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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

04.09.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Numa altura em que Lisboa (e Portugal como um todo) se encontra, ainda, na ressaca da actuação dos Blur no festival MEO Kalorama 2023, a parcela de espectadores desse concerto acima dos trinta e cinco anos estará, provavelmente, a recordar a época em que, pela primeira vez, se ouvia falar desta banda, juntamente com uma outra, supostamente arqui-rival, de seu nome Oasis. Corria o ano de 1995, eclodia no Reino Unido um movimento conhecido como 'Britpop', e as equipas de 'marketing' de ambos os grupos – com uma ajudinha da sempre hiperbólica comunicação social especializada – engendravam um plano infalível para introduzir dois dos principais grupos do movimento às audiências internacionais; nascia, assim, a 'guerra' Blur-Oasis, que ainda chegaria a dividir muitas opiniões durante aquele ano e o seguinte.

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A narrativa desta suposta batalha era muito simples: os Blur, criadores de 'malhas' orelhudas e abertamente radiofónicas, e liderados pelo excêntrico Damon Albarn, eram posicionados como os 'meninos-bonitos' levemente irreverentes, enquanto os Oasis (co-liderados pelos voláteis, desbocados e 'gadelhudos' irmãos Gallagher) eram os 'roqueiros' 'feios, porcos e maus', sempre prontos a disparar mais uma asneira na direcção de um jornalista em dias de pior humor. Uma espécie de repetição da suposta rivalidade entre os Beatles e os Rolling Stones, embora agora, curiosamente, com os papéis invertidos, já que a banda abertamente inspirada por Lennon e McCartney era colocada no papel de 'vilã'.

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Capa do 'NME' da época que 'atiçava' a 'fogueira'.

A razão para esta estratégia era simples: ambos os grupos promoviam excelentes duologias musicais, com os Blur a atingirem a fama com a 'dose dupla' de 'Parklife' (de 1994) e 'The Great Escape' (do ano seguinte), enquanto os Oasis respondiam com 'Definitely Maybe' (também de 1994) e o mega-sucesso '(What's the Story) Morning Glory' (de 1996). E apesar de os dois grupos nem sequer se aproximarem por aí além sonicamente – os Blur tocavam pop-rock com sopros, enquanto os Oasis faziam um rock alternativo movido a guitarradas – os 'singles' que ambos lançavam precisamente no mesmo dia 14 de Agosto de 1995 ('Country House' e 'Roll With It') foram, imediatamente, posicionados numa espécie de 'duelo dos tops', que acabou por ser apenas mais uma 'acha' para uma 'fogueira' já 'ateada' em pleno; durante um par de Verões, simplesmente não foi possível a qualquer fã de música 'mainstream' com guitarras ficar indiferente a esta suposta rivalidade, com a maioria dos jovens (portugueses e não só) a escolherem e defenderem acirradamente um ou outro dos dois grupos (por aqui, éramos da 'equipa Oasis').

Escusado será dizer que, como todas as estratégias de marketing, também esta acabou, eventualmente, por perder a eficácia, e quando os dois grupos voltaram a lançar álbuns, em 1997, já ninguém alimentava o suposto duelo entre ambos; cada um tinha a sua base de fãs e, embora as duas ainda pouco ou nada se interceptassem, a 'coisa' não passava muito daí. Ainda assim, para quem viveu aqueles anos de 1995 e 1996 como fã de música electrificada – e recordou a sua juventude frente ao palco do Kalorama – esta 'guerra' terá sido, pelo menos, tão vital quanto os eternos duelos entre Sega e Nintendo, ou entre a Pepsi e a Coca-Cola. A questão que se põe é, portanto, se cada um terá mantido o seu 'alinhamento' até aos dias de hoje, ou eventualmente 'desertado' para o 'outro lado'...

 

Quem ganha? Tirem as vossas próprias conclusões.

13.10.21

NOTA: Este post corresponde a Terça-feira, 12 de Outubro de 2021.

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

O aparecimento da SIC, em 1992, representava uma revolução no mercado televisivo português. Enquanto primeira estação privada do país, a emissora de Carnaxide quis, desde logo, deixar evidentes as vantagens de não se encontrar limitada aos ‘guidelines’ e registos a que os canais nacionais se encontravam restritos, apresentando uma grelha programática mais vasta, abrangente e virada ao entretenimento do que aquela por que as RTPs se pautavam.

Um dos esteios iniciais deste manifesto foi, também ele, um programa pioneiro em Portugal, e cuja fórmula não mais viria a ser repetida nos vinte anos após a sua última emissão. Quer tal se devesse a uma mudança nos interesses dos jovens, à cada vez maior expressão da nova ferramenta chamada Internet, ou simplesmente ao facto de qualquer repetição do formato correr o risco de ser inferior, a verdade é que este programa continua – à semelhança de outros, como o Top +, por exemplo – a ser caso único na História da televisão portuguesa, e ainda hoje recordado com carinho por aqueles que o acompanharam.

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Falamos do Portugal Radical, programa que estreou ao mesmo tempo que a emissora onde era transmitido, e que se afirmou como pioneiro na divulgação dos chamados ‘desportos radicais’ junto da população jovem portuguesa. E a verdade é que o ‘timing’ de tal empreitada não podia ter sido melhor, já que o início dos anos 90 marca, precisamente, o primeiro grande ‘boom’ de interesse em modalidades como o skate, os patins em linha, o surf ou a BMX, que viriam a dominar o resto da época. Transmitido entre 1992 e 2002, o ‘Portugal Radical’ conseguiu acompanhar toda a evolução das ditas modalidades, desde os seus primeiros passos como fenómeno ‘mainstream’ até ao momento em que o fascínio com as mesmas começava a arrefecer um pouco, garantindo assim uma audiência constante durante a sua década de existência.

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A apresentadora Raquel Prates

Apresentado, durante a esmagadora maioria desse período, por Raquel Prates, com trabalho jornalístico de Rita Seguro, também do já referido ‘Top +’ (Rita Mendes, do ‘Templo dos Jogos’, tomaria as rédeas da apresentação já no último ano de vida do programa) o ‘PR’, como também era muitas vezes conhecido, era um conceito criado por Henrique Balsemão, a partir da rubrica com o mesmo nome na revista ‘Surf Portugal’, tendo sido exibido pela primeira vez no ‘Caderno Diário’ da RTP, ainda antes do nascimento da SIC. Foi, no entanto, a passagem para o canal de Carnaxide que ajudou a transformar um modesto conceito baseado numa coluna jornalística num verdadeiro fenómeno, com direito a ‘merchandising’ próprio, incluindo a inevitável caderneta de cromos, e ainda um CD com ‘malhas’ de grupos bem ‘anos 90’, como Oasis, Radiohead, The Cult, Smashing Pumpkins, Spin Doctors ou Manic Street Preachers.

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Capa do CD de 'banda sonora' do programa

Mais significativamente, no entanto, o programa terá tido uma influência mais ou menos directa no interesse que a maioria dos jovens portugueses desenvolveu por desportos radicais ao longo da década seguinte, o que, só por si, já lhe justifica um lugar no panteão de programas memoráveis da televisão portuguesa – bem como nesta nossa rubrica dedicada a recordar os mesmos. Uma aposta arrojada por parte da SIC, talvez, mas mais um dos muitos casos em que a atitude ‘nada a perder’ da estação de Francisco Pinto Balsemão viria, inequivocamente, a render dividendos...

 

21.06.21

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

No início desta semana desportiva, quando falámos sobre o Euro ’96, aludimos ao facto de o mesmo não ser, exactamente, um Euro normal. A febre inglesa pelo ‘seu’ Campeonato Europeu transformou aquilo que era só mais uma competição desportiva internacional – emocionante, sim, mas igual a tantas outras – naquilo a que os próprios britânicos chamariam ‘a big deal’.

Isto foi particularmente not]orio no campo do merchandising’, sendo que a competição de 96 viu serem lançados alguns produtos comemorativos oficiais, no mínimo, invulgares. Para além dos habituais cromos, copos e outros brindes do género, o Euro inglês foi o primeiro a ter um videojogo oficial (hoje prática comum, mas à época, um acontecimento inaudito) e continua, até aos dias de hoje, a ser o único a ter um CD de banda sonora oficial! É precisamente deste último – denominado ‘The Beautiful Game: The Official Soundtrack of Euro ’96 - que falamos neste post.

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Vendo bem, a ideia de um CD de banda sonora de um Euro jogado em Inglaterra – especialmente durante os anos 90 – não é, de todo, descabida. Afinal de contas, as Ilhas Britânicas viram surgir, através dos tempos, alguns dos mais excitantes artistas e grupos musicais de sempre - basta lembrarmo-nos da British Invasion ou do movimento ‘punk’, entre tantos outros. Ora, este disco foi lançado precisamente no auge de um desses movimentos, no caso a ‘Britpop’, que começara a popularizar-se um par de anos antes; assim, não é de estranhar que grande parte das mais de duas dezenas de artistas aqui incluídos façam parte desse movimento, caso dos Blur (cuja ‘Parklife’, sátira à falta de aspirações do britânico médio que, num golpe de ironia, virou um hino dos mesmos ao seu estilo de vida, é talvez a mais conhecida de entre as músicas aqui incluídas), Pulp, Teenage Fanclub ou The Boo Radleys.

'AAAAAALLLL THE PEEEOOOPLEEEE...SOOO MAAANYYY PEEEOPLEEEE...'

Não, o que verdadeiramente surpreende na selecção de músicas de ‘The Beautiful Game’ é o seu ecletismo, e o facto de haver por aqui bandas de movimentos tão díspares quanto a ‘new wave’ (New Order) ou a electrónica (Stereo MCs, Jamiroquai), o rock electrónico (Primal Scream ou Black Grape, que aqui surgem com um convidado de luxo na pessoa de Joe Strummer, líder dos Clash) ou o ‘trip-hop’ (Massive Attack, Olive.) Em comum, estas bandas só tinham mesmo o facto de virem das Ilhas Britânicas – e, no caso dos suecos Wannadies, nem isso! (A propósito, a sua ‘Might Be Stars’ é das coisas mais divertidas deste disco.)

A divertida 'Might Be Stars', dos Wannadies, únicos representantes estrangeiros neste disco

Em suma, uma selecção bem variada, com algo para todos os gostos (excepto, talvez, para os fãs de metal) e bem mais cuidada e curada do que se poderia esperar de um álbum deste tipo, com patronício de marca de bebidas e tudo.

Visto de 25 anos no futuro, ‘The Beautiful Game’ é uma verdadeira ‘cápsula do tempo’ que nos transporta até à Grã-Bretanha de meados dos anos 90, ao som de algumas das bandas mais populares da altura, e sem sequer precisar do contexto específico do campeonato – ainda que algumas músicas mencionem o futebol (em particular ‘Parklife’ e a final ‘Three Lions’, adoptada como cântico oficial pelos fãs ingleses devido ao seu refrão de ‘football’s coming home, it’s coming home, it’s coming!’) a maioria pode ser ouvida e apreciada por si só.

Agora já sabem de onde vem o cântico...

Por isso, se gostam de Britpop, rock alternativo ou electrónica, fica a dica – há coisas bem piores do que este peculiar produto de ‘merchandising’ futebolístico...

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