16.10.24
Em quartas-feiras alternadas, falamos sobre tudo aquilo que não cabe em nenhum outro dia ou categoria do blog.
Era a ameaça-mor dos professores do ensino preparatório e secundário dos anos 90; a forma quase garantida de fazer com que a parcela mais 'inocentemente' irreverente dos alunos (por oposição aos verdadeiramente indisciplinados) assumissem um comportamento mais condicente com o contexto da sala de aula. O simples receio de ver aquela meia-dúzia de linhas em cada página do pequeno livreto preenchidas com uma nota ou recado para os encarregados de educação fazia até o mais convicto dos 'gozões' repensar as suas prioridades, e concentrar-se na matéria a estudo, tornando a caderneta escolar numa das grandes 'armas' dos docentes para manter a paz ao longo do ano lectivo.
Uma caderneta do período de 'viragem de Milénio'
Os relatos de mau comportamento estavam, claro, longe de ser a principal função da caderneta, a qual servia também como meio alternativo para convocar reuniões de pais ou comunicar visitas de estudo (à falta das tradicionais circulares) ou simplesmente para veicular recados mais generalistas. Para os alunos, no entanto, aquele pequeno livrinho de inofensiva aparência adquirido nos primeiros dias de regresso às aulas era o equivalente ao infame 'registo permanente' dos alunos norte-americanos – algo que os iria marcar não só a curto-prazo, como potencialmente num futuro mais distante, como o fim do ano lectivo, ou até mesmo o ano seguinte. Acima de tudo, a nota na caderneta era motivo de vergonha para a grande maioria dos alunos, o que, a juntar às inevitáveis consequências à chegada a casa, fazia dessa uma medida disciplinar indesejada e até temida por qualquer jovem de finais do século XX e inícios do seguinte.
Tal como tantos outros elementos da vida de então, no entanto, também as cadernetas escolares perderam preponderância com a evolução dos meios digitais, os quais, pelo seu imediatismo e celeridade, rapidamente se assumiram como principal meio de comunicação entre docentes e pais ou educadores, 'eclipsando' progressivamente a tradicional caderneta. Convenhamos, no entanto, que uma queixa por email, lida no ecrã de um computador ou telemóvel, não tem o mesmo impacto daquelas linhas escritas à mão nas páginas daquele livrinho que havia depois que tirar da mochila e apresentar fisicamente aos pais, 'rezando' para não levar uma 'descasca', fazendo desta mais uma das muitas áreas em que as gerações 'Z' e 'Alfa' não sabem a sorte que têem. Qualquer 'X' ou 'millennial', no entanto, terá porventura estremecido um pouco ao ler estas linhas, e relembrar 'rasponços' memoráveis decorrentes de travessuras na escola, e as subsequentes e inevitáveis mensagens da professora na caderneta...