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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

16.11.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

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Os meses finais de cada ano ficam, no Portugal rural, marcados por duas tradições anuais, ambas com vasta e reconhecida História, e ambas ligadas à colheita e tratamento de frutos: por um lado, as vindimas, e, por outro, a apanha da castanha. E se, hoje em dia, ambas as actividades recorrem a uma forte componente mecânica, há trinta anos, as duas envolviam ainda uma parcela muito mais significativa de trabalho manual, para a qual os membros mais jovens de cada família produtora não deixavam de contribuir. Não é, pois, de surpreender que grande parte dos 'millennials' portugueses nascidos ou criados fora dos ambientes citadinos retenham memórias nostálgicas ligadas a estes dois rituais anuais, e ao papel que eles próprios desempenhavam nas mesmas.

Fosse apenas a apanhar, fosse a pôr as mãos (e pés) 'na massa' ao ajudar a pisar as uvas, eram muitas as formas como os jovens agricultores de finais do século XX podiam contribuir para o processo de recolher e preparar uvas, castanhas ou mesmo outros frutos de época, prestando assim auxílio aos pais e avós, e ajudando a reduzir os volumes de trabalho dos mesmos. E apesar de, na época em causa, a prática de não enviar os filhos para a escola de modo a participarem nestes processos fosse já muito menos frequente do que em gerações anteriores, não será surpreendente que muitos dos visados por este 'post' tenham mesmo deixado, ocasionalmente, a educação de parte durante estes e outros períodos do ano, em que a necessidade de colher o sustento falava mais alto. Mais do que apenas uma obrigação, no entanto, estas actividades ajudavam também a reforçar os laços familiares, e faziam com que os mais pequenos se sentissem membros úteis e produtivos do agregado, quase como se fossem versões em miniatura dos adultos – algo capaz de encher qualquer jovem de orgulho, independentemente da geração ou contexto social.

Infelizmente, a crescente mecanização e contratação de mão-de-obra externa tem, lentamente, vindo a acabar com tais rituais para as famílias rurais portuguesas; no entanto, quem ainda teve ensejo de neles participar certamente não hesitará em transmitir aos filhos, por via oral, as experiências que vivenciou em criança ou adolescente, preservando assim a memória destas importantes tradições sócio-económicas do quotidiano rural português para as gerações vindouras.

15.11.23

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.

Apesar de se irem gradualmente perdendo nos dias que correm, as lendas e tradições orais portuguesas estavam, ainda, bem presentes na sociedade de finais do século XX e, por conseguinte, no imaginário de muitas das crianças que a habitavam. De facto, a maioria dos jovens portugueses da época era capaz de descrever, mesmo por alto, pelo menos uma das histórias populares portuguesas, sendo uma das mais conhecidas aquela que explicava a razão para ser feriado, se saltarem fogueiras e se comerem castanhas no início da segunda semana de Novembro, e para o tempo ficar, invariavelmente, mais solarengo e outonal durante esse período.

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A figura que deu origem à lenda.

Falamos, claro está, da lenda do S. Martinho, um personagem – como tantos outros de tantas outras lendas – baseado numa figura real, a de um cavaleiro gaulês do mesmo nome, que, no século IV (concretamente no ano de 337) pregava a fé cristã no Sul da Europa. A lenda em si reza que, ao viajar por uma qualquer estrada portuguesa durante uma tempestade, o mesmo terá encontrado um mendigo, a quem deixou a única coisa que tinha para dar: a capa que levava às costas, e que sabia poder ajudar o homem a proteger-se da tormenta – uma boa acção que, em conjunto com outras praticadas numa fase posterior da vida, lhe valeria o título de Santo por toda a Europa, e que faria do suposto dia do encontro (11 de Novembro) feriado nacional nos países Ibéricos, bem como em França, em Itália e na Alemanha (onde as celebrações não envolvem castanhas, mas sim fogueiras e procissões.)

E por falar em castanhas, as mesmas surgem aliadas à celebração, sobretudo, por o feriado calhar na época da sua apanha, não havendo qualquer significado simbólico para o ritual que, para muitas crianças dos anos 90 e 2000, era praticamente sinónimo com esse período do ano. Ainda assim, mesmo sem qualquer ligação esotérica à lenda, os frutos do castanheiro não tardaram a adquirir o estatuto de tradição, e ainda hoje se celebra o S. Martinho com os elementos de que fala o ditado popular, “castanhas e vinho” - uma combinação que, aliás, retém a popularidade pelo menos até ao Natal. Quanto à lenda em si, cabe à geração que a decorou, juntamente com tantas outras, assegurar que a mesma não se perde em meio aos ecrãs digitais da Geração Z, e que o dia 11 de Novembro constitui, para os mesmos, mais do que apenas mais um dia 'sem escola'...

11.11.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Em Portugal, em meados do mês de Novembro, ocorre, quase invariavelmente, um estranho fenómeno: durante alguns dias, o clima torna-se ameno, solarengo e tipicamente outonal, em claro contraste com a habitual chuva que marca o Outono e início Inverno nas latitudes ibéricas. E apesar de haver, certamente, uma explicação científica para tão abrupta e temporária mudança climatérica, na sabedoria popular, esta 'bonança' fica ligada à lenda do S. Martinho, sendo o período em causa conhecido como 'Verão de S. Martinho'.

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Um típico dia de 'Verão de S. Martinho'

Escusado será dizer que, em meio a uma estação que – conforme atrás referido – se tende a pautar pela chuva, este período mais ameno, aliado ao feriado que lhe está associado, serve de pretexto para pôr de lado as galochas (pelo menos por uns dias) e usufruir de uns belos Sábados aos Saltos por parte das demografias mais jovens; pelo menos, era esse o caso nos anos 90, quando a oferta digital não era, ainda, atractiva o suficiente para suplantar um dia de sol, sem escola, e com os amigos da rua ou do bairro igualmente livres para um sem-número de brincadeiras. Antes (ou depois) disso, na escola, comiam-se castanhas, como forma de celebrar a festa em causa, e no próprio dia, celebrava-se também o Magusto – efemérides que apenas ajudavam a tornar mais atractiva aquela semana de sol no meio do Outono.

E apesar de a mesma passar rápido, e rapidamente a vida voltar ao mesmo 'rame-rame' frio e chuvoso de sempre, a cada ano, havia sempre aquele 'oásis' pelo qual esperar, e que garantia que pelo menos uma das semanas do período de Outono era passada no exterior, em jogos e brincadeiras com os amigos, numa espécie de 'despedida' definitiva do Verão, que assim 'abalava' no cavalo de S. Martinho rumo ao outro lado do Atlântico, deixando memórias de inesquecíveis Sábados aos Saltos, e a esperança de os poder repetir uma vez regressado o calor.

Feliz Dia de S. Martinho!

12.11.22

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

Esta sexta-feira, celebrou-se o feriado bem português do São Martinho, que fica marcado, de Norte a Sul do País, pelas tradicionais festas do magusto que em ambientes mais citadinos se resumem praticamente ao consumo de castanhas assadas (em tempos disponibilizadas pelos tradicionais vendedores de rua), mas que em povoações mais pequenas acarretam uma série de outros elementos que as tornam uma Saída de Sábado (ou antes, de qualquer dia em que se dê a festa) verdadeiramente memorável, para os mais novos e não só.

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Nos anos 90, não era diferente, sendo as celebrações do magusto desse período muito semelhantes às actuais, ou às de décadas passadas, sendo esta, felizmente, daquelas tradições imunes a quaisquer avanços sociais ou tecnológicos – até pelo seu carácter bem presencial, com as famílias (e, por vezes, até grupos maiores, sobretudo nas aldeias, onde se trata de uma festa comunitária) a reunirem-se à volta da mesa ou de uma fogueira para conviver, comer as referidas castanhas e beber bebidas típicas da época (neste caso, mais os adultos que as crianças, dado o teor alcoólico da maioria dos acompanhamentos líquidos ligados à festa, dos quais se destaca o vinho novo.) Em certas partes do País, o magusto fica ainda ligado a tradições localizadas, como o 'furar das adegas' praticado nas Beiras, ou a matança do porco minhota.

Todos estes elementos – aliados aos que cada bairro ou povoação não deixava de adicionar à sua própria celebração – tornavam (e tornam) a noite de S. Martinho marcante para quem era (é) jovem e impressionável, sobretudo em ambientes menos urbanizados, onde as tradições eram, e continuam a ser, observadas a rigor - sendo que, para os citadinos, a data era, sobretudo, memorável pela oportunidade que oferecia de comer castanhas assadas na escola, muitas vezes no exterior, na companhia dos colegas de turma. Motivos mais que suficientes, portanto, para recordamos esta festa nas nossas páginas, e (espera-se) provocarmos nostalgia em todos aqueles que, em pequenos, as viveram....

10.11.22

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

No próximo dia 14 de Novembro, celebra-se o feriado de São Martinho, uma data que, derivado da lenda que a inspira, fica indelevelmente ligada a um alimento em particular: as castanhas assadas. No entanto, a referida festa está longe de ser a ÚNICA ocasião em que se consomem os deliciosos frutos secos – pelo contrário, qualquer cidadão português que se preze aproveita qualquer desculpa para comer mais uma dose das mesmas.

Em décadas transactas, um sem-número de vendedores ambulantes compreenderam isto mesmo, e investiram numa profissão que, apesar de apenas ser lucrativa uma vez por ano, não deixava de render dividendos no período entre o regresso às aulas e o Natal. Com os seus carrinhos munidos de forno a carvão, prontos a produzir mais uma fornada de 'quentes e boas' em matéria de poucos minutos, os saudosos 'senhores das castanhas' foram, em tempos não muito distantes, presença frequente em qualquer esquina urbana do País, para gáudio da clientela de todas as idades. E a verdade é que a experiência de combater o frio da rua com uma dose de castanhas tão quente que quase queimava as mãos, servida no tradicional cone de jornal (normalmente composto de uma parte da secção de Classificados) terá, sem qualquer dúvida, marcado a infância e juventude de milhares de jovens portugueses, não só em finais do século XX como também em décadas anteriores.

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Uma visão em tempos comum nas ruas portuguesas, e hoje praticamente desaparecida

Com o passar dos anos e o dealbar do novo Milénio, no entanto, deu-se um fenómeno algo entristecedor: os vendedores de castanhas começaram, gradualmente, a desaparecer das ruas do País. Se tal teve a ver com o aumento de preço da matéria-prima (da última vez que foram vistos, estes carrinhos cobravam uns exorbitantes dois euros por dose) ou com regras de higiene respeitantes à confecção das castanhas ou aos embrulhos feitos de páginas de jornal (motivo que também 'matou' esta prática no contexto do tradicional 'fish and chips', no Reino Unido) é um enigma ainda hoje por desvendar: seja qual fôr a razão, no entanto, a verdade é que os carrinhos que em tempos popularam as ruas das cidades portuguesas no início do Inverno se encontram, hoje, totalmente extintos, não havendo já sequer um 'Astérix' que resista ainda e sempre à adversidade (em Lisboa havia um, na Praça de Londres, mas mesmo ele acabou por 'aposentar' o carrinho há já alguns anos). Uma pena, dada a presença que estes vendedores tradicionalmente tiveram na 'vida de rua' portuguesa, e um fenómeno algo surpreendente, dado o pendor turístico de cidades como Lisboa e o Porto, que privam assim não só os locais, como os turistas de uma experiência tradicional e autêntica do Inverno português. Resta, pois, às gerações que ainda compraram castanhas a estes senhores preservar a memória dessa figura icónica, e assegurar-lhe o lugar que bem merece na História da vida quotidiana contemporânea portuguesa.

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