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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.09.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

As primeiras edições desta rubrica abordaram, entre outros temas, as bonecas Barbie (e respectivas 'imitadoras' e as figuras de acção, vulgo 'bonecos', dois dos tipos de brinquedo mais populares dos anos 90 entre, respectivamente, os públicos masculino e feminino. E dado ter sido, também, nessa década (bem como na anterior) que se verificou a expansão e globalização dos produtos baratos fabricados nos mercados asiáticos, não é de espantar que algum empresário mais ambicioso tenha tido a ideia de combinar estas duas categorias de produto numa só, e de as vender, a um preço irrisório, no mesmo tipo de estabelecimento que já albergava inúmeras 'cópias' de qualidade mais que duvidosa de Barbie, Sindy, Batman ou Power Rangers.

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Um exemplo típico deste tipo de figura, claramente baseado nos Power Rangers.

Nasce, assim, a selecta mas ainda assim icónica categoria dos super-heróis de imitação, não de 20cm, mas do tamanho normalmente associado a bonecas para raparigas. Normalmente estilizados a partir dos Power Rangers ou VR Troopers (embora com suficientes diferenças para constituírem uma personagem 'única', por oposição a uma cópia descarada) estes bonecos tendiam a notabilizar-se pela falta de articulação e movimento. campo em que eram diametralmente opostos às figuras mais pequenas, que, na altura, se revezavam para ver quem conseguia ter MAIS pontos de encaixe de membros. Esta falta de flexibilidade, aliada ao tamanho da própria figura, tendia a tornar impossível a sua convivência com os 'bonecos' mais pequenos, tornando-a, na melhor das hipóteses, candidata a 'monstro da semana' e, na pior, um bocado de plástico duro fadado a ser usado como 'noivo' de uma qualquer boneca pela irmã mais nova.

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Outro exemplo fabuloso, este com comparação de escala.

Ainda assim, por comparação a outras figuras piratas da altura – como as inenarráveis bonecas Sailor Moon, que ameaçavam partir-se a qualquer toque mais forte – este tipo de super-herói até gozava de uma qualidade de construção bastante razoável, sendo mais pesado e 'cheio' do que os bonecos e bonecas invariavelmente ocos e ultra-leves que o rodeavam nas prateleiras das lojas 'dos trezentos' e estabelecimentos semelhantes. E, sem terem sido o brinquedo preferido de ninguém, a verdade é que estes bonecos terão tocado, em algum momento, a infância de quase todos os jovens portugueses da época – sobretudo do sexo masculino – o que os torna, de certo modo, um produto icónico e de referência para a geração nascida e crescida de cada um dos 'lados' do Novo Milénio.

27.11.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

O modelismo e a construção são áreas do agrado de muitas crianças ou jovens, embora a sua complexidade obrigue, muitas vezes, a que os mesmos tenham ajuda de um adulto, ou sejam forçados a esperar até terem mais idade, antes de poderem almejar a construir os aviões e carros admirados na montra das lojas especializadas. Tal não significa, no entanto, que não seja possível encontrar soluções adaptadas a faixas etárias mais baixas, das quais, em Portugal, sempre se destacaram duas: LEGO Technic e Meccano. E se a primeira propunha, pura e simplesmente, a construção de veículos totalmente funcionais com recurso a peças de LEGO e alguns conectores especiais, a segunda era suficientemente distinta de tudo o que de mais existia no mercado infanto-juvenil da época para merecer destaque próprio.

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Dois dos modelos disponíveis no mercado português em finais do século XX (crédito das fotos: OLX)

Concebido e lançado em França, e à época já quase centenária (o seu aparecimento data da viragem do século XIX para o XX) o Meccano era, e continua a ser, uma aproximação extremamente fiel a um verdadeiro sistema de engenharia em ponto reduzido – tanto assim que os seus fundamentos permitem a sua aplicação em verdadeiros projectos de construção e protótipos. E ainda que essa complexidade reduzisse o seu público-alvo a crianças que não se importavam de passar um período considerável a apertar porcas e parafusos (fossem de plástico ou metal) com recurso aos instrumentos fornecidos, para essas, não havia maneira melhor de gastar um Domingo Divertido de Inverno em casa. Melhor – os resultados eram tão realistas quanto qualquer modelo de avião, carro ou locomotiva 'para gente grande', e bastante mais do que os mais estilizados veículos da gama LEGO Technic, tornando-os ainda mais atractivos para os adeptos desse tipo de brinquedo.

Tal como a própria LEGO e a sua gama Technic, a Meccano faz parte do lote de produtos de finais do século XX que continuam disponíveis em larga escala nos dias de hoje, tendo entretanto passado por várias mãos, incluindo as da Nikko, fabricante dos famosos carros telecomandados da mesma época. E ainda que a sua presença já não tenha o mesmo volume de que gozava naqueles últimos anos do Segundo Milénio, quem tenha filhos em idade apropriada, com gosto pelo modelismo, engenharia e construção, e lhes queira mostrar o que 'dava a volta à cabeça' dos seus pais na mesma idade, só tem de dirigir-se à loja de brinquedos, supermercado ou grande superfície mais próxima...

25.09.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já por várias vezes aqui abordámos a dicotomia noventista entre enormes avanços tecnológicos e brinquedos 'físicos' baseados em conceitos extremamente simples, mas que, de algum modo, conseguiam entreter extensamente as crianças e jovens da época; pois bem, o assunto de que trataremos nas linhas abaixo insere-se, precisamente, neste último grupo, sendo talvez, a par dos LEGOs, um dos seus exemplos mais icónicos.

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As duas cores de exército mais comuns neste tipo de brinquedo.

Falamos dos batalhões de soldadinhos de plástico vendidos dentro de enormes baldes, cada um com dois 'exércitos' e (com sorte) alguns acessórios que permitiam montar um cenário de guerra, como tanques, cães, barris, caixas de munições ou pedaços de parede (o existente lá por casa incluía, além dos muros e tanques, uma bandeira e respectivo poste, uma tenda de socorros médicos e um desdobrável de plástico que podia ser usado como cenário ou chão – um exemplo 'de luxo', portanto). O resto ficava por conta da criatividade de cada criança, sendo as únicas 'ajudas' as diferentes poses dos soldados dos dois exércitos, alguns dos quais eram moldados em pé, outros agachados, em posição de corrida ou até deitados, dependendo da arma que empunhavam.

Talvez fosse, precisamente, esta limitação que tornava este tipo de brinquedo tão popular entre as gerações mais jovens da época, já que o facto de o mesmo não vir com a 'papinha toda feita' estimulava a imaginação, ajudando a transportar quem com ele brincava para aquele 'mundo' em que todas as crianças entram quando se envolvem neste tipo de actividade, em que tudo o que lhes passa na cabeça parece real; ou talvez o atractivo se prendesse com a vertente económica do produto, cujo preço tendia a ser relativamente acessível para a quantidade de material incluída.

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Os soldados de plástico ficaram imortalizados no filme 'Toy Story', entre outros produtos mediáticos da época.

Fosse qual fosse o motivo, a verdade é que estes soldadinhos foram tão populares nas últimas décadas do século XX (e, em menor escala, no início do seguinte) que se viram imortalizados em propriedades mediáticas tão bem sucedidas como os jogos da série 'Army Men' (que saíram no PC, Playstation, Game Boy, Nintendo 64 e várias outras consolas da época) e, claro, o filme 'Toy Story', em que os membros do exército desempenham um papel fulcral no início da trama; e ainda que, hoje em dia, a sua popularidade se encontre significativamente diminuída, a verdade é que continua a ser possível comprar um 'balde' de soldados verdes e cinzentos ou castanhos, com os quais encenar um cenário bélico no chão do quarto – prova de que os mesmos constituem um tipo de brinquedo verdadeiramente intemporal, e que dificilmente se extinguirá totalmente no futuro mais próximo.

07.05.22

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

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A década de 90 ajudou, entre outras coisas, a cimentar definitivamente o gosto dos jovens portugueses pelo basquetebol. A ascensão de equipas como os Los Angeles Lakers e os Chicago Bulls, transmitida aos lares portugueses pelo excelente programa NBA Action, filmes como Space Jam e, dentro de portas, um Carlos Lisboa em auge de carreira, fez com que muitas crianças descobrissem esta fascinante e excitante modalidade, e desenvolvessem por ela uma paixão a merecer ser explorada.

Um dos principais meios de demonstrar (e extravasar) esse gosto pela modalidade passava pela aquisição de uma réplica de uma tabela de basket, uma visão extremamente comum nos quintais e garagens da época. Com um cesto de tamanho oficial, embora o painel fosse mais pequeno, estes equipamentos - facilmente adquiríveis nos então emergentes hipermercados, ou nas lojas de desporto dos também embrionários 'shoppings' - estavam, invariavelmente, entre os mais cobiçados (sobretudo) pelos rapazes da época, e quem tivesse o espaço e/ou dinheiro para adquirir uma não deixava de ser motivo de inveja dos colegas menos afortunados – sobretudo se a tabela tivesse pé, não necessitando portanto do 'ritual' de a pregar à parede, e podendo ser levada para qualquer lugar onde um jogo se pudesse desenrolar.

Quem não tinha a sorte de ter um espaço exterior onde instalar a tabela, no entanto, não ficava impedido de demonstrar o seu gosto (e jeito, ou falta dele) pelo basket; isto porque qualquer loja de bairro ou loja de brinquedos tradicional da época veiculava uma alternativa (mais ou menos) válida às tabelas em 'tamanho real' – nomeadamente, mini-tabelas em tamanho reduzido, com uma bola de plástico e muito leve, que tornava possível a sua instalação e uso em qualquer quarto de cama. Não era a mesma coisa (longe disso) e dificilmente suscitaria a cobiça e inveja dos amigos e colegas de turma, mas para quem não tinha mais do que um apartamento, era mais do que suficiente para extravasar o Michael Jordan dentro de si.

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Exemplo actual de uma mini-tabela

Fosse qual fosse o modelo, no entanto, uma coisa é certa – as tabelas de basket fizeram mesmo furor entre os jovens dos anos 90. E ainda que, actualmente, seja cada vez mais raro encontrar um destes equipamentos numa casa particular (até porque quem quer jogar tem agora muitos espaços exteriores onde o fazer) temos a certeza de que, algures por esse país fora, existem ainda vários LeBron James em potência que, em Sábados de sol como este, resolvem dar uns Saltos (literalmente) no quintal das traseiras, e tentar 'meter' uns cestos na tabela pregada por cima da porta da garagem – tal como o faziam os seus pais, três décadas antes...

06.02.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 80 e 90 foram, no que toca a brinquedos, estranhamente pródigos em linhas de figuras assexuadas e que procuravam retratar tanto a vida quotidiana como cenários algo mais fantasiosos; e depois de já aqui termos falado, em edições passadas desta rubrica, da LEGO (cujas linhas de mini-figuras e acessórios cobriam desde profissões a cenas de lazer da vida quotidiana, passando por versões romanceadas de períodos históricos) e da Pinypon (que procurava reproduzir tanto o quotidiano de uma criança em idade pré-escolar como as fantasias da sua imaginação) chega hoje a vez de falarmos do terceiro membro daquilo que se podia considerar uma espécie de 'Santíssima Trindade' dos brinquedos infantis da época – a Playmobil.

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Criada pelo alemão Hans Beck em 1974 – e chegada à Península Ibérica dois anos depois, então com a designação Famobil - foi, no entanto, nas duas décadas seguintes que a Playmobil viveu o seu período de maior popularidade internacional, tornando-se um êxito de vendas - e presença obrigatória nos anúncios televisivos, catálogos de brinquedos e prateleiras de hipermercados por alturas do Natal - em muitos países, entre os quais Portugal.

Tal facto não é, de todo, surpreendente quando se considera que a linha alemã tem exactamente o mesmo conceito da LEGO, e que mais tarde viria a ser adoptado também pela Pinypon – nomeadamente, figuras estandartizadas, a maioria iguais entre si (os únicos elementos díspares entre os personagens Playmobil eram, normalmente, a cor da camisola, a cor do cabelo, quaisquer potenciais acessórios, e quiçá um qualquer detalhe da pintura, como uma barba, embora também existissem figuras infantis) e que viviam tanto situações perfeitamente quotidianas como mais aventurosas ou romanceadas, sendo muitas destas últimas baseadas em cenários comuns de obras de aventuras, como o Velho Oeste ou a época dos piratas (para a História fica o fabuloso barco pirata comercializado pela marca, um dos presentes de Natal mais cobiçados da década, sobretudo pelo sexo masculino.)

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Uma imagem que dispensa maiores legendas. Admirem, e babem-se.

O facto de a maioria destas figuras mal terem articulação (ao contrário das mini-figuras da LEGO, nos bonecos Playmobil, apenas era possível mexer os braços, e apenas em linha recta) não era impedimento à diversão, já que a maioria dos acessórios e cenários eram especificamente adaptados a esta característica – os cavalos dos 'cowboys' e índios, por exemplo, tinham costas suficientemente largas para encaixarem no ângulo de pernas dos bonecos, permitindo-lhes assim montá-los. Isto tornava as brincadeiras simples e intuitivas, e, como tal, convidativas à exploração alargada e demorada das possibilidades de cada conjunto. A maioria das crianças não se fazia rogada, sendo a linha Playmobil opção recorrente para sessões de 'imaginação' em tardes preguiçosas de fim-de-semana, ou até mesmo depois da escola.

Também à semelhança das suas contemporâneas da LEGO e Pinypon, a linha Pluymobil persiste até aos dias de hoje, tendo, inclusivamente, tido direito a uma adaptação cinematográfica em 2019, a qual passou, no entanto, bem mais despercebida do que a sua congénere da LEGO, anos antes. Também como os LEGOs, e ao contrário do que aconteceu com os Pinypon, os brinquedos da Playmobil mantêm, em grande medida, a sua identidade intacta, embora – novamente como aconteceu com a LEGO – a marca se tenha visto obrigada a diversificar a sua proposta, e a aumentar os seus preços, embora a um nível menor do que o da rival dinamarquesa.

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Como a LEGO, também a Playmobil tem, hoje, linhas licenciadas

Ao contrário do que acontece com a marca das mini-figuras amarelas, no entanto, a Playmobil perdeu, nas três décadas desde o seu apogeu, muita da sua preponderância, sendo hoje pouco mais do que uma recordação nostálgica para a geração que com ela cresceu. Ainda assim, os membros dessa mesma geração podem, hoje em dia, trocar impressões e memórias no portal online Playmogal, que (apesar de pouco participado) prova que, ainda que muito menos preponderante do que em tempos já foi, a marca alemã está longe de estar totalmente desaparecida, e pode ainda – quem sabe – voltar a fazer as delícias das demografias mais novas em anos vindouros...

23.01.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 90 (tal como a década anterior) são, hoje em dia, justamente lembrados como uma era em que a indústria de fabrico e comercialização de brinquedos obedecia a certos padrões em termos do que era ou não popular. Os rapazes da época, por exemplo, privilegiavam brinquedos ligados à banda desenhada ou aos desenhos animados, ou simplesmente que tivessem um aspecto atractivo, como no caso dos carros telecomandados; já as raparigas procuravam linhas de brinquedos que reflectissem aspectos do quotidiano, fossem eles o dia-a-dia das mães de bebés recém-nascidos, das donas de casa, ou até de uma super-modelo com mansão, carro descapotável e namorado igualmente atraente. Havia, claro, brinquedos que desafiavam esta 'regra', mas até mesmo esses sucumbiam, aqui e ali, aos estereótipos sobre aquilo que as crianças verdadeiramente procuravam – basta atentar nas linhas marcadamente 'sexuadas' oferecidas pela LEGO na época, por exemplo.

Foi com panorama vigente que, ainda nos anos 80, a espanhola Famosa – também responsável pelo Nenuco, pelas Barriguitas e por vários outros dos brinquedos favoritos das meninas da época – decidiu lançar internacionalmente os bonecos e cenários que criara ainda na década anterior, e a que chamara Pin Y Pon (conhecido em Portugal, devido à sua grafia estilizada, como Pinypon.) E como seria de esperar, um dos primeiros mercados abrangidos por esta expansão foi, precisamente, o do país vizinho, onde estes bonecos aterraram algures nos anos 80, prontos para mais de duas décadas de sucesso entre a criançada.

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Com um design estilizado e 'fofinho' (muito semelhante ao que hoje inspira os popularíssimos Funko Pops) e dimensões reduzidas – maiores que uma figura da Lego, mas menores que uma da Playmobil – Pin (o rapaz) e Pon (a rapariga) eram dirigidos a um público mais jovem do que qualquer das suas concorrentes (sensivelmente o mesmo a que se destinava a linha Duplo da LEGO) e traziam como principal atractivo o facto de os seus cabelos serem totalmente removíveis, podendo assim qualquer figura usar o 'penteado' de qualquer outra - uma característica que era acentuada pelo facto de, na maioria das vezes, os bonecos usarem apenas pijamas estilo 'onesie' de cor uniforme, impedindo assim, propositadamente, a distinção entre sexos. Também à semelhança do que sucedia com as mini-figuras da LEGO, certos conjuntos de Pinypon traziam, além do cabelo, alguns acessórios extra, como chapéus, que eram também intercambiáveis, oferecendo assim ainda mais possibilidades a cada brincadeira.

É claro que, para além dos bonecos em si, esta linha oferecia também alguns cenários onde os colocar, a maioria baseada em locais corriqueiros, onde crianças da idade dos dois bonecos se poderiam realisticamente encontrar; no entanto, como seria de esperar numa linha deste tipo, certos destes cenários pendiam mais para a vertente da realização de algumas das mais frequentes fantasias infantis, apresentando locais como circos ou marchas, em que o casalinho de bonecos era protagonista principal.

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Exemplo de um cenário da linha

No cômputo geral, esta era uma linha bastante sólida do ponto de vista conceptual, mas que – como tantas vezes sucede – não tardou a sofrer alterações, em parte impostas pelas alterações no mercado de brinquedos, e pela necessidade de se manter relevante e continuar a vender. Primeiro, os bonecos passaram a ter caras detalhadas, em substituição dos olhos negros e sem pupilas de anteriormente; depois, ganharam articulações; e por fim (já no século XX, e após um hiato de três anos na produção da linha) reinventaram-se com um 'design' estilo 'anime', que os torna praticamente irreconhecíveis para quem com eles brincou nos simples e honestos primórdios dos anos 80 e 90.

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As três gerações de Pinypon

Ainda assim, há que dar mérito a esta linha da Famosa por se ter conseguido 'aguentar' nas prateleiras de brinquedos durante cinco décadas, mesmo depois de a maioria dos brinquedos deste tipo terem perdido totalmente a atenção do público alvo; nesse capítulo, os Pinypons rivalizam apenas com linhas e marcas do calibre da LEGO (que também se viu obrigada a mudar com os tempos), a Barbie, a Polly Pocket ou os referidos Nenucos. Pena que, ao contrário da maioria destas, o tenham feito à custa de uma identidade própria que, no início da sua trajectória, era precisamente o que os distinguia da concorrência...

10.01.22

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 09 de Janeiro de 2021.

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

No início do nosso último post, mencionámos a enorme variedade de escolhas ao dispôr de um indivíduo interessado em veículos – quer terrestres, quer aéreos – e que desejasse incorporá-los nas suas brincadeiras de exterior; no entanto, não era apenas ao ar livre que os carros telecomandados tinham concorrência à altura – e se em termos de exterior tinham de se bater com os veículos eléctricos e até o tema do referido post, os aviões de propulsão com fios, no que toca a brincadeiras dentro de casa, havia outro rival à espreita: as pistas de carros eléctricas.

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Uma estrutura que faria salivar muitas crianças dos anos 90

Estas estruturas mirabolantes, que ocupavam uma área de chão considerável, e tinham invariavelmente de ser desmontadas sempre que alguém precisava de passar, foram uma das mais clássicas obsessões masculinas da geração que cresceu entre os anos 80 e o início do novo milénio, para a qual representam, ainda hoje, um dos mais flagrantes casos de conflito entre expectativas e realidade. Isto porque, qualquer que fosse a sua configuração – quer a mais tradicional e declarada pista de corridas, em oval ou no clássico 'oito', quer um 'design' mais arrojado, a convidar às acrobacias estilo duplo de cinema – estes brinquedos prometiam uma experiência de corridas fantasticamente estimulante, cheia de duelos a alta velocidade (que faziam literalmente saltar chispas da pista), curvas apertadas, 'loopings', lombas e outras características capazes de entusiasmar até a criança menos interessada em corridas de carros.

A realidade, no entanto, era invariavelmente muito diferente, envolvendo normalmente alguns segundos em que, após a pressão do botão de lançamento, o carro disparava ´sem rei nem roque' pelos carris paralelos que formavam a pista, até – na melhor das hipóteses – sair dos carris e capotar, ou – na pior, e mais frequente - ser literalmente projectado para fora da pista na primeira curva, e ir parar ao outro lado do quarto. Qualquer dos dois desfechos era suficiente para pôr termo à corrida, pelo menos durante o tempo que levava a repôr o pequeno veículo de plástico na pista para mais alguns segundos de diversão...

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Até os modelos mais clássicos e simples ofereciam múltiplas oportunidades para 'desastres'...

Este fenómeno, que era universal a todas as pistas deste tipo - da mais genérica oval da loja da esquina à mais elaborada estrutura com o logotipo de uma marca conhecida, comprada no hipermercado por vários 'contos de reis' - não era, no entanto, suficiente para diminuir o entusiasmo do público-alvo quanto a este tipo de brinquedo, não tendo, decerto, havido rapaz da geração em causa que não marcasse este tipo de brinquedo no catálogo de Natal à mínima oportunidade, na crença firme de que a próxima pista seria aquela que, finalmente, lhe permitiria completar uma corrida sem ter que ir buscar o carro ao chão ou virá-lo de cabeça para cima a cada poucos segundos – esperança essa que, claro, se revelava quase sempre ser vã.

Foi, no entanto, com apoio nesta crença por parte da demografia a que se destinavam que estes brinquedos conseguiram manter-se no topo da pirâmide da popularidade infantil durante pelo menos duas décadas, antes de (como quase todos os brinquedos de que falamos nestas páginas) terem sido tornados obsoletos pela revolução digital.

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A existência, nos dias de hoje, de uma pista eléctrica licenciada, num 'crossover' com o mundo das corridas digitais, é no mínimo surpreendente

Com corridas fictícias ilimitadas (e sem necessidade de repôr o carro na pista a cada curva) à sua disposição, as crianças do novo milénio foram progressivamente deixando de lado o brinquedo que tão cobiçado fora pelos seus irmãos mais velhos, fazendo com que as pistas de carros eléctricas fossem, aos poucos e poucos, desaparecendo do mercado, até serem, hoje em dia, só mais uma 'relíquia' destinada a ser lembrada com nostalgia e carinho por quem foi criança nessa época, e com um encolher de ombros por quem nunca teve de ir ao outro lado da sala buscar um carrinho lançado em vôo picado para fora da sua pista eléctrica ao tentar abordar uma curva...

09.01.22

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 09 de Janeiro de 2022.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Se houve coisa que não faltou nos anos 90, foram brinquedos de exterior direccionados a um público maioritariamente masculino e baseados nos veículos que os mesmos sonhavam, grande parte das vezes, com poder conduzir. Dos carros telecomandados aos veículos eléctricos ou a pedais, eram muitas e boas as alternativas para os 'putos' dos anos 90 poderem passar um Sábado aos Saltos a fingir serem condutores de corridas, ou até pilotos de avião.

No meio de toda esta oferta, talvez não fosse de esperar que um simples brinquedo movido por um mecanismo de fios conseguisse ganhar tanta popularidade; e, no entanto, foi precisamente isso que aconteceu com os aviões e helicópteros lançados por fio, de que falaremos no post de hoje.

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Exemplo moderno deste tipo de brinquedo

Surgidos em décadas anteriores, mas ainda bem vivos nos anos 90 - havia, até, versões mais elaboradas, em que se faziam voar personagens como fadas ou elfos, ao invés de simples veículos - estes produtos baseavam-se num sistema da mais pura simplicidade: o brinquedo assentava numa base da qual emergia um fio com uma argola na ponta, o qual se puxava para fazer levantar o helicóptero, avião, personagem, ou fosse o que fosse. Quanto mais força se aplicasse a este puxão, mais alto o brinquedo subiria - o que, claro, motivava a maioria das crianças a puxar o fio com quantas forças tinham, tornando estes produtos em alvos preferenciais dos pais, devido ao perigo que tal acção representava, quer para a criança, quer para aqueles que a rodeavam.

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Exemplo do modo de operação destes brinquedos

Nada, no entanto, que pudesse beliscar a popularidade destes produtos entre o público-alvo, sendo habitual ver, em parques e jardins por esse Portugal fora, crianças a lançarem este tipo de brinquedo (algumas, inclusivamente, tentavam fazê-lo em casa, o que motivava ainda mais a irritação dos pais); no cômputo geral - e apesar de, como tantas outras coisas de que aqui falamos, terem caído em desuso em décadas subsequentes, substituídos por alternativas digitais bem mais versáteis - estes brinquedos foram, durante várias décadas, prova do axioma que postula que algo nem sempre precisa de ser complicado ou complexo para ser bem-sucedido.

11.12.21

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

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A época natalícia não se resumia, para um jovem dos anos 90, apenas ao dia e às festividades que o rodeavam; para as crianças daquele tempo, o Natal começava bem mais cedo – com a recepção do primeiro catálogo de brinquedos na caixa do correio – e englobava uma série de momentos absolutamente mágicos, dos quais temos vindo a falar ao longo deste mês: a última semana de aulas antes das férias de Natal, a saída para ver as iluminações e, claro, a ida ao hipermercado ou 'shopping' para ver, ao vivo e a cores, os brinquedos cobiçados e avidamente assinalados no referido catálogo.

Já aqui falámos, numa ocasião anterior, do 'frisson' que era ir ao hipermercado, numa altura em que os mesmos estavam, ainda, nas primeiras etapas da sua penetração em Portugal, e confinados sobretudo às duas maiores cidades; no entanto, qualquer ex-criança que tenha visitado um destes espaços na altura do Natal certamente se recordará da dimensão extra que tal visita acarretava, e concordará que a mesma merece o seu próprio post separado.

O elemento que tornava esta experiência ainda mais mágica no mês de Dezembro é fácil de identificar, e ainda mais fácil de explicar – a visão daqueles múltiplos corredores repletos apenas e só de brinquedos era suficiente para fazer subir os níveis de adrenalina de qualquer criança, e dar asas a sonhos de ter todos e cada um daqueles produtos debaixo da árvore no dia 25. Para alguém cuja visão do Mundo era ainda 'à escala', as prateleiras de bonecas, figuras de acção, carros telecomandados, peluches, jogos, consolas ou artigos electrónicos – as quais ocupavam, cada uma, todo um corredor da loja – pareciam esticar-se até ao tecto, oferecendo uma variedade assoberbadora de escolhas que tornava ainda mais difícil escolher apenas um ou dois presentes para receber do Pai Natal; e para além dos brinquedos propriamente ditos, havia ainda as bicicletas, os skates, os patins, as motas e carros eléctricos, as bolas, os vídeos de desenhos animados, e toda uma imensidão de outros artigos de particular interesse para a demografia infanto-juvenil, que dificultavam ainda mais a tarefa, e faziam com que esta fosse uma visita que se queria o mais prolongada possível, para ter tempo de ver e vivenciar tudo o que o espaço tinha para oferecer – incluindo, com sorte, uma visita à 'Gruta do Pai Natal', para falar com o velhote em pessoa (ou com um dos seus assistentes, dependendo do que os pais nos diziam.)

Hoje em dia, a experiência de ir ao hipermercado tornou-se algo mais corriqueira, o que, aliado ao facto de os brinquedos serem cada vez mais electrónicos, e de coisas como os jogos de tabuleiro terem caído em desuso, torna a visita por altura do Natal algo menos mágica do que o era nos 'nossos' anos 90; que o diga quem lá esteve, e se imaginou perdido entre aquelas prateleiras infinitas de brinquedos, e com acesso ilimitado a todos eles...

04.12.21

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos e acessórios de exterior disponíveis naquela década.

Na última edição desta rubrica, falámos aqui dos veículos eléctricos, montados nos quais muitos de nós gozaram grandes 'corridas' no pátio ou no jardim; hoje, falamos de outro tipo de veículo, o qual, apesar de não ser exclusivamente destinado a uso no exterior, não deixou ainda assim de ser companheiro de muitos passeios para as crianças dos anos 90, sobretudo as do sexo masculino.

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Falamos dos famosos carrinhos tele-comandados, a dada altura da História um dos presentes mais cobiçados por esta altura do ano (a par das consolas e das bicicletas) muito por culpa dos seus mirabolantes anúncios, que prometiam que o referido veículo seria capaz, sem grandes problemas, de trepar e atravessar formações rochosas e outros tipos de terreno agreste; e embora a verdade não fosse, nem de longe, tão impressionante, estes brinquedos não deixavam, ainda assim, de exsudar um certo 'cool factor' que os apontava directamente aos corações de qualquer rapaz pré-adolescente daquela época.

Com anúncios como este, não admira que estes carros fossem desejados por qualquer rapaz daquele tempo...

Convém, no entanto, realçar que, como sucedia com outros brinquedos da época, nem todos os carros teleguiados eram exactamente iguais; pelo contrário, existiam não só variantes bem definidas, como uma hierarquia para as mesmas entre as crianças daquele tempo. No topo da pirâmide (e de muitas listas de Natal) encontravam-se os excelentes veículos da Nikko (distribuídos em Portugal pela inevitável Concentra), os quais eram, invariavelmente, visualmente apelativos, de manuseamento excelente, e de longe mais poderosos e versáteis do que quaisquer outros; logo de seguida, embora a alguma distância, vinham os 'imitadores' desta marca, menos resistentes e mais simplistas, mas perfeitamente funcionais para o preço que custavam; e em último lugar, reservados sobretudo aos utilizadores mais novos, vinham os modelos mais simplistas, coloridos e de formas arrendondadas, muitos dos quais apenas eram 'tele-comandados' no sentido mais literal da palavra, já que se encontravam presos ao seu próprio comando por um fio, oferecendo por isso um raio de acção extremamente limitado.

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Exemplo de um modelo de carro telecomandado mais simples, com fio, e destinado a um público mais jovem

Qualquer que fosse o tipo ou modelo de carro, no entanto, não era de todo incomum, à época ver um destes brinquedos a rolar numa qualquer rua ou jardim do país, seguido alguns metros mais atrás por um utilizador tão eufórico quanto absorto na manobra do veículo; infelizmente, como tantos outros produtos que aqui abordamos, também os carros tele-comandados acabaram por cair em desuso, substituídos nos catálogos de Natal e prateleiras dos hipermercados por 'gadgets' e brinquedos de cariz mais electrónico. Ainda assim, quem viveu a época áurea destes brinquedos não esquece a emoção de receber um no Natal, nem de o tirar do armário e o levar como companheiro de uma Saída ao Sábado...

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