02.07.24
NOTA: Este 'post' é respeitante a Segunda-feira, 01 de Julho de 2024.
Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
Já aqui anteriormente referenciámos a década de 90 como talvez o auge da produção de humor em Portugal, com nomes tão icónicos como Nicolau Breyner, Herman José e Camilo de Oliveira a encabeçarem um sem-número de produções especiais, programas de 'sketches' e, claro, séries. E embora a maioria destas últimas surgisse num formato mais do que típico, com apenas o guião e interpretações a denotar a sua natureza humorística, uma delas, estreada na SIC algures em 1999, tentava uma abordagem ligeiramente diferente, e que vinha rendendo frutos em países como os Estados Unidos desde há já várias décadas – a gravação 'ao vivo em estúdio', frente a uma plateia, numa estratégia que permitia uma reacção orgãnica aos elementos supracitados, mais próxima da verificada numa peça de teatro ou espectáculo de revista do que da típica produção televisiva.
Falamos de 'Residencial Tejo', cuja premissa – pai e filha saloios 'aterrados' na capital e a braços com a gestão de uma pensão – reunía vários elementos muito apreciados do público português, aliando um foco na ainda hoje extensa classe popular provinciana, com personagens perfeitamente balanceadas entre os toques caricaturais e a verosimilhança, a um estilo de humor fácil, ligeiro e de 'escola' tipicamente portuguesa, que havia já assegurado o sucesso de várias outras séries no decurso da mesma década, e haveria ainda de impulsionar muitas mais. Junte-se a isso um elenco perfeitamente capaz de dar vida às respectivas personagens - encabeçado por Anna Paula, Canto e Castro (ele que acumularia ainda, durante mais alguns meses, o papel de professor de Tonecas na icónica adaptação televisiva dos textos de Oliveira Cosme) António Vitorino D'Almeida (numa rara incursão pelo universo dramático) e Maria do Céu Guerra, naquele que se tornaria o seu papel mais icónico, o da campónia protagonista Seição – e estava dado o mote para três temporadas de relativo sucesso, embora não tão longevo ou memorável como o de séries semi-contemporâneas como 'Camilo & Filho, Lda.' 'Major Alvega' ou as próprias 'Lições do Tonecas'.
Maria do Céu Guerra, no seu papel mais marcante como Seição, responsável pela residencial homónima da série.
Ainda assim, e apesar das críticas de que foi alvo por parte do eminente analista de televisão Eduardo Cintra Torres – que considerou a premissa pouco realista por sugerir uma miscigenação pouco conflituosa entre classes sociais muito distintas – 'Residencial Tejo' teve, obviamente, suficiente aceitação por parte do público nacional da viragem do Milénio para se manter no ar durante vários anos, o que – embora hoje se encontre algo esquecida no vasto 'baú' de séries de humor suas contemporâneas – não deixa de lhe outorgar um merecido lugar entre as páginas deste nosso 'blog'.