) trazia todos os conteúdos expectáveis num título deste tipo, das críticas com o habitual sistema de classificação por estrelas a matérias sobre os grandes filmes em estreia, notícias sobre títulos ainda em promoção u entrevistas com actores em destaque naquele mês; no fundo, a mesma fórmula adoptada em outros campos por publicações como o Blitz, a Riff, e outras revistas e jornais subordinados a úm único tema.

Escusado será dizer que esta cuidada adição ao panorama editorial português se revelou um sucesso, com os cinéfilos do início do Milénio a apreciarem sobremaneira o preenchimento daquela que era uma lacuna considerável no mercado nacional. A Premiere não tardaria, por conseguinte, a estabelecer-se 'de pedra e cal' nas bancas lusitanas, onde marcaria presença mensalmente durante os oito anos seguintes, sempre com as últimas novidades sobre lançamentos ou projectos cinematográficos.

Tal como costuma suceder com este tipo de publicações, no entanto, também o ciclo da Premiere se viria a fechar – sendo, aliás, este o aspecto mais fascinante da trajectória da revista no nosso País. Isto porque a publicação em causa foi cancelada, não uma, mas DUAS vezes: a primeira série, da Hachette, seria interrompida em 2007, a quatro números de atingir a centésima edição, mas a revista seria 'repescada' menos de um ano depois, agora pela mão do grupo Multipublicações, tendo esta segunda série falhado 'por pouco' outra marca emblemática - no caso a das quarenta edições – aquando do cancelamento definitivo em 2012. E apesar de o término desta publicação poder parecer prematura ou até desavisada face à falta de alternativas no mercado, a verdade é que, à data da extinção da revista, o panorama da imprensa escrita se encontrava já em rápido declínio a nível mundial com muitos cinéfilos a procurarem opiniões sobre os seus filmes favoritos, não numa revista, mas em sites como o iMDB e o Rotten Tomatoes, o que acabava por afectar os volumes de vendas de títulos como a Premiere. Ainda assim, quase um quarto de século após o seu aparecimento, a revista em causa continua a constituir caso de louvor no mercado editorial português, e a saldar-se como uma experiência mais do que bem-sucedida - como o comprovam, aliás, os diversos títulos sobre cinema surgidos na sua esteira - e certamente nostálgica para quem se habituou a rumar à banca mensalmente para ler sobre os seus filmes e actores favoritos.

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