16.04.23
Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.
Num par de publicações anteriores deste nosso blog, falámos de como a maior facilidade em conseguir peças e 'chips' electrónicos, aliada à significativa redução do custo das mesmas, tinha resultado no aparecimento, durante as últimas décadas do século XX, de uma enorme variedade de brinquedos que tinham nas funcionalidades electrónicas e interactivas a sua principal característica inovadora, sem que com isso se assumissem declaradamente como produtos tecnológicos. Das bonecas falantes às flores dançarinas, papagaios repetidores e animais de peluche a pilhas, foram muitos os exemplos deste tipo de produto existentes no mercado infanto-juvenil português de fins de segundo milénio, mas para os 'rapazes' daquele tempo, existe um que, muito provavelmente, se sobreporá à maioria dos outros no panorama das memórias nostálgicas: os carros auto-comandados com luz e som, informalmente conhecidos como 'Bump'n'Go', devido à sua principal característica distintiva.
Um exemplo bem típico, e de época, deste tipo de brinquedo.
De facto, um dos principais atractivos deste tipo de veículo, que 'tomou de assalto' o mercado português algures entre finais da década de 80 e inícios da seguinte, era precisamente a funcionalidade que lhes permitia mudar automaticamente de direcção ao encontrar um obstáculo sólido no seu caminho, à semelhança do que hoje fazem os robots de limpeza. Para uma geração menos habituada a automatismos de índole tecnológica, era nada menos do que estarrecedor ver o brinquedo em causa 'chocar' com a perna de uma mesa ou a banca da cozinha, recuar ligeiramente em marcha-atrás, virar-se noutra direcção, e continuar a sua marcha – tudo isto sem qualquer intervenção humana! Acções que, outrora, teriam requerido resolução manual eram agora automatizadas, tornando estes brinquedos, senão desejados, pelo menos muito bem aceites quando apareciam debaixo da árvore de Natal ou como prenda de anos 'secundária' oferecida por um parente mais distante.
Como se já não bastasse essa funcionalidade quase 'mágica', no entanto, este tipo de veículos vinha, também, invariavelmente equipado com um jogo de luzes LED e uma placa de efeitos sonoros sempre prontos a ecoar pela casa em volume máximo (o único, naturalmente, conhecido por estes brinquedos.) Estes efeitos eram, normalmente, adaptados ao tipo de brinquedo em causa, mas – como seria talvez de esperar – ocorriam por vezes instâncias bizarras em que um brinquedo mais pacífico e 'fofinho' emitia sons de tiros e emitia luzes azuis e vermelhas ao estilo sirene da Polícia.
Mesmo estas idiossincrasias típicas de produtos oriundos da China ou de Taiwan, no entanto, apenas adicionavam ao 'charme' destes brinquedos, que nem mesmo a criança mais inocente tomaria por produtos topo de gama, mas que eram ainda assim mais que suficientes para 'entreter' qualquer 'puto' noventista durante uma tarde de fim-de-semana em casa.
De referir que, ao contrário de tantos outros produtos que recordamos nestas nossas páginas, os brinquedos deste tipo continuam a ser fáceis de encontrar e obter no mercado actual; a questão, no entanto, prende-se com até que ponto as crianças da nova geração conseguirão tirar algum prazer de algo que, para os seus pais, foi quase revolucionário, mas que para eles não será mais do que um brinquedo 'foleiro' de tão simplista...