22.06.24
As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.
Numa edição passada desta rubrica, também publicada num período de efusão futebolística, falámos da experiência de ir ao estádio ver um jogo. Apesar de preferencial e inesquecível, no entanto, essa nem sempre era uma opção viável para as crianças e jovens dos anos 90, especialmente no tocante a jogos de (ou contra) clubes maiores, em que o preço dos bilhetes tendia a ser proibitivo, ou encontros internacionais, que muitas vezes tinham lugar fora do País, tornando a presença física impossível, numa era em que as viagens não eram ainda tão globalizadas como hoje.
Nesse tipo de instância, apenas restava uma de duas opções aos jovens: ver o jogo em casa, no conforto da própria sala, ou dirigir-se a um espaço público – normalmente o café mais próximo – para assistir à partida em conjunto com outros adeptos. E se a primeira das duas opções primava pela practicidade e conforto, a segunda (que abordámos também, embora sumariamente, no nosso 'post' anterior) era, muitas vezes, a escolhida, pela oportunidade que proporcionava de viver uma espécie de versão 'reduzida' da experiência de estádio, em que cada adepto se podia manifestar livremente ou trocar impressões ou até 'galhardetes' com quem apoiava os adversários. Talvez por isso tantas crianças e jovens da época tenham feito questão de acompanhar os familiares adultos ou, quando já mais velhos, combinar com os amigos ou colegas de escola para ir ao café 'ver a bola'.
O advento da TV Cabo e da Sport TV tornou, se possível, esta prática ainda mais comum, já que a mesma era comum em estabelecimentos públicos (por oposição a lares particulares, muitos dos quais ainda não tinham o pacote) e oferecia maior qualidade e diversidade de jogos a que assistir, permitindo assim que os adeptos não ficassem restitos ao 'jogo da semana' exibido pela televisão pública ou por um dos canais privados. A partir de finais do século XX, concretamente de 1998, passou ainda a ser possível assistir a certos jogos, sobretudo partidas internacionais que envolvessem a Selecção Portuguesa ou fizessem parte de torneios, em ecrã super-gigante, num novo espaço: a Praça Sony, em Lisboa, inaugurada aquando da EXPO '98, e onde milhares de adeptos de todo o Mundo acompanharam o Mundial de França desse mesmo Verão. Escusado será dizer que este passou, também, a ser um ponto de encontro privilegiado para os adeptos lisboetas durante os anos seguintes, embora menos nos dias que correm.
Ao contrário do que sucede com outras tendências abordadas nestas páginas, o ritual de 'ir ver a bola' em público, mesmo que não no estádio, não só não caiu em desuso como não se alterou significativamente com o advento da era digital – o que não é de surpreender, visto ser o Homem um animal social, apreciador de experiências de catarse conjunta como as propiciadas por um jogo de futebol. É, pois, provável que um adepto português que entre num qualquer café durante as próximas semanas encontre a televisão sintonizada num qualquer jogo do Euro, e ainda mais provável que o mesmo se detenha alguns momentos a assistir, e a trocar impressões com o 'vizinho' do banco ou mesa ao lado, que estará, sem dúvida, tão absorto quanto ele próprio - e, potencialmente, a lembrar outras competições, de um passado mais ou menos distante, em que tenha feito exactamente a mesma coisa, quiçá naquele mesmo local...