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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

31.10.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O sensacionalismo vende. Esta é uma máxima pela qual qualquer profissional de marketing, publicidade ou entretenimento se rege, e que foi adoptada e 'tomada a peito' por ambas as televisões privadas portuguesas a dado ponto da década de 90; e se, no caso da TVI, essa abordagem só se viria a verificar já nos últimos anos do século XX, a pioneira SIC 'abraçou-a' logo à partida, e fez dela um dos seus principais factores distintivos em relação à mais sóbria RTP. De facto, as primeiras grelhas do canal de Carnaxide continham, desde logo, uma série de programas destinados a apelar ao português médio – não o citadino, mas sim o habitante de meios mais suburbanos ou rurais, que fazia da televisão o seu principal veículo de escapismo, ao mesmo tempo que nela procurava conteúdos que fossem de encontro aos seus interesse; a SIC soube colocar-se precisamente nessa intersecção, e programas como o Buereré e Big Show SIC destacavam-se pela estética e ritmo deliberadamente exagerados, e raramente vistos em programas da RTP.

Paralelamente a este tipo de conteúdos, no entanto, havia uma série de outros que, apesar de aparentemente mais sérios, acabavam também por apelar aos instintos mais básicos do ser humano, nomeadamente a necessidade de experienciar a miséria alheia, um dos principais catalistas de programas como 'Ponto de Encontro', 'O Juiz Decide', ou a emissão de que falamos neste post, e sobre cuja estreia se celebraram este mês exactos trinta anos.

Casos-de-Polícia.webp

Tratava-se de 'Casos de Polícia', um suposto magazine noticioso cuja ênfase, como o próprio nome indicava, estava no elemento criminal, nomeadamente o residente em zonas periféricas ou de habitação social. E se o objectivo declarado do programa era dar a conhecer casos de interesse humano e diferentes realidades sociais existentes no País, a verdade é que tudo acabava por descambar para uma espécie de versão portuguesa do programa americano 'Cops', em que o grande interesse estava mesmo no 'sururu' e nas confrontações entre agentes da autoridade e meliantes – ou, à falta dos mesmos, na vida trágica e carenciada dos focados. O elemento informativo era, no entanto, recuperado pelos comentários do bem conhecido Francisco Moita Flores, que, em parceria com João Nabais, oferecia a típica visão mais avisada sobre cada um dos casos apresentados.

O resultado era um híbrido de Telejornal e programa sensacionalista (um pouco á semelhança do actual 'Rua Segura', da TVI) que, apesar de não ser especificamente dirigido a jovens, acabava por fazer parte daquele lote de programas que os mesmos consumiam através dos adultos do seu agregado familiar, acabando por formar parte da sua memória nostálgica. E ainda que esta emissão não tenha tido o mesmo impacto sobre a geração 'millennial' de alguns dos outros acima mencionados, vale ainda assim bem a pena recordá-la neste último dia do mês em que celebra o seu trigésimo aniversário.

Excerto e 'spot' publicitário do programa.

13.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 12 de Agosto de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

No início dos anos 90, os parques aquáticos eram um dos mais populares destinos de Verão para as crianças e jovens portugueses, até pelo factor de proximidade, que permitia ir passar o dia a uma instalação deste tipo e voltar a tempo do jantar. Há quase exactos trinta anos, no entanto, essa tendência viria, abruptamente, a mudar, por conta de um grave acidente ocorrido num parque aquático em Lisboa.

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O Aquaparque do Restelo, em Lisboa, palco da tragédia.

Corria a tarde de 27 de Julho de 1993 quando a vida dos familiares de Cristina Caldas, de nove anos, seria, irremediavelmente, virada do avesso; dois dias depois, o mesmo aconteceria com a família de Frederico Duarte, da mesma idade. Ambas as crianças foram dadas como desaparecidas precisamente no mesmo local - o popular Aquaparque, na zona do Restelo, em Lisboa - e foi no decurso das buscas ao local que o triste fim das duas foi revelado: ao ser esvaziada a piscina da atracção 'Ribeirão', os corpos foram encontrados nas tubagens, as quais se encontravam totalmente desprotegidas, tendo as crianças sido sugadas pela força hidráulica e ficado 'entaladas'. Mais curioso era o facto de a grelha de um dos dois tubos de sucção responsáveis pela tragédia ter sido reposta, sem que, ainda hoje, se saiba por quem.
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O caso levou, evidentemente, a fortes protestos contra a instalação do Restelo - conhecida a partir de então como 'Aquaparque da Morte' (onde uma pequena multidão causou desacatos, obrigando a intervenção policial) e, por extensão, a outros parques semelhantes, como o Ondaparque, localizado do outro lado do rio Tejo, e tão ou mais popular que o Aquaparque. Mas se esse ainda se manteria activo durante mais alguns anos (acabando, no entanto, também por morrer) o Aquaparque não sobreviveu ao escândalo, encerrando portas de forma permanente poucas semanas depois, com os donos envolvidos num processo judicial relativo a homicídio por negligência, que se arrastaria durante sete anos, e que os pais das duas crianças viriam a ganhar.

De referir que, mesmo antes do acidente, o Aquaparque era já alvo de controvérsias, com fontes como a revista Pro-Teste a apontarem a falta de segurança das atracções do parque e atitude negligente dos monitores e salva-vidas, além da sujidade e falta de condições da instalação. Ainda assim, o Aquaparque não deixava de atrair entusiastas dos escorregas aquáticos da região de Lisboa - isto, claro está, até àqueles três dias fatidicos, que mudaram a irreversivelmente a percepção do público português sobre os parques aquáticos, e terão deixado muitos jovens da altura com uma sensação de alívio por não lhes ter sucedido algo semelhante. Foi há trinta anos, mas a memória viverá para sempre na mente de quem era de uma idade aproximada à das vítimas e presenciou o caso através dos Telejornais - e que tem, também, o dever de não deixar que o caso caia no esquecimento, para que o mesmo continue a servir como exemplo cautelar para as gerações vindouras...

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