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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos alguns dos principais concursos televisivos do Portugal de finais do século XX, tendo nessas ocasiões também mencionado que este tipo de conteúdos constituía um dos principais 'esteios' da programação dos quatro canais 'abertos' portugueses da época. No entanto, havia, até agora, uma lacuna de vulto na nossa cobertura de programas desse tipo, lacuna essa que procuramos agora preencher: chegou, finalmente, a altura de falar do Um, Dois, Três.

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Considerado por muitos como o expoente máximo dos 'game shows' portugueses da fase clássica – mais ainda do que 'O Preço Certo' – o programa em causa conseguiu permanecer no ar durante praticamente uma década e meia, com muito poucas alterações ao formato, e apenas uma mudança de apresentador durante todo esse período. Da sua estreia há quase exactamente trinta e nove anos (a 19 de Março de 1984) à última emissão em 1998, o concurso baseou-se quase sempre numa prova de 'endurance' mental em várias fases, subordinada a um tema específico que 'rodava' semanalmente, e disputada a pares por três casais. O objectivo final do casal vencedor – e, consequentemente, apurado para a segunda fase - passava por adivinhar, com base nas pistas dadas pelo apresentador e seus coadjuvantes, o grande prémio de cada episódio, o qual consistia quase sempre dos habituais automóveis e viagens, mas podia também tratar-se de algo cómico e insólito, à laia de partida – quase sempre uma réplica da mascote do programa, a carismática Bota Botilde. (Esta última ideia seria, aliás, adoptada com grande sucesso por Olga Cardoso para o seu 'A Amiga Olga', grande êxito dos primórdios da TVI.)

Além desta prova central, que ocupava a grande maioria do tempo de antena do programa, o 'Um, Dois, Três' contava ainda com as habituais apresentações musicais e cómicas, estas últimas a cargo de nomes tão conceituados do humor da época como Carlos Miguel (o 'Fininho'), Herman José, Raul Solnado ou Marina Mota, cujo papel era o de entreter não só o público presente nos estúdios da Tóbis, como também os espectadores a assistir ao programa em casa.

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O apresentador sinónimo com o programa.

Por entre todos estes nomes sonantes, no entanto (incluindo o de Botilde), havia um que se destacava, e que se tornou ao longo dos anos ainda mais sinónimo com o programa do que a própria bota: Carlos Cruz. O carismático apresentador, então em estado de graça e ainda longe do escãndalo Casa Pia, representava, à época, uma presença constante na sala de estar dos portugueses durante o serão, e o seu típico 'charme' era responsável por grande parte do sucesso do 'Um, Dois, Três' – tanto assim que, durante o seu tempo de vida, o concurso apenas teve dois outros apresentadores: o igualmente carismático António Sala, em 1994-95, e Teresa Guilherme, durante a breve 'ressurreição' do programa no século XXI. Os restantes treze anos tiveram sempre Carlos Cruz ao 'leme', tornando o concurso praticamente sinónimo com toda a carreira do apresentador.

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António Sala ao comando do programa.

Em suma, o 'Um, Dois, Três' foi uma daquelas adaptações de formatos estrangeiros (no caso, da vizinha Espanha) que acabam por gozar de enorme sucesso também em Portugal, sendo ainda hoje um dos programas mais carinhosamente lembrados pela geração que cresceu com Carlos Cruz a 'entrar-lhe pela sala dentro' todos os princípios de noite, e que, quiçá, tenha mesmo chegado a ter junto ao gira-discos o LP da Bota Botilde...

O icónico genérico do programa.

Emissão completa da era António Sala.

 

20.09.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

No mundo do entretenimento, é raro o produto que consegue 'sobreviver' mais do que alguns anos – e a televisão não é, de todo, excepção a esta regra – antes pelo contrário, à excepção dos óbvios Telejornais (e mesmo esses têm de 'lavar' periodicamente a 'cara', para reflectir as mudanças de 'visual' da sua estação, ou da televisão em geral) os registos de programas com longevidade de mais do que uma mão-cheia de anos prima por escasso. Este paradigma torna-se ainda mais evidente no caso dos concursos, os quais tendem a diminuir de interesse para o público-alvo conforme os anos vão passando, e a fórmula, progressivamente, estagnando.

Assim, a existência de um programa deste tipo que se consegue manter no ar durante literalmente décadas (ainda que nem sempre de forma consecutiva) sem praticamente alterar a sua fórmula não deixa de ser de louvar - e, assim sendo, há que tecer loas a uma das 'pedras basilares' da programação da RTP durante as últimas três décadas, o mítico 'O Preço Certo'.

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O logotipo da versão original do programa.

Transmitido pela primeira vez há quase exactos trinta e dois anos – a 17 de Setembro de 1990 – a lendária adaptação portuguesa do formato americano 'The Price Is Right' ocupou por duas vezes lugar de honra na grelha da televisão estatal: a primeira até 1993, com apresentação de Carlos Cruz e (mais tarde) Nicolau Breyner, e a segunda, e quiçá mais famosa, a partir de 2002, com o inicialmente escalado Jorge Gabriel a ceder rapidamente o seu lugar àquele que talvez seja o nome mais prontamente associado com o concurso, e que ainda hoje continua à frente do mesmo - Fernando Mendes.

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Os quatro apresentadores do programa, cada um marcante à sua maneira.

Notavelmente, e conforme referido acima, ambas as iterações do concurso apresentavam precisamente a mesma fórmula-base, mesmo não sendo exactamente iguais: quatro concorrentes tentam adivinhar o preço de um produto, ganhando quem mais se aproximar do montante correcto; o vencedor é, então, desafiado a completar uma prova intermédia, que lhe permite acesso à 'Grande Roda', onde o objectivo é conseguir, em apenas duas tentativas, um valor o mais próximo possível de cem. Terminada a ronda, um novo elemento da plateira substitui o concorrente demissionário, e o ciclo recomeça, até terem jogado um total de seis concorrentes; no final, ganha o jogador que, na prova da 'Grande Roda', mais perto tenha ficado do valor-alvo de cem, tendo este, ainda, pela frente uma última prova – a de estimar o 'Preço Certo' dos prémios incluídos na apetecível montra final.

Um formato desafiante, em que o sucesso e respectiva premiação estavam longe de ser garantidos – pelo contrário, não faltava quem 'rebentasse' a escala de valores algures pelo caminho e fosse para casa de mãos a abanar; no entanto, residia precisamente aí o apelo do concurso, que era (e é) exímio em criar uma dicotomia entre querer 'torcer' pelos concorrentes e desejar, secretamente, que os mesmos sobre-estimassem. A esta dualidade algo pérfida há, ainda, que juntar o carismático e característico 'voice-off' de Cândido Mota (que também dava voz a outro clássico de inícios dos 'noventas', 'A Roda da Sorte'), as belas assistentes (com destaque óbvio para Lenka da Silva) e os não menos carismáticos apresentadores, que, cada um à sua maneira, conseguiam cativar e conquistar as diferentes demografias que sintonizavam o programa (e se os espectadores mais novos associam o concurso ao estilo frenético, brejeiro e bem-humorado de Fernando Mendes, as gerações mais velhas talvez se recordem, sobretudo, da abordagem mais sofisticada dos originais Cruz e Breyner).

Exemplo do estilo de apresentação de Carlos Cruz, bastante diferente do do actual anfitrião, Fernando Mendes.

Seja qual fôr a versão que lhes tenha prendido a atenção em pequenos, no entanto, a maioria dos portugueses certamente não negará o estatuto de clássico televisivo a 'O Preço Certo', programa que, hoje, rivaliza quase exclusivamente com os Telejornais como um dos mais longevos de toda a História da televisão portuguesa moderna, contando já com quase 4000 emissões totais, incluindo vários especiais comemorativos, transmitidos em directo a partir de grandes salas de espectáculos de todo o País – o que, para um concurso, constitui nada menos do que um feito...

 

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