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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.08.21

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Desde o início desta rubrica que temos vindo a focar as nossas atenções, sobretudo, no estilo de bandas desenhadas disponíveis nas tabacarias, papelarias e quiosques daquele Portugal dos anos 90. No entanto, este não foi o único tipo de BD a fazer sucesso entre a população jovem da época; houve um outro género que se popularizou, precisamente, durante essa década, e que perdurou até, pelo menos, meados da seguinte – os álbuns de tirinhas originalmente publicadas nos jornais diários e semanários norte-americanos, as chamadas ‘comic strips’. E dentro dos álbuns de ‘comic strips’; houve uma dupla que se notabilizou acima de todas, ao ponto de ser praticamente sinónima com este estilo para a maioria das crianças portuguesas.

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Falamos, como é óbvio, de Calvin e Hobbes, o ‘pestinha’ de seis anos e o seu amigo imaginário / tigre de peluche com nomes de filósofos renascentistas que cativaram a juventude portuguesa da época com a sua mistura de tirinhas cómicas-sarcásticas com outras mais filosóficas e reflexivas, muito pouco habituais na era do ‘berrante e movimentado’.

Nascidos, ainda nos anos 80, da imaginação de Bill Watterson, um ex-‘cartoonista’ político, a dupla almejava representar, em simultâneo, a inocência, imaginação e poder de observação demonstrado pela maioria das crianças. Para almejar este objetivo, Watterson dividia a personalidade típica infantil entre dois personagens, ficando Calvin com a faceta mais imaginativa e irrequieta, e o seu tigre – em grande parte baseado na gata de Watterson - com a parte mais reflexiva, observante e sensata. Esta dinâmica, que o criador explorava de forma perfeita, dava à tirinha um equilíbrio que faltava em muitas outras, mais explicitamente viradas à comédia, fazendo de Calvin and Hobbes, os personagens, quase como que sucessores naturais dos famosos ‘Peanuts’, de Charles Schulz; e, tal como ‘Peanuts’, não tardou até a BD de Watterson se tornar um êxito entre o público jovem.

Portugal – onde a BD chegava em início dos anos 90, com a habitual meia-dúzia de anos de atraso, pela mão da editora Gradiva – não foi excepção à regra neste aspecto. De facto, a maioria das crianças portuguesas dos anos 90 e 2000 tinha na sua colecção pelo menos um dos álbuns de Calvin & Hobbes editados no nosso país – fosse um dos ‘normais’ ou um dos especialíssimos e muito cobiçados álbuns ‘grande formato’ e provavelmente várias peças de ‘merchandise’ alusivas à dupla - inevitavelmente, piratas, sendo que NUNCA houve ‘merchandising’ oficial de Calvin and Hobbes, por vontade expressa de Watterson, conforme o próprio conta no seminal álbum de aniversário da dupla, ‘Parabéns Calvin & Hobbes’.

Ainda assim, tal não impedia a existência de t-shirts, autocolantes e outros artigos ilustrados pelas mais famosas cenas desenhadas por Watterson, e que faziam as delícias das crianças e adolescentes portuguesas, e um pouco por todo o Mundo.

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O seminal álbum de celebração dos dez anos da dupla, editado pela Gradiva, e um dos muitos produtos alusivos à mesma, de cariz não licenciado

Infelizmente, foi ainda na década de 90 que Bill Watterson resolveu encerrar actividades, desiludido com o rumo que a indústria de ‘comic strips’ norte-americana estava a tomar. Estávamos em 1995 quando o autor da mais famosa representante do género declarou que não criava mais…e não criou. Nos vinte e cinco anos seguintes, não saiu nem mais uma tira, nem mais um desenho, nem mais uma história alusiva à dupla, tendo os seus milhões de fãs espalhados pelo globo tido de se contentar com o material pré-existente.

Entretanto, a era de ouro dos sindicatos de ‘comics’ viria, também ela, a acabar e, com ela, a publicação em massa deste tipo de álbuns, que – embora ainda se vejam nas livrarias – já não têm a preponderância que em tempos tiveram entre a população jovem, mais virada para o digital que para as leituras. Ainda assim, a influência que um ‘puto traquina’ e o seu tigre de peluche tiveram em toda uma geração de leitores portugueses não pode ser menosprezada, e justifica bem a atribuição de meia dúzia de parágrafos num blog nostálgico a esta marcante série de BD do ‘nosso’ tempo…

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