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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

05.11.23

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 4 de Novembro de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

Hoje em dia, uma criança citadina que queira experienciar um pouco da vida campestre – nomeadamente no tocante aos animais vulgarmente encontrados em ambientes rurais – tem toda uma série de instalações onde o pode fazer, espalhadas de Norte a Sul do País; a maioria destas, no entanto, tem menos de duas décadas de existência, sendo que, em finais do século passado, apenas uma instalação oferecia tal possibilidade – a Quinta Pedagógica dos Olivais, em Lisboa.

Quinta_Pedagógica_-_Lago.JPG

Vista aérea do espaço.

Visitado pelo menos uma vez por qualquer turma do ensino básico de uma escola lisboeta da segunda metade dos anos 90, este espaço de dois hectares gerido pela Câmara Municipal de Lisboa – situado em pleno coração urbano da cidade, mas que conseguia fazer parecer o contrário – abriu portas pela primeira vez há vinte e sete anos, concretamente a 16 de Abril de 1996, com a proposta de permitir às crianças urbanas ficar a conhecer e tomar contacto com animais com que os seus congéneres campestres conviviam diariamente, como cabras, ovelhas, galinhas, perus, cavalos ou vacas, entre outros. Ao visitar o espaço, as crianças eram, assim, encorajadas a interagir com cada um destes animais, o que ajudava, entre outras coisas, a minimizar quaisquer medos ou fobias relacionados com os mesmos. Além desta vertente principal, a Quintinha organizava também uma série de ateliers e actividades, ligados tanto aos trabalhos manuais quanto à horticultura ou culinária, o que fazia do espaço um excelente auxiliar pedagógico para diversas vertentes, que não apenas o Estudo do Meio ou a ecologia.

Escusado será dizer que a instalação era um sucesso entre o público-alvo, suscitando o aparecimento, em anos e décadas subsequentes, de um sem-número de espaços semelhantes, dos quais os primeiros se situaram no Jardim Zoológico de Lisboa e na zona dos Prazeres, na ilha da Madeira. Deve-se, portanto, àquele primeiro espaço em Lisboa o surgimento do paradigma actual, o que torna a instalação em causa mais do que merecedora de um lugar nesta nossa rubrica dedicada a espaços interessantes para uma Saída de Sábado nos anos 90.

19.01.22

NOTA: As imagens deste post foram retiradas do 'site' pessoal de António Jorge Gonçalves, em http://www.antoniojorgegoncalves.com/livros-books.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Hoje em dia, há pouco quem duvide de que um meio como a banda desenhada também pode representar arte e cultura; de facto, são cada vez mais numerosos os volumes de banda desenhada dirigidos a um público jovem-adulto, à semelhança do sucedido nos anos 60 e 70 no seio do movimento franco-belga, e mais tarde no Japão, com as tradicionais 'mangas'.

Nos anos 90, no entanto, vivia-se o auge da era oposta – a era em que a banda desenhada (a par de meios audio-visuais análogos, como os jogos de vídeo) eram considerados estritamente para crianças, e tidos como a forma de leitura menos inteligente disponível no mercado – isto apesar de mesmo as BD's declaradamente para crianças terem laivos de sarcasmo e humor mais sofisticado por entre todo o 'nonsense' e animação. A tal não ajudava o facto de algumas destas publicações nada mais serem do que uma tentativa declarada de amealhar mais uns 'cobres' às 'costas' de um produto mediático da moda, com um ciclo de vida propositalmente curto e, portanto, sem grandes preocupações com a qualidade do material.

Terá, talvez, sido com o intuito de alterar esta situação, e a percepção que tanto graúdos como miudos tinham da banda desenhada, que, em 1993, o pelouro da Cultura da Câmara Municipal idealizou e distribuiu gratuitamente nas escolas do Primeiro Ciclo do concelho, uma publicação que, embora não se tratando de uma BD no sentido lato da palavra, se pode ainda assim inserir nesta categoria.

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Falamos de 'Lisboa Às Cores', um projecto que juntava desenhos do aclamado ilustrador António Jorge Gonçalves (então no auge de carreira, vindo a ser vencedor do prémio de Melhor Álbum Português no Festival de BD da Amadora desse mesmo ano, com a obra 'ANA') com textos de Nuno Júdice, num conceito que ficava ali a meio caminho entre a banda desenhada de cariz mais abstracto e artístico e os livros ilustrados tipicamente lidos pelas crianças daquela faixa etária, dando sempre maior primazia aos desenhos do que ao texto. No fundo, o livro servia quase como uma daquelas colecções de arte que normalmente se põem na mesa da sala de estar, sendo o tema, neste caso, a cidade de Lisboa, e as emoções e sentimentos que a mesma inspira – um conceito, talvez, um pouco 'adulto' demais para o público a que se destinava, mas cuja execução, de uma perspectiva adulta, não pode ser considerada menos do que excelente.

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Exemplo da arte do livro

De facto, basta olhar de relance para os desenhos de Gonçalves para perceber a razão de o mesmo ser um praticante aclamado da arte da ilustração, enquanto a prosa vagamente poética de Júdice encaixa bem no que o seu 'parceiro de crime' vai criando, resultando numa leitura agradável para entusiastas de BD de todas as idades. O facto de um livro com este grau de detalhe e cuidado ter sido distribuído gratuitamente é motivo para elogios ao pelouro da Cultura da CML em 1993, pois haveria muito boa gente (embora não necessariamente entre os 5 e os 10 anos de idade...) que pagaria de bom grado para poder ler este livro.

Hoje em dia, como tantos outros tópicos de que aqui falamos, 'Lisboa Às Cores' encontra-se um pouco Esquecido Pela Net – excepção feita, claro está, ao seu próprio criador. No entanto, para uma criança em 1993 (especialmente uma que já gostasse de livros, e de ler) este álbum terá constituído uma oferta plena de acerto – ainda que talvez tenha demorado alguns anos até as mesmas se aperceberem disso...

 

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