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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

08.11.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Em 'posts' passados deste nosso blog, falámos já de adaptações em BD de filmes ou séries animadas, da revista TV Guia, e da colecção Tele BD, que se dedicava às primeiras e era editada pela segunda; ainda mais recentemente, falámos da série 'Capitão Planeta', parte indelével da cultura popular da geração 'millennial', em Portugal e não só. Agora, chega a hora de corrigir uma desatenção de há duas semanas, e dedicar algumas linhas a uma publicação que consegue a 'proeza' de reunir os três elementos supramencionados num só álbum de seis histórias. Falamos da adaptação em BD das aventuras do super-herói ecologista, editada algures há trinta anos pela TV Guia Editora como parte da série Tele BD, até então mais conhecida por publicar as BDs das Tartarugas Ninja, e que, ao contrário das mesmas, se encontra hoje algo Esquecida Pela Net.

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De facto, este é daqueles álbuns sobre os quais se encontra pouquíssima informação, e muita dela contraditória ou incompleta; a própria data de edição é incerta, e os artistas responsáveis pelas histórias contidas no volume são completamente diferentes segundo a fonte que se consulte – presume-se que por cada uma das seis ter equipas criativas diferentes. Os nomes que se conhecem, graças a listagens diversas do volume através da Web, são perfeitamente desconhecidos: uma fonte fala nuns tais de Barry Dutter e Jim Salicrup, enquanto outra menciona Pat Broderick e José Delbo, todos (presumivelmente) artistas 'a soldo' cuja ética e orgulho não estavam, ainda, acima da criação deste tipo de material puramente comercial e sem grande margem criativa.

Isto porque, previsivelmente, as histórias deste volume pouco diferem das aventuras televisivas do Capitão e da sua equipa de ajudantes adolescentes, os Planetários, destinando-se o mesmo, puramente, a servir como complemento ao produto principal, e a tentar extrair mais uns 'cobres' de uma franquia que os próprios criadores sabiam ter um tempo de vida limitado; nesse aspecto, 'Capitão Planeta e os Planetários' (o livro) cumpre bem a sua missão, mostrando, inclusivamente, algum cuidado nos traços, que fazem lembrar as produções da DC Comics da altura.

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Exemplo da arte do volume (Fonte: Tradestories.pt)

No seu âmago, no entanto, este é um livro sem qualquer hipótese (ou intenção) de perdurar no famosamente curto espectro de atenção do seu público-alvo, o que pode explicar a razão pela qual se encontra, hoje, maioritariamente reduzido a uma capa em bases de dados de BD, ao invés de ser lembrado como outras grandes produções da época; quando até mesmo um fanático de 'quadradinhos' (e, enquanto espectador do programa, parte da demografia-alvo) como o autor deste blog nunca ouviu falar do livro em causa, está tudo dito sobre o seu impacto cultural na juventude portuguesa da época... Ainda assim, vale recordar mais esta 'pérola' da BD comercial, que só poderia mesmo ter saído durante a década de 90, no auge da era de ouro dos desenhos animados e da sensibilização para a ecologia, e antes de a Devir ter 'habituado mal' os jovens portugueses no tocante a banda desenhada de qualidade...

24.10.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O ambientalismo e a ecologia foram, a par da luta contra as drogas e da informação sobre o flagelo da SIDA, dois dos principais temas para os quais qualquer jovem português dos anos 90 foi extensivamente sensibilizado, quer pelos próprios pais, quer pelos educadores e até pelos 'media' de informação e entretenimento. De facto, além de constituírem assunto frequente nos noticiários dos 'graúdos', estes temas 'infiltraram' a grande maioria da programação infanto-juvenil da época, com quase todas as séries dirigidas a um público menor de idade lançadas à época a terem direito ao 'episódio especial' em que os protagonistas tentam evitar que um amigo experimente drogas, ou travar um industrialista malvado que pretende arrasar uma floresta.

No dealbar dos anos 90, uma companhia decidiu levar este conceito ainda mais longe, e dedicar toda uma série animada a um super-herói defensor da ecologia e do planeta; o resultado foi uma das séries mais meméticas de sempre, e a primeira a 'vir à baila' sempre que se tentam recordar exemplos de produtos mediáticos descaradamente destinados a educar sobre um único tema, de forma totalmente falha de qualquer subtileza.

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Criado por Ted Turner – patrão da Turner Entertainment e principal responsável pela divulgação da maior concorrente da WWF no mercado da luta-livre americana, a WCW – o Capitão Planeta e os seus fiéis ajudantes, os Planeteiros, começaram por 'condicionar' para a ecologia as crianças norte-americanas, em 1990, antes de, no ano seguinte, atravessarem o Atlântico para surgir nos écrãs dos jovens lusitanos, pela mão da RTP, e em versão legendada, dado estar-se, ainda, nos primórdios da dobragem 'made in Portugal'. As crianças portuguesas da época puderam, assim, desfrutar precisamente da mesma experiência dos seus congéneres norte-americanos, com todos os elementos hoje amplamente parodiados, como as frases de efeito – 'by your powers combined, I am Captain Planet!', 'the power is YOURS!', 'GOOOO PLANET!' - e o irresistível tema-título, a marcarem presença sem qualquer 'localização' para a língua-pátria. E se, nos Estados Unidos, 'Capitão Planeta' beneficiou, sobretudo, do horário único, sem a oposição de qualquer outro conteúdo infantil, em Portugal, a vantagem veio da inclusão no popular bloco 'Brinca Brincando', da RTP, que quase garantia o visionamento por parte de uma percentagem significativa da população jovem nacional.

E a verdade é que 'Capitão Planeta' bem pode agradecer por essa 'benesse', dado tratar-se de uma série do mais 'azeiteiro', que apenas seria possível naqueles últimos anos do século XX – cuja estética, aliás, permeia cada 'frame' de animação. A premissa até não é má, e chega para cativar qualquer criança fã de super-heróis, mas as constantes 'lições' sócio-ecológicas do herói de cabelo verde (e também, diga-se de passagem, dos seus mini-coadjuvantes) são tão forçadas quanto se poderia pensar, e claramente dirigidas ao espectador para lá da 'quarta parede', em vez de inseridas nos episódios de forma natural e subtil; subtileza, aliás, é coisa que não existe em 'Capitão Planeta', o tipo de série que conta com vilões denominados 'Capitão Poluição' – uma versão maléfica do protagonista, naturalmente – e Looten Plunder.

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Os próprios personagens são do mais irritante que há, com os Planeteiros como aquele tipo de herói infantil culturalmente diverso, insuportavelmente virtuoso e 'espertinho' que 'infectava' a programação para crianças da época, e o próprio Capitão a habitual cópia do Super-Homem com ainda menos personalidade (e, neste caso, poderes ambientais). Pela lógica, a série não deveria resultar, mas a verdade é que se passava o oposto, com o programa a fazer o suficiente para cativar jovens bastante menos cínicos do que os de hoje em dia, e a conseguir algum sucesso enquanto foi transmitida na RTP.

No entanto, talvez haja uma razão para, até hoje, não ter havido segunda exibição da série, algo quase inédito no contexto dos desenhos animados da época. A verdade é que 'Capitão Planeta' envelheceu muito, mas mesmo muito mal, sendo fácil perceber a razão porque muitos adultos da época se envergonham de ter assistido a esta série quando eram pequenos. Não é o caso deste que vos escreve (e que vai mesmo ao extremo de admitir que o seu Planeteiro favorito era o muito 'gozado' Ma-Ti, o elemento do Coração) mas a verdade é que os argumentos em desfavor deste desenho animado são perfeitamente válidos, merecendo o mesmo ser relegado a memória remota e difusa de um tempo muito diferente no tocante a entretenimento para crianças. O épico tema de abertura, de longe o melhor elemento do programa, merece um lugar no panteão de grandes exemplos do género; o resto é perfeitamente dispensável, excepto para uma sessão de nostalgia semi-irónica ou para perceber porque razão os anos 90 são considerados uma das épocas mais satirizáveis dos últimos cem anos...

Outro dos grandes genéricos dos anos 90, e de longe o melhor elemento da série.

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