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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.06.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 13 de Junho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Uma das mais admiráveis qualidades do ser humano, que deu origem, ao longo dos anos, a muitas e muito prezadas invenções, é a capacidade de improviso e criatividade face a obstáculos da vida quotidiana, por mais pequenos que estes sejam. Em Portugal, esse facto ficou bem provado nos últimos anos do século XX e inícios do seguinte, altura em que se popularizou um pouco por todo o País um instrumento pequeno, simples e singelo, mas que resolvia um dos grandes problemas do dia-a-dia para quem estava encarregue de suprir e rechear a despensa e frigorífico de uma casa de família: a famosa 'moeda falsa' para uso em carrinhos de supermercado.

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O conceito desta Quinquilharia – mais comum no bolso ou porta-chaves dos adultos, mas que qualquer criança da época recordará – era de uma simplicidade apenas comparável à sua eficácia: o dístico, em plástico, era criado à semelhança de uma moeda de cinquenta ou cem escudos, permitindo assim 'enganar' o carrinho de compras e desengatá-lo da corrente. Um 'truque' sem grande finalidade – afinal, mesmo as moedas 'reais' eram devolvidas após o uso, não ficando o utilizador defraudado em qualquer circunstância – mas que jogava com aquele inqualificável e muito humano sentimento de 'enganar o sistema', combinando-o com a practicidade de permitir adquirir e utilizar um carrinho de compras mesmo quando não se tinha moedas físicas.

Não é, pois, de admirar que a referida 'bugiganga' se tornasse rapidamente parte integrante de muitos porta-chaves ou do conteúdo de muitas carteiras ou bolsas de trocos de Norte a Sul do Portugal da época – estatuto que ainda manterá hoje em dia, já que, ao contrário do sucedido com muitas das Quinquilharias de que falamos nestas páginas, este conceito não se tornou obsoleto, mas antes ainda mais universal, sendo que o carácter internacional do Euro permite, agora, utilizar os pequenos dísticos plásticos em carrinhos não só de supermercados e hipermercados portugueses, mas também dos da maioria dos países europeus. Apenas mais uma prova de que uma invenção não tem de ser 'vistosa' ou até particularmente sofisticada para ter impacto na vida quotidiana da sociedade ocidental...

23.06.23

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Já aqui, em edições passadas, falámos de sacolas e mochilas escolares e de campismo, bem como dos peluches que certo sector da demografia infanto-juvenil noventista tendia a pendurar dos fechos das mesmas; nada mais justo, portanto, que completarmos este 'ciclo' da forma mais natural – abordando as mochilas que eram, elas próprias, peluches.

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Um exemplo bem típico do tipo de produto em causa.

Populares não só entre o público infantil como também entre a demografia feminina um pouco mais velha, estas mochilas surgiam, normalmente, numa de duas configurações: a de um animal genérico estilizado (normalmente um macaco, urso, cão ou até vaca) ou uma 'aproximação livre' a um personagem licenciado, como o cão dos Peanuts, Snoopy, ou a sempre popular versão Disney do Ursinho Puff. Escusado será dizer que, nestes últimos casos, o material nem sempre era oficial – aliás, havia maiores probabilidades de ser pirata do que reconhecido pela detentora dos direitos do personagem. Nada, claro, que parasse as crianças desejosas de levar às costas o seu personagem favorito, ainda que apenas 'mais ou menos' bem recriado...

Em termos da utilização em si, há que destacar que estas mochilas não o eram verdadeiramente, pelo menos não no sentido estrito; eram, antes, versões infanto-juvenis das carteiras-mochila (à época muito populares entre as mulheres mais adultas) mais passíveis de serem utilizadas para guardar Quinquilharias numa Saída de Sábado, ida de férias ou acampamento de Verão do que no regresso às aulas. Aliás, a própria configuração destas bolsas admitia esse propósito, oferecendo normalmente apenas uma bolsa central e uma outra com fecho-éclair, por oposição às 'milhentas' sub-divisões normalmente encontradas numa mochila escolar.

Ao contrário do que acontece com a maioria dos artigos que aqui abordamos, as 'mochilas de peluche' não desapareceram verdadeiramente, embora tenham, sim, decrescido de popularidade e assumido contornos visuais um pouco diferentes dos que possuíam na altura; ainda assim, é inegável que a maioria das crianças de hoje em dia prefere usar uma mochila ou mini-carteira 'declarada', relegando cada vez mais estes híbridos para o campo da memória nostálgica da geração que os viu nascer, e que ainda se recorda de ser da idade deles e adorar levar às costas o seu cão dálmata ou Ursinho Puff, com as suas bugigangas dentro...

08.12.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Numa altura em que mais um ano se aproxima a passos largos do final, chega a altura em que, em décadas passadas, seria necessário actualizar uma parte essencial não só da decoração da cozinha ou escritório, mas também da carteira. Falamos, é claro, do calendário, uma das Quinquilharias que não podia faltar no bolso de qualquer cidadão português dos anos 90, 'entalado' entre o Cartão Jovem e o BI na carteira ou – mais tarde – enfiado na bolsa traseira das primitivas bolsas para telemóvel.

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Exemplo de um calendário promocional, no caso da CP

Rivalizando apenas com os isqueiros, canetas, porta-chaves e baralhos de cartas em termos de variedade e criatividade de 'decoração', os calendários de bolso tinham em comum o facto de serem, na sua esmagadora maioria, obtidos de graça, normalmente (embora nem sempre) como brinde promocional de uma qualquer empresa ou prestador de serviços; e, tal como as outras categorias de Quinquilharias acima enumeradas, era inevitável que a gaveta das 'bugigangas' de qualquer lar médio português acabasse repleta de um sem-número de calendários do mesmo ano (alguns deles, inclusivamente, duplicados) cujo último e fatídico destino era o balde do lixo – ou, com sorte, a colecção de algum dos residentes mais novos.

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Colecções como esta existirão ainda, certamente, em muitas casas de infância Portugal afora.

Sim, à semelhança dos objectos acima referidos – e de outros, como os Credifones – a natureza variada e facilidade de obtenção dos calendários de bolso tornava-os escolhas frequentes para os coleccionadores infanto-juvenis; é, aliás, bastante provável que haja, ainda, uma infinidade de colecções desse tipo espalhadas por sótãos e garagens por esse Portugal fora, prontas a render dinheiro em sites como o OLX, ou simplesmente – para os menos ambiciosos – a despertar memórias de tempos que já lá vão e não voltam, em que os telefones eram fixos (ou extremamente básicos) e a existência de objectos como calculadoras, 'pagers' ou calendários de bolso não só fazia sentido, como era activamente necessário – prova, como se a mesma ainda fosse necessária, de quanto a tecnologia revolucionou a forma de viver da sociedade ocidental (Portugal incluído) nos últimos trinta anos...

04.11.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Apesar de não ter tido na moda jovem dos anos 90 a mesma influência que o chamado estilo 'betinho', o movimento alternativo não deixou, ainda assim, de moldar significativamente o aspecto de um qualquer pátio de escola secundária portuguesa dos anos 90 e 2000, respondendo aos pólos de rugby, socas plataforma, calças à boca de sino, camisas da Sacoor e 'sweatshirts' da Gap ou Quebramar com tendências próprias, como as calças largas, as botas Doc Martens ou de biqueira de aço, os bonés para trás ou para o lado, as trancinhas conhecidas como 'tererés' ou o acessório de que falamos neste 'post', as bolsas a tiracolo em sarja.

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Exemplo moderno do acessório discutido nas linhas abaixo.

Populares entre os então chamados 'freaks' pela sua aparência militar e potencial de customização – era, aliás, quase obrigatório decorá-las com 'patches', 'pins' ou até desenhos ou dedicatórias dos amigos – esta mistura das tradicionais carteiras das 'betinhas' com as mochilas que qualquer 'puto' da escola carrega diariamente às costas dispunha de uma alça ajustável, mas esta acabava por ser uma característica quase redundante, já que qualquer aluno do secundário ou da universidade que se prezasse as usava o mais descaídas possível, normalmente ao nível dos joelhos (e, quase sempre, atravessadas a tiracolo, ainda que no caso das raparigas pudessem também ser usadas penduradas.)

Apesar do seu apelo aparentemente intemporal, no entanto, estas sacolas acabaram mesmo por cair em desuso após a primeira década do Novo Milénio, tendo gradualmente vindo a ser substituídas pelas suas congéneres em cabedal, borracha ou plástico, ou ainda pelos sacos de pano, sobretudo entre o sector universitário; ainda assim, este acessório não deixou de marcar época junto do segmento mais alternativo da geração que atingiu a adolescência em finais dos anos 90 e inícios de 2000; aliás, estamos em crer que, após ler este post, já deverá ter havido quem tenha ido buscar a sua à garagem ou ao fundo do armário, para mostrar aos filhos ou, simplesmente, recordar os seus tempos de jovem....

21.10.22

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

De entre os muitos acessórios considerados 'indispensáveis' pela juventude portuguesa da viragem de milénio e entretanto caídos em desuso, as carteiras com velcro podem ser consideradas um dos principais; e, de entre os muitos tipos de carteira deste tipo disponíveis no mercado de então – cujos motivos iam desde as Tartarugas Ninja até marcas como a Street Boy – havia um que se destacava acima de todos os outros, sendo activamente cobiçado por qualquer jovem que pretendesse assinalar, sem margem para quaisquer dúvidas, a passagem à idade adulta.

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O design inovador  e a tradicional localização da marca no interior eram duas das principais características destes acessórios

Falamos, claro, das míticas carteiras da Dunas, uma marca que, aparentemente, se especializava neste tipo de acessório, dado o seu logotipo nunca ter sido visto nas habituais t-shirts ou sweatshirts, mas apenas e exclusivamente no interior dos seus porta-moedas e carteiras, nos quais representava um símbolo não só de qualidade, mas também de estatuto – tanto assim que a maioria dos jovens lusos da época nem sequer se importava com o facto de a presença do referido logotipo retirar 'área útil' à carteira, já que a contrapartida valia bem esse pequeno sacrifício.

O 'factor popularidade' não era, no entanto, a única motivação para todo e qualquer adolescente da ponta final da década de 90 e inícios da seguinte querer uma destas carteiras; as próprias características que lhes conferiam essa popularidade tinham, também, uma palavra a dizer, nomeadamente os padrões 'radicais' inspirados na cultura do 'surf' e 'bodyboard', que as tornavam escolha frequente entre os jovens com preferência por este tipo de vestuário, e artigo 'aspiracional' para os restantes. A qualidade das próprias carteiras, que eram feitas de material grosso e tinham algum 'peso', mesmo vazias, era também incentivo à compra, até por parte dos pais, embora não justificasse totalmente o preço algo elevado a que as mesmas eram comercializadas.

No entanto, tal como tantos artigos que abordamos, nesta rubrica e não só, também as carteiras Dunas foram vítimas daquele estranho fenómeno que fazia com que produtos mega-populares entre os jovens 'desaparecessem de cena' quase de um dia para o outro, sem se dar por ela; foi, precisamente, o que se passou com estes acessórios, os quais passaram de omnipresentes a raramente vistos nos pátios das escolas portuguesas, e acabaram mesmo por ser esquecidos por grande parte da população que, durante o seu 'reino', as cobiçou ou orgulhosamente ostentou. Assim, a comunidade nostálgica 'online' afirma-se, mais uma vez, como principal 'guardiã da memória' deste produto que marcou a infância e adolescência de tantos portugueses crescidos durante os anos 90...

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