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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

14.05.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes falámos do impacto que a redução do preço dos componentes electrónicos, e a maior facilidade na importação de produtos, tiveram no comércio de brinquedos e outros produtos dirigidos a um público jovem; no espaço de apenas alguns anos, as lojas portuguesas (especialmente as mais modestas ou tradicionais) viam-se positivamente 'invadidas' por um sem-fim de brinquedos electrónicos de qualidade duvidosa e funcionalidade básica, mas com preços acessíveis, oriundos da China ou do Taipei, e destinados puramente a entreter o comprador durante os dez a quinze minutos após a compra, sendo prontamente abandonados após a chegada a casa, e apenas esporadicamente revisitados subsequentemente, acabando por 'morrer de velhos' numa gaveta, onde as pilhas (invariavelmente daquelas redondas, ao estilo relógio) lentamente se esgotavam. E, de entre estes, um dos mais comuns e populares foram os telemóveis de brincar.

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Destinados, tal como os portáteis educativos, a emular uma experiência marcadamente 'adulta' e a que, à época, muito poucas crianças tinham acesso, os telemóveis de brincar distinguem-se daqueles seus congéneres por nem sequer procurarem ser mais do que aquilo que, à primeira vista, apregoavam – um produto de plástico barato, com um teclado embutido (o qual, muitas vezes, acabava 'desalinhado' dos buracos das teclas após uma pressão mais intensa) e um 'chip' sonoro básico, com um punhado de efeitos sonoros vagamente relacionados ao acto de falar ao telefone, como toques de chamada, sons a lembrar os de um 'fax' ou 'modem', ou uma operadora de voz esganiçada ao estilo Minnie Mouse. Cada um destes efeitos era activado através da pressão de uma tecla, mas desengane-se quem pensar que todas as teclas geravam um som distinto, já que a tecnologia deste produto a tanto não chegava; em vez disso, os referidos sons estavam, regra geral, ligados a pelo menos duas das teclas do pseudo-telefone, sendo alguns, até, mais comuns e frequentes do que outros.

Explicado assim, e à distância de três décadas, este brinquedo parece perfeitamente ridículo, sendo questionável como conseguiu tanta tracção entre as crianças de finais do século XX; no entanto, esta é uma daquelas situações em que o contexto se torna importante, já que as demografias infantis da época tinham significativamente menos acesso a brinquedos de índole tecnológica, e, como tal, um grau de exigência bastante menor, que conseguia tornar algo tão básico como estes telefones num produto minimamente apetecível. O facto de os mesmos terem, conforme mencionámos, um custo de venda relativamente acessível tornava-os também, em presentes 'casuais' ideais, daqueles que se traziam para casa após uma Saída de Sábado ou ida à drogaria. Esta junção de factores tornava os telemóveis de brincar naquele produto que ninguém activamente queria, mas toda a gente acabava por ter, e que, como tal, acaba por ser tão ou mais nostálgico do que outros de que aqui vimos falando; afinal, a nostalgia não se restringe a produtos activamente cobiçados à época da aquisição, mas antes engloba toda a categoria de produtos com os quais se teve convivência aprazível ao nível quotidiano – na qual, para as crianças da segunda metade dos anos 90 e primeiros anos da década seguinte, estes telemóveis definitivamente se inseriram.

04.04.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Domingo, 02 de Abril de 2023.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os avanços tecnológicos de finais do século XX permitiram que as crianças dos anos 80 e 90 disfrutassem de uma série de brinquedos que, sem serem aberta ou explicitamente tecnológicos, faziam uso das capacidades existentes para criarem funcionalidades apelativas que pudessem servir como argumentos de vendas junto do público-alvo. Dos mais complexos, como os 'Furbies', aos mais simples, como as flores dançarinas ou os animais a pilhas, foram inúmeros os exemplos deste tipo de produto disponibilzados ao longo dos últimos vinte anos do Segundo Milénio; no entanto, para as crianças portuguesas em particular, poucos simbolizam esse período da História comercial tão bem quanto os famosos 'papagaios repetidores'.

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Surgidos praticamente 'do nada' para se tornarem êxitos de vendas das lojas de brinquedos mais pequenas (e daquelas lojas 'vende-tudo' semi-duvidosas, a meio caminho entre as drogarias e as lojas dos 'trezentos', tão populares e frequentes no Portugal da época) estes papagaios movidos a pilhas tinham como proposta única a repetição - numa voz robótica e esganiçada - de parte ou da totalidade de qualquer frase dita por quem se encontrasse nas suas proximidades, normalmente acompanhado de um bater de asas mecanizado. Tal era, claro, possível graças aos componentes electrónicos localizados no seu interior, que certamente pareceriam simplistas e obsoletos do ponto de vista actual, mas que, à época, eram suficientemente impressionantes para tornar estes papagaios numa 'febre' entre as crianças e jovens de uma certa idade aquando da sua chegada a Portugal, em inícios dos anos 90.

De facto, por mais difícil que seja imaginá-lo nesta era de Tamagotchis com funcionalidades Bluetooth e brinquedos controlados por Wi-Fi, numa era não muito distante da História, ter no quarto um papagaio que repetia o que se dizia à sua frente era não só motivo de inveja e 'gabarolice', mas também de largos momentos de diversão, quer sozinho, que na companhia dos amigos - um marco (mais um) de tempos mais simples, em que as crianças e jovens eram bem menos exigentes no que tocava às funcionalidades dos seus brinquedos e divertimentos. De facto, apesar de estes papagaios se encontrarem ainda disponíveis hoje em dia, em sites como o AliExpress, é difícil imaginar que um brinquedo deste tipo suscite numa criança do século XXI o mesmo tipo de interesse que criou junto da geração anterior, ou que seja elevado ao estatuto de 'peça central' do quarto como o foi para os jovens de finais de 90; quem viveu o curto mas marcante auge de popularidade destes brinquedos, no entanto, certamente se lembrará da sensação que o mesmo causava junto de qualquer grupo de amigos de uma determinada idade...

19.03.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui referimos anteriormente que a revolução tecnológica dos anos 80 e 90 nem sempre se fez sentir apenas a um nível 'macro'; pelo contrário, as décadas em causa trouxeram igualmente uma série de novas possibilidades quase imperceptíveis, mas que viriam mudar para sempre o panorama social ocidental, nos mais diversos campos e das mais diversas formas. Como um dos principais beneficiados pelas novas tecnologias emergentes, o sector dos brinquedos não poderia, evidentemente, ficar imune a estas tendências, e os últimos vinte anos do século XX ficaram marcados por uma evolução gradual mas inegável dos brinquedos 'auto-suficientes', que, pouco a pouco, iam deixando para trás os mecanismos de corda como principal sistema propulsor, e adoptando um novo interface baseado em motores a pilhas.

De facto, da década de 80 em diante, começou a notar-se entre os fabricantes de brinquedos uma notória tendência para adicionar funcionalidades electrónicas em tantos produtos quantos possível, a fim de poder apregoar mais um atractivo aliciante à venda. Das bonecas subitamente falantes aos carros ou pistas com telecomando ou auto-suficientes, macacos tocadores de pratos, flores 'dançarinas', jogos de mesa ou armas com luz e som, foram inúmeros os tipos de brinquedo que se viram 'incrementados' com funcionalidades electrónicas durante essa década e a seguinte, tendo a globalização das pilhas e o decréscimo do custo das partes tecnológicas ajudado a acelerar a produção em massa destes tipos de produtos, invariavelmente produzidos praticamente sem custos em países como a China.

Este fenómeno, por sua vez, ajudou a que os referidos brinquedos chegassem a retalhistas que, alguns anos antes, dificilmente teriam conseguido arcar com os custos de importação, passando a ser vistos menos frequentemente em lojas de brinquedos 'finas' e cada vez mais em drogarias de bairro, lojas dos 'trezentos', máquinas de brindes, ou até a serem vendidos por comerciantes de legalidade duvidosa em plena rua.

Neste último caso em particular, havia um brinquedo que se destacava por sobre todos os outros, e que qualquer jovem dos anos 80 ou 90 terá certamente tido a dado ponto da sua infância: os cãezinhos (e gatinhos) de peluche que andavam e emitiam sons.

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Extremamente fáceis de encontrar numa qualquer 'lojeca' de bairro ou até sobre uma lona na rua, estes animais a pilhas faziam parte daquele lote de brinquedos suficientemente barato para poder constituir uma prenda 'casual' durante um passeio ao centro da cidade (à semelhança dos balões ou das bolas de sabão) e, ao mesmo tempo, divertido e resistente quanto bastasse para entreter uma criança não só no próprio dia, mas durante um período mais alargado.

Normalmente produzidos para se assemelharem a 'cocker spaniels' ou caniches (embora também fosse comum ver gatos ou 'huskies') estes brinquedos tinham uma funcionalidade simples, mas capaz de produzir largos momentos de diversão, sendo capazes tanto de andar como de se sentar, altura em que emitiam uma série de ladridos (ou miados), antes de retomarem a sua marcha; um processo fascinante para qualquer criança, e que tinha o atractivo adicional de servir para confundir e assustar os congéneres 'de carne e osso' dos pequenos animais – e quem nunca tenha activado um destes brinquedos em proximidade ao seu cão ou gato, e gozado a reacção dos mesmos, que atire a primeira pedra.

Tal como tantos outros brinquedos de que falamos nesta rubrica, também estes animais electrónicos acabaram por, ao longo dos anos, se afirmar como demasiado simplistas para agradar à 'geração iPad', acabando por perder preponderância e praticamente se extinguir do imaginário infantil de inícios do século XXI; hoje em dia, os brinquedos vendidos na rua são outros (com destaque para os famosos 'fidget spinners') e, apesar de estes simpáticos peluches 'animados' continuarem disponíveis nos habituais retalhistas grossistas (além de lojas como a Amazon e o eBay) dificilmente serão suficientes para 'encher as medidas' às crianças actuais. Quem ainda tiver o seu (ou UM dos seus, dado que a criança média portuguesa tendia a ter vários ao longo da sua vida) pode, no entanto, tentar 'apresentá-lo' aos seus filhos ou familiares mais novos; quem sabe os mesmos os apreciem o suficiente para fazer estes brinquedos – como tantos outros desta mesma época – voltar a estar na 'moda'...

05.03.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Qualquer adulto que recorde os seus tempos de criança ou adolescente – independentemente de quando os mesmos tenham tido lugar - dará por si, certamente, a ponderar a razão de ser exacta de algumas das modas e 'febres' em que participou durante esse período da sua vida. Os anos 90 não foram, de todo, excepção a esta regra, antes pelo contrário: das meias brancas de raquetes aos Tamagotchis, são inúmeros os exemplos de produtos que, tendo feito furor na 'sua' altura, causam hoje alguma perplexidade quanto à razão do seu sucesso.

A esta lista, há ainda que juntar o tema do Domingo Divertido desta semana – aquelas flores dançarinas a pilhas que, a dada altura em meados da última década do século XX, se tornaram 'O' produto a ter no quarto para a esmagadoria maioria das crianças portuguesas.

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Baseadas num conceito tão simples quanto apelativo – quando ligadas, reagiam à presença de qualquer som próximo, 'dançando' sobre a sua base e movendo os estames para simular o canto – estes brinquedos fizeram, aquando da sua chegada a Portugal, as delícias da geração 'millennial', rapidamente se tornando um daqueles produtos cobiçados que acabavam sempre por ser incluídos nas listas de presentes de anos ou Natal desejados, como complemento aos brinquedos e jogos 'maiores'.

A verdade, no entanto, é que estes produtos acabavam por constituir uma 'faca de dois gumes', já que, apesar de inicialmente incitarem à produção de barulho o mais frequentemente possível (fosse através de música ou apenas algo como palmas) rapidamente se revelavam DEMASIADO sensiveis, reagindo ao mais ínfimo barulho 'acidental' – como voz ou pancadas – ao ponto de se tornarem vagamente irritantes, e acabarem desligadas ao fim de algum tempo.

Ainda assim, mesmo desligadas ou sem pilhas, estas flores constituíam ainda assim um artigo decorativo perfeitamente válido para um quarto infanto-juvenil, e deixavam sempre a possibilidade de voltarem a ser ligadas para impressionar um amigo que estivesse de visita, ou qnando a vontade de as ver 'gingar' ao som de música voltasse a 'bater'. E apesar de hoje parecerem perfeitamente pitorescas junto das bonecas e carrinhos com conectividade Bluetooth e jogos na app, a verdade é que estes brinquedos tiveram a sua época, e conseguiram sucesso considerável no contexto da mesma, deixando boas memórias àqueles que com elas contactaram – no fundo, o objectivo básico para que qualquer produto ou serviço possa ser considerado bem-sucedido...

17.08.22

NOTA: Este post é respeitante a Terça-feira, 16 de Agosto de 2022.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

A década de 90 viu muitas crianças solitárias, impedidas por qualquer motivo de ter animais de estimação, virarem-se para as mascotes virtuais como alternativa 'de compromisso'; e após o estatuto de 'febre' mundial conseguido pelos Tamagotchis, em meados da década, era de esperar que fosse apenas uma questão de tempo até alguém desenvolver uma versão mais sofisticada e avançada dos 'bichinhos' LCD aprisionados num ovo.

Esse alguém acabou por ser a Hasbro, que, no Natal de 1998, apresentava o novo 'presente topo de lista' para toda uma demografia um pouco por todo o Mundo: o Furby, uma espécie de versão 'física' do Tamagotchi, que além de poder ser tocado, agarrado e acariciado, como qualquer bom peluche, se encontrava ainda dotado de um (à época) impressionante vocabulário, que lhe permitia manter 'conversas', ainda que básicas, com os seus 'donos' - algo corriqueiro na era da inteligência artificial, mas que, em finais do século XX, era suficiente para elevar este brinquedo acima da maioria das alternativas disponíveis no mercado.

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Assim, não foi de todo de admirar que os Furbys se tivessem posicionado entre os produtos mais cobiçado dos catálogos de Natal daquele ano, e 'voado' das prateleiras de supermercados e hipermercados naquele mês de Dezembro, tanto em Portugal (onde o brinquedo era distribuído pela inevitável Concentra) como um pouco por todo o Mundo - isto apesar da aparência, movimentos e voz algo inquietantes do boneco, que quase chegava a parecer uma versão menos benévola de um Mogwai, a adorável criatura que dá origem aos titulares diabretes no clássico dos anos 80, 'Gremlins'. Nada, no entanto, que dissuadisse o público-alvo, que fez da obtenção de um Furby a sua principal missão naquele Inverno de finais do milénio.

Com toda essa procura e sucesso, tão-pouco surpreendeu o lançamento, menos de um ano depois, de uma versão mais pequena, mas ainda mais evoluída do brinquedo - no caso, os intitulados 'Furby Babies', que além das frases do seu 'irmão mais velho', traziam também maneiras alternativas de interacção com as crianças, como 'segredos' e jogos interactivos. Apesar da recepção menos entusiasta do que a dos originais - até pela perda do 'factor novidade' - esta segunda vaga de Furbies foi, ainda assim, suficientemente bem sucedida para justificar a continuidade da linha, que veria serem lançadas novas versões do bicharoco em 2001 (os 'Furby Friends', que transformavam o mesmo em figuras da cultura 'pop', como Yoda, E.T. ou o próprio Gizmo), e por diversas outras vezes ao longo das duas décadas seguintes - cada uma das quais adicionando novas funcionalidades às originais, como pernas que se moviam, permitindo ao brinquedo dançar, olhos LCD ou compatibilidade com 'apps' para telemóvel.

Tal como sucedera com o Tamagotchi, no entanto, nenhuma destas versões tornou a chegar sequer perto do estatuto almejado pelos originais, que continuam a afirmar-se como uma das mais peculiares, mas também mais memoráveis 'invenções' dos fabricantes de brinquedos de finais do século XX - bem como um daqueles brinquedos (como o 'antecessor' Tamagotchi) de que quem tinha se gabava, e que quem não tinha, queria por força ter...

Nuno Markl recorda o Furby numa das edições de aniversário da sua rubrica na Rádio Comercial.

31.07.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Uma criança que, por uma razão ou outra, não pudesse (ou quisesse) sair de casa num fim-de-semana à tarde tinha, nos anos 90, quase tantas opções para se entreter como nos dias de hoje. Isto porque, apesar de a presença dos computadores e da Internet ser, à época, ainda muito reduzida ou até inexistente, havia ainda assim uma vasta panóplia de diversões disponíveis para este tipo de situações, que ia desde os jogos criados à mão com papel e caneta até aos de tabuleiro, passando pelas pistas de carros eléctricas, pelos carrinhos, pelos puzzles e jogos de cubos, pelas sempre populares consolas de jogos e jogos LCD portáteis, pelas figuras de acção, soldadinhos, bonecas, peluches e bonecos de borracha, pelos intemporais LEGOs e pelos conjuntos de 'bonecos' da Pinypon, Playmobil ou Polly Pocket, entre muitas outras. Fora de todos estes grupos, no entanto – de todos, estaria talvez mais próximo dos jogos de tabuleiro, sobretudo dos que incluíam elementos mecânicos – havia um brinquedo que qualquer criança dos anos 90 recorda com afeição como tendo proporcionado muitos e bons momentos de diversão em circunstâncias deste género: o jogo da 'pesca'.

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Uma imagem que causa nostalgia imediata a toda uma geração.

Disponível tanto em tamanho 'de mesa' (adquirível em qualquer boa loja de brinquedos ou secção correspondente de uma loja generalista, supermercado ou hipermercado) como em versão portátil, esta quase elegível como Quinquilharia de bolso, este jogo tinha um daqueles conceitos tão simples, quanto infalíveis: o mecanismo central consistia de uma placa giratória com uma série de buracos embutidos, dentro de cada um dos quais se encontrava um rechonchudo peixe com um íman na boca, pronto a ser 'pescado' com recurso às canas de pesca magnéticas que cada jogador empunhava. Quem acabasse o jogo com mais peixes, ganhava – uma missão que, apesar de parecer fácil, era significativamente dificultada não só pelo movimento constante da placa central (conseguido com recurso a pilhas na versão de tamanho completo, ou simplesmente 'dando corda' à portátil) como também ao facto de que os peixes fechavam periodicamente a boca, escondendo assim o seu íman interior, e obrigando os jogadores a esperar pelo momento certo para os voltarem a alvejar com a cana. O resultado era, simultaneamente, semi-frustrante e extremamente divertido, podendo facilmente ocupar uma ou duas horas durante uma tarde de 'descanso' em casa.

Ao contrário de muitos outros produtos que abordamos nesta e noutras secções do blog, estes jogos ainda continuam a ser produzidos, com muito poucas diferenças em relação aos dos anos 80 e 90, tornando-os um daqueles produtos que permitem às novas gerações descobrir, em primeira mão, exactamente porque é que os seus pais o achavam tão divertido. O mais provável, no entanto, é que os referidos jovens de hoje em dia prefiram simplesmente 'sacar' uma versão virtual com controlos 'touch', perdendo assim o elemento de diversão familiar do jogo original; resta, pois, esperar que não seja esse o caso, e que os 'pequenotes' do novo milénio saibam apreciar a diversão simples que este tipo de brinquedo proporciona, e desfrutem de muitas tardes em família ou com amigos passadas em redor do mesmo...

08.05.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes referimos que o período de vinte anos que mediou entre o início da década de 80 e o novo milénio foi, sem qualquer sombra de dúvida, um dos mais frutíferos e entusiasmante da História da humanidade; no entanto, apesar de a maioria desses avanços se terem dado nos campos da electrónica e informática, esses não foram os únicos campos em que se verificaram evoluções ao longo do referido período – pelo contrário, as mesmas eram visíveis até mesmo em algo tão aparentemente insignificante como um quadro de desenho.

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Falamos, claro, do famosíssimo Etch-a-Sketch, o instrumento com que até mesmo as crianças com pouco jeito para as artes visuais se podiam sentir artistas – até por a mecânica do dito cujo brinquedo nivelar artistas e 'toscos' mais ou menos pela mesma bitola.

Isto porque as duas alavancas utilizadas para desenhar no quadro LCD – das quais uma controlava as linhas horizontais, e a outra as verticais – não permitiam um grau de precisão por aí além; apesar das magníficas obras de arte prometidas pelo anúncio do produto, a maioria das tentativas de produzir um desenho no instrumento pouco melhores eram do que aqueles 'rabiscos' que a maioria das crianças faz antes de aprender a desenhar. Aqui e ali, podia ser que se conseguisse elaborar algo vagamente parecido com um pássaro ou uma casa, mas o processo para lá chegar era precisamente o oposto das linhas que o produto produzia – ou seja, tudo menos recto. E nem a caneta magnética ajudava...

Nada disto, no entanto, impediu o Etch-a-Sketch de ser um sucesso mundial junto de uma determinada geração - houve, até, edições de viagem, ou licenciadas, como uma em que o quadro surgia entre as mãos do Rato Mickey - talvez pelo factor 'os-outros-não-conseguiram-mas-eu-vou-conseguir' que motiva tantas das iniciativas de crianças nessa fase de desenvolvimento. Todos achávamos ir ser os próximos artistas-revelação do Etch-a-Sketch – e mesmo quando esse sonho caía por terra, continuavam-se a fazer tentativas para o tornar realidade...

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A versão Mickey do 'Quadro Mágico'

Dado o grau de sucesso atingido pelo produto original, não foi, de todo, surpreendente ver surgir um 'concorrente' melhorado durante o mesmo período. Tratava-se do Magna Doodle, um instrumento que prometia um maior grau de precisão e maiores possibilidades do que o Etch original, e que muitas ex-crianças portuguesas da época recordarão, sobretudo, pelo contagiante estribilho do anúncio nacional.

Produzido pela Fisher-Price, 'rainha' dos brinquedos pré-escolares e infantis, este concorrente do Etch-a-Sketch tinha muitos dos mesmos problemas daquele, mas cumpria, pelo menos, na questão das possibilidades, visto que permitia gradientes de até seis tonalidades – todas elas de cinzento ou preto (ou seja, mais sombras que verdadeiras tonalidades) mas ainda assim, um passo acima dos desenhos totalmente planos do Etch-A-Sketch.

O problema continuava, infelizmente, a residir na questão da precisão, sendo que a experiência de tentat desenhar num Magna Doodle era apenas marginalmente mais satisfatória do que num Etch-A-Sketch, não conseguindo por isso satisfazer as necessidades dos mini-artistas; ainda assim, pela maior gama de criações que possibilitava, este produto afirmava-se como uma alternativa válida ao seu concorrente mais estabelecido no mercado – embora, previsivelmente, tenha sido este a perdurar a longo prazo, dada a sua longevidade de, à época, mais de 30 anos no mercado (ser incluído como personagem num sucesso como 'Toy Story' também não terá deixado de ajudar...)

Fosse como fosse, ambos estes produtos tiveram o seu momento na ribalta, sensivelmente no mesmo período da História; e embora os aspirantes a artistas mais sérios cedo tenham 'emigrado' para recursos mais confiáveis e versáteis, nenhum dos dois deixa de ser uma das muitas memórias de infância para ex-jovens ao redor do Mundo, não sendo Portugal excepção neste particular.

23.03.22

NOTA: Este post é relativo a Terça-feira, 22 de Março de 2022.

A década de 90 viu surgirem e popularizarem-se algumas das mais mirabolantes inovações tecnológicas da segunda metade do século XX, muitas das quais foram aplicadas a jogos e brinquedos. Às terças, o Portugal Anos 90 recorda algumas das mais memoráveis a aterrar em terras lusitanas.

Qualquer criança tem, tradicionalmente, tendência para imitar os interesses, hábitos e maneirismos dos adultos que o rodeiam; assim, não é de surpreender que uma tão grande porção dos produtos dirigidos a um público jovem disponíveis no mercado, em qualquer época da História, sejam réplicas miniaturizadas de elementos da vida quotidiana adulta. Dos tradicionais e intemporais carrinhos e utensílios de cozinha aos entretanto extintos cigarros de chocolate, são inúmeros os exemplos deste fenómeno através dos tempos, sendo que, nos anos 90, o mesmo se manifestou em ainda mais uma vertente, no caso a tecnológica.

De facto, o rápido e bem documentado progresso das novas tecnologias ao longo da última década do século XX só podia resultar no aparecimento de versões em miniatura, de brincar, de alguns dos principais aparelhos utilizados pelos adultos durante esse período – especificamente, os telemóveis e os computadores portáteis. E se, hoje, ambos esses aparelhos são de fácil e quase ilimitado acesso para a maioria dos membros da demografia infanto-juvenil, nos anos 90, os mesmos estavam restritos às versões 'artificiais' para si concebidas, e disponíveis na secção de brinquedos electrónicos da maioria das lojas.

Mas enquanto os telemóveis de brincar se pautavam pela simplicidade extrema – consistindo as 'entranhas' da maioria dos mesmos de uma simples placa de som, com quatro ou cinco efeitos, que continua a ser utilizada até aos dias de hoje, mudando apenas o aspecto exterior do brinquedo – já os computadores para crianças se afirmavam substancialmente mais interessantes no contexto tecnológico da altura, fazendo uso da limitada tecnologia portátil para criar um produto suficientemente bem concebido para singrar até aos dias de hoje.

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Invariavelmente de cariz educativo, e programados com jogos de treino da gramática ou matemática, estes pseudo-portáteis (muitos deles fabricados pela especialista em tecnologias educativas Lexibook) surgiam no mercado em duas variantes distintas; a primeira, mais prevalente nos dias que correm, fazia uso de cores garridas ou personagens licenciados para atrair o público-alvo, afirmando-se declaradamente como um brinquedo, ao passo que a segunda tentava emular mais de perto os 'notebooks' verdadeiros, com as diferenças mais evidentes a surgirem quando se levantava a tampa. Isto porque, no sítio onde um portátil genuíno teria o ecrã, estes produtos contavam com um LCD, dentro do qual se produziam as limitadas animações e efeitos sonoros de cada jogo. Nos restantes aspectos, no entanto, ambos os tipos de computador infantil ficavam bastante próximos dos equivalentes mais 'crescidos', contando mesmo com um teclado 'a sério', e até, muitas vezes, com um rato, de funcionamento muito semelhante aos verdadeiros.

Apesar de todos estes factores de atracção, o sucesso ou não destas máquinas junto de um membro do público-alvo estava, em grande parte, dependente da apetência do mesmo para conteúdos declaradamente educativos: quem gostasse de jogos que incorporassem o treino da língua portuguesa ou matemática, sem por isso deixarem de ser desafiantes, teria num destes portáteis horas de entretenimento garantido, enquanto que quem não tivesse paciência para tal estilo de programa, pouco proveito dele tiraria.

Ainda assim, parece ter havido suficientes exemplos do primeiro tipo de jovem para justificar a continuidade destes computadores no mercado, sendo fabricadas variantes dos mesmos até aos dias que correm – um facto que não deixa de ser surpreendente, dado que, com o advento dos Magalhães e, mais tarde, a globalização de telemóveis, 'tablets' e consolas que servem como sistemas de entretenimento completos, este tipo de brinquedo se afirma, hoje, como completamente obsoleto. Para a época em que foi criado, no entanto, o mesmo afirmava-se como nada menos que revolucionário, e terá decerto havido muito quem, à época, decidisse que valia a pena 'aturar' um bocado de português ou matemática, como contrapartida de poder ter o seu próprio computador pessoal...

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