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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.05.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Numa das primeiras Quartas aos Quadradinhos deste nosso 'blog', falámos da Turma da Mônica, um dos mais bem-sucedidos grupos de personagens de quadradinhos de sempre, rivalizado apenas pelos patos e ratos da Disney e pelos principais super-heróis da Marvel e DC. E ainda que, em Portugal, as criações de Mauricio de Sousa não chegassem a atingir o nível de impacto que tinham no seu Brasil natal (onde são verdadeiros ícones culturais) a sua popularidade entre os bedéfilos lusos era, ainda assim, suficiente para justificar tanto a criação de esculturas dos personagens num parque urbano como a importação de certos artigos com as efígies de Mônica, Cebolinha e restantes amigos. Destes, destacam-se as linhas de roupa, os bonecos de vinil, e talvez o mais lembrado por quem foi jovem em finais do século XX, e ao qual já aludimos aquando do 'post' original sobre a Turma: o delicioso chocolate de 'duas cores' que gozou de uma curta mas memorável presença nas prateleiras dos supermercados e hipermercados nacionais da época.

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De conceito algo semelhante ao do Kinder Surpresa, pelo menos no tocante à mistura de cores, o chocolate Turma da Mônica era vendido, não em barra, mas em 'packs' de quatro ou cinco chocolates individuais, aproximadamente do tamanho de uma palma da mão infantil, cada um deles composto por uma 'moldura' de chocolate de leite, no centro da qual era incrustada uma recriação surpreendentemente detalhada de um dos membros da Turma, feita de chocolate branco, criando assim a sempre saborosa dicotomia que garantia o sucesso dos produtos Kinder. E se, para um fã da Turma, não deixava de ser difícil dar aquela primeira 'dentada' na personagem favorita (sendo hábito 'roer' primeiro a moldura circundante, deixando a parte branca para o fim), a verdade é que o sacrifício compensava largamente, já que o resultado da combinação dos dois tipos de chocolate era nada menos do que delicioso, com o chocolate de leite bem rico (com a qualidade da Nestlé) a colmatar bem a doçura excessiva típica do chocolate branco. Difícil, pois, era comer um só destes chocolates, tendendo os pacotes a 'desaparecer' rapidamente, deixando para trás apenas o postal incluído como brinde em cada embalagem, e que retratava os personagens de Mauricio numa variedade de contextos, de cenas quotidianas a recriações de histórias clássicas.

Ao contrário do que sucedeu no Brasil, no entanto - onde o chocolate foi trazido de volta no seu formato original anos depois de ter sido descontinuado - o brinde, a qualidade, o sucesso e a licença 'sonante' não foram, no entanto, suficientes para manter o chocolate Turma da Mônica nas prateleiras a longo-prazo, vindo o mesmo a desaparecer pemanentemente, sem grande 'alarde', ao fim de um par de anos; uma verdadeira pena, já que qualquer pessoa que tenha comido uma daquelas 'molduras' individualmente embaladas certamente a terá como um dos seus chocolates favoritos de sempre, e a incluirá ao lado de uns Galak Buttons na lista de alimentos que desejaria, um dia, poder voltar a provar...

02.05.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Há precisamente uma semana, falámos neste mesmo espaço dos ovos Kinder, uma das mais icónicas guloseimas entre as crianças e jovens de Portugal desde a sua entrada no mercado, há já mais de quatro décadas; e apesar de, nesse 'post', termos abordado de relance os brindes dos referidos ovos, é inegável que aquela que, para muitos, era a principal razão para comprar estes ovos merece o seu próprio capítulo neste nosso 'blog'. É, pois, sobre as Quinquilharias contidas naqueles memoráveis cilindros amarelo-ocre que falaremos esta Quinta – especificamente, sobre as colecções de figuras que representavam o 'Santo Graal' desta categoria de brinde.

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De facto, apesar de nunca deixar de ser agradável encontrar dentro do ovo o tradicional carrinho ou avião, ou uma das assumidamente criativas obras de micro-engenharia baseada em eixos e rodas-dentadas, qualquer criança ou jovem na posse de um Kinder Surpresa tinha a secreta esperança de que o mesmo ocultasse um 'boneco' de qualquer que fosse a série então vigente – e foram muitas as promovidas pela Kinder durante este período. Normalmente tematizadas em torno da antropomorfização de uma espécie animal e de um qualquer conceito-base (como hipopótamos desportistas ou incongruentes tubarões persas) estas colecções exibiam, invariavelmente, enorme atenção ao detalhe, praticamente ao nível da dos brindes que o McDonald's veiculava, na mesma época, no tradicional Happy Meal – ainda que a uma escala bastante mais pequena, aproximadamente do mesmo tamanho das Matutolas, da Matutano, ou das figuras da linha Monsters In My Pocket – tornando-as assim particularmente apetecíveis para um público-alvo com gosto tanto pelo coleccionismo como pelos 'bonecos' e figuras de acção.

Foi, pois, com naturalidade que estas diferentes colecções conseguiram sucesso consecutivo junto da demografia em causa, e se tornaram os mais desejados e cobiçados de todos os brindes oferecidos pela Kinder ao longo da sua existência em território luso, o que, por sua vez, torna também natural que sejam motivo de destaque da secção dedicada a pequenas 'bugigangas' neste nosso 'blog' nostálgico - sobretudo por, algures no Novo Milénio, a Kinder ter deixado de lado estas colecções, 'atirando-as' para a categoria de 'relíquias' que as gerações Z e Alfa nunca terão ensejo de partilhar com os seus antecessores. Quem cresceu com estes bonecos, no entanto, certamente não terá dificuldade em explicar aos mais jovens a razão do apelo dos mesmos – bastando, para isso, mostrar-lhes a presente edição desta nossa rubrica...

25.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 em Portugal ficaram, para o segmento que era então de uma certa idade, marcados (entre outras coisas) por um autêntico 'festim' de doces e guloseimas das mais diversas índoles, algumas ainda 'vivas' (embora significativamente diferentes) e outras desaparecidas para sempre. No entanto, por muito populares que fossem a maioria destes doces e salgados, apenas uma fracção de entre eles atingiu um estatuto verdadeiramente icónico entre os 'putos' da época, fosse pelos apetecíveis brindes que oferecia (como no caso das batatas fritas da Matutano), por se tratar de um 'prazer guloso' (como os Bollycaos ou os Galak Buttons) por ser encontrada um pouco por todo o lado e estar ao alcance até mesmo da mais vazia das carteiras (como as pastilhas Gorila) ou, no caso do produto de que falamos hoje, devido a uma combinação de todos esses factores. Sim, chega agora, finalmente, a vez de falar daquela que talvez seja 'A' guloseima por excelência desse período da História portuguesa, e um pouco até aos dias de hoje: o ovo Kinder.

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Vastamente imitadas, mas nunca igualadas, aquelas deliciosas ovais feitas de dois tipos de chocolate (por fora 'normal', castanho e de leite, e por dentro branco) penetraram o mercado português na década de 80 para não mais o abandonarem, fazendo as delícias de várias gerações não só com a referida (e apetitosa) combinação, mas também (sobretudo) devido ao que continham no seu interior: um cilindro de plástico amarelo, aparentemente simples, mas que qualquer criança ou jovem sabia conter o segredo da felicidade – pelo menos no imediato. Isto porque cada uma das referidas cápsulas continha um pequeno brinquedo de montar ou, em alternativa, uma figura coleccionável de qualquer das inúmeras linhas que a Kinder promovia à época, normalmente tematizadas em torno de espécies animais, e que em breve aqui terão a sua própria Quinta de Quinquilharia. Assim, a compra de um ovo Kinder permitia não só a degustação de chocolate de alta qualidade, mas também a 'surpresa' adicional do brinquedo no interior (daí o nome 'oficial', Kinder Surpresa), oferecendo uma combinação irresistível para qualquer menor de idade; foi, pois, com naturalidade que a Kinder rapidamente se afirmou como uma das líderes do mercado dos chocolates em Portugal, à semelhança do que acontecera já em países como a sua Alemanha natal, o Reino Unido ou a vizinha Espanha.

Conforme acima referido, a marca alemã conseguiria manter essa mesma hegemonia ao longo das quatro décadas seguintes, sendo ainda hoje possível encontrar nas prateleiras ovos Kinder Surpresa; no entanto, os mesmos comportam já algumas diferenças significativas em relação aos que punham a 'salivar' qualquer membro das gerações 'X' ou 'Millennial'. Isto porque, em algum ponto da trajectória da Kinder em Portugal, a produção do chocolate para os referidos ovos deixou de ser centralizada, passando os mesmos a provir de Espanha; com esta mudança, veio um acréscimo no açúcar, passando os referidos ovos a saber menos a 'eles mesmos' e mais a um qualquer outro chocolate. Assim, quem, de momento, quiser recuperar o sabor da infância terá de se deslocar ao estrangeiro, onde os ovos permanecem como eram em Portugal naquela época – embora o elevado volume de problemas e escândalos em que a Kinder se vê periodicamente envolvida possa, potencialmente, servir como elemento desencorajador dessa 'viagem' nostálgica. O melhor mesmo, para poupar tempo, dinheiro e potenciais dissabores, será utilizar esta breve homenagem a um dos grandes doces da infância portuguesa de finais do século XX como forma de 'regressar' àquele tempo, ainda que apenas mentalmente, e sentir na boca aquele 'gostinho' da primeira trinca num ovo Kinder...

14.03.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

As últimas duas décadas do século XX foram pródigas na expansão do conceito de 'sinergias multimédia', a prática de marketing que prevê a utilização de propriedades intelectuais de índole comercial em vários tipos de conteúdo apropriado (e apreciado) pelo público-alvo. Nos anos 80, este paradigma manifestou-se, sobretudo, na criação de desenhos animados para absolutamente qualquer personagem que atraísse, mesmo que brevemente, a atenção das crianças e jovens, ou que uma companhia quisesse implementar no mercado; já na década seguinte, o foco 'desviou-se' para outros campos do interesse do público mais jovem, como os videojogos, a música (chegando a haver mascotes com direito ao seu próprio CD) e mesmo a banda desenhada. E ainda que este último campo não tenha sido particularmente prolífico em produtos 'sinergísticos', há, ainda assim, a registar algumas ocorrências deste tipo de prática, sejam no sentido de utilizar personagens estabelecidos para campanhas, ou de dar a mascotes oriundas de outros meios a sua própria aventura em 'quadradinhos'; é neste último campo que se inserem os três livros de que falamos naquele que é mais um 'post' híbrido neste nosso 'blog'.

E sim, abordaremos todas as três edições simultaneamente, visto que, apesar de 'encomendadas' por companhias concorrentes, as três partilham de uma série de semelhanças quase demasiado grande para poderem ser consideradas coincidências. Senão, veja-se: todas foram lançadas na mesma altura, pela mesma companhia, estavam associadas a gamas de produtos com chocolate (cereais de pequeno almoço e bebidas solúveis, respectivamente) e contavam com duas das mais populares mascotes de cada empresa como protagonistas! Infelizmente, não nos é possível saber se estas similaridades são mesmo acidentais, ou se fazem parte de uma deliberada estratégia promocional por parte da Nestlé, já que a informação sobre ambos os livros, para lá das imagens de capa, peca por escassa.

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O único 'sobrevivente' da série 'Las Aventuras de Quicky' a chegar a Portugal.

Das duas publicações, é sobre a da Nesquik que são conhecidas mais informações, sobretudo graças à página de Wikipédia relativa à edição espanhola. É através dela que ficamos a saber que, no país vizinho, 'As Aventuras de Quicky' constituíram uma série de três volumes, das quais apenas o primeiro, 'O Mistério das Urtigas', parece ter atravessado a fronteira. Como os seus dois 'irmãos' – 'O Impostor' e 'O Pingente Negro', em tradução livre – o livro em questão é uma produção cem por cento espanhola, a cargo do autor e desenhista Ramón María Casanyes, mais conhecido como o autor de dois dos muitos álbuns de Mortadela e Salamão, o mais famoso duo cómico espanhol. Inicialmente relutante em aceitar o trabalho, o artista acabou por ser 'convencido' pela promessa de liberdade criativa – uma prerrogativa de que tirou o máximo partido, tendo reduzido propositalmente ao mínimo o elemento comercial das histórias e tentado transformá-las em verdadeiras tramas de banda desenhada, nas quais Quicky batalha contra o malvado Barão Von Apetite e resolve mistérios, como o que dá o título ao primeiro volume. Infelizmente, mesmo com toda esta informação, não é possível aferir as condições de obtenção deste livro, que apenas podemos adivinhar estar ligado a uma qualquer promoção dos cereais ou achocolatados Nesquik.

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As BD's do Chocapic, com a sua mascote como protagonista

Ainda menos informação existe acerca de 'Pico no País dos Samurais' e 'Pico no País dos Aztecas' sendo a que existe contraditória: certas fontes afirmam tratar-se de uma mini-banda desenhada (que, presumivelmente, viria colada ou mesmo dentro das caixas de Chocapic), outras dizem ser um álbum de capa dura. De igual modo, não existem na Internet actual quaisquer informações sobre a trama da BD (para lá das veiculadas pela própria capa e título) nem sobre os seus autores, ficando esta BD a meio caminho entre 'media desaparecida' e 'Esquecida Pela Net'. Uma pena, pois a própria proposta de uma aventura na companhia da icónica mascote do Chocapic (bem como, presumivelmente, do seu dono) é, em si mesma, fascinante.

Dada a especificidade da sua funcionalidade (eram, primeiramente, produtos promocionais, e só depois trabalhos artísticos) não é de admirar que ambas estas BD's tenham caído no esquecimento pouco depois de terminadas as respectivas promoções. Ainda assim, estamos em crer que haja, por aí, quem à época se tenha deliciado por receber um 'livro aos quadradinhos' na compra dos seus cereais ou achocolatado favorito, e se tenha deliciado a ler e reler as aventuras 'desenhadas' de Pico ou Quicky enquanto os saboreava...

30.11.23

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

O último dia do mês de Novembro marca, para muitas crianças e jovens das últimas três gerações, a data em que se adquire ou tira do armário o calendário do advento, e em que cresce a antecipação por um mês passado a procurar e abrir 'janelinhas' naquela 'caixinha mágica', e a desfrutar dos mini-chocolates escondidos por detrás de cada uma. No entanto, o que muitos dos actuais participantes nesta tradição podem não saber é que, em Portugal, o calendário do advento é uma tradição natalícia relativamente recente, remontando a sua vaga inicial de popularidade, precisamente, aos anos 90.

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Exemplo moderno, mas de estética muito parecida com os calendários dos anos 90.

De facto, apesar de existir há já quase dois séculos, e de ser parte integrante da quadra natalícia de muitos outros países, sobretudo no Norte da Europa, foi apenas já na 'recta final' do século XX que este tipo de produto começou a surgir nas prateleiras portuguesas, pela mão de chocolateiras ibéricas como a Regina e a Imperial. Escusado será dizer que a premissa de um jogo de observação cujo prémio eram chocolates não tardou a popularizar-se entre o público-alvo, sendo o mais difícil, muitas vezes, evitar que fosse comido mais do que um chocolate por dia; assim, não foi de todo surpreendente que os referidos calendários se tenham rapidamente estabelecido como parte integrante da decoração da sala ou cozinha de muitas famílias portuguesas durante o mês de Dezembro, estatuto que, aliás, mantêm até hoje.

De facto, tal como naqueles anos 90, continua a ser hoje relativamente comum ver crianças sair do supermercado com os respectivos calendários do advento (um por cabeça, claro) sendo a única diferença relativamente aos finais do século XX a presença de mais mascotes licenciadas nos desenhos da caixa – enquanto que há trinta anos os mesmos tendiam a representar apenas cenas natalícias 'genéricas', hoje, é possível encontrar calendários alusivos a franquias como PJ Masks, Patrulha Pata, LOL, Vingadores ou Barbie, entre muitos outros. De igual modo, muitos destes calendários são, agora, específicos a uma marca ou variante de chocolate (como Cadbury's, Kinder ou os diferentes chocolates da Nestlé, por exemplo) e existem mesmo versões tematizadas, em que os chocolates são substituídos por prémios como figuras da LEGO ou mesmo bebidas alcoólicas, no caso dos calendários para adultos.

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Exemplos de calendários licenciados e tematizados modernos.

Assim, apesar da sua relativa brevidade no panorama natalício português, é justo afirmar que os calendários do advento se afirmaram, logo desde essa altura, como parte tão integrante do mesmo como as iluminações, os catálogos de brinquedos na caixa do correio ou as 'visitas ao Pai Natal' no hipermercado. E apesar de esse mesmo paradigma ter, entretanto, sofrido algumas alterações, as caixinhas-surpresa de chocolates lograram manter o seu posto no contexto do mesmo, preparando-se para fazer novamente as delícias da juventude de Norte a Sul do País nesta quadra natalícia de 2023 – razão mais que suficiente para aqui recordarmos os anos em que a geração que hoje compra calendários do advento para os seus filhos teve, pela primeira vez, contacto com os mesmos...

23.03.23

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

De entre todos os chocolates e guloseimas disponíveis no mercado português durante os anos 90 (e mesmo hoje em dia), um em particular destaca-se por sobre todos os outros: os ovos Kinder, as deliciosas confecções de chocolate branco e de leite conhecidas pelas suas icónicas séries de mini-figuras, e de que aqui paulatinamente falaremos. E se comprar ou receber um ovo Kinder 'normal', no contexto de um passeio ou visita a familiares, já era motivo de deleite para qualquer criança, imagine-se receber uma versão em formato (e tamanho) de ovo de Páscoa do referido doce, com uma versão gigante (e, muitas vezes, licenciada a uma qualquer propriedade intelectual popular entre os mais jovens) do típico brinde no interior?

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Variante moderna do produto em causa.

Era precisamente essa a experiência que os 'putos' mais sortudos dos anos 90 (e também de gerações subsequentes) potencialmente viviam durante o período de Páscoa, altura em que a Kinder disponibilizava os seus ovos 'Gran Sorpresa', com brinquedos e brindes de tamanho 'normal' e cerca de dez vezes mais do delicioso chocolate de que desfrutar. Com esta conjugação de factores – a juntar a uma apresentação tão cuidada como a de qualquer produto concorrente – é de surpreender que estes ovos fossem um verdadeiro 'Santo Graal' para as crianças daquela época?

O principal obstáculo a este festim pascal de sonho, no entanto, mantém-se o mesmo até aos dias de hoje: o preço. Por razões óbvias (sendo de marca e trazendo um brinde bastante melhor que os da 'concorrência') os ovos Gran Sorpresa da Kinder eram, e continuam a ser, significativamente mais caros do que os homólogos de marcas como a Regina – uma situação, hoje em dia, mitigada pela grande variedade de oferta de produtos de Páscoa por parte da marca, mas que, numa altura em que os ovos gigantes eram uma das poucas opções disponíveis, acabava por 'matar pela raiz' o sonho de muitas crianças em receber um destes doces do 'coelhinho da Páscoa'. No entanto, qualquer ex-criança dos anos 90 (e, estamos em crer, também qualquer jovem dos dias de hoje) não hesitaria em considerar essa diferença de preço, e o investimento num destes ovos, justificado – afinal, quem não gostava (ou gostaria) de passar a Páscoa a 'empanturrar-se' de chocolate Kinder, enquanto brincava com o carrinho ou boneca Barbie que o mesmo trazia como brinde?

30.06.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Dizer que os anos 90 foram um tempo diferente é mais do que apenas um chavão; de facto, os últimos trinta anos viram tomar efeito na sociedade ocidental um número considerável de mudanças (para melhor) ao nível da tolerância à diversidade e da compreensão das diferenças, transversais a todos os sectores da sociedade, e com impacto considerável sobre cada um dos mesmos. O 'marketing' e design de produto não foi, de todo, excepção a esta regra, estando a maioria das companhias, hoje em dia, atenta ao aspecto sócio-cultural dos bens que comercializam, de modo a não ofender – intencional ou acidentalmente – qualquer minoria ou grupo de risco.

Serve isto para dizer que, nos dias que correm, seria praticamente impossível ver surgir nas prateleiras nacionais ou internacionais um produto como os Conguitos, que até nos mais 'insensíveis' anos da viragem do milénio chamava a atenção pela sua embalagem, e sobretudo pela sua mascote – um indígena africano estereotipado, de lança em riste, que certamente suscitaria, hoje, um sem-número de artigos de opinião, e colocaria a empresa responsável (a espanhola Lacasa) em riscos de 'cancelamento'.

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Mesmo há trinta anos, isto era 'puxado'...

Há trinta anos, no entanto, a embalagem até parecia combinar bem com as pequenas drageias de chocolate contidas no interior do pacote, e com o nome escolhido para as mesmas. Quem olhasse com mais atenção, aliás, veria que a mascote representava, na verdade, uma versão antropomórfica do próprio doce; ainda assim, como diz o ditado, no entanto, são as primeiras impressões que contam, e nesse aspecto, a Lacasa ficava muito mal na fotografia.

Mais surpreendente é verificar que, hoje em dia, a imagem dos Conguitos permanece essencialmente imutável - embora a mascote tenha perdido os elementos declaradamente africanizantes, a única outra alteração foi uma passagem do desenho tradicional para o CGI. Ou seja, a Lacasa continua, voluntariamente, a incorrer risco de boicote por parte da geração 'woke', mesmo estando ciente do panorama social de hoje em dia – uma opção surpreendente e que, para alguns, poderá mesmo influenciar a sua opinião do próprio produto alimentício. Para quem os comeu na infância, no entanto, os Conguitos continuarão, provavelmente, a ser apenas um chocolate perfeitamente aceitável (muito longe do nível dos ovos Kinder ou dos Galak Buttons) em que o principal chamariz estava mesmo na quase absurdamente datada mascote...

08.04.22

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 07 de Abril de 2022

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

As épocas festivas são, regra geral, indissociáveis das suas comidas típicas; mesmo em países menos enamorados da gastronomia do que Portugal, os pratos e guloseimas típicos de uma certa época são das primeiras coisas a vir à mente. E se, por terras lusas, o Natal é a principal 'festa gastronómica' - com os tradicionais bolo-rei, rabanadas, filhozes e bacalhau - a Páscoa pouco atrás lhe fica, sendo a época por excelência do folar e, claro, das amêndoas e ovos de chocolate.

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E se as crianças de hoje em dia têm muita e boa variedade de escolhas nesse capítulo, nos anos 90, a situação era - se possível - ainda melhor, com várias fabricantes de chocolate a atravessar 'estados de graça' que lhes permitiam pôr no mercado ovos cada vez mais extravagantes - muitos deles com brindes a condizer - que faziam as delícias das crianças de uma certa idade. Das mais ´humildes´, como Imperial e Favorita, às famosas, como a Kinder (cujos ovos eram, invariavel e previsivelmente, os 'reis' da época, pelo simples facto de mais não serem do que versões 'gigantes' dos famosos ovos da marca) eram muitas as alternativas ao dispôr das crianças - e respectivos pais - no que tocava a adquirir ovos para comer no fim-de-semana prolongado.

Melhor - a maioria destes ovos eram, após a aquisição, utilizados para o outro grande ponto alto do fim-de-semana pascal - a saber, a famosa caça aos ovos, tradição que continua bem viva, tanto em Portugal quanto em outros países, e que dá um colorido ainda mais especial à festa. Tanto assim é, aliás, que as caças aos ovos constituem uma das poucas instâncias em que a maioria das crianças não tem quaisquer problemas em se levantar mais cedo do que o habitual - especialmente por a recompensa de tal esforço ser uma divertida brincadeira a terminar em 'quilos' de chocolate...

Enfim, apesar de, no essencial, não diferir muito do que se vive actualmente (e do que se viveu em outras épocas) a Páscoa dos anos 90 pautava-se pela diversidade e qualidade dos seus doces e guloseimas, na sua esmagadora maioria irresistíveis para o público-alvo - e entre os quais os ovos de chocolate assumiam, previsivelmente, lugar de destaque...

24.02.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Hoje em dia, a prática de fumar tabaco é activamente desencorajada na grande maioria da sociedade ocidental, com medidas cada vez mais restritivas e alternativas cada vez mais viáveis a serem implementadas como forma de reduzir o número de afectados por este vício. No século passado, no entanto, não era exactamente este o paradigma; pelo contrário, até à última década do Segundo Milénio, o tabaco era uitas vezes visto como um símbolo de 'status' social, tanto por alguns adultos, como pela maioria das crianças e jovens - o que, em perspectiva, torna os esforços para erradicar esta substância da vida quotidiana das mesmas nada menos do que louváveis.

A não ajudar nada a este 'estado da arte' estava um produto bastante popular entre o público mais jovem, e que, pela sua natureza, se tornou naturalmente um dos primeiros e mais óbvios 'alvos' da guerra ao tabaco: os cigarros de chocolate.

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Muitas vezes com caixas a fazer lembrar (ou mesmo a imitar quase integralmente) os maços que os pais da demografia-alvo traziam no bolso, estes doces – que não faziam parte da categoria dos que se tinham em casa em permanência, sendo sobretudo um complemento a ocasiões especiais, como idas ao estádio para ver o futebol – revelavam também grande atenção ao detalhe no tocante ao interior do próprio pacote; isto porque não só o número de rolinhos de chocolate dentro do mesmo era mais ou menos equivalente ao número de cigarros num maço, mas cada um deles se encontrava envolto numa folha de papel de seda, que (pelo menos à primeira vista) criava um efeito muito semelhante ao da mortalha de um cigarro de verdade, Quando combinados com as caixas também bastante cuidadas, estes elementos ajudavam a criar uma ilusão que, embora na prática desfeita assim que o 'cigarro' era desembrulhado e se transformava 'apenas' em chocolate, permanecia na imaginação das crianças durante o tempo suficiente para se acabar de comer os doces em causa – ou antes, de os segurar entre os dedos e fingir tirar 'bafos', que eventualmente se transformavam em trincas.

Este aspecto – o de constituir não só um doce, como também um veículo para uma brincadeira de 'faz-de-conta' – era mesmo o principal atractivo dos cigarros de chocolate, cujo gosto, por si só, nunca os teria tornado tão populares como o foram. De facto, embora muitas vezes comercializados por companhias de renome na indústria do chocolate – como a francesa Jacquot ou a brasileira Garoto – aqueles rolinhos tinham um gosto muito característico, que só quem comeu saberá evocar; a consistência era, ao mesmo tempo, crocante e arenosa (quase como a de um salame de chocolate, por exemplo) enquanto o paladar ficava marcado pelo excesso desnecessário de açúcar, ficando ao nível daqueles 'sucedâneos' de chocolate vendidos em barra, e também bastante populares à época. Enfim, um chocolate 'barato' (objectivamente, nem ao nível daqueles chocolates em forma de bolas de Natal chegava) que alicerçava toda a sua estratégia de 'marketing' e vendas no aspecto e abordagem diferenciados – os quais, felizmente, acabavam por resultar favoravelmente.

Hoje em dia - e apesar de uma caixa de cigarros de chocolate não ser avistada numa prateleira de café ou supermercado há pelo menos um quarto de século – estes doces podem ainda ser adquiridos nessa 'caixinha de tesouros' e surpresas chamada Internet; no entanto, com a 'mística' em torno do tabaco drasticamente diminuída pelas medidas referidas no início deste texto (e a pouca qualidade do produto em si) é de duvidar que os mesmos voltem a ser populares entre o público jovem, como o foram no início dos anos 90. Posts como este, e outros facilmente acessíveis mediante uma rápida pesquisa, provam que o valor dos cigarros de chocolate é, hoje em dia, puramente nostálgico - e ainda bem, já que existem nos escaparates opções bem melhores pelas quais arriscar cáries e quilos a mais...

30.10.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Nas primeiras edições desta rubrica, abordámos o fenómeno dos hipermercados e dos shoppings, e o fascínio que – por factores como a dimensão e a novidade – os mesmos exerciam nos jovens portugueses dos anos 90; hoje, damos conscientemente um passo atrás, a fim de demonstrar como uma ida ao bom e honesto supermercado do bairro podia, também, ser uma experiência divertida e fascinante, ainda que não tão memorável quanto as atrás descritas - até porque bastante mais corriqueira.

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De facto, ao passo que uma ida ao hipermercado implicava, muitas vezes, um planeamento cuidado de todo ou quase todo o dia, a visita ao supermercado fazia-se de forma bem mais espontânea, estando o único planeamento relacionado com a execução de uma lista de compras e uma vista de olhos ao folheto, para perceber onde cada produto se poderia encontrar mais barato. A partir daí, bastava pôr pés a caminho até à sucursal local do supermercado pretendido e adquirir os produtos necessários.

A simplicidade e mundaneidade deste processo escondiam, no entanto, um atractivo adicional para as crianças e jovens mais curiosos. Isto porque os supermercados dos anos 90, muito menos padronizados e mais individuais que os de hoje em dia, escondiam mil e uma surpresas, fossem os carrinhos que apenas se soltavam após a inserção de uma moeda, os expositores de nozes a granel (das quais se conseguiam sempre 'roubar' algumas para a boca) as secções de brinquedos (bem mais pequenas que as dos hipermercados, mas ainda assim de algum interesse) ou até simplesmente produtos bem do agrado das crianças, como bolachas, sobremesas, bolos, iogurtes ou cereais - já para não falar da oportunidade de ajudar os pais ou familiares a procurar cada produto, tirá-lo do expositor e colocá-lo no carrinho, um acto simples, mas que deixava muitos de nós pouco menos que ufanos da nossa utilidade.

Para as crianças mais pequenas, havia ainda o divertimento de se sentar dentro do próprio carrinho e ser 'conduzido' numa visita guiada às prateleiras, sendo que alguns supermercados incorporavam mesmo uma área para este fim nos seus carrinhos, talvez a fim de evitar que as crianças tivessem de se sentar na área destinada às compras. No fim da visita, para os mais bem comportados, havia ainda a (forte) possibilidade de ser presenteado com um doce – como um chupa-chupa, um chocolate, um pacote de Sugus ou uma simples pastilha – ou uma banda desenhada, como recompensa pela maturidade demonstrada. Razões mais do que suficientes para considerar a simples e singela visita ao supermercado da esquina, na companhia dos pais ou avós, como parte integrante da experiência da infância, quer nos anos 90, quer hoje em dia.

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