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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.06.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

A década de 90, e os primeiros anos da mesma em particular, representaram talvez o período de maior evolução dentro do panorama televisivo português. O dealbar de novas tecnologias, como a televisão por satélite e mais tarde por cabo, em conjunção com o aparecimento de não uma, mas duas emissoras privadas em anos consecutivos, resultou, por um lado, num duplicar, em poucos anos, do número de estações em sinal aberto a transmitir em Portugal e, por outro, em inúmeras possibilidades de expansão e exploração dos novos meios disponíveis por parte dessas mesmas emissoras.

A primeira a perceber o potencial destes novos recursos – até por o aparecimento das duas concorrentes privadas obrigar à procura de novas avenidas, sob pena de estagnação e obsolescência – foi a RTP, que, durante a última década do século XX, lançou não um, mas dois serviços que tiravam proveito das novas tecnologias disponíveis, um dos quais completa esta semana trinta e um anos de vida, enquanto que o segundo festejou no início deste ano, em Janeiro, o seu quarto de século de existência. Falamos da RTP Internacional e da RTP África, dois canais concebidos exclusivamente para transmissão no estrangeiro que representavam a primeira tentativa de expansão da RTP em quase duas décadas, desde o aparecimento dos dois canais insulares em meados dos anos 70.

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A primeira a surgir foi a RTP Internacional, no Dia de Portugal e das Comunidades do ano de 1992, com o objectivo de tirar partido das novas tecnologias de satélite para fazer chegar a sua emissão (inicialmente com apenas seis horas de duração) ao maior número possível de países estrangeiros, permitindo assim aos portugueses ali radicados manterem-se a par do que se ia passando no País; com o avançar das décadas (e da tecnologia televisiva) foi com naturalidade que este serviço transitou para a grelha da TV Cabo, onde permanece até hoje, agora com transmissão contínua durante vinte e quatro horas e conteúdos oriundos não só da televisão estatal como também das duas concorrentes, que fazem assim um esforço conjunto em prol dos emigrados nacionais.

Quase exactamente quatro anos e meio depois desta primeira expansão – a 7 de Janeiro de 1998 – a emissora estatal alarga a sua oferta a ainda mais um canal, este exclusivamente destinado a levar a sua programação aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, e, como tal, baptizado com o óbvio nome de RTP África. Por comparação com a sua antecessora Internacional, o principal ponto a destacar relativamente a este canal – além do seu raio de influência significativamente mais reduzido – era o facto de, a par dos programas da RTP portuguesa, o mesmo apresentar também conteúdos originais, especificamente talhados para corresponder aos interesses do público africano – uma práctica que se mantém até hoje, com enorme sucesso, e que continua a representar o principal diferencial do canal, também ele ainda parte da grelha a cabo.

Os anos e décadas seguintes viriam, é claro, a trazer ainda mais escolha e ainda maiores inovações para benefício dos espectadores portugueses, a ponto de, hoje em dia, ser difícil imaginar que algum dia tivesse sido necessário afixar uma enorme antena à lateral de casa ou do prédio para ver, de forma distorcida, imagens de outros países; no entanto, os dois canais 'escondidos' lá bem no fundo da lista de canais da ZON e da Meo permanecem como símbolo e testemunho dos primeiros passos no sentido dessa expansão alguma vez dados em território nacional, nos tempos em que a tecnologia era mais limitada, mas a capacidade de inovação bastante mais desenvolvida.

21.02.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Apesar de os anos 80 e 90 serem, normalmente, tidos como a era, sobretudo, dos avanços tecnológicos, este esteve longe de ser o único campo a sofrer evoluções; pelo contrário, foram vários os sectores a evidenciar progressos durante esta época da História, ainda que nem todos de forma tão 'declarada' ou evidente como o da tecnologia. A área do audio-visual, por exemplo, evoluiu também bastante durante estes anos – um fenómeno que, em Portugal, se fez verificar principalmente através da duplicação, num período de apenas quatro meses em inícios da década de 90, do número de canais televisivos em Portugal.

De facto, se à entrada para o segundo semestre do ano de 1992, Portugal tinha apenas os mesmos dois canais de que sempre dispusera – mais as respectivas 'filiais' regionais disponíveis por satélite – em inícios do ano seguinte, a situação era já significativamente diferente: em Outubro de 1992, a oferta aumentara para três canais, com o aparecimento da primeira emissora privada em território nacional, a SIC, e logo em Fevereiro de 1993, verificar-se-ia o aparecimento de uma segunda estação privada – uma estação com imagética alusiva aos Descobrimentos nos seus separadores e até no símbolo (que fazia lembrar a vela de uma caravela), informalmente conhecida nos seus primórdios como 'a Quatro', e cujo nome oficial viria, anos mais tarde, a polarizar todo um País.

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Falamos, claro está, da TVI, a qual celebrou ontem, 20 de Fevereiro de 2023, os exactos trinta anos da sua primeira emissão – oportunidade perfeita, pois, para fazermos uma breve retrospectiva dos seus inícios, à semelhança da que dedicámos à SIC aquando dessa mesma marca.

Corria a última semana de Janeiro de 1993 quando uma nova emissora, então ainda sedeada em Cabo Ruivo, e que mais tarde se mudaria para Queluz, levava a cabo a sua primeira emissão experimental: duas horas de 'ensaio', com transmissão de filmes e séries, que tinham honras de notícia no Telejornal da concorrente RTP (algo impensável hoje em dia), onde José Nuno Martins, director do novo canal, compreensivelmente se 'fechava em copas' e 'fazia questão de não dizer' nada sobre a nova estação, baptizada TVI – oficialmente 'Televisão Independente', mas também, para alguns, 'Televisão da Igreja', face à sua principal 'financiadora'.

De facto, a 'Quatro' era, aberta e declaradamente, um projecto da Igreja Católica, um facto que chegaria a influenciar certos aspectos da sua programação dos 'primórdios'; no entanto, o principal foco não eram tanto os conteúdos religiosos, mas sim as séries estrangeiras, que a emissora importava em exclusivo (como foi, fmaosamente, o caso com 'Ficheiros Secretos') ou 'recauchutava' dos arquivos da televisão estatal, como era o caso com 'Marés Vivas', 'MacGyver', 'O Justiceiro' ou 'Esquadrão Classe A', estes últimos na icónica dobragem brasileira. Os filmes eram outro dos principais 'pontos de venda' do novo canal, que se esforçava por exibir obras ainda inéditas em Portugal. Esta estratégia viria, rapidamente, a render dividendos para a TVI, que cresceria a olhos vistos durante os dois anos seguintes, integrando-se na rede satélite (que lhe permitia chegar às ilhas) e arriscando mesmo novas experiências, como o falhado formato 16:9. Programas marcantes, esses, também não faltavam, com 'A Amiga Olga', o 'Jogo do Ganso''A Casa do Tio Carlos' ou 'Circo Alegria'/'Vamos ao Circo' a ficarem, particularmente, na memória de quem crescia durante aqueles anos.

O verdadeiro 'salto', no entanto, dar-se-ia em 1997, quando a poderosa Media Capital adquire capital social na estação de Queluz, e dá início à mudança de paradigma que, a longo prazo, resultaria no canal que os Portugueses conhecem hoje, de cariz assumidamente popular e até um pouco sensacionalista, e com forte aposta na ficção nacional, em particular nas telenovelas, em que foi pioneira. De facto, por alturas da viragem do Milénio, a emissora era, já, praticamente irreconhecível, fazendo de programas como o 'Batatoon' e 'Mix Max', 'sitcoms' como 'Bora Lá Marina' (com a icónica Marina Mota) ou séries como 'Super Pai' os principais esteios da sua programação, e relegando para segundo plano as séries estrangeiras que a haviam alicerçado nos seus inícios (embora ainda houvesse espaço para 'Seinfeld' ou 'Profiler', e mais tarde 'CSI'.) Uma transformação que não deixaria indiferente quem, poucos anos antes, vira em directo os primeiros passos daquele canal tímido, até introvertido, que emitia em horário limitado e parecia perfeitamente contente em transmitir séries estrangeiras, e que agora se assumia como concorrente extrovertido e confiante ás mesmas emissoras que, naqueles primórdios, lhes concediam tempo de antena durante o Telejornal. Feliz aniversário TVI – e que continues a afirmar-te como uma alternativa durante muitos mais.

 

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