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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.03.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Já aqui em ocasiões passadas abordámos alguns dos principais concursos televisivos do Portugal de finais do século XX, tendo nessas ocasiões também mencionado que este tipo de conteúdos constituía um dos principais 'esteios' da programação dos quatro canais 'abertos' portugueses da época. No entanto, havia, até agora, uma lacuna de vulto na nossa cobertura de programas desse tipo, lacuna essa que procuramos agora preencher: chegou, finalmente, a altura de falar do Um, Dois, Três.

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Considerado por muitos como o expoente máximo dos 'game shows' portugueses da fase clássica – mais ainda do que 'O Preço Certo' – o programa em causa conseguiu permanecer no ar durante praticamente uma década e meia, com muito poucas alterações ao formato, e apenas uma mudança de apresentador durante todo esse período. Da sua estreia há quase exactamente trinta e nove anos (a 19 de Março de 1984) à última emissão em 1998, o concurso baseou-se quase sempre numa prova de 'endurance' mental em várias fases, subordinada a um tema específico que 'rodava' semanalmente, e disputada a pares por três casais. O objectivo final do casal vencedor – e, consequentemente, apurado para a segunda fase - passava por adivinhar, com base nas pistas dadas pelo apresentador e seus coadjuvantes, o grande prémio de cada episódio, o qual consistia quase sempre dos habituais automóveis e viagens, mas podia também tratar-se de algo cómico e insólito, à laia de partida – quase sempre uma réplica da mascote do programa, a carismática Bota Botilde. (Esta última ideia seria, aliás, adoptada com grande sucesso por Olga Cardoso para o seu 'A Amiga Olga', grande êxito dos primórdios da TVI.)

Além desta prova central, que ocupava a grande maioria do tempo de antena do programa, o 'Um, Dois, Três' contava ainda com as habituais apresentações musicais e cómicas, estas últimas a cargo de nomes tão conceituados do humor da época como Carlos Miguel (o 'Fininho'), Herman José, Raul Solnado ou Marina Mota, cujo papel era o de entreter não só o público presente nos estúdios da Tóbis, como também os espectadores a assistir ao programa em casa.

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O apresentador sinónimo com o programa.

Por entre todos estes nomes sonantes, no entanto (incluindo o de Botilde), havia um que se destacava, e que se tornou ao longo dos anos ainda mais sinónimo com o programa do que a própria bota: Carlos Cruz. O carismático apresentador, então em estado de graça e ainda longe do escãndalo Casa Pia, representava, à época, uma presença constante na sala de estar dos portugueses durante o serão, e o seu típico 'charme' era responsável por grande parte do sucesso do 'Um, Dois, Três' – tanto assim que, durante o seu tempo de vida, o concurso apenas teve dois outros apresentadores: o igualmente carismático António Sala, em 1994-95, e Teresa Guilherme, durante a breve 'ressurreição' do programa no século XXI. Os restantes treze anos tiveram sempre Carlos Cruz ao 'leme', tornando o concurso praticamente sinónimo com toda a carreira do apresentador.

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António Sala ao comando do programa.

Em suma, o 'Um, Dois, Três' foi uma daquelas adaptações de formatos estrangeiros (no caso, da vizinha Espanha) que acabam por gozar de enorme sucesso também em Portugal, sendo ainda hoje um dos programas mais carinhosamente lembrados pela geração que cresceu com Carlos Cruz a 'entrar-lhe pela sala dentro' todos os princípios de noite, e que, quiçá, tenha mesmo chegado a ter junto ao gira-discos o LP da Bota Botilde...

O icónico genérico do programa.

Emissão completa da era António Sala.

 

13.03.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A década de 80 foi a época dos grandes heróis de acção, capazes de resolver conflitos por si só, à força de murros, balas e explosões; dos ex-soldados normalmente interpretados por Schwarzenegger e Stallone (ainda longe da sua fase como actores de comédia) aos mercenários do Esquadrão Classe A ou artistas marciais como os vividos por Van Damme, eram muitos os ídolos musculados à disposição dos 'putos' daquela época. No entanto, a estes 'brutamontes' de bom coração, contrapunha-se uma outra vertente de herói, mais 'cerebral' e capaz de escapar de situações complicadas usando a inteligência e espírito de 'desenrasca', que tinha como símbolos máximos o James Bond de Timothy Dalton e mais tarde Pierce Brosnan, e o homem de que falamos esta semana, o lendário Angus MacGyver, protagonista da série com o mesmo nome.

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Surgido nos ecrãs portugueses no ocaso da década de 80 – mais concretamente a 24 de Setembro de 1989 – o lendário agente secreto vivido por Richard Dean Anderson rapidamente se destacou da 'concorrência' pela sua extraordinária capacidade de resolver qualquer situação apenas com recurso ao seu canivete suíço e a objectos presentes nas suas imediações, sendo o exemplo 'memético' normalmente utilizado o de abrir uma fechadura com um 'clipse'. E, enquanto 'solucionador de problemas' da agência governamental american Phoenix, a verdade é que não faltam oportunidades para MacGyver testar o seu engenho, e derrotar os diversos vilões que se atravessam no seu caminho sem nunca recorrer a armas de fogo, às quais tem aversão devido a uma tragédia pessoal.

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O carismático Richard Dean Anderson dava vida ao agente americano.

O resultado são cenas de acção e peripécias capazes de deixar os espectadores da época – sobretudo os mais novos – 'colados' ao sofá, a ver como as 'MacGyvaradas' do agente o vão ajudar a ultrapassar o obstáculo da semana. E apesar de a série, já na altura, não ser 'topo de gama' a nível da produção, a verdade é que as 'acrobacias' de Anderson, juntamente com uma actuação personalizada (e, claro, um DAQUELES genéricos absolutamente lendários) davam à série um charme que lhe valeu o estatuto de 'culto' em vários países, entre eles Portugal, por onde 'MacGyver' teve uma passagem curta, mas memorável – embora não bem-sucedida o suficiente para justificar a transmissão dos dois filmes televisivos alusivos ao agente, produzidos em 1994.

Facto curioso: quase nos esquecíamos de mencionar este clássico absoluto  dos genéricos televisivos neste post; felizmente, ainda nos lembrámos a tempo...

Ainda assim, foi com naturalidade que 'MacGyver' entrou, em décadas subsequentes, na rotação nostálgica de canais como a RTP Memória, onde a série repetiu, não uma, mas duas vezes, em 2010 e 2019. Falta de 'material' original para exibir por parte da emissora estatal, ou prova do carinho de que a série continua a gozar no nosso País? Que diga de sua justiça quem, nos anos formativos, se sentou em frente à televisão aos Domingos, pelas 19 horas, para ver um homem arrombar uma porta trancada com um 'clipse' e um bocado de pastilha elástica...

 

13.02.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Hoje em dia, a chamada 'ficção nacional' é parte integrante da grelha televisiva dos canais portugueses, seja sob a forma das famosas telenovelas ou no registo mais sério e dramático de séries como 'Conta-me Como Foi'; até inícios do Novo Milénio, no entanto, a situação era diametralmente oposta, centrando-se a maioria da ficção televisiva portuguesa no géneros do humor em 'sketch', com digressões infrequentes para os campos da reconstituição histórica ou para conteúdos infanto-juvenis. Há pouco mais de vinte e cinco anos (em Outubro de 1997) a RTP quis, no entanto, mudar esse paradigma, através de uma série que, ainda que pouco lembrada hoje em dia, acabou por dar o mote para várias tendências durante as mais de duas décadas de televisão nacional que se seguiram.

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Falamos de 'Riscos', um programa que, à época, se destacou por ser pioneira no ramo da ficção serializada nacional dirigida especificamente a um público jovem – um 'nicho' que, nos Estados Unidos, era já uma forma de arte, e que já havia rendido um mega-sucesso 'falado em português', no caso a telenovela brasileira 'Malhação'. A 'versão portuguesa' deste conceito inseria-se, precisamente, entre as da América do Norte e do Sul, apresentando uma espécie de cruzamento entre a referida 'Malhação' e algo como 'Beverly Hills 90210', com as devidas adaptações à realidade portuguesa.

De facto, o conceito-base da série era praticamente idêntico ao dos exemplos supracitados - bem como de outras séries internacionais, como a britãnica 'Grange Hill' - propondo ao espectador 'entrar' na vida quotidiana de um grupo de estudantes do ensino secundário, no caso de um colégio privado, e acompanhar em 'tempo real' os seus variados dramas, que iam das habituais complicações amorosas (aqui, do casal Bruno e Mariana) a temas mais sérios, como as drogas. E se este parece um conceito familiar, é porque o é: a proposta de 'Riscos' é exactamente a mesma que, poucos anos mais tarde, granjearia mais de uma década de sucesso a uma aposta da 'concorrente' TVI – uma pequena produção independente, de que talvez já tenham ouvido falar, chamada 'Morangos com Açúcar'...

(Sim, quando dissemos no início deste 'post' que 'Riscos' abrira um precedente importante na produção televisiva nacional, tratava-se de mais do que uma força de expressão...)

A diferença entre a série da RTP e a perene telenovela juvenil da TVI (esta, sim, uma localização directa de 'Malhação') é, sobretudo, o menor enfoque no dramatismo barato, em favor de uma abordagem mais séria a assuntos relevantes para a vida dos jovens, não só do Portugal daquela época, mas da sociedade ocidental em geral, os quais eram tratados de forma directa, frontal e sem grandes 'mariquices', com a preciosa ajuda de um elenco que misturava 'veteranos' como Alexandra Lencastre e Diogo Infante com jovens actores da idade dos seus personagens, entre os quais se destacava Paula Neves, também ela a poucos anos de atingir a imortalidade 'noveleira' do 'outro lado da estrada', em Queluz.

Assim, e embora não tenha passado de uma única temporada (ao contrário do que sucedeu com os seus sucessores directos) é fácil perceber porque é que 'Riscos' é, hoje em dia, considerado um marco na História da televisão portuguesa, e da ficção nacional em particular – e porque era premente que corrigíssemos a nossa desatenção de Outubro passado, e celebrássemos devidamente os vinte e cinco anos da sua estreia.

Genérico e excerto da série.

16.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

E depois de na última Segunda de Séries do ano passado termos falado do mais famoso 'procurado' da História da cultura juvenil, nada melhor do que, na primeira deste ano de 2023, darmos alguma atenção à outra pessoa de quem, naquela época, se perguntou frequentemente 'Onde Está?': uma espécie de congénere feminina e menos inocente do jovem de roupa listrada, e que com ele partilha o gosto pela cor vermelha e o tema de abertura épico da sua série animada. Falamos de Carmen Sandiego, a misteriosa protagonista da série com o seu nome (ou antes, para lhe dar o título completo, 'Onde Está Carmen Sandiego?') e que, durante cinco temporoadas, 'trocou as voltas' a um grupo de adolescentes determinados a encontrá-la e fazê-la pagar pelos seus crimes, maioritariamente circunscritos a roubos.

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Produzida entre 1994 e 1999, e baseada no jogo de computador educativo lançado na década anterior (e que gozou de enorme sucesso nos seus EUA natais) a série da DIC (então hegemónica no espaço televisivo infanto-juvenil internacional) tinha o total apoio da Broderbrund, produtora do jogo-base, e partilhava com este o elemento didáctico, o qual era implementado de forma subtil e se prendia, sobretudo, com as diferentes localizações pelas quais os dois jovens protagonistas (e o seu computador inteligente) viajavam em busca da ladra de gabardine vermelha, que andava, inevitavelmente, um passo à frente do 'casalinho'.

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A protagonista da série.

Esta integração de novos conhecimentos num contexto de entretenimento sem que o resultado final parecesse forçado – que 'Carmen' partilha com ilustres como 'A Carrinha Mágica', 'Artur', a trilogia 'Era Uma Vez...', 'Castelo da Eureeka' e, claro, 'Rua Sésamo' – valeu à série um 'Daytime Emmy Award' por Excelência na Programação Infantil, no final da sua primeira temporada, em 1995.

Ao contrário do que acontecia com a maioria das séries internacionais, a transmissão de 'Carmen' em Portugal deu-se com desfasamento mínimo em relação aos EUA, tendo a série passado na emissora estatal nacional logo em meados da década, em versão dobrada e, como não podia deixar de ser, com uma adaptação perfeitamente ÉPICA do genérico original – talvez o elemento mais memorável de todo o conjunto, e prova (se ainda fosse necessária) da habilidade que os estúdios de dobragem da altura tinham para criar temas de abertura marcantes.

Tema de abertura ou ária de ópera? Um pouco de ambos...

De resto, e apesar de bem-conseguida no cômputo geral (tanto tecnicamente como em termos de história) a série não se afirmou como particularmente marcante para as crianças portuguesas daquela geração, sendo, hoje em dia, muito menos lembrada do que a adaptação para TV de 'Onde Está o Wally?' - um daqueles casos paradoxais difíceis de explicar fora do contexto da época. Ainda assim, vale a pena recordar as aventuras televisivas da ladra americana, protagonista daquele que foi mais um bom exemplo de 'edutenimento' produzido durante a década de 90...

 

10.01.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

por diversas vezes aqui apresentámos provas cabais de que os concursos se encontravam entre os formatos televisivos mais populares dos anos 80 e 90 (e, embora em menor escala, também do Novo Milénio). Desde sempre presentes nas tardes dos portugueses, sob as mais diversas formas e formatos e subordinados aos mais variados temas, este tipo de programa nunca deixava de se afirmar como um sucesso de audiências junto do público-alvo. A adição a este genéro feita pela SIC há quase exactos vinte e cinco anos – a 12 de Janeiro de 1998, escassos dois meses após o quinto aniversário da emissora – não é excepção a esta regra, e conseguiu mesmo atrair alguma atenção durante os pouco mais de três anos em que esteve no ar.

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Tratava-se de 'Roda dos Milhões', uma espécie de mistura entre 'A Roda da Sorte' e o clássico sorteio televisionado do Totoloto que, mais do que um mero programa de televisão, se tornou num verdadeiro 'franchise', com direito a revista própria, CD alusivo aos artistas que actuavam no programa, e até uma raspadinha com o seu nome.

Apresentado inicialmente pela dupla de Jorge Gabriel (símbolo máximo do programa) e Mila Ferreira – ambos então em alta – e mais tarde também por Fátima Lopes, o programa oferecia ainda outros atractivos, como música ao vivo a cargo de artistas tanto nacionais como internacionais, mas era nos diversos jogos e passatempos que residia o principal interesse do formato, pelo menos para quem não jogava no Totoloto.

download.jpgOs dois grandes símbolos do programa.

Isto porque, à boa maneira do seu antecessor espiritual, 'A Roda da Sorte', o concurso contava em estúdio com a roda homónima, que os concorrentes da semana podiam girar para ganharem prémios imediatos em dinheiro, bem como com outros jogos, como a 'Marca da Sorte', em que o prémio era um automóvel; assim, mesmo quem não 'arriscava' nos números da Santa Casa tinha vastas razões para sintonizar semanalmente a estação de Carnaxide às Segundas, em horário nobre – especialmente porque se atravessava, à época, o longo período entre o fim d''A Roda da Sorte' original, com Herman José, e a chegada das versões 'revitalizadas' do concurso, na época seguinte, servindo a 'Roda dos Milhões' como honroso substituto.

Assim, foi com naturalidade que o programa se assumiu como mais um dos muitos sucessos da estação de Carnaxide durante a sua 'fase imperial' na segunda metade dos anos 90 – pelo menos até a SIC findar, abruptamente, a sua transmissão, por impossibilidade de manter o horário das Segundas à noite, e perder o formato para a televisão estadual, onde o seu destino seria exactamente o inverso, tendo a versão com Nuno Graciano como apresentador durado exactos três meses antes da extinção total do formato, a 6 de Junho de 2001. Nada que belisque a reputação ou marca histórica e cultural de um concurso que, ainda que simples e simplista, não deixou (com maior ou menor mérito) de ser um sucesso, e, como tal, é bem digno de ser celebrado na semana em que se completa um quarto de século sobre a sua estreia.

02.01.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A transição de conteúdos literários para o ecrã (seja grande ou pequeno) raramente é bem conseguida, e ainda menos em casos em que a popularidade do material original dependia de uma qualquer particularidade difícil de reproduzir em formato audio-visual. Com isto em mente, e tendo em conta a esmagadora quantidade de adaptações de livros para cinema e televisão que falharam redondamente ao longo dos anos, não deixa de ser de admirar que uma das mais bem-sucedidas transições deste tipo tenha sido feita, precisamente, por uma série de livros que não podia nem devia resultar num formato baseado em imagens em movimento.

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Falamos de 'Onde Está o Wally?', a bem-sucedida adaptação para televisão dos não menos bem-sucedidos livros infantis do inglês Martin Handford, cuja premissa implicava precisamente o que o título indiciava, cabendo ao leitor encontrar o personagem homónimo (e, mais tarde, também a sua restante 'entourage') ao longo de uma série de quadros super-povoados, e repletos de 'armadilhas' e 'distracções' visuais destinadas a dificultar a missão em causa. Com base nesta descrição, não é difícil perceber o porquê de 'Wally' (ou 'Waldo', como é conhecido nos Estados Unidos) requerer, forçosamente, um meio visual de carácter estático - e, no entanto, a versão animada do explorador de 'pullover' às riscas e seus amigos é, ainda hoje, tida como uma das melhores adaptações animadas da sua época.

Talvez esse sucesso tivesse estado ligado à qualidade da série, que se posiciona firmemente na parte superior da lista de produções animadas da época, apresentando animação fluida e personagens (se não tanto argumentos) memoráveis para quem com eles tenha convivido. O próprio Wally era um protagonista por demais simpático, muito bem coadjuvado pelo sábio Barba Branca (que o envia em diferentes missões), pela namorada Wenda, pelo cão Woof e, sobretudo, pelo memorável vilão Estranho-À-Lei, uma espécie de 'versão maléfica' do nosso herói (o seu nome original, Odlaw, é, aliás, apenas o nome 'completo' do protagonista escrito ao contrário), com a obrigatória roupa semelhante, mas com o esquema de cores 'trocado', como era apanágio da época.

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O vilão Estranho-À-Lei, talvez o personagem mais memorável do programa.

Juntos, este 'bando' envolvia-se numa série de aventuras vagamente baseada nos cenários do livro (que iam de cenas contemporâneas a locais históricos ou até astrais) em que o 'Onde' do título deixava de dizer tanto respeito à localização do personagem na cena, e passava a referir-se sobretudo ao próprio local onde a aventura se desenrolava. O resultado foi uma série que, sem entrar nos 'Tops' de desenhos animados de ninguém que tivesse a idade certa à época, tão-pouco era ignorado pelo seu público-alvo, que fazia mesmo o esforço de estar frente à televisão à hora certa para ver cada novo episódio - uma marca inegável de sucesso para uma propriedade deste tipo, como o foi o inevitável lançamento dos episódios na habitual série de VHS, pela não menos inevitável Prisvídeo, logo no ano seguinte à exibição do programa na RTP. E, como não podia deixar de ser, ter um daqueles genéricos tão 'trauteáveis' que se 'entranham' no cérebro também não deixava de ajudar com este desiderato, antes pelo contrário...

O inesquecível genérico português da série, talvez o seu elemento mais memorável

Tanto foi o sucesso, de facto, que 'Wally' teve mesmo direito a uma segunda adaptação, em 2017 - agora já com os esperados recursos ao 'Flash' para a animação, e com o casal de personagens transformado em crianças. Quem tenha filhos fãs desta nova série e acesso a episódios do original tem, no entanto, o dever de a apresentar aos mais pequenos, já que (quase exactos trinta anos após a sua estreia em Portugal) a mesma se continua a afirmar como um bom produto de animação infanto-juvenil, bem menos 'datado' do que se possa pensar, e (como tal) bem capaz de entreter toda uma nova geração do seu público-alvo.

27.12.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A programação natalícia em Portugal é sinónimo de uma série de coisas bem conhecidas: o 'Sozinho em Casa', o Circo de Natal, a missa...e a mais antiga de todas essas tradições, o concurso internacional de canto infantil conhecido como Sequim D'Ouro. Uma espécie de Festival da Eurovisão para crianças (ou, se preferirmos, um 'Mini Chuva de Estrelas' à escala internacional, e sem a vertente 'cosplay') este concurso realiza-se anualmente, sem falta, desde finais dos anos 50 (normalmente em Novembro), e é transmitido de forma igualmente assídua pela televisão estadual portuguesa, como parte da sua grelha de Natal.

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O conceito do concurso requer que cada mini-concorrente (oriundo dos quatro cantos do continente europeu, exactamente como na versão 'dos crescidos') interprete uma música original em duas versões - a primeira na sua língua natal e a segunda em Italiano, a língua do país organizador do concurso; cada interpretação é, depois, julgada por um júri especializado, sendo no final escolhido um vencedor. Um formato simples, e que permite que o foco seja posto onde verdadeiramente deve: nos esforços vocais dos jovens intérpretes, sempre devidamente acompanhados pelo coro infantil residente do Teatro Antoniano de Bolonha, onde o festival é tradicionalmente gravado.

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Durante o auge da sua popularidade, o  boneco Topo Gigio era presença habitual no concurso.

Nos anos 80 e 90, a transmissão anual deste concurso trazia, ainda, o atractivo adicional da presença do Topo Gigio, mascote nativa americana que, à época, gozava de alguma popularidade em Portugal, fruto do programa homónimo que tinha 'apresentado' na RTP, em inícios dos anos 80, e que na década seguinte renovaria essa mesma popularidade ao surgir no programa-estandarte da SIC ao lado de João Baião; só mais um incentivo para as crianças portuguesas sintonizarem a estação estadual no dia de Natal, e assistirem a uma emissão que reunia vários ingredientes perfeitos para a programação desta época do ano, e que continua, ainda hoje (mais de seis décadas após a sua estreia) a afirmar-se como um clássico da mesma, quanto mais não seja pela longevidade e inevitabilidade da sua presença na grelha natalícia nacional, que rivaliza já com a do referido 'Sozinho em Casa' e respectiva segunda parte...

19.12.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Na edição passada desta rubrica, mencionámos que, de entre todas as séries animadas produzidas nos anos 80 e 90, apenas uma era, declaradamente, tematizada em torno do Natal, e ambientada na época do ano e localização geográfica normalmente associadas com a mitologia do mesmo; agora, na última Segunda de Séries antes do Natal - e última deste ano 2022 - chega a altura de nos debruçarmos, precisamente, sobre essa produção.

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Trata-se de Noeli, um 'anime' produzido em meados dos anos 80, mas que se encontrava ainda em rotação na grelha da RTP no final do primeiro ano da década seguinte, datando a sua segunda e última exibição em Portugal, precisamente, de Dezembro de 1990 e inícios de Janeiro de 1991. Com um total de vinte e três episódios, e um estilo de animação bem típico das produções japonesas da época (ainda que algo mais 'suave' que o de contemporâneos como 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Oliver e Benji' ou mesmo a lendária adaptação em 'anime' de Tom Sawyer) a série tem como objectivo declarado seguir o quotidiano do Pai Natal (aqui conhecido como 'Noeli'), da sua mulher Maria (presumivelmente, a Mãe Natal) e dos respectivos duendes, à medida que todos se preparam para mais uma noite de Natal; pelo meio - e porque seguir a premissa à risca tornaria a série algo aborrecida - os elfos assistentes do bom velhinho (aqui conhecidos como Tontos, a palavra japonesa para 'Elfos' que, pelos vistos, ninguém se deu ao trabalho de traduzir) vivem ainda uma série de peripécias na floresta que rodeia a oficina de São Nicolau, no coração da Finlândia remota.

Uma premissa que limita bastante a abrangência da série, mas que, inversamente, a torna perfeita para exibição na época festiva, quando o público-alvo se encontrava de férias, e com tempo livre de sobra para seguir as aventuras desta família de simpáticos duendes. E a verdade é que 'Noeli' nunca mostra pretender ser mais do que aquilo que é - uma série simpática, sem a acção violenta ou as aspirações épicas demonstradas pela maioria das produções japonesas, da época e não só. E se esta intenção declarada a poderá ter tornado algo 'fofinha' em demasia para um determinado sector do público infanto-juvenil, para outros tantos, esta série terá sido tão sinónima da experiência televisiva de certas épocas festivas da infância como 'O Natal dos Hospitais' ou o Circo de Natal - e esses terão, sem dúvida, apreciado esta pequena homenagem à única série animada verdadeiramente natalícia do período a que este blog diz respeito.

05.12.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Apesar de inspirar e servir de tema a inúmeros filmes e especiais televisivos, o Natal teve, ao longo dos anos, muitíssimo poucas séries completas a ele dedicadas; talvez pela dificuldade em manter o interesse das audiências nesta época muito específica do ano em meses menos festivos, escasseiam os exemplos de programas – sejam de acção real ou em desenho animado – com o Pólo Norte ou a época das festas como pano de fundo. Mesmo a época 'áurea' para este tipo de conteúdo a que este blog diz respeito apenas rendeu um exemplo totalmente tematizado no período natalino (de que falaremos na Segunda de Séries mais próxima da festa em si) e um outro que, sem ser dedicamente natalício, tinha o Pai Natal como personagem recorrente, e um antagonista que pretendia tomar o lugar do bom velhinho; é sobre esta última que nos debruçaremos esta semana.

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Trata-se de 'Bebés em Festa' (no original, 'Baby Folies') série animada francesa produzida em 1993 e transmitida nos dois canais da televisão estatal, em versão dobrada, a partir de 1996. Como o próprio nome indica, o programa debruça-se sobre as aventuras e desventuras dos habitantes de Vila Bebé, a localidade onde os bebés esperam pela cegonha que os levará aos futuros pais; no entrementes, os rebentos (que, apesar de ainda não terem tecnicamente nascido, já andam e falam, entre outras acções) desfrutam de uma sociedade totalmente funcional, com presidente da câmara, bares de 'leitinho', forças da lei, empresários, tecnocratas, detectives privados e até 'gangsters' ao estilo Al Capone, sem esquecer a 'menina' da praxe (a série segue, aliás, a 'fórmula Estrumpfe', sendo a Bebé Lauren uma das poucas personagens femininas, a par da Bebé Executiva.) E como se este conceito não fosse, já em si, suficientemente bizarro, os bebés têm, ainda, interacções frequentes com o Pai Natal (que surge mesmo 'fora de época') e com o malvado Scrogneugneu, um mago cujo objectivo máximo é tornar-se 'Pai Natal em vez do Pai Natal' - uma mistura algo aleatória de elementos que acaba, no entanto,por resultar.

Não que 'Bebés em Festa' seja uma série de particular destaque a nível técnico ou de enredos – pelo contrário, muitas das aventuras vividas pelos personagens (como a que apresentamos abaixo) poderiam perfeitamente ser transpostas para um contexto adulto sem que nada excepto alguns elementos superficiais se alterasse; nesse aspecto, o programa fica muito atrás do concorrente mais directo, 'Rugrats – Os Meninos de Coro', que tira o máximo proveito das potencialidades de um elenco composto por bebés (e a vontade de ver 'Rugrats' fica, ainda, exacerbada pela presença de algumas das vozes que davam vida a Tommy, Chucky e amigos em Portugal, aqui em papéis bem menos desafiantes, interessantes ou memoráveis.)

No entanto, para aquilo que é - entretenimento infantil descartável e sem pretensões à imortalidade nostálgica - 'Bebés em Festa' resulta, ainda que (como o excerto abaixo também demonstra) não seja tão inocente quanto à primeira vista parece, contendo elementos que apenas uma companhia europeia se atreveria a inserir num programa infantil – como se não bastasse o 'rebolado' da Bebé Lauren, o único excerto disponívell no YouTube mostra um enredo focado no vício do jogo (!) com personagens supostamente honestos a roubarem cofres (!!) e até uma cena que se pode interpretar como levemente racista para com o único bebé negro (!!!). Detalhes que terão, decerto, 'passado por cima da cabeça' do público-alvo da época, mas capazes de arrepiar qualquer produtor televisivo dos dias que correm.

Excerto de um episódio que apresenta alguns elementos surpreendentemente 'adultos'

Em última instância, no entanto, nem mesmo estes pormenores algo inesperados e chocantes chegam para tirar 'Bebés em Festa' da mediania, sendo o único elemento verdadeiramente longevo o tema de abertura, um daqueles que ainda se recordam literais décadas depois de o programa sair do ar; no restante, a série merece destaque apenas por ser uma das poucas que incorpora o Natal no seu conceito-base a tempo inteiro, ficando bastante aquém da maioria dos outros produtos nostálgicos de que aqui vimos falando desde o início deste 'blog' – bem como de outro, de conceito semelhante, que aqui paulatinamente abordaremos. Ainda assim, numa época que peca pela falta de foco ao nível das séries, esta produção francesa sempre vai sendo das poucas a 'dar o corpo à causa', fazendo assim por merecer estas breves linhas de destaque neste início de época festiva.

O contagiante genérico da série sobrevive mesmo a uma qualidade de som praticamente inexistente.

 

 

15.11.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Desde a criação deste blog, e desta secção em particular, temos vindo a recordar inúmeros exemplos de programas infanto-juvenis memoráveis transmitidos nos anos 90, quer no tocante a blocos de desenhos animados, como o Buereré, a Casa do Tio Carlos, o Mix-Max, o Brinca Brincando ou o Batatoon, quer a concursos, como a Arca de Noé, Tal Pai, Tal Filho ou o(s) programa(s) que hoje aqui abordamos: o Circo Alegria, e a sua 'continuação não-oficial', o 'Vamos ao Circo'.

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Logotipo do 'Circo Alegria', o primeiro dos dois programas em análise.

E já que acima mencionámos o Batatoon, convém, desde logo, começar por referir que estes dois programas forneceram à maioria das crianças portuguesas o primeiro grande contacto com aquela que se viria a tornar a dupla de palhaços mais conhecida e famosa de Portugal, muito graças ao referido bloco vespertino de desenhos animados; sim, o concurso estreado em 1992 pela RTP, e 'repescado' dois anos mais tarde pela TVI, marca a génese da parceria entre António Branco, o Batatinha, e Paulo Guilherme, o Companhia - então com aparência e maquiagem algo diferentes, mas já com as personalidades, dinâmica e 'timings' bem definidos, tornando os seus segmentos um dos pontos altos de cada episódio (como, aliás, o foram depois no Batatoon).

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O visual de Batatinha à época, algures entre o ex-parceiro Croquete e o aterrorizante Pennywise.

Ao contrário do espaço que os tornaria famosos, no entanto, o foco do 'Circo Alegria' e do 'Vamos ao Circo' eram, não os desenhos animados, mas as provas fisicas, sempre disputadas entre duas equipas seleccionadas de entre as escolas que compunham a plateia (uma prática, aliás, bastante comum em programas de auditório infanto-juvenis da época, que nunca deixavam de contar com pelo menos um estabelecimento de ensino entre o público presente em estúdio.) Pelo meio, além das interacções entre Batatinha e a sua perene 'pulga no sapato' Companhia, ficavam ainda números musicais com artistas convidados 'da moda' (outra prática quase obrigatória em programas deste tipo à época) e, claro, as algo atrevidas sugestões do apresentador à bela assistente feminina, mediante o icónico 'Ó Mimi, apita aqui!' (que a dita talvez tenha levado a peito, motivando a sua substituição, aquando da transição para a TVI, por uma nova Mimi, de cabelo mais escuro...) De referir ainda que, além da Mimi e do inevitável Companhia, estes dois programas marcam, também, a estreia de Honório e Finório, a dupla de 'assistentes de circo' silenciosos e expressivos que acompanhariam os apresentadores até ao final da sua carreira como dupla.

Exemplo dos segmentos humorísticos do programa (crédito: Desenhos Animados PT)

No fundo, dois programas bastante parecidos, que não só estabeleceram o duo Batatinha e Companhia como grande favorito das crianças (estatuto que o Batatoon viria, mais tarde, a cimentar) como também marcaram época durante a primeira metade dos anos 90, fazendo ainda hoje parte da memória de muitos dos ex-jovens que, tarde após tarde, acompanharam com regozijo tanto as peripécias dos dois palhaços como as provas por eles engendradas, e disputadas por participantes da sua própria faixa etária. Razões mais que suficientes, portanto, para recordarmos ambos os (francamente, indissociáveis) programas, precisamente no ano em que a versão transmitida pela RTP celebra trinta anos sobre a sua primeira emissão, e a da TVI, vinte e cinco sobre a última...

Um dos programas do Natal de 1992

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