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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.05.24

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Na última edição desta rubrica, falámos dos três volumes de 'Canções da Rua Sésamo', os quais se juntam às 'Canções do Lecas' aos LP's da Arca de Noé, ao disco dos Patinhos e aos dois álbuns do Batatoon no panteão de lançamentos infantis ligados a programas de televisão que se revelaram sucessos por direito próprio. Tal lista não estaria completa, no entanto, sem um outro álbum, que aproveitou em pleno a presença de um nome ligado à música para conseguir alguma tracção para além dos confins das composições para crianças, e penetrar na consciência popular portuguesa durante vários anos após o seu lançamento.

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Falamos, é claro, de 'Super Buereré', também frequentemente conhecido como 'Ana Malhoa e Hadrianno', o álbum 'oficial' do icónico programa infantil de Ediberto Lima, lançado em pleno auge do mesmo, em 1996, e que pôs todo um país a recitar as cinco vogais do alfabeto latino juntamente com a 'versão portuguesa' da musa infantil brasileira Xuxa, e com um homem vestido de gorila. E se, descrito assim, o disco pode parecer um grotesco sonho febril causado pelo abuso de substâncias psicotrópicas, a verdade é que, no contexto português de meados dos anos 90, o conceito por detrás do mesmo fazia todo o sentido, juntando duas das estrelas favoritas das crianças da época – e duas das principais figuras da SIC de Ediberto Lima – numa alegada colaboração que, de facto, se ficava pelo aspecto plástico, já que o macaco Hadrianno se limitava a dançar e posar para as fotos com Ana Malhoa, a quem cabia todo o trabalho de interpretação.

Assim, mais do que uma colaboração alusiva ao programa que lhe dá título, este acabava por ser, sobretudo, mais um álbum de Ana Malhoa, então prolífica no 'universo paralelo' da música 'pimba', com a principal diferença a residir no grau de visibilidade da cantora, que abria estas doze canções a um público bem mais vasto do que o habitual. E a verdade é que o 'esquema' de Ediberto Lima resultou em cheio, não havendo criança ou jovem da época que – de forma irónica ou sincera – não soubesse entoar a 'Canção do Hadrianno' e, sobretudo, 'Começar no A', um dos 'hinos' da primeira vaga de 'millennials' lusitanos, que decerto ainda conseguem recitar de cor a letra da autoria de Toy (outro ícone da música 'pimba'), e talvez até recriar a saltitante coreografia; já das outras dez faixas, pouco reza a História, apesar de terem, decerto, servido de forma perfeitamente aceitável a sua função de 'enchimento' em torno dos dois 'singles', perfazendo um álbum que grande parte das crianças daquele ano de 1996 terá, decerto, 'implorado' aos pais para ter.

De facto, tal foi a procura pelo CD que, meses depois, o mesmo era reeditado, com capa e grafismo diferentes, a ordem das faixas alterada, e menos quatro canções (entre elas os dois 'singles', aqui presentes apenas em formato 'karaoke') sob o nome 'Super Buereré Vol. 2' – embora, ao contrário do que acontecia com os supracitados LP's da Rua Sésamo e Arca de Noé, de 'segundo' só tivesse mesmo o nome. Uma jogada de 'marketing' perfeitamente descarada, mas que terá, ainda assim, chegado para satisfazer os desejos das crianças que não tinham posses para comprar um disco inteiro, e que conseguiam, graças a este lançamento, desfrutar ainda assim de um mini-álbum, ainda que sem os dois principais 'chamarizes' do disco original.

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A capa alternativa que disfarçava o disco original de 'Vol. 2.'...

Fosse qual fosse o formato, no entanto, é inegável que 'Ana Malhoa e Hadrianno – Super Buereré' merece lugar de destaque na discografia infanto-juvenil dos anos 90, tanto pelo sucesso de que o seu programa-base gozava como pelo impacto que teve entre a sua demografia-alvo no período de doze meses imediatamente após o seu lançamento. E se dúvidas restarem, não há senão que pedir a um português nascido na segunda metade dos anos 80 para entoar a canção do alfabeto do programa, e observar o que imediatamente acontece...

Os dois mega-sucessos retirados do álbum, e inesquecíveis para qualquer ex-criança dos anos 90.

 

15.04.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Já aqui numa ocasião passada falámos de 'Arrepios', a série de contos de terror para crianças que pôs grande parte dos 'millennials' portugueses a ler quando 'aterrou' no nosso País em meados da década de 90. Naturalmente, esta popularidade quase instantânea motivou a importação para Portugal de outros elementos ligados à franquia – nomeadamente, a série de televisão em acção real baseada nos primeiros livros da colecção, a qual recebia o habitual tratamento de dobragem típico dos programas infantis da época e tinha honras de estreia no 'Super Buereré' da SIC - à época o programa infantil por excelência da televisão portuguesa – há quase exactos vinte e sete anos, a 20 de Abril de 1997.

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Produzida originalmente em 1995, no Canadá (então, como hoje, opção 'em conta' para a filmagem de conteúdos norte-americanos, pelas parecenças entre as suas paisagens e as dos EUA) a série adaptava para o formato televisivo, de forma extremamente fiel, alguns dos mais conhecidos e populares contos da colecção 'Arrepios', de 'Máscara de Monstro' à famosa trilogia d''A Noite do Boneco Vivo', passando pela duologia inicial de 'Bem-Vindos à Casa da Morte' e 'A Cave do Terror'. No total, eram dezoito os volumes de 'Arrepios' a receber este tratamento, divididos entre duas temporadas – as quais, é claro, passaram juntas em Portugal, onde a série chegava já um par de anos depois da transmissão nos EUA. Quem era fã da série recebia assim, pois, um 'prato cheio', podendo revisitar as suas histórias favoritas neste novo formato, ou até ficar a conhecer contos de volumes que não constassem ainda da sua colecção – atractivo suficiente para sintonizar a SIC aos fins-de-semana de manhã e acompanhar cada novo episódio da série.

Apesar do relativo sucesso (ao qual também ajudava o seu posicionamento próximo a algumas das mais populares séries infantis de sempre em Portugal) a série 'Arrepios' não deixava, no entanto, de ser um produto do seu tempo, pelo que se afigurou natural que, após o fim do período áureo da popularidade dos livros, a adaptação televisiva não mais voltasse a passar em Portugal, nem mesmo numa SIC Sempre Gold ou RTP Memória. A inesperada popularidade da adaptação cinematográfica de 'Arrepios', com Jack Black no papel principal, pode, no entanto, vir a mudar esse paradigma, já que despertou em toda uma nova geração o interessa na franquia, despoletando mesmo planos para um inevitável 'remake', a cargo da Netflix; é, pois, perfeitamente possível que ainda venhamos a ver a série que tantos 'Arrepios' causou aos 'millennials' portugueses voltar ao ar, agora pronta a fazer gelar o coração dos membros da 'geração Z'...

31.07.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

No primeiríssimo 'post' deste blog, falámos do inesquecível e irrepetível fenómeno que foi Dragon Ball Z; já na última Segunda de Séries, comemorámos os vinte e cinco anos da sua algo desapontante sequela, Dragon Ball GT. Agora, apenas será de bom tom completar a 'trilogia', e falar da série que deu início a toda a 'febre', o Dragon Ball original.

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Criada por Akira Toriyama em 1986 e livremente baseada no antigo conto épico chinês sobre o Rei Macaco, Dragon Ball contava a história de Son Goku (ou Songoku, como era muitas vezes chamado) um rapaz de força prodigiosa, a beirar os super-poderes, com uma estranha cauda de macaco e detentor de uma nuvem mágica que obedece ao seu comando, que procura, simultaneamente, aprender artes marciais e reunir as sete bolas de cristal espalhadas pelo seu fantástico Mundo e que, quando juntas, invocam um dragão realizador de desejos; no caso de Son Goku, o desejo seria o de ressuscitar o avô, detentor original da quarta bola, agora na posse do jovem herói. O destino reúne-o a Bulma, uma adolescente desmiolada que também quer encontrar as bolas de cristal, Yamcha, um fora-da-lei, e Krillin, o outro discípulo do Mestre Tartaruga Genial, de quem Son Goku se torna aluno. Juntamente com personagens mais periféricos como Lunch (uma inocente e tímida menina que, ao espirrar, se torna numa irascível guerrilheira loira e musculada, ao estilo Rambo) Oolong (um ganancioso e oportunista porco antropomórfico) e Puar (um gatinho azul voador e transmorfo) este grupo irá viver muitas aventuras e enfrentar muitos inimigos, entre eles os alunos do Mestre Corvo Genial, Ten Shin Han (um monge com um terceiro olho implantado na testa) e Chaos (um príncipe com a aparência de um boneco de cristal), e os malvados extraterrestes Pilaf e Satã (sim, é mesmo esse o seu nome) cujo 'rabugento' filho se viria a tornar aliado dos heróis em 'Z'.

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O grupo de protagonistas - e alguns rivais.

E ainda que a sequela tenha sido o verdadeiro 'fenómeno' (ainda hoje inigualado em Portugal), a verdade é que Dragon Ball foi também imediatamente bem recebido pela juventude portuguesa aquando da sua estreia no mítico Buereré da SIC, quase uma década após a sua criação. Com o seu excelente balanço de acção e humor (com o segundo a ganhar largamente, ao contrário do que acontece com 'Z') história cativante e personagens imediatamente icónicos, a série não tardou a tornar-se uma das favoritas de uma demografia que já tinha acolhido de braços abertos séries como Tartarugas Ninja ou Moto-Ratos de Marte, de índole muito semelhante. Em relação a essas, no entanto – e a animes da 'primeira vaga', como Esquadrão Águia – Dragon Ball é mais centrado na fantasia, por oposição à ficção científica, destacando-se assim da maioria dos seus congéneres, o que também ajudou à sua rápida popularização; a versão portuguesa contou, ainda, com as vantagens acrescidas de uma dobragem abertamente cómica e largamente improvisada - que se tornaria um dos aspectos mais memoráveis tanto desta série como da sua sucessora– e de um tema de abertura absolutamente épico e clássico, considerado por muitos portugueses como sendo muito superior ao de 'Z' e mesmo ao de 'GT' (e que, decerto, figurará neste preciso momento na cabeça de muitos leitores).

Impossível não cantar.

Em suma, apesar de não ter atingido os contornos de fenómeno de massas do seu sucessor (e de alguma polémica relativa à suposta morte de uma criança ao cair de uma janela, esperando ser recolhida pela Nuvem Mágica) o Dragon Ball original não deixou de se afirmar como um sucesso entre os jovens portugueses de meados da década de 90, que, sem ter gerado tanto 'merchandising' como o seu sucessor, teve ainda assim direito às inevitáveis cassettes da Prisvídeo, no caso com filmes inéditos, como foi também o caso com 'Z'.

Uma das OVAs do Dragon Ball original lançadas pela Prisvídeo, no caso a terceira, e que serve como uma excelente introdução à série.

E a verdade é que a série faz por merecer essa recepção calorosa por parte do público-alvo, tratando-se, ainda hoje, de uma excelente série animada, dirigida a espectadores mais novos, sim, mas que os trata com respeito, e que talvez até seja mais agradável de rever do que o interminável 'Z', com as suas sagas de centenas de episódios em que apenas metade é relevante e avança a história – algo muito menos frequente nesta primeira série. Assim, quem quiser mostrar aos filhos – ou simplesmente a membros da geração mais nova – o que estava 'na berra' entre os 'putos' na sua infância, pode bem começar por lhes inculcar indelevelmente na cabeça o mesmo tema que tanto 'cantarolou' no recreio naquela época já longínqua: 'Dragon Ba-all, de puro cristaaaal...'

17.07.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

O 'post' que inaugurou este nosso blog nostálgico versou sobre o único ponto de partida possível para uma empreitada deste tipo: Dragon Ball Z, provavelmente a maior 'febre de recreio' da História da juventude portuguesa, pelo menos no que toca a propriedades intelectuais. O Dragon Ball original já havia feito sucesso aquando da sua inclusão na grelha do mítico Buereré da SIC, mas a sequela levou a 'coisa' a níveis que não voltariam a ser verificados até à verdadeira 'explosão' da série 'Harry Potter', já no Novo Milénio. Assim, não era, de todo, de estranhar que os níveis de entusiasmo dos jovens portugueses estivessem em alta quando a SIC anunciou que transmitiria a segunda (e, até então, última) sequela do 'anime', Dragon Ball GT, sobre cuja estreia se celebrou há precisamente uma semana um quarto de século. E por, nesse dia, o nosso foco ter recaído sobre a música, procuramos agora corrigir tal erro, e assinalar a efeméride com algumas linhas sobre a terceira parte da saga Dragon Ball; afinal, como diz o ditado, mais vale tarde do que nunca...

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Infelizmente, Dragon Ball GT acabou por não gozar do mesmo fanaticismo do que os seus antecessores – não por a 'febre' de Dragon Ball ter terminado (embora estivesse já em fase decrescente) mas apenas porque o produto em si ficava aquém das expectativas lançadas pelos últimos episódios de 'Z', a chamada 'saga Buu', que havia sido transmitida aos Sábados de manhã, ficando as tardes reservadas para a repetição integral da restante série – sim, Dragon Ball Z fez tanto sucesso que foi exibida, na íntegra, duas vezes! Já 'GT' sobreviveu, sobretudo, em infinitas repetições na futura SIC Radical, ao lado dos seus dois antecessores, e novamente na 'sombra' dos mesmos, não tendo sequer almejado ao estatuto de 'culto'; seria provavelmente incorrecto dizer que NINGUÉM gostou de Dragon Ball GT, mas é inegável que a terceira série é a menos acarinhada pela geração que cresceu a ver infinitos episódios de 'acção estática', não fosse dar-se subitamente um acontecimento 'de arromba' que pudesse ser discutido no dia seguinte na escola.

E a verdade é que 'GT' tinha tudo para 'dar certo', apresentando desenvolvimentos interessantes para o núcleo principal de personagens, e oferecendo até alguns 'bónus para fãs', como ver Krillin com cabelo ou conhecer a filha de Son Gohan, Pan; ademais, a dobragem portuguesa trazia precisamente a mesma equipa que ajudara a transformar 'Z' numa das adaptações mais divertidas e memoráveis da História da televisão portuguesa, além de um genérico de abertura absolutamente épico, em contraste total com a fraca música-título do antecessor, talvez o seu ponto mais fraco.

Se, ao menos, a série estivesse toda a este nível...

O único factor em falta era, pois, o mais relevante – o envolvimento do criador Akira Toriyama, que famosamente não viria a trabalhar na série, e cuja falta se fez sentir, nomeadamente ao nível da história, que não conseguia suscitar o mesmo interesse ou entusiasmo das dos seus antecessores. Nem a (assumidamente espectacular) imagem de Goku transformado em gorila, ou de longos cabelos pretos como parte da sua quarta transformação, foi suficiente para interessar a 'massa' afecta a Dragon Ball Z, que rapidamente deixou de sentir a necessidade de seguir a série com o mesmo nível de fervor que dedicara ao capítulo anterior - ainda que, como naquele caso, tenham chegado a sair em Portugal todos os vídeos associados à terceira parte, novamente pela mão da inevitável Prisvídeo, e com capas apenas ligeiramente menos 'manhosas' que as das 'cassettes' de 'Z' e da série original.

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Como Dragon Ball e Dragon Ball Z, 'GT' também teve direito ao lançamento dos seus filmes em formato VHS pela Prisvídeo.

Assim, vinte e cinco anos após a sua estreia, continua a ser difícil ver Dragon Ball GT como algo mais do que um falhanço, em grande parte responsável pelo fim de um fenómeno cultural, social e económico até então sem paralelo no contexto da juventude portuguesa; e embora a série tenha, decerto, os seus apreciadores, não será descabido afirmar que, no que toca à última parte da trilogia original, a maioria dos leitores deste blog se ficará mesmo pela 'malha' de abertura, o único elemento da série que merece verdadeiramente ser preservado. 'GT, DRAGON BALL GT, GUE-RREI-RO...!'

28.05.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

A magia sempre fez, tradicionalmente, parte dos fascínios e interesses de qualquer criança; afinal, quando se tem pouca experiência de vida e pouco se conhece do Mundo, algo tão simples quanto uma moeda que desaparece da mão de quem a segura após um passe de mágica é suficiente para causar uma reacção mista de fascínio e confusão. Assim, não é de espantar que os 'kits' de magia para crianças se tenham provado um filão relativamente lucrativo para os respectivos produtores ao longo das décadas; o que é mais surpreendente é que esta tendência tenha levado até à ponta final do século XX para surgir em Portugal, através de um produto licenciado a um dos mais populares programas infantis da História da televisão portuguesa.

De facto, entre meados e a segunda metade da década de 90, poucas terão sido as crianças a nunca terem desejado um 'Kit' de Magia Damião e Helena. Isto porque, além da aliciante de aprender a fazer magia, este produto trazia o incentivo adicional de ser 'patrocinado' pela dupla de ilusionistas que era presença frequente no 'Super Buereré' de Ana Malhoa, à época o mais visto de entre todos os programas infantis a passar em Portugal – e onde o referido produto não deixava, claro está, de ser periodicamente publicitado, sendo mesmo, por vezes, utilizado como prémio de jogos e concursos.

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Ana Malhoa com os dois ilusionistas que davam a cara pelo produto em análise.

Mesmo deixando de parte esta importante conexão, no entanto, o referido 'kit' tinha tudo para agradar aos entusiastas de magia, já que – apesar dos conteúdos simples e algo desproporcionais ao tamanho da caixa – continha todos os apetrechos necessários à realização de uma série de truques simples, ao nível de principiante, mas suficientes para satisfazer a veia ilusionista dos mais novos; bastava seguir as instruções e, com um pouco de talento e perserverança, era possível aprender truques que chegassem para impressionar a família e amigos.

Curiosamente, para algo tão popular na sua época, o 'Kit' de Magia Damião e Helena parece ter sido completamente Esquecido Pela Net, sendo impossível conseguir quaisquer imagens do mesmo, ou quaisquer detalhes dos seus conteúdos, sendo as únicas (e passageiras) referências disponíveis apenas sobre o facto de este produto ter existido. Ainda assim, para quem era da idade certa e espectador assíduo do programa de Ana Malhoa, esta terá sido daquelas memórias que a leitura deste post terá ajudado a reavivar, trazendo recordações de manhãs passadas em frente à televisão, a ver Damião e Helena fazer os seus truques, e a desejar receber o seu 'Kit' de Magia pelo Natal ou nos anos...

27.12.21

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Quem conheceu, já deve estar a cantarolar...

Tal como acontece tantas e tantas vezes nas páginas deste blog, também este vai ser um daqueles posts que começam com o genérico de abertura da série em causa; isto porque, para grande parte do seu público-alvo à época da transmissão, este foi mesmo um dos, senão O elemento mais marcante do programa, cuja letra ainda permanecerá embutida nas suas sinapses, pronta a ser debitada 'de cor' à mínima oportunidade.

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'Navegante da Lua' (no original, 'Sailor Moon') foi mais um dos vários clássicos da programação infantil introduzidos no nosso país por Ana Malhoa, Boi-re-ré, Vaca-re-ré, Croco, Hadrianno e o restante elenco do não menos clássico 'Buereré', um dos programas infanto-juvenis por excelência durante a 'nossa' década; no caso, corria o ano de 1995 quando Serena, Rita, Bunny e as restantes Navegantes surgiam pela primeira vez nos ecrãs de lares de Norte a Sul do país, dobradas em bom português (numa daquelas adaptações livres e cheias de improvisação habituais à época, semelhante à popularizada por 'Dragon Ball Z') e de tiaras apontadas directamente ao coração das raparigas pré-adolescentes (como 'Ursinhos Carinhosos' e 'Meu Pequeno Pónei', 'Sailor Moon' era daquelas séries que não se podia ver se se pertencesse à metade da espécie com cromossomas Y).

E a verdade é que o efeito sobre o público-alvo foi quase imediato - a partir desse ponto, e até ao final da década, as colegiais super-poderosas não mais perderiam a sua influência sobre a juventude portuguesa, para quem era difícil manter-se indiferente à mesma: dependendo do sexo, ou se amava, ou se odiava o programa; quem amava, citava as personagens principais, o charmoso Mascarado e a referida música de abertura como os principais atractivos, enquanto que quem não gostava listava precisamente esses mesmos elementos como factores de irritação em relação à série.

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O Mascarado era o interesse romântico da protagonista Serena

Amasse-se ou odiasse-se, a verdade é que 'Navegantes da Lua' fez tal sucesso aquando do seu aparecimento na SIC, que justificou uma nova transmissão cinco anos depois, agora na TVI, como parte da grelha do outro grande programa infantil das décadas de 90 e 2000, o 'Batatoon', e novamente em 2002, no Canal Panda. Este ressurgimento veio, no entanto, acompanhado de uma controvérsia, no caso ligado a algumas mudanças supérfluas e desnecessárias ao nível da dobragem dos episódios transmitidos no Panda, nomeadamente a troca de sexos entre os gatos das protagonistas, Luna e Artemis, passando Luna a ser um gato macho e Artemis (agora Artemisa) uma fêmea, ao contrário do que sucedia quer no original, quer na primeira tentativa de dobragem para português. Nada, no entanto, que afectasse a popularidade da série, que voltou a encontrar um público entusiástico e àvido de conteúdos de teor aventuroso dirigido a raparigas, numa época em que os programas infantis femininos tinham invariavelmente mais a ver com os supramencionados ´Ursinhos Carinhosos' ou 'Meu Pequeno Pónei'.

Sucesso esse, aliás, que se mantém até hoje, continuando as diversas séries de 'Sailor Moon' a ser transmitidas nos 'novos' canais infantis entretanto surgidos, como o Biggs, que em 2015 incorporava uma dobragem de 'Sailor Moon Crystal' à sua grelha de programação, inicialmente em formato censurado, e a partir de 2017 na sua versão integral, em tudo semelhante à original japonesa; mais uma prova, caso tal fosse necessário, da popularidade de que as meninas com poderes planetários continuam a gozar em Portugal, mesmo em meio à forte concorrência de programas como 'Miraculous Ladybug' e a nova série dos Pequenos Póneis. De facto, ao que parece, se depender do nosso público infantil feminino, Serena e as suas companheiras continuarão a castigar malfeitores em nome da Lua durante muitos e bons anos...

15.11.21

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

No que toca à animação, Portugal é um país com pouca tradição; como acontece em quase todos os outros sectores do meio audio-visual, os lusitanos são, sobretudo, consumidores de animação importada do estrangeiro, com particular ênfase nos Estados Unidos (claro), Inglaterra e Canadá.

No entanto, de tempos a tempos, um animador ou empresa de animação nacional consegue não só levar o seu produto adiante como expô-lo a um público mais alargado – e, nos anos 90, foi exactamente isso que aconteceu com a lisboeta Animanostra, responsável por não uma, mas duas das principais produções animadas nacionais durante aquela década e a seguinte. Do momento de maior fama da companhia, falaremos noutra ocasião – hoje, cabe recordar a série que lançou a Animanostra enquanto grande nome do meio dentro de portas, e se tornou uma das mais memoráveis produções animadas nacionais de sempre.

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'A Maravilhosa Expedição Às Ilhas Encantadas' pode não ter tido um título por aí além de apelativo, mas a sua combinação do ambiente directamente ligado à História e tradições portuguesas com um cuidado trabalho técnico (dentro das limitações vigentes) permitiram-lhe ultrapassar essa pecha, e conseguir sucesso suficiente entre o público-alvo para justificar a criação e exibição de uma segunda temporada, mesmo que desfasada no tempo em relação à primeira. Até porque desfasamentos temporais não eram, de todo, um conceito estranho para a equipa da Animanostra, que havia criado a série em 1992, mas só a veria ir ao ar quatro longos anos depois, no Natal de 1996.

Uma vez chegada à RTP, no entanto, 'A Maravilhosa Expedição...' conseguiria 'segurar' o seu lugar na grelha de programação da mesma durante praticamente um ano, tempo que a emissora estatal demorou a transmitir os oitenta episódios (cada um com cerca de cinco minutos) da série original. Findo esse período, a série facilmente encontraria outra casa, desta vez num canal privado, tendo a SIC sido a responsável tanto pela repetição da primeira temporada como pela exibição de vinte episódios inéditos, relativos à segunda - e tudo isto num ano (1998) em que a realização da Expo '98 havia colocado novamente em voga o tema dos Descobrimentos, sohre o qual o desenho animado versa. As aventuras de Simão, Oliveirinha, Libório, Dom Fuas e os restantes tripulantes do 'Destemido' chegavam assim, através do popular Buereré, a todo um novo contigente de crianças – além daquelas que já haviam acompanhado a primeira temporada, dois anos antes, e que teriam assim a oportunidade de acompanhar a continuação das referidas aventuras.

E a verdade é que valia mesmo a pena assistir às viagens da fictícia caravela portuguesa e dos seus carismáticos tripulantes; além da curta duração dos episódios, que fazia com que nunca chegasse a cansar, 'A Maravilhosa Expedição...' era uma série bem escrita, bem animada e bem sonorizada (o genérico era do melhor que por cá se fez durante aquela época), com um estilo muito próprio, e que pouco ficava a dever a muitas das séries produzidas no resto da Europa durante a mesma época - só faltava, mesmo, o orçamento e a publicidade de que dispunham as criações inglesas e norte-americanas. Esta afirma-se, pois, como uma série bem merecedora de ser revisitada ou descoberta, por quem não conhece e nunca viu – especialmente por ser um produto nacional num país onde estes não primavam (nem primam) pela abundância...

 

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