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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.11.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O modelismo e a construção são áreas do agrado de muitas crianças ou jovens, embora a sua complexidade obrigue, muitas vezes, a que os mesmos tenham ajuda de um adulto, ou sejam forçados a esperar até terem mais idade, antes de poderem almejar a construir os aviões e carros admirados na montra das lojas especializadas. Tal não significa, no entanto, que não seja possível encontrar soluções adaptadas a faixas etárias mais baixas, das quais, em Portugal, sempre se destacaram duas: LEGO Technic e Meccano. E se a primeira propunha, pura e simplesmente, a construção de veículos totalmente funcionais com recurso a peças de LEGO e alguns conectores especiais, a segunda era suficientemente distinta de tudo o que de mais existia no mercado infanto-juvenil da época para merecer destaque próprio.

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Dois dos modelos disponíveis no mercado português em finais do século XX (crédito das fotos: OLX)

Concebido e lançado em França, e à época já quase centenária (o seu aparecimento data da viragem do século XIX para o XX) o Meccano era, e continua a ser, uma aproximação extremamente fiel a um verdadeiro sistema de engenharia em ponto reduzido – tanto assim que os seus fundamentos permitem a sua aplicação em verdadeiros projectos de construção e protótipos. E ainda que essa complexidade reduzisse o seu público-alvo a crianças que não se importavam de passar um período considerável a apertar porcas e parafusos (fossem de plástico ou metal) com recurso aos instrumentos fornecidos, para essas, não havia maneira melhor de gastar um Domingo Divertido de Inverno em casa. Melhor – os resultados eram tão realistas quanto qualquer modelo de avião, carro ou locomotiva 'para gente grande', e bastante mais do que os mais estilizados veículos da gama LEGO Technic, tornando-os ainda mais atractivos para os adeptos desse tipo de brinquedo.

Tal como a própria LEGO e a sua gama Technic, a Meccano faz parte do lote de produtos de finais do século XX que continuam disponíveis em larga escala nos dias de hoje, tendo entretanto passado por várias mãos, incluindo as da Nikko, fabricante dos famosos carros telecomandados da mesma época. E ainda que a sua presença já não tenha o mesmo volume de que gozava naqueles últimos anos do Segundo Milénio, quem tenha filhos em idade apropriada, com gosto pelo modelismo, engenharia e construção, e lhes queira mostrar o que 'dava a volta à cabeça' dos seus pais na mesma idade, só tem de dirigir-se à loja de brinquedos, supermercado ou grande superfície mais próxima...

05.11.22

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Numa edição anterior desta rubrica, falámos dos carros telecomandados, um dos 'sonhos molhados' de qualquer rapaz dos anos 90 ao aproximar-se o Natal ou o seu aniversário. No entanto, por muito que este fosse um tipo de brinquedo para exibir o mais possível nos dias e semanas imediatamente após ser recebido, o mesmo não era, nem de longe, o mais frequentemente visto ou levado à rua nos passeios diários ou de fim-de-semana com os pais; essa distinção cabia a outro tipo de 'veículo' de exterior – aqueles aos quais bastava atar um fio de cordel para se poder puxar para todo o lado.

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Exemplo moderno do tipo de brinquedo de que falamos neste 'post'

Maioritariamente destinados a ser usados por crianças mais novas, de ambos os sexos, estes brinquedos competiam com as também tradicionais rodas (sendo a única diferença o facto de as ditas serem empurradas à frente do corpo, enquanto os brinquedos com rodas eram maioritariamente puxados) bem como com os próprios carros telecomandados, dos quais havia versões simplificadas, que substituíam o complexo comando por um simples volante ou 'joystick' com um ou dois botões, e conectavam o mesmo ao carro por meio de um fio, que assegurava que o veículo se mantinha sempre a uma distância fixa da criança que o comandava. Escusado será dizer que esta alternativa 'júnior' aos populares Nikko era bastante menos apreciada entre os jovens da época (embora tivesse o seu público entre as crianças mais pequenas, para quem os carros R/C tradicionais se afiguravam excessivamente complexos) ficando a sua comercialização, normalmente, restrita a lojas de brinquedos ou drogarias de bairro, daquelas em que nunca se sabia muito bem exactamente DE ONDE vinham os artigos expostos, que não pareciam existir em mais parte nenhuma...

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Exemplo bastante típico de um veículo (quase) telecomandado...

Os restantes brinquedos deste tipo, no entanto (que tanto podiam ser veículos como animais estilizados sobre rodas) faziam bastante sucesso entre o seu público-alvo, até por serem bem mais acessíveis – o jovem médio dos anos 90 apenas teria, com sorte, um ou dois carros telecomandados no armário, mas decerto não faltariam no mesmo camiões ou barcos com um cordel atado, que se pudessem levar 'de passeio' até ao parque infantil...

Hoje em dia, como tantas das outras coisas de que vimos falando nestas páginas, este tipo de brinquedo caiu em desuso – embora outros, como as bonecas, os peluches, as bolas ou os carrinhos de plástico ou metal, retenham o seu lugar no coração das crianças e jovens, tanto como há trinta anos atrás. Assim, já só a última geração a nascer e crescer no século XX lembrará o simples prazer de arrastar atrás de si, pela rua, um veículo ou animal de plástico, e ouvir o barulho das suas rodas à medida que o mesmo galgava quilómetros na calçada...

24.03.22

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Os anos 90 foram, como já por várias vezes documentámos nestas páginas, pródigos em fenómenos infantis baseados num qualquer tipo de jogo; e, durante um período de alguns anos na segunda metade da década, muitos destes fenómenos surgiam sob a forma de jogos de cartas. Destes, o mais lembrado é, evidentemente, o Magic: The Gathering (que teve, já no novo milénio, uma semi-ressurgência na forma dos jogos de Pokémon e Yu-gi-oh, que dele tiravam óbvia inspiração) mas houve outro tipo de baralho que, embora menos imediatamente nostálgico, proporcionou também muitos e bons momentos competitivos às crianças portuguesas da época: aqueles da Majora com fotografias de carros, aviões ou motas, e respectivos valores técnicos impressos por baixo.

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Curiosamente, apesar de já de há muito terem 'passado de moda' por terras lusas, este tipo de baralho continua a existir no estrangeiro, onde surge em edições licenciadas e tematizadas e tem, mesmo, uma marca definida – Top Trumps. Escusado será dizer que, em Portugal, a situação não era, nem de perto, semelhante, sendo os baralhos da Majora (oficialmente identificados pela expressão 'Super Cartas') invariavelmente conhecidos pela designação genérica do tema a que diziam respeito – por exemplo, 'Carros', 'Aviões', 'Motas' ou o que mais estivesse representado na carta-frontispício que todos eles tinham.

Fosse qual fosse o tema, no entanto, a mecânica destes jogos era sempre a mesma – cada carta tinha uma série de estatísticas relativas ao veículo, animal, personagem ou até planeta que representava, e que os jogadores (após dividirem o baralho irmamente entre si, e determinarem qual o dado a ser tomado em conta) comparavam directamente, caso a caso, para determinar quem ganhava aquele turno. Por exemplo, no início de um turno de um jogo relativo a carros, e tendo os jogadores decidido comparar cilindradas, cada um dos mesmos apresentava a carta que encabeçava a sua pilha, e quem tivesse o carro com maior cilindrada ganhava esse turno.

Uma mecânica simples, mas que dava azo a largos momentos de diversão (bem) competitiva, com a vantagem adicional de um jogo demorar bem menos do que uma partida de Magic ou até de Uno – a duração estava mais próxima da de uma partida de 'Peixinho' ou outro jogo de cartas infantil convencional. Não era, como tal, incomum ver crianças a aproveitarem o intervalo da escola, ou aquele período entre o segundo toque e a chegada da professora, para encetarem um jogo rápido, sem compromisso, dado ser este, também, daqueles tipos de jogo que se podem interromper ou até parar a qualquer altura, sem que fique aquela sensação de ter deixado algo a meio.

Essa característica, aliada ao potencial competitivo e preço convidativo para os bolsos infantis, terá contribuído em grande parte para o sucesso destas cartas, que – numa era em que a Internet era ainda mais do que incipiente, e jogos como o 'Cards Against Humanity' nem sonhavam ser concebidos – fez as delícias de muitas crianças e jovens nacionais, chegando mesmo o Bollycao a aproveitar a sua mecânica para a sua popular colecção de cartas 'Kaos', lançadas sensivelmente na mesma época. Enfim – outros tempos, em que algo tão simples quanto um baralho de cartas com fotografias de carros ou aviões conseguia divertir até mesmo quem já tinha mais idade...

23.02.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

...como é o caso dos carros.

Apesar de a maioria dos leitores deste blog não ter ainda, nos anos 90, idade para conduzir, os carros não deixavam, ainda assim, de exercer um certo fascínio sobre muitos dos membro daquela geração, sobretudo os do sexo masculino. E ainda que muita da atenção fosse, obviamente, para os supercarros desportivos ou de Fórmula 1, houve, em 1993, um pequeno e humilde veículo que se conseguiu intrometer por entre os 'monstros' de alta cilindrada, e cativar muitos jovens pela razão precisamente inversa: por parecer, praticamente, uma versão real dos carros eléctricos ou carrinhos de brincar com que muitos deles haviam crescido.

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Como muitos miúdos imaginavam que seria conduzir, ou ser passageiro, num destes veículos

Falamos do Renault Twingo – nome derivado da junção dos nomes de três danças, Twist, Swing e Tango - que, apesar de hoje ser 'apenas' mais um carro igual a tantos outros, marcou verdadeiramente época aquando do seu lançamento, e terá potencialmente servido de inspiração para o surgimento, uma ou duas décadas mais tarde, do popular Smart, seu 'sucessor espiritual' na categoria dos carros que parecem 'de brincar'.

As semelhanças entre os dois não se ficam, aliás, pelo aspecto: tal como o Smart, o Twingo pretendia ser um carro para quem não gostava de carros, na sua acepção convencional, e preferia ser visto ao volante de algo que ficava a meio caminho entre uma criação de desenho animado e os referidos veículos eléctricos para crianças pequenas. Tendo na forma arredondada a sua principal característica visual, e disponível numa série de cores vivas (sendo a mais comum à época o roxo, retratado na imagem acima) o Twingo parecia quase ter sido feito com as crianças e jovens em mente, não sendo, de todo, de estranhar, que muitos desejassem tê-lo como carro familiar; afinal, se algum veículo alguma vez se pôde apelidar de 'fofo', foi definitivamente o Twingo.

Não era, no entanto, apenas o aspecto deste carro que apelava a um público mais jovem e aos iniciantes da condução; a própria potência do carro, cujas pequenas dimensões requeriam um motor de baixa cilindrada, impedia grandes 'aventuras', tornando este veículo ideal para principiantes, como primeiro carro, apenas para 'dar umas voltas' – algo que se tornaria ainda mais evidente com o lançamento da variante semiautomática Easy, que permitia a condução sem o pedal de embraiagem, um dos principais pontos fracos de quem ainda tem pouca experiência.

Daí em diante, seriam inúmeras as 'edições especiais', alterações, adições e revisões ao modelo inicial, que seria acrescido de aspectos tão indispensáveis como air-bags, novos faróis e pára-choques e motores mais potentes, além de extras mais supérfluos, como interiores em pele e rádio com CD (ambos exclusivos à edição especial Initiale Paris, de 1998.) Aquele carro que empatara com o Citroen Xania como Carro do Ano em Espanha, em 1994, e que conquistara os corações de tantos jovens no país vizinho, tornava-se cada vez melhor e mais seguro – mas, infelizmente, também cada vez mais um carro normal.

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Um Twingo moderno

De facto, as sucessivas revisões fizeram tanto para melhorar o Twingo como para lhe retirar alguma da 'magia' e novidade que o seu modelo inicial conseguira implementar – a qual, mais tarde, o Smart viria a utilizar para se estabelecer no mercado. Hoje em dia, o Twingo já nem sequer se pode gabar de ser, precisamente, um carro 'pequeno', especialmente comparado com modelos como o Lancia Y (na altura, um dos seus principais competidores), Fiat Cinquecento e Seicento, Mini, ou os próprios Smart; ainda assim, quem assistiu ao aparecimento daquele carro 'da Carochinha', e desejou ardentemente ter um, certamente concordará que, no que toca a carros 'normais' de todos os dias, o Twingo talvez tenha mesmo sido dos mais originais e marcantes a surgir em toda a década de 90...

09.02.22

Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog...

...como é o caso dos autocolantes para pôr no carro.

Aproveitando a deixa de termos, no nosso último post, falado do Vitinho – o qual, entre outras coisas, fez 'carreira' como protagonista de autocolantes 'Bebé a Bordo' – nada melhor do que dedicar todo um post à enorme variedade de autocolantes que pululavam nos vidros e partes traseiras dos carros portugueses durante as décadas de 80, 90 e 2000.

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Todos os vimos, todos nos lembramos deles, e até haverá decerto quem os tenha tido no seu próprio carro– fosse qual fosse o propósito (informativo ou meramente decorativo), estes autocolantes eram visão comum em qualquer passeio por uma rua portuguesa durante o referido período, indo os seus motivos e temas desde a publicidade a estações de rádio ou discotecas (esta última responsável pelos dois mais famosos exemplos do género, a famosa silhueta da Penélope e o autocolante da algarvia Kadoc) aos referidos autocolantes destinados a informar os outros condutores da presença de crianças no veículo, passando pelo igualmente emblemático 'P' de Portugal (obrigatório para quem viajava para o estrangeiro) ou por símbolos instantanemente reconhecíveis, como o coelhinho da Playboy ou a língua dos Rolling Stones.

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Talvez o mais famoso autocolante para automóvel daquela época

Em comum, todos estes autocolantes tinham o facto de terem de ser colados no vidro do automóvel 'ao contrário' – ou seja, pelo lado de dentro e com o desenho 'de costas' para quem colava – o que, só por si, já os tornava motivo de interesse para quem estava habituado aos mais vulgares cromos ou 'stickers', colados de fora para dentro. Já para quem passava, estes dísticos atraíam inevitavelmente o olhar, tanto pela sua localização inusitada como pelos esquemas de cores vivos, quase berrantes, que normalmente empregavam.

Hoje em dia, já é muito pouco comum ver autocolantes destes em carros. O 'Bebé a Bordo' continua a existir, claro (visto não terem deixado de haver os referidos bebés a bordo), mas mesmo esse tipo de sinais é, hoje, bem mais discreto do que o era naquela época; já os restantes tipos de autocolante praticamente desapareceram de circulação, embora ainda se veja, aqui e ali, um símbolo da FPF ou coisa parecida. Uma rápida pesquisa pela net, no entanto, revela que estes autocolantes deixaram mesmo saudades, pelo que uma onda revivalista relativa aos mesmos talvez já não esteja assim tão longe...

10.01.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 09 de Janeiro de 2021.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

No início do nosso último post, mencionámos a enorme variedade de escolhas ao dispôr de um indivíduo interessado em veículos – quer terrestres, quer aéreos – e que desejasse incorporá-los nas suas brincadeiras de exterior; no entanto, não era apenas ao ar livre que os carros telecomandados tinham concorrência à altura – e se em termos de exterior tinham de se bater com os veículos eléctricos e até o tema do referido post, os aviões de propulsão com fios, no que toca a brincadeiras dentro de casa, havia outro rival à espreita: as pistas de carros eléctricas.

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Uma estrutura que faria salivar muitas crianças dos anos 90

Estas estruturas mirabolantes, que ocupavam uma área de chão considerável, e tinham invariavelmente de ser desmontadas sempre que alguém precisava de passar, foram uma das mais clássicas obsessões masculinas da geração que cresceu entre os anos 80 e o início do novo milénio, para a qual representam, ainda hoje, um dos mais flagrantes casos de conflito entre expectativas e realidade. Isto porque, qualquer que fosse a sua configuração – quer a mais tradicional e declarada pista de corridas, em oval ou no clássico 'oito', quer um 'design' mais arrojado, a convidar às acrobacias estilo duplo de cinema – estes brinquedos prometiam uma experiência de corridas fantasticamente estimulante, cheia de duelos a alta velocidade (que faziam literalmente saltar chispas da pista), curvas apertadas, 'loopings', lombas e outras características capazes de entusiasmar até a criança menos interessada em corridas de carros.

A realidade, no entanto, era invariavelmente muito diferente, envolvendo normalmente alguns segundos em que, após a pressão do botão de lançamento, o carro disparava ´sem rei nem roque' pelos carris paralelos que formavam a pista, até – na melhor das hipóteses – sair dos carris e capotar, ou – na pior, e mais frequente - ser literalmente projectado para fora da pista na primeira curva, e ir parar ao outro lado do quarto. Qualquer dos dois desfechos era suficiente para pôr termo à corrida, pelo menos durante o tempo que levava a repôr o pequeno veículo de plástico na pista para mais alguns segundos de diversão...

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Até os modelos mais clássicos e simples ofereciam múltiplas oportunidades para 'desastres'...

Este fenómeno, que era universal a todas as pistas deste tipo - da mais genérica oval da loja da esquina à mais elaborada estrutura com o logotipo de uma marca conhecida, comprada no hipermercado por vários 'contos de reis' - não era, no entanto, suficiente para diminuir o entusiasmo do público-alvo quanto a este tipo de brinquedo, não tendo, decerto, havido rapaz da geração em causa que não marcasse este tipo de brinquedo no catálogo de Natal à mínima oportunidade, na crença firme de que a próxima pista seria aquela que, finalmente, lhe permitiria completar uma corrida sem ter que ir buscar o carro ao chão ou virá-lo de cabeça para cima a cada poucos segundos – esperança essa que, claro, se revelava quase sempre ser vã.

Foi, no entanto, com apoio nesta crença por parte da demografia a que se destinavam que estes brinquedos conseguiram manter-se no topo da pirâmide da popularidade infantil durante pelo menos duas décadas, antes de (como quase todos os brinquedos de que falamos nestas páginas) terem sido tornados obsoletos pela revolução digital.

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A existência, nos dias de hoje, de uma pista eléctrica licenciada, num 'crossover' com o mundo das corridas digitais, é no mínimo surpreendente

Com corridas fictícias ilimitadas (e sem necessidade de repôr o carro na pista a cada curva) à sua disposição, as crianças do novo milénio foram progressivamente deixando de lado o brinquedo que tão cobiçado fora pelos seus irmãos mais velhos, fazendo com que as pistas de carros eléctricas fossem, aos poucos e poucos, desaparecendo do mercado, até serem, hoje em dia, só mais uma 'relíquia' destinada a ser lembrada com nostalgia e carinho por quem foi criança nessa época, e com um encolher de ombros por quem nunca teve de ir ao outro lado da sala buscar um carrinho lançado em vôo picado para fora da sua pista eléctrica ao tentar abordar uma curva...

04.12.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Na última edição desta rubrica, falámos aqui dos veículos eléctricos, montados nos quais muitos de nós gozaram grandes 'corridas' no pátio ou no jardim; hoje, falamos de outro tipo de veículo, o qual, apesar de não ser exclusivamente destinado a uso no exterior, não deixou ainda assim de ser companheiro de muitos passeios para as crianças dos anos 90, sobretudo as do sexo masculino.

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Falamos dos famosos carrinhos tele-comandados, a dada altura da História um dos presentes mais cobiçados por esta altura do ano (a par das consolas e das bicicletas) muito por culpa dos seus mirabolantes anúncios, que prometiam que o referido veículo seria capaz, sem grandes problemas, de trepar e atravessar formações rochosas e outros tipos de terreno agreste; e embora a verdade não fosse, nem de longe, tão impressionante, estes brinquedos não deixavam, ainda assim, de exsudar um certo 'cool factor' que os apontava directamente aos corações de qualquer rapaz pré-adolescente daquela época.

Com anúncios como este, não admira que estes carros fossem desejados por qualquer rapaz daquele tempo...

Convém, no entanto, realçar que, como sucedia com outros brinquedos da época, nem todos os carros teleguiados eram exactamente iguais; pelo contrário, existiam não só variantes bem definidas, como uma hierarquia para as mesmas entre as crianças daquele tempo. No topo da pirâmide (e de muitas listas de Natal) encontravam-se os excelentes veículos da Nikko (distribuídos em Portugal pela inevitável Concentra), os quais eram, invariavelmente, visualmente apelativos, de manuseamento excelente, e de longe mais poderosos e versáteis do que quaisquer outros; logo de seguida, embora a alguma distância, vinham os 'imitadores' desta marca, menos resistentes e mais simplistas, mas perfeitamente funcionais para o preço que custavam; e em último lugar, reservados sobretudo aos utilizadores mais novos, vinham os modelos mais simplistas, coloridos e de formas arrendondadas, muitos dos quais apenas eram 'tele-comandados' no sentido mais literal da palavra, já que se encontravam presos ao seu próprio comando por um fio, oferecendo por isso um raio de acção extremamente limitado.

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Exemplo de um modelo de carro telecomandado mais simples, com fio, e destinado a um público mais jovem

Qualquer que fosse o tipo ou modelo de carro, no entanto, não era de todo incomum, à época ver um destes brinquedos a rolar numa qualquer rua ou jardim do país, seguido alguns metros mais atrás por um utilizador tão eufórico quanto absorto na manobra do veículo; infelizmente, como tantos outros produtos que aqui abordamos, também os carros tele-comandados acabaram por cair em desuso, substituídos nos catálogos de Natal e prateleiras dos hipermercados por 'gadgets' e brinquedos de cariz mais electrónico. Ainda assim, quem viveu a época áurea destes brinquedos não esquece a emoção de receber um no Natal, nem de o tirar do armário e o levar como companheiro de uma Saída ao Sábado...

20.11.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Um dos aspectos mais memoráveis para quem nasceu ou cresceu nos anos 90 será, certamente, enorme variedade de meios de locomoção 'divertidos' disponíveis para as crianças e jovens daquele tempo. Os 90s foram, afinal de contas, a década que viu popularizarem-se as bicicletas BMX, os 'skates' e os patins em linha, bem como outros apetrechos mais especializados e específicos, como as pranchas de surf e bodyboard em tamanhos reduzidos, dirigidas especificamente à demografia mais nova. A acrescentar a estes veículos há, ainda, outro tipo, favorecido por crianças mais novas, mas que não deixava de causar alguma inveja de quem era sortudo o suficiente para ter: os carros e motas eléctricos.

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Presença assídua (e, normalmente, destacada) nos catálogos de Natal que começavam, por esta altura, a chegar às caixas do correio, da parte dos diversos supermercados e hipermercados nacionais, estes brinquedos tinham, normalmente, um preço de venda ao público algo elevado, ainda que maioritariamente justificado pela tecnologia eléctrica no qual estes veículos se baseavam. Nem todas as crianças tinham, por isso, oportunidade de experienciar a sensação de 'andar' num daqueles carros ou motos do catálogo; quem tinha ou teve, no entanto, sabe que valia bem a pena, mais não fosse pela eterna sensação de ter algo que os amigos cobiçavam.

Curiosamente, ao contrário de muitos dos brinquedos que focamos neste blog - que 'pegavam' com pessoas de todas as idades - este era um tipo de meio de transporte que ficava, normalmente, restrito a uma faixa etária mais nova, quase não existindo veículos deste tipo dirigidos a crianças com mais do que oito ou nove anos. Sorte, pois, de quem era pequeno e leve o suficiente para conseguir dar umas voltas pelo jardim ou parque montado num destes veículos sem os pés roçarem no chão ou o motor se recusar a funcionar...

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Quem era do tamanho certo sentia-se sempre um 'boss' em cima de um veículo destes

Tal como quase tudo o que abordamos aqui no Anos 90, também os carros e motas eléctricos acabaram por cair em desuso, sendo hoje raro ver uma criança montada num deles; no entanto, a popularidade das bicicletas e trotinetes eléctricas leva a crer que talvez muitos dos 'ex-putos' que naquele tempo eram já demasiado velhos para terem estes veículos, estejam agora a 'desforrar-se' depois de adultos...

07.11.21

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

Para qualquer povo – mas ainda mais no caso de povos pequenos e de menor expressão – qualquer indivíduo que se destaque adquire automaticamente estatuto de herói nacional, com direito a cobertura mediática extensiva e elevação de qualquer pequeno feito atingido. Portugal não é, claro, excepção neste campo, tendo os principais nomes 'exportados' do nosso país conseguido, ao longo das décadas, reter o estatuto de culto pelo qual lutaram. Hoje em dia, a imagem de Portugal no estrangeiro já não se resume apenas aos tradicionais Eusébio e Amália; há também Luís Figo, Cristiano Ronaldo, Salvador Sobral, Moonspell e José Saramago, para citar apenas alguns dos nomes mais conhecidos.

No entanto, como sempre acontece neste tipo de casos, para cada nome bem conhecido que consegue almejar os seus objectivos, existem vários outros que, não obstante os seus melhores esforços, se vêm obrigados a ficar pelo caminho, e a contentar-se com a fama dentro de portas; mais uma vez, Portugal não difere de qualquer outro país neste campo, tendo precisamente nos anos 90 um exemplo perfeito deste mesmo fenómeno.

Corria o ano de 1993, e Figo e a restante Geração de Ouro despontavam para o futebol, quando um praticante de outro desporto, menos físico mas não menos entusiasmante, irrompeu na cena desportiva portuguesa, determinado a deixar a sua marca a nível internacional. O desporto em causa era a Fórmula 1, e o nome do jovem aspirante a herói português era Pedro Lamy.

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Nascido na zona de Alenquer a 20 de Março de 1972, José Pedro Mourão Lamy Viçoso começou por destacar-se nas divisões menores do desporto automóvel, tendo conhecido considerável sucesso primeiro nos karts, depois na Fórmula Ford – onde se sagrou campeão por duas vezes, a primeira das quais na sua temporada de estreia, com apenas 17 anos – e finalmente na Fórmula 3, onde continuou a demonstrar argumentos que lhe faziam prever um futuro muito, muito risonho.

Foi, pois, com naturalidade que os aficionados das corridas portugueses – muitos deles próximos da idade do próprio Lamy à época, ou até mais novos – viram o jovem ribatejano dar o 'salto' natural para a 'Primeira Divisão' do desporto, chegando ainda a tempo de disputar, pela Lotus, as últimas quatro corridas da temporada de 1993, no lugar do lesionado Alessandro Zanardi. Apesar dos resultados muito pouco encorajadores – zero pontos no total das quatro corridas – fazerem já prever a toada futura da carreira do único representante português no mundo do desporto automóvel, Lamy terá ainda assim demonstrado o suficiente para ser convidado pela construtora a disputar a época seguinte com as suas cores.

1994 marcava, assim, a primeira temporada completa de Lamy como piloto de Fórmula 1, lançando-o para a ribalta desportiva e sujeitando-o ao habitual fenómeno 'tuga entre estrangeiros', que resultou, como é costume neste tipo de casos, num avolumar do interesse do público nos seus feitos. Infelizmente, o azar não tardou em bater à porta, e à entrada para a quinta corrida da época, Lamy vê-se envolvido num aparatoso acidente, que resulta em duas pernas e pulsos partidos - um acidente que seria suficiente para terminar a carreira de muitos, mas não do determinado português, que embarcou numa odisseia de fisioterapia que lhe permitiu, um ano depois, ressurgir nas grelhas dos Grandes Prémios mundiais, desta vez com as cores da Minardi.

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Lamy com a restante equipa da Minardi

Pela construtora italiana, Lamy continuou a exibir os mesmos argumentos que já mostrara na Lotus, terminando a época com um histórico e marcante total de UM ponto, e ajudando assim a demonstrar que não é só na Eurovisão que Portugal não pontua. Mais – esse ponto conseguido pelo ribatejano foi o ÚNICO feito pela Minardi em toda a temporada, fazendo deste um daqueles casos em que as duas partes parecem 'feitas uma para a outra'.

Este novo e rotundo falhanço foi a machadada final nas aspirações de Lamy, que fez a escolha acertada, retirando-se do mundo da Fórmula 1 no final da temporada, sem nunca ter conseguido concretizar o seu potencial, ou ser levado minimamente a sério no seio do seu desporto de eleição, apesar das 'figas' feitas pelos aficionados portugueses de F1 para que tivesse sorte.

No entanto, e ao contrário do que pudesse ter parecido à época, a trajectória internacional de Lamy ainda não estava terminada, vindo apenas a sofrer um desvio – no caso, para o mundo dos carros GT, onde o condutor português encontrou, finalmente, o mesmo grau de sucesso de que gozara nos seus tempos de juventude, no circuito Fórmula 3. À data, Lamy é co-detentor do maior número de vitórias na corrida das 24 Horas de Nürbungring, e condutor oficial da Peugeot nas históricas 24 Horas de Le Mans, além de participar no campeonato mundial de 'endurance' da FIA. Um final feliz bem merecido para aquele que podia ter sido o 'Ayrton Senna português', a quem faltou um pouco de sorte e talento ao mesmo nível da sua determinação e vontade para poder almejar a esse titulo, mas que conseguiu ainda assim ter sucesso, ainda que fora das luzes da ribalta...

Imagens da pouco conhecida participação de Lamy no Grande Prémio Virtual de 1995, ao comando de um carro da SEGA. Pelo menos na Mega Drive, o candidato a Senna português conseguia ser ás ...

12.09.21

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

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Este é daqueles posts que se podia ficar por uma imagem. Porque, a sério, basta mostrar algo como o retratado acima para a mente de uma criança dos anos 90 (principalmente do sexo masculine) imediatamente se encher de memórias de tardes passadas de volta dos seus ‘carrinhos’, a fazê-los correr e rodar por superfícies tão distintas como o sofá de casa (onde raramente rodavam) e o chão do quarto (onde provavelmente rolariam bem.)

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Quem nunca?

Fossem simples ou de fricção (o chamado ‘pull-back’), com ou sem suspensão realisticamente ‘saltitona’, feitos de ferro à prova de tudo ou de plástico mal-amanhado com rodas que mal rodavam, os carrinhos da Matchbox e suas marcas concorrentes marcaram, sem qualquer dúvida, época em Portugal, e poucos eram os rapazes que, à época, não tinham pelo menos um exemplar deste tipo de brinquedo no quarto – mesmo que fosse um daqueles bem ‘janosos’ saídos nas máquinas de bolinhas. Quem tivesse dos ‘bons’, com suspensão e tudo – ou, melhor ainda, uma garagem onde os colocar – podia considerar ter-lhe saído a ‘sorte grande’, pois uma configuração deste tipo era garantia de muitas e boas brincadeiras, quer sozinho, quer com amigos.

Enfim, a verdade é que, com perdão pelo post algo curto, pouco mais há a dizer sobre os carrinhos dos anos 90. Este tipo de brinquedo era tão simples e, ao mesmo tempo, tão omnipresente – podendo ser adquirido, individualmente ou em multipacks, em sítios tão variados quanto drogarias, lojas de brinquedos, barracas de feira, as supramencionadas máquinas de ‘bolinhas’, ou até como prémio do McDonald’s – que poucos serão os leitores deste blog que nunca tenham tido uma interacção directa com um, quanto mais não fosse por intermédio dos irmãos ou amigos. Palavras para quê? São carrinhos de brincar dos anos 90. Não é preciso dizer mais nada…

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