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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

09.02.25

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

O gosto pela música é uma das características mais inatas do ser humano, revelando-se, muitas vezes, logo desde tenra idade; o mesmo se passa com a tendência para imitar os gestos e comportamentos dos adultos, que principia assim que a criança tem idade suficiente para estar ciente do que a rodeia, e tomar decisões conscientes. Assim, não é de surpreender que um dos muitos brinquedos de sucesso entre as crianças dos anos 80 e 90 tenha tido por base uma combinação destas duas vertentes com a tecnologia da época, com um resultado final que não poderia deixar de ser irresistível. Nada melhor, portanto, do que dedicar mais um 'post' duplo a esta 'pérola' algo esquecida de muitos Domingos Divertidos.

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Falamos do gira-discos de brincar da Fisher-Price, o qual emulava o principal método de reprodução musical da época pré-dispositivos portáteis, mas substituindo as frágeis circunferências de vinil estriado por algo bastante mais resistente e adequado a ser manuseado pela demografia-alvo do brinquedo – no caso, discos em plástico duro, cada um deles codificado com uma respectiva cor pastel, que permitia às crianças em idade de pré-literacia saber que música neles estava contida sem, para isso, precisar de decifrar qualquer rótulo. Os temas, esses, consistiam de uma selecção de temas de domínio público, alguns deles especificamente criados para um público infantil (como 'A Ponte de Londres') e outros apenas de cariz apelativo para o mesmo (como a valsa 'Danúbio Azul'). E, apesar da 'distorção' natural derivada dos limitados aspectos técnicos do produto, a verdade é que cada um destes temas era perfeitamente inteligível, e muito agradável de ser ouvido.

No restante, o brinquedo funcionava exactamente como uma versão simplificada de um verdadeiro leitor de LP's, com o disco a ter de ser inserido no prato, a agulha posta em contacto com o mesmo e a corda dada antes de a canção poder ser reproduzida – uma mecânica que obrigava a criança a despender esforços mentais e processuais, ao mesmo tempo que lhe dava a conhecer o funcionamento de um gira-discos de verdade, como o que os pais possivelmente teriam na sala de casa. Assim, não é de admirar que muitos Domingos Divertidos se tenham transformado em Segundas de Sucessos graças a este 'sucedâneo' infantil de um produto para adultos, e à meia-dúzia de 'singles' incluídos no mesmo, que terão ajudado muitas crianças (portuguesas e não só) a descobrir e nutrir o gosto pela música.

Infelizmente, a era do CD viria a tornar este tipo de brinquedo obsoleto, nunca tendo havido uma 'versão' do mesmo em formato de Discman ou 'tijolo'. Assim, é provável que apenas os mais velhos de entre os leitores deste blog – crescidos ainda na era do vinil – recordem este saudoso produto; para esses, no entanto, é bem possível que este 'post' tenha despoletado uma vaga de nostalgia, e um daqueles momentos de recordação da infância (e respectivas exclamações de surpresa e espanto) tão característicos da natureza humana...

28.12.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Uma das muitas tradições do Natal infantil- e que teve especial ênfase nas últimas décadas do século XX - passava pela presença, debaixo da árvore de Natal, de um brinquedo de exterior de grande porte, quase sempre um meio de locomoção, como um bicicleta, um 'skate', um 'kart', una patins em linha, uma trotinete ou outro veículo a pedal ou eléctrico. No entanto, nem todos os presentes orientados para um Sábado aos Saltos faziam parte desta categoria, e sendo a época festiva um dos períodos do ano em que mais se justificavam gastos avultados, a mesma constituía o pretexto ideal para se colocar na 'carta ao Pai Natal' um dos grandes 'presentes de sonho' de muitas crianças e jovens dos anos 80 e 90 - um 'kit' de modelismo.

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De facto, embora fossem explícita e manifestamente dirigidos a um público adulto, estas espécies de 'fusões' entre os Meccano e Lego Technic e os veículos telecomandados não deixavam de captar a atenção - e imaginação - das crianças que as viam nas montras das então ainda prolíficas lojas especializadas em aeromodelismo. E não obstante os vários entraves - da necessidade de precisão na construção aos preços nada menos que proibitivos - não faltava quem sonhasse em passar um Sábado aos Saltos a 'largar' um veículo daqueles, construído por si próprio, quiçá no decurso do Domingo Divertido anterior, e fazer assim inveja a todos os transeuntes. E embora fossem poucos os que, de facto, realizavam esse objectivo, tal não impedia os vários milhares de outros 'sonhadores' de 'pedirem ao Pai Natal' um daqueles carros ou aviões, e ficarem na esperança de o ver surgir debaixo da árvore no 'dia das prendas'.

Tal como muitos outros aspectos da cultura e quotidiano infanto-juvenis daquela época, tambem o modelismo perdeu muito do seu 'élan', tendo regressado ao seu 'nicho' especializado e continuado a ser, sobretudo, um passatempo de um público mais maduro - curiosamente, constituído hoje em dia por muitos dos que sonhavam em ter e construir um modelo naqueles anos finais do século XX. E mesmo quem, hoje em dia, não é especialmente dado a tal passatempo, certamente terá um laivo de nostalgia ao passar por uma montra e ver nela um avião caça de combate ou carro de rally ou Fórmula 1 semelhante àqueles com que tanto desejava passar um Sábado aos Saltos naquela infância cada vez mais remota...

21.10.24

NOTA: Este 'post' é respeitante a Domingo, 21 de Outubro de 2024.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

A aptidão para a música é algo que, sem ser inato, se começa a desenvolver desde muito cedo na maioria das crianças – pelo menos a julgar pelo grau de interesse que os instrumentos de brincar despertam nas mesmas, quase desde que conseguem andar e falar. De facto, muito antes da indescritível flauta de Bisel das aulas de música da escola vir tirar toda e qualquer vontade de aprender novos instrumentos - pelo menos durante alguns anos – já a maioria dos humanos de tenra idade começa a gravitar para aqueles 'fazedores de ruído', sabiamente adaptados pelas companhias produtoras para se adequarem a mãos ou bocas mais pequenas. E se grande parte deste mercado consiste tão sómente de instrumentos 'a sério' produzidos a uma escala mais reduzida, outro segmento comporta as verdadeiras 'estrelas' deste 'post' – aqueles instrumentos que, não obstante poderem ser tocados, ficam ainda assim muito mais perto de serem brinquedos do que apetrechos musicais credíveis.

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Dois exemplos bem típicos de instrumentos de brincar da época.

E produtos deste tipo eram, certamente, coisa que não faltava no Portugal das décadas de 80 e 90. Entre brindes de jogos de feira, produtos da 'loja dos trezentos' e outros algo mais cuidados e comprados nas velhas lojas de brinquedos tradicionais, o grau de acessibilidade destes 'brinstrumentos' era alto, e a escolha variada o suficiente para satisfazer até a mais exigente das crianças, indo de cornetas ou bombos em plástico a mini-pianos electrónicos que cabiam na palma da mão (e que não devem ser confundidos com os também muito populares órgãos electrónicos, que se inserem firmemente na categoria de instrumentos 'reais') passando por tambores de lata e até produtos que quase roçavam a categoria de verdadeiros instrumentos, como as 'melódicas' ou as baterias de brincar, ou que o eram de facto, como as então muito prevalentes harmónicas.

Recaísse a escolha sobre que instrumento recaísse, no entanto, uma coisa era certa – iria ser necessário aos pais e familiares da criança em causa uma dose de paciência quase tão grande quanto a sua resistência a sons dissonantes. Isto porque mesmo crianças que não tinham acesso a qualquer dos instrumentos acima listados não deixavam de tentar fazer a sua própria forma de 'música', mesmo que esta surgisse sob a forma de colheres de pau a bater em baldes ou caixas de plástico, ou tampas de panela a serem entrechocadas à guisa de pratos – o que, até certo ponto, remete de volta para o argumento feito no início deste 'post', sobre a apetência por música ser inata.

Tal como sucede com muitos dos produtos abordados neste 'post', também os instrumentos de brincar sofreram tanto um declínio como uma mutação. Embora seja ainda possível encontrar mini-guitarras com luz e som e outros instrumentos semelhantes nas hoje lojas chinesas, a simulação de criação de música passou, sobretudo, para o domínio electrónico, com programas como 'Rock Band' e 'Guitar Hero' a tomarem o lugar das velhas cornetas em plástico ou tambores de lata. Quem teve o privilégio de dar largas à sua 'veia artística' num destes instrumentos mais 'clássicos', no entanto, certamente guardará memórias nostálgicas daqueles Domingos Divertidos passados a 'fazer barulho' pela casa inteira, e a 'destruir' inadvertidamente os ouvidos aos pais...

09.09.24

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 8 de Setembro de 2024.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes mencionámos o facto de as crianças de finais do século XX precisarem de muito pouco para criar um Domingo Divertido, mesmo dentro de portas. De balões a 'concertinas' de plástico, passando por uma simples folha de papel e uma caneta, eram diversas as brincadeiras que, apesar de simples, eram ainda assim capazes de entreter a referida geração durante largos períodos de tempo; deste grupo faz, também, parte um misto de brinquedo e jogo que, apesar de obsoleto e até algo tolo da perspectiva da era digital, não deixava de apresentar um desafio considerável para quem ainda não vivia rodeado de ecrãs e recursos virtuais.

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Consistia este brinquedo de um cone de plástico, ao qual era amarrada uma bola por meiio de um fio curto. O objectivo da brincadeira passava por conseguir equilibrar a mesma no cone – um desiderato aparentemente simples, mas que requeria um nível surpreendente de precisão de movimentos e controlo da força, já que qualquer gesto mais brusco ou descontrolado resultava, inevitavelmente, num 'vôo rasante' da bola sobre a superfície do cone, antes de tombar do outro lado e obrigar a nova tentativa. O segredo estava, assim, no trabalho de pulso, que deveria ser, ao mesmo tempo, subtil e preciso para obter os resultados desejados, fazendo deste jogo um excelente veículo de treino para a coordenação motora, ainda que algo exigente para as crianças mais pequenas.

Não será, de todo, surpreendente afirmar que, desde a época em causa, este tipo de jogo desapareceu quase totalmente da consciência popular nacional, sendo possível imaginar a reacção de um elemento da Geração Alfa a algo deste tipo. Para quem cresceu em tempos mais simples, no entanto, aquele pequeno cone com a 'bolinha' agarrada terá, na sua época, constituído um desafio quase ao nível de um Cubo Mágico, e gerador de iguais graus de satisfação ao ser, finalmente, conquistado...

27.04.24

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Já aqui por várias vezes realçámos a importância da imaginação e do 'faz-de-conta' no desenvolvimento social e cultural saudável de uma criança ou jovem; e se, durante várias décadas, estes elementos foram, necessariamente, potenciados através de recursos improvisados (alguns dos quais também já aqui mencionados) o rápido desenvolvimento tecnológico verificado em finais do século XX veio permitir às gerações 'X' e 'millennial' estarem entre as primeiras a conseguir dar às suas fantasias mais rebuscadas um toque de realidade. Isto porque, apesar de já ser possível ser 'cowboy', índio ou mesmo astronauta desde meados do século (com recurso a pistolas de fulminantes e outros apetrechos semelhantes) a globalização e redução do preço dos componentes electrónicos verificada durante as décadas de 70, 80 e 90 permitiu levar a última brincadeira, em particular, ao 'nível seguinte', com a introdução de 'pistolas espaciais' futuristas, repletas de efeitos de luz e sonoros adequados a aventuras no espaço sideral.

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Lá por casa, existia um modelo virtualmente idêntico a este...

Normalmente encontradas em lojas de bairro ou lojas de brinquedos tradicionais – não tendo, regra geral, 'categoria' para serem vendidas em hipermercados, 'shoppings' ou mesmo supermercados – este tipo de armas tendia a ser, ainda assim, de qualidade superior à maioria dos brinquedos com que partilhava espaço nos referidos estabelecimentos, sendo feitas de plástico maçico e resistente, capaz de aguentar os saltos, corridas e trambolhões da maioria das brincadeiras em que a arma em causa seria utilizada. As luzes e sons, essas, eram as habituais dos brinquedos feitos na China e Taiwan, com LEDs piscantes a acompanhar as habituais sirenes e sons de tiros laser, activados ao tocar no gatilho da arma. Um mecanismo simples, e baseado em partes electrónicas das mais baratas, mas capaz de fazer a felicidade de qualquer criança com apetência para aventuras 'espaciais' naquela era pré-digitalização globalizada, e de se tornar parte integrante e indispensável de qualquer Sábado aos Saltos a 'brincar aos astronautas', merecendo por isso menção nas páginas virtuais deste nosso blog nostálgico.

14.05.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui por diversas vezes falámos do impacto que a redução do preço dos componentes electrónicos, e a maior facilidade na importação de produtos, tiveram no comércio de brinquedos e outros produtos dirigidos a um público jovem; no espaço de apenas alguns anos, as lojas portuguesas (especialmente as mais modestas ou tradicionais) viam-se positivamente 'invadidas' por um sem-fim de brinquedos electrónicos de qualidade duvidosa e funcionalidade básica, mas com preços acessíveis, oriundos da China ou do Taipei, e destinados puramente a entreter o comprador durante os dez a quinze minutos após a compra, sendo prontamente abandonados após a chegada a casa, e apenas esporadicamente revisitados subsequentemente, acabando por 'morrer de velhos' numa gaveta, onde as pilhas (invariavelmente daquelas redondas, ao estilo relógio) lentamente se esgotavam. E, de entre estes, um dos mais comuns e populares foram os telemóveis de brincar.

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Destinados, tal como os portáteis educativos, a emular uma experiência marcadamente 'adulta' e a que, à época, muito poucas crianças tinham acesso, os telemóveis de brincar distinguem-se daqueles seus congéneres por nem sequer procurarem ser mais do que aquilo que, à primeira vista, apregoavam – um produto de plástico barato, com um teclado embutido (o qual, muitas vezes, acabava 'desalinhado' dos buracos das teclas após uma pressão mais intensa) e um 'chip' sonoro básico, com um punhado de efeitos sonoros vagamente relacionados ao acto de falar ao telefone, como toques de chamada, sons a lembrar os de um 'fax' ou 'modem', ou uma operadora de voz esganiçada ao estilo Minnie Mouse. Cada um destes efeitos era activado através da pressão de uma tecla, mas desengane-se quem pensar que todas as teclas geravam um som distinto, já que a tecnologia deste produto a tanto não chegava; em vez disso, os referidos sons estavam, regra geral, ligados a pelo menos duas das teclas do pseudo-telefone, sendo alguns, até, mais comuns e frequentes do que outros.

Explicado assim, e à distância de três décadas, este brinquedo parece perfeitamente ridículo, sendo questionável como conseguiu tanta tracção entre as crianças de finais do século XX; no entanto, esta é uma daquelas situações em que o contexto se torna importante, já que as demografias infantis da época tinham significativamente menos acesso a brinquedos de índole tecnológica, e, como tal, um grau de exigência bastante menor, que conseguia tornar algo tão básico como estes telefones num produto minimamente apetecível. O facto de os mesmos terem, conforme mencionámos, um custo de venda relativamente acessível tornava-os também, em presentes 'casuais' ideais, daqueles que se traziam para casa após uma Saída de Sábado ou ida à drogaria. Esta junção de factores tornava os telemóveis de brincar naquele produto que ninguém activamente queria, mas toda a gente acabava por ter, e que, como tal, acaba por ser tão ou mais nostálgico do que outros de que aqui vimos falando; afinal, a nostalgia não se restringe a produtos activamente cobiçados à época da aquisição, mas antes engloba toda a categoria de produtos com os quais se teve convivência aprazível ao nível quotidiano – na qual, para as crianças da segunda metade dos anos 90 e primeiros anos da década seguinte, estes telemóveis definitivamente se inseriram.

16.04.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Num par de publicações anteriores deste nosso blog, falámos de como a maior facilidade em conseguir peças e 'chips' electrónicos, aliada à significativa redução do custo das mesmas, tinha resultado no aparecimento, durante as últimas décadas do século XX, de uma enorme variedade de brinquedos que tinham nas funcionalidades electrónicas e interactivas a sua principal característica inovadora, sem que com isso se assumissem declaradamente como produtos tecnológicos. Das bonecas falantes às flores dançarinas, papagaios repetidores e animais de peluche a pilhas, foram muitos os exemplos deste tipo de produto existentes no mercado infanto-juvenil português de fins de segundo milénio, mas para os 'rapazes' daquele tempo, existe um que, muito provavelmente, se sobreporá à maioria dos outros no panorama das memórias nostálgicas: os carros auto-comandados com luz e som, informalmente conhecidos como 'Bump'n'Go', devido à sua principal característica distintiva.

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Um exemplo bem típico, e de época, deste tipo de brinquedo.

De facto, um dos principais atractivos deste tipo de veículo, que 'tomou de assalto' o mercado português algures entre finais da década de 80 e inícios da seguinte, era precisamente a funcionalidade que lhes permitia mudar automaticamente de direcção ao encontrar um obstáculo sólido no seu caminho, à semelhança do que hoje fazem os robots de limpeza. Para uma geração menos habituada a automatismos de índole tecnológica, era nada menos do que estarrecedor ver o brinquedo em causa 'chocar' com a perna de uma mesa ou a banca da cozinha, recuar ligeiramente em marcha-atrás, virar-se noutra direcção, e continuar a sua marcha – tudo isto sem qualquer intervenção humana! Acções que, outrora, teriam requerido resolução manual eram agora automatizadas, tornando estes brinquedos, senão desejados, pelo menos muito bem aceites quando apareciam debaixo da árvore de Natal ou como prenda de anos 'secundária' oferecida por um parente mais distante.

Como se já não bastasse essa funcionalidade quase 'mágica', no entanto, este tipo de veículos vinha, também, invariavelmente equipado com um jogo de luzes LED e uma placa de efeitos sonoros sempre prontos a ecoar pela casa em volume máximo (o único, naturalmente, conhecido por estes brinquedos.) Estes efeitos eram, normalmente, adaptados ao tipo de brinquedo em causa, mas – como seria talvez de esperar – ocorriam por vezes instâncias bizarras em que um brinquedo mais pacífico e 'fofinho' emitia sons de tiros e emitia luzes azuis e vermelhas ao estilo sirene da Polícia.

Mesmo estas idiossincrasias típicas de produtos oriundos da China ou de Taiwan, no entanto, apenas adicionavam ao 'charme' destes brinquedos, que nem mesmo a criança mais inocente tomaria por produtos topo de gama, mas que eram ainda assim mais que suficientes para 'entreter' qualquer 'puto' noventista durante uma tarde de fim-de-semana em casa.

De referir que, ao contrário de tantos outros produtos que recordamos nestas nossas páginas, os brinquedos deste tipo continuam a ser fáceis de encontrar e obter no mercado actual; a questão, no entanto, prende-se com até que ponto as crianças da nova geração conseguirão tirar algum prazer de algo que, para os seus pais, foi quase revolucionário, mas que para eles não será mais do que um brinquedo 'foleiro' de tão simplista...

04.04.23

NOTA: Este 'post' é correspondente a Domingo, 02 de Abril de 2023.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os avanços tecnológicos de finais do século XX permitiram que as crianças dos anos 80 e 90 disfrutassem de uma série de brinquedos que, sem serem aberta ou explicitamente tecnológicos, faziam uso das capacidades existentes para criarem funcionalidades apelativas que pudessem servir como argumentos de vendas junto do público-alvo. Dos mais complexos, como os 'Furbies', aos mais simples, como as flores dançarinas ou os animais a pilhas, foram inúmeros os exemplos deste tipo de produto disponibilzados ao longo dos últimos vinte anos do Segundo Milénio; no entanto, para as crianças portuguesas em particular, poucos simbolizam esse período da História comercial tão bem quanto os famosos 'papagaios repetidores'.

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Surgidos praticamente 'do nada' para se tornarem êxitos de vendas das lojas de brinquedos mais pequenas (e daquelas lojas 'vende-tudo' semi-duvidosas, a meio caminho entre as drogarias e as lojas dos 'trezentos', tão populares e frequentes no Portugal da época) estes papagaios movidos a pilhas tinham como proposta única a repetição - numa voz robótica e esganiçada - de parte ou da totalidade de qualquer frase dita por quem se encontrasse nas suas proximidades, normalmente acompanhado de um bater de asas mecanizado. Tal era, claro, possível graças aos componentes electrónicos localizados no seu interior, que certamente pareceriam simplistas e obsoletos do ponto de vista actual, mas que, à época, eram suficientemente impressionantes para tornar estes papagaios numa 'febre' entre as crianças e jovens de uma certa idade aquando da sua chegada a Portugal, em inícios dos anos 90.

De facto, por mais difícil que seja imaginá-lo nesta era de Tamagotchis com funcionalidades Bluetooth e brinquedos controlados por Wi-Fi, numa era não muito distante da História, ter no quarto um papagaio que repetia o que se dizia à sua frente era não só motivo de inveja e 'gabarolice', mas também de largos momentos de diversão, quer sozinho, que na companhia dos amigos - um marco (mais um) de tempos mais simples, em que as crianças e jovens eram bem menos exigentes no que tocava às funcionalidades dos seus brinquedos e divertimentos. De facto, apesar de estes papagaios se encontrarem ainda disponíveis hoje em dia, em sites como o AliExpress, é difícil imaginar que um brinquedo deste tipo suscite numa criança do século XXI o mesmo tipo de interesse que criou junto da geração anterior, ou que seja elevado ao estatuto de 'peça central' do quarto como o foi para os jovens de finais de 90; quem viveu o curto mas marcante auge de popularidade destes brinquedos, no entanto, certamente se lembrará da sensação que o mesmo causava junto de qualquer grupo de amigos de uma determinada idade...

19.03.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui referimos anteriormente que a revolução tecnológica dos anos 80 e 90 nem sempre se fez sentir apenas a um nível 'macro'; pelo contrário, as décadas em causa trouxeram igualmente uma série de novas possibilidades quase imperceptíveis, mas que viriam mudar para sempre o panorama social ocidental, nos mais diversos campos e das mais diversas formas. Como um dos principais beneficiados pelas novas tecnologias emergentes, o sector dos brinquedos não poderia, evidentemente, ficar imune a estas tendências, e os últimos vinte anos do século XX ficaram marcados por uma evolução gradual mas inegável dos brinquedos 'auto-suficientes', que, pouco a pouco, iam deixando para trás os mecanismos de corda como principal sistema propulsor, e adoptando um novo interface baseado em motores a pilhas.

De facto, da década de 80 em diante, começou a notar-se entre os fabricantes de brinquedos uma notória tendência para adicionar funcionalidades electrónicas em tantos produtos quantos possível, a fim de poder apregoar mais um atractivo aliciante à venda. Das bonecas subitamente falantes aos carros ou pistas com telecomando ou auto-suficientes, macacos tocadores de pratos, flores 'dançarinas', jogos de mesa ou armas com luz e som, foram inúmeros os tipos de brinquedo que se viram 'incrementados' com funcionalidades electrónicas durante essa década e a seguinte, tendo a globalização das pilhas e o decréscimo do custo das partes tecnológicas ajudado a acelerar a produção em massa destes tipos de produtos, invariavelmente produzidos praticamente sem custos em países como a China.

Este fenómeno, por sua vez, ajudou a que os referidos brinquedos chegassem a retalhistas que, alguns anos antes, dificilmente teriam conseguido arcar com os custos de importação, passando a ser vistos menos frequentemente em lojas de brinquedos 'finas' e cada vez mais em drogarias de bairro, lojas dos 'trezentos', máquinas de brindes, ou até a serem vendidos por comerciantes de legalidade duvidosa em plena rua.

Neste último caso em particular, havia um brinquedo que se destacava por sobre todos os outros, e que qualquer jovem dos anos 80 ou 90 terá certamente tido a dado ponto da sua infância: os cãezinhos (e gatinhos) de peluche que andavam e emitiam sons.

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Extremamente fáceis de encontrar numa qualquer 'lojeca' de bairro ou até sobre uma lona na rua, estes animais a pilhas faziam parte daquele lote de brinquedos suficientemente barato para poder constituir uma prenda 'casual' durante um passeio ao centro da cidade (à semelhança dos balões ou das bolas de sabão) e, ao mesmo tempo, divertido e resistente quanto bastasse para entreter uma criança não só no próprio dia, mas durante um período mais alargado.

Normalmente produzidos para se assemelharem a 'cocker spaniels' ou caniches (embora também fosse comum ver gatos ou 'huskies') estes brinquedos tinham uma funcionalidade simples, mas capaz de produzir largos momentos de diversão, sendo capazes tanto de andar como de se sentar, altura em que emitiam uma série de ladridos (ou miados), antes de retomarem a sua marcha; um processo fascinante para qualquer criança, e que tinha o atractivo adicional de servir para confundir e assustar os congéneres 'de carne e osso' dos pequenos animais – e quem nunca tenha activado um destes brinquedos em proximidade ao seu cão ou gato, e gozado a reacção dos mesmos, que atire a primeira pedra.

Tal como tantos outros brinquedos de que falamos nesta rubrica, também estes animais electrónicos acabaram por, ao longo dos anos, se afirmar como demasiado simplistas para agradar à 'geração iPad', acabando por perder preponderância e praticamente se extinguir do imaginário infantil de inícios do século XXI; hoje em dia, os brinquedos vendidos na rua são outros (com destaque para os famosos 'fidget spinners') e, apesar de estes simpáticos peluches 'animados' continuarem disponíveis nos habituais retalhistas grossistas (além de lojas como a Amazon e o eBay) dificilmente serão suficientes para 'encher as medidas' às crianças actuais. Quem ainda tiver o seu (ou UM dos seus, dado que a criança média portuguesa tendia a ter vários ao longo da sua vida) pode, no entanto, tentar 'apresentá-lo' aos seus filhos ou familiares mais novos; quem sabe os mesmos os apreciem o suficiente para fazer estes brinquedos – como tantos outros desta mesma época – voltar a estar na 'moda'...

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