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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

06.09.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 05 de Setembro de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Já aqui por várias vezes foi mencionado o estatuto da série de 'anime' Dragon Ball Z como maior 'febre de recreio' de sempre em Portugal, tendo o lendário desenho animado sido, inclusivamente, tema do primeiro post mais 'a sério' neste nosso 'blog'. E porque, no Verão que acaba de findar, Son Goku e os seus amigos parecem estar novamente 'em alta' entre a juventude portuguesa e não só (com artigos de 'merchandising' alusivos à série disponíveis em várias lojas e grandes superfícies) nada melhor do que viajar, mais uma vez, até ao tempo em que a série 'invadia' pela primeira vez os ecrãs de televisão da juventude noventista lusitana, e criava um 'monstro' de 'merchandising' desde então raramente repetido. Absolutamente tudo o que tivesse sequer a mais ténue ligação a 'Dragon Ball Z' se tornava um sucesso imediato – de t-shirts piratas a figuras de acção ou até discos de 'europop' manhosa– pelo que não é de espantar que, em plena era dos 'brindes das batatas fritas e do Bollycao', as 'suspeitas do costume' – Matutano, Panrico e Cuétara – tivessem centrado várias das suas icónicas promoções em torno dos personagens de Akira Toriyama. De alguns desses brindes, já aqui falámos em outras ocasiões; chega, agora, a altura de juntar mais um produto a essa crescente lista, no caso as 'Mission Cards' da Cuétara.

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Lançadas, presumivelmente, no auge da 'febre' (ou seja, entre os anos de 1996 e 1998) estas cartas mais não eram do que falsos cartões de identidade, algures entre o cartão da escola e aqueles que, por vezes, eram oferecidos promocionalmente por companhias com foco infanto-juvenil, mas com uma temática de 'missão', que as inseria também um pouco no Mundo do 'role-play'. Cada carta trazia, na frente, um personagem da série, e a respectiva missão, dividida em causa e objectivo, enquanto as costas apresentavam uma 'ficha de identidade' para preencher, quer com os dados da própria criança ou jovem, quer com aqueles que se supunham serem o do herói retratado. Era, assim, possível 'inventar' uma comida ou grupo musical favoritos para Son Goku, Vegeta e restantes heróis, num aspecto que, apesar de totalmente irrelevante, não deixava ainda assim de apelar à fértil imaginação dos 'millennials' portugueses, ainda não totalmente extinta pela chegada da era digital.

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Frentes e versos de uma colecção completa.

Um brinde que, apesar de à primeira vista nada ter de especial, tinha na licença um enormíssimo trunfo, o qual não impediu, no entanto, que o mesmo seja menos lembrado do que outros congéneres e contemporâneos, como as figuras tridimensionais ou as cartas Energy Attack, ambas da Panrico. Ainda assim, à época de lançamento, estes brindes terão, sem dúvida, 'enchido as medidas' ao público-alvo – o que, bem vistas as coisas, acaba por ser a única coisa que se exige a uma colecção deste tipo...

05.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 4 de Julho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Desde a sua massificação em inícios do século XX, o futebol tem sido o desporto mais consensual e com maior base de fãs a nível mundial; Portugal não é, de todo, excepção a esta regra, como se pode facilmente verificar pela existência de nada menos do que três jornais diários dedicados apenas e tão-somente a notícias de cariz desportivo, com natural primazia para o futebol. Não é, pois, de estranhar que cada nova competição internacional, particularmente as disputadas entre selecções de jogadores de cada país, façam 'parar' grande parte do Mundo, e motivem um sem-número de companhias a efectuar promoções alusivas ao certame em causa.

O Euro '96, levado a cabo em Inglaterra, não foi, de forma alguma, excepção a esta regra, tendo vários produtos, companhias e entidades adoptado temporariamente as cores da bandeira do país em que eram comercializados, e oferecido brindes centrados nas equipas presentes no torneio. Em Portugal, uma dessas entidades era o jornal 'A Bola', que, não querendo deixar créditos por mãos alheias no que toca à sua área de especialização, veiculava esse Verão, em conjunto com o seu jornal, figuras em borracha dos jogadores da Selecção Portuguesa da altura.

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Algumas das figuras da colecção, e respectivos cartões de 'identidade'.

Inteligentemente chamados de Figuras da Bola (num trocadilho com o nome do jornal) estes bonecos constituíam, basicamente, caricaturas tridimensionais dos jogadores, cada um dos quais surgia com as feições exageradas daquele estilo de arte, e com cabeças muito maiores do que o 'esquelético' corpo em que assentavam. Ainda assim, e apesar da abordagem 'cartunesca', a maioria dos 'craques' da Geração de Ouro era, ainda, perfeitamente reconhecível, de Fernando Couto e Paulo Sousa com as suas 'melenas' à não menos farta cabeleira loira de Jorge Cadete, o enorme queixo de Sá Pinto ou a cabeça achatada de Luís Figo, entre outras características propositalmente ampliadas para máximo efeito cómico. Juntamente com cada uma das figuras vinha, ainda, um cartão, com uma caricatura do jogador em causa e alguns dados vitais do mesmo – um pormenor cujo valor era apenas aparente, já que o que verdadeiramente interessava era a figura, ideal para colocar na estante, mesa de cabeceira ou secretária (não confundir com Secretário, que também faz parte da colecção...!) e mostrar assim o apoio à Selecção.

Curiosamente, apesar da natureza obviamente atractiva desta promoção (mais próxima de um brinde dos ovos Kinder ou do Happy Meal do McDonald's do que algo oferecido por um jornal), não tornou a haver, em certames subsequentes, qualquer outra promoção deste tipo, deixando a 'Selecção' de Figuras da Bola como uma iniciativa única no panorama promocional português, quer do século XX quer do actual, e bem merecedora de lembrança nas páginas deste nosso blog.

02.05.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Há precisamente uma semana, falámos neste mesmo espaço dos ovos Kinder, uma das mais icónicas guloseimas entre as crianças e jovens de Portugal desde a sua entrada no mercado, há já mais de quatro décadas; e apesar de, nesse 'post', termos abordado de relance os brindes dos referidos ovos, é inegável que aquela que, para muitos, era a principal razão para comprar estes ovos merece o seu próprio capítulo neste nosso 'blog'. É, pois, sobre as Quinquilharias contidas naqueles memoráveis cilindros amarelo-ocre que falaremos esta Quinta – especificamente, sobre as colecções de figuras que representavam o 'Santo Graal' desta categoria de brinde.

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De facto, apesar de nunca deixar de ser agradável encontrar dentro do ovo o tradicional carrinho ou avião, ou uma das assumidamente criativas obras de micro-engenharia baseada em eixos e rodas-dentadas, qualquer criança ou jovem na posse de um Kinder Surpresa tinha a secreta esperança de que o mesmo ocultasse um 'boneco' de qualquer que fosse a série então vigente – e foram muitas as promovidas pela Kinder durante este período. Normalmente tematizadas em torno da antropomorfização de uma espécie animal e de um qualquer conceito-base (como hipopótamos desportistas ou incongruentes tubarões persas) estas colecções exibiam, invariavelmente, enorme atenção ao detalhe, praticamente ao nível da dos brindes que o McDonald's veiculava, na mesma época, no tradicional Happy Meal – ainda que a uma escala bastante mais pequena, aproximadamente do mesmo tamanho das Matutolas, da Matutano, ou das figuras da linha Monsters In My Pocket – tornando-as assim particularmente apetecíveis para um público-alvo com gosto tanto pelo coleccionismo como pelos 'bonecos' e figuras de acção.

Foi, pois, com naturalidade que estas diferentes colecções conseguiram sucesso consecutivo junto da demografia em causa, e se tornaram os mais desejados e cobiçados de todos os brindes oferecidos pela Kinder ao longo da sua existência em território luso, o que, por sua vez, torna também natural que sejam motivo de destaque da secção dedicada a pequenas 'bugigangas' neste nosso 'blog' nostálgico - sobretudo por, algures no Novo Milénio, a Kinder ter deixado de lado estas colecções, 'atirando-as' para a categoria de 'relíquias' que as gerações Z e Alfa nunca terão ensejo de partilhar com os seus antecessores. Quem cresceu com estes bonecos, no entanto, certamente não terá dificuldade em explicar aos mais jovens a razão do apelo dos mesmos – bastando, para isso, mostrar-lhes a presente edição desta nossa rubrica...

25.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 em Portugal ficaram, para o segmento que era então de uma certa idade, marcados (entre outras coisas) por um autêntico 'festim' de doces e guloseimas das mais diversas índoles, algumas ainda 'vivas' (embora significativamente diferentes) e outras desaparecidas para sempre. No entanto, por muito populares que fossem a maioria destes doces e salgados, apenas uma fracção de entre eles atingiu um estatuto verdadeiramente icónico entre os 'putos' da época, fosse pelos apetecíveis brindes que oferecia (como no caso das batatas fritas da Matutano), por se tratar de um 'prazer guloso' (como os Bollycaos ou os Galak Buttons) por ser encontrada um pouco por todo o lado e estar ao alcance até mesmo da mais vazia das carteiras (como as pastilhas Gorila) ou, no caso do produto de que falamos hoje, devido a uma combinação de todos esses factores. Sim, chega agora, finalmente, a vez de falar daquela que talvez seja 'A' guloseima por excelência desse período da História portuguesa, e um pouco até aos dias de hoje: o ovo Kinder.

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Vastamente imitadas, mas nunca igualadas, aquelas deliciosas ovais feitas de dois tipos de chocolate (por fora 'normal', castanho e de leite, e por dentro branco) penetraram o mercado português na década de 80 para não mais o abandonarem, fazendo as delícias de várias gerações não só com a referida (e apetitosa) combinação, mas também (sobretudo) devido ao que continham no seu interior: um cilindro de plástico amarelo, aparentemente simples, mas que qualquer criança ou jovem sabia conter o segredo da felicidade – pelo menos no imediato. Isto porque cada uma das referidas cápsulas continha um pequeno brinquedo de montar ou, em alternativa, uma figura coleccionável de qualquer das inúmeras linhas que a Kinder promovia à época, normalmente tematizadas em torno de espécies animais, e que em breve aqui terão a sua própria Quinta de Quinquilharia. Assim, a compra de um ovo Kinder permitia não só a degustação de chocolate de alta qualidade, mas também a 'surpresa' adicional do brinquedo no interior (daí o nome 'oficial', Kinder Surpresa), oferecendo uma combinação irresistível para qualquer menor de idade; foi, pois, com naturalidade que a Kinder rapidamente se afirmou como uma das líderes do mercado dos chocolates em Portugal, à semelhança do que acontecera já em países como a sua Alemanha natal, o Reino Unido ou a vizinha Espanha.

Conforme acima referido, a marca alemã conseguiria manter essa mesma hegemonia ao longo das quatro décadas seguintes, sendo ainda hoje possível encontrar nas prateleiras ovos Kinder Surpresa; no entanto, os mesmos comportam já algumas diferenças significativas em relação aos que punham a 'salivar' qualquer membro das gerações 'X' ou 'Millennial'. Isto porque, em algum ponto da trajectória da Kinder em Portugal, a produção do chocolate para os referidos ovos deixou de ser centralizada, passando os mesmos a provir de Espanha; com esta mudança, veio um acréscimo no açúcar, passando os referidos ovos a saber menos a 'eles mesmos' e mais a um qualquer outro chocolate. Assim, quem, de momento, quiser recuperar o sabor da infância terá de se deslocar ao estrangeiro, onde os ovos permanecem como eram em Portugal naquela época – embora o elevado volume de problemas e escândalos em que a Kinder se vê periodicamente envolvida possa, potencialmente, servir como elemento desencorajador dessa 'viagem' nostálgica. O melhor mesmo, para poupar tempo, dinheiro e potenciais dissabores, será utilizar esta breve homenagem a um dos grandes doces da infância portuguesa de finais do século XX como forma de 'regressar' àquele tempo, ainda que apenas mentalmente, e sentir na boca aquele 'gostinho' da primeira trinca num ovo Kinder...

11.04.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Já aqui por várias vezes mencionámos a euforia em redor de 'Dragon Ball Z' como a maior febre a alguma vez assaltar os recreios portugueses. Ainda mais do que o seu antecessor, e certamente mais do que a sequela, a segunda parte da trilogia de adaptações em desenho animado da banda desenhada de Akira Toriyama captou os corações das crianças e jovens nacionais de uma forma que nem mesmo séries como 'Tartarugas Ninja', 'Os Simpsons' ou 'Power Rangers' haviam conseguido. Absolutamente tudo o que levasse estampadas as feições de Son Goku e amigos, fosse oficial ou pirata, tinha mercado garantido entre a demografia infanto-juvenil – o que, claro está, levou a que muitas companhias tentassem a sua sorte. De entre estas, destacava-se a célebre 'dupla alimentar' de Matutano e Panrico, à época responsável por dois terços dos brindes e quinquilharias coleccionados pelos jovens portugueses. E se algo como um jogo ou simples conjunto de cartas fazia sentido, e mesmo um cubo desdobrável tinha a seu favor o curioso e apelativo formato, já a quinquilharia de que falamos neste 'post' só poderia mesmo ter tido sucesso 'às costas´ de uma franquia mega-popular.

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Isto porque, se o conceito de figuras tridimensionais recortáveis é inerentemente interessante para o público jovem, o facto de a versão oferecida pela Panrico em 1997 não ser autocolante, nem tão-pouco dispôr de uma base para ajudar a colocar as figuras em pé, ou mesmo uma simples caderneta onde as guardar, à imagem do que fazia a Matutano com as suas colecções, tornava-as meros gastos de papel, bem como de espaço nos bolsos ou estojos do público-alvo, destinados a acabar a a 'ganhar pó' numa qualquer gaveta ou canto da casa, esquecidos em favor de novos brindes mais apelativos.

Ainda assim, no momento, aquelas duas dúzias de desenhos em relevo 'tridimensional' dos heróis e vilões da série mais popular de sempre em Portugal terão sido razoavelmente satisfatórios enquanto brinde, e capazes de arrancar um sorriso a quem os retirasse do Bollycao ou das Donettes; à distância de trinta anos, no entanto, é fácil ver 'através' deste brinde, que se afirma como um dos menos interessantes de entre a miríade que lutava pela atenção das crianças portuguesas da época, e hoje interessante apenas para coleccionadores.

21.03.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Qualquer jovem dos anos 90 se recorda do 'frisson' de encontrar, escondido num qualquer canto da casa ou mesmo no centro da mesa da sala na manhã de Domingo de Páscoa, um ou mais ovos de chocolate, prontos a serem 'devorados' sozinhos ou em família. No entanto, mais atractivos ainda do que o próprio chocolate eram os brindes que tendiam a vir 'acoplados' a estes ovos, e que iam de 'quinquilharias' mais simples a objectos ligados a qualquer potencial licença de que os ovos dispusessem.

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Exemplo moderno da tendência em causa.

Normalmente disponibilizados no exterior do ovo, por oposição ao seu interior, como no caso dos ovos Kinder, estes brindes tendiam a dividir-se em duas categorias: os de 'tamanho real' (como os memoráveis carros e peluches disponibilizados com os Kinder Gran Sorpresa) e aqueles que pouco mais eram do que versões maiores das icónicas miniaturas e brinquedos dos ovos de chocolate 'pequenos', comprados no café ou supermercado. E apesar de os primeiros serem, por razões óbvias, mais apetecíveis, a verdade é que até mesmo os mais pequenos faziam sucesso entre o público-alvo; afinal, qual é a criança que não gosta de receber brindes grátis?

Ao contrário de muitas outras tradições de que falamos nestas páginas, esta é uma prática que se mantém relativamente imutável até hoje, sendo quase inevitável ver, por esta altura do ano, ovos de chocolate multi-coloridos nas prateleiras das mais variadas lojas de Norte a Sul do País, muitos deles oficialmente licenciados, e outros com brindes quase maiores do que eles a oferecerem um atractivo adicional, como é o caso dos peluches de Coelhinho da Páscoa dos ovos da Milka. Assim, e por oposição ao que sucede com a maioria dos tópicos por nós abordados, esta é uma tradição partilhada tanto pelas gerações 'X' e 'millennial' como pelas 'Z' e 'Alfa', que - imagina-se - surjam na escola após as férias de Primavera tão 'impantes' com os seus brindes e 'quinquilharias' pascais como os seus pais quando tinham a mesma idade...

08.02.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Quando incentivados a relembrar a infância nos anos 90, a maioria dos membros da geração 'millennial' gravitará, imediatamente, para dois grandes pontos de referência: os brindes das batatas fritas e do Bollycao, e o 'Dragon Ball Z'. Para os cidadãos lusos de uma certa idade, ambos estes elementos são marcos culturais importantes, e que fizeram parte indelével do dia-a-dia durante um determinado período em finais do século XX – pelo que se afigurava inevitável que, mais cedo ou mais tarde, os dois acabassem por realizar uma espécie de versão sinergística e comercial da famosa 'fusão' do programa televisivo, e surgissem combinadas numa iniciativa de qualquer dos grandes promotores de brindes alimentares.

Corria o ano de 1997 quando essa mesma previsão se concretizou, com Son Goku e os seus amigos a protagonizarem uma das principais tentativas da Matutano de recuperar os níveis de sucesso dos Pega-Monstros, Caveiras Luminosas, Tazos e Matutolas, mediante a utilização da licença mais popular em Portugal à época; e apesar de este desiderato não ter sido totalmente realizado, as cartas Dragonflash conseguiram, ainda assim, ganhar alguma tracção entre a juventude lusitana da época.

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Uma colecção completa das cartas Dragonflash. (Crédito da foto: OLX).

De índole muito semelhante às Super Cartas Majora ou aos posteriores BollyKaos, mas com os personagens do famoso 'anime' no lugar dos veículos das primeiras e dos monstros e extraterrestres genéricos dos segundos, as Dragonflash fomentavam a sempre considerável veia competitiva do seu público-alvo, incentivando não só ao coleccionismo como também à competição directa, como tinha sido também apanágio das promoções mais famosas da Matutano durante a década em causa. Isto porque o objectivo do jogo passava por ganhar as cartas do adversário, num processo que envolvia alguma sorte, já que a característica escolhida (Força, Defesa, etc.) tinha de ser menor do que a do personagem oponente para que esse objectivo fosse cumprido – regra que, por sua vez, fomentava o pensamento estratégico no momento da 'batalha'.

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O inevitável 'Porta-Flash'. (Crédito da foto: OLX)

Apesar do conceito e licença mais do que comprovadamente apelativos, no entanto – e da presença de um 'estiloso' recipiente para armazenar as cartas, ou não fosse esta uma promoção da Matutano – os Dragonflash nunca conseguiram o mesmo sucesso 'universal' dos seus antecessores; não era incomum ver jovens a jogar logo após terem retirado as cartas dos pacotes de batatas, mas não se tratava do tipo de brinde que fizesse parar recreios, ao contrário do que haviam sido os Tazos e 'Tolas, nem que acabasse a adornar a prateleira do quarto, como as Caveiras Luminosas. Ainda assim, tratou-se de uma promoção de relativo sucesso à época, e cujo uso conjunto de dois dos principais elementos nostálgicos da infância 'millennial' portuguesa lhe outorgam, desde logo, lugar obrigatório nas páginas deste nosso 'blog' precisamente dedicado a esse assunto.

18.01.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Uma das mais vivas e nostálgicas memórias de qualquer português nascido entre o final da década de 70 e o início do Novo Milénio é o de enfiar a mão num pacote de batatas fritas ou outros 'snacks' da Matutano para procurar aquele icónico invólucro plástico escondido em meio aos conteúdos. Efectivamente, os brindes 'das batatas' desta época contam-se entre os melhores e mais populares de sempre em Portugal, tendo granjeado à Matutano uma impressionante série de mega-sucessos, com a qual a maioria das outras companhias alimentares da época apenas podiam sonhar: dos Pega-Monstros às Caveiras Luminosas, Tazos, Matutolas, Raspadinhas e mini-filmes, a sucursal portuguesa da Lay's gozou, durante a última década do século XX, de um toque de Midas que lhe permitiu transformar até mesmo um jogo de matemática numa 'febre' de recreio. Basicamente, durante esta época, se algo vinha dentro de um pacote de batatas, transformava-se em sucesso entre a demografia-alvo, deixando todas as outras considerações de ter qualquer importância.

E se a maioria dos brindes acima referidos foram, na medida dos possíveis, assexuados – ainda que, inevitavelmente, acabassem por apelar mais aos 'rapazes' – algures na mesma década, a Matutano decidiu dirigir uma das suas promoções, especificamente, a um público feminino, menos interessado em 'monstrinhos' e caveiras e mais voltado para a estética e moda. Fica, assim, explicada a lógica por detrás da curiosa decisão de oferecer brincos de plástico na compra de um pacote de batatas.

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Em tudo semelhante em termos de 'design' – variando apenas as cores – estes brindes representavam uma clara tentativa por parte da Matutano de atingir uma demografia mais velha, nomeadamente os adolescentes; essa faixa etária, no entanto, encontrava-se demasiado preocupada com o acne para consumir o tipo de produtos que a companhia comercializava, e demasiado atenta às convenções sociais vigentes entre os jovens para ser vista a usar brincos de plástico, sem qualquer esforço estético, e que 'saíam nas batatas'. Assim, os referidos brindes terão encontrado o seu público, inevitavelmente, entre a porção feminina da demografia que ainda se interessava por Pega-Monstros, Tazos e outros brindes 'quejandos', e que experienciava assim, talvez, o seu primeiro assomo estético – um 'tiro' algo ao lado do pretendido pela Matutano, e que terá, sem dúvida, ajudado a encurtar o tempo e abrangência desta promoção, hoje algo esquecida no âmbito das conversas nostálgicas sobre brindes das batatas fritas daquela época.

Ainda assim, e apesar do relativo insucesso da promoção em relação às suas congéneres, não terá, certamente, deixado de haver quem se deliciasse com os brincos 'das batatas', e os tivesse orgulhosamente usado num qualquer dia de escola do sexto ano em que fosse importante parecer (ou sentir-se) algo mais 'crescido' do que o habitual. Para esses, aqui fica uma breve recordação da promoção mais esquecida do período áureo dos brindes da Matutano...

11.01.24

Todas as crianças gostam de comer (desde que não seja peixe nem vegetais), e os anos 90 foram uma das melhores épocas para se crescer no que toca a comidas apelativas para crianças e jovens. Em quintas-feiras alternadas, recordamos aqui alguns dos mais memoráveis ‘snacks’ daquela época.

Na primeira quadra natalícia deste 'blog', recordámos os brindes (e fava) do bolo-rei, tradição bem-amada de gerações de crianças e jovens portugueses que, já no século XXI, foi descontinuada, alegadamente por razões de saúde pública. Pois bem, o facto é que a interdição de 'esconder' esses dois elementos no bolo-rei parece, na quadra que ora finda, ter sido levantada, dado terem sido vários os registos de brindes e favas registados em bolos-rei comercializados, especificamente, pela cadeia de supermercados Pingo Doce.

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Brindes no mesmo estilo dos oferecidos nos bolos do Pingo Doce.

De facto, embora não fosse o caso com todas as confecções deste tipo disponibilizadas pela cadeia em causa, uma parte significativa dos bolos-rei vendidos pelo Grupo Jerónimo Martins nas Festas de 2023 parecem ter incluído tanto uma fava como uma pequena figura de um rei mago – a qual, apesar de longe da glória dos brindes de outros tempos, não deixou ainda assim de ser uma surpresa agradável para quem não esperava pelo regresso desta tradição.

De ressalvar que, ao contrário do que acontecia nos anos 90, ambos os elementos surgiam devidamente embrulhados em plástico, reduzindo o risco de engolimento acidental e correspondente asfixia – ainda que exista na Internet um registo de uma ocorrência em que os mesmos vinham 'à solta' dentro do bolo, quase causando um incidente deste tipo. Controvérsias à parte, é bom ver o regresso de uma tradição natalícia nostálgica para várias gerações de portugueses, e pronta a criar memórias a muitas outras; assim, e apesar de já passado o Dia de Reis, não podíamos deixar de assinalar esta efeméride, a qual se espera que não tenha sido pontual, e se venha a verificar novamente em Natais futuros.

05.10.23

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Para as crianças e jovens portugueses de finais do século XX, os cereais de pequeno-almoço faziam parte daquele lote de produtos (encabeçado pelas batatas fritas, produtos da Panrico e ovos de chocolate) que aliavam um sabor agradável à ainda mais agradável possibilidade (aliás, quase sempre certeza) de receber um brinde grátis na embalagem – com a vantagem adicional de, por serem considerados saudáveis, constituírem parte mais frequente e menos polémica das compras da família. E se as referidas batatas da Matutano e derivados do Bollycao se ficavam, a maior parte das vezes, por um cromo ou 'quinquilharia' mais pequena, à medida dos seus pacotes, este tipo de produto podia investir em brindes maiores e (ainda) mais atractivos, levando a que, nos últimos anos do século XX e primeiros do seguinte, chegassem a haver malgas ou CD-ROM com jogos inteiros de computador colados às caixas de cereais da Kellogg's e Nestlé.

No início da década de 90, no entanto, os brindes tendiam a ser mais simples, embora nem por isso menos atraentes e atractivos; e embora muitas dessas ofertas tenham, entretanto, caído no esquecimento colectivo da geração que os procurou em cada nova caixa de cereais, pelo menos uma provou ser especial o suficiente para perdurar através dos anos – os reflectores para bicicleta oferecidos pela Kellogg's algures na primeira metade da década.

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Talvez os dois formatos mais comuns do brinde em causa.

À partida, pode parecer surpreendente ver algo tão prosaico quanto um reflector de bicicleta – uma peça de equipamento relativamente barata e amplamente disponível nas lojas especializadas – ser não só escolhido como oferta deste tipo, mas também activamente cobiçado pelo público-alvo; no entanto, neste caso, a razão para tal estatuto era por demais simples, prendendo-se com o facto de cada um dos reflectores contar com um rebordo em plástico, estilizado para evocar as mais populares mascotes da marca, que adicionava um toque de personalidade às rodas da bicicleta de quem tivesse a sorte de os tirar da caixa; lá por casa, por exemplo, havia um, verde e em formato de galo, que parece ter sido o mais comum de entre os disponíveis.

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O efeito dos reflectores em causa após colocados na bicicleta.

Assim, e apesar da peculiaridade da proposta, não é difícil perceber o que fez desta uma das mais bem-sucedidas promoções de cereais de sempre em Portugal – o brinde em causa representava a união de uma série de interesses das crianças e jovens da época, e tinha verdadeira utilidade no dia-a-dia. Pena que, com a extinção dos brindes nas caixas de cereais, a Geração Z tenha deixado de ter a possibilidade de experienciar a emoção de enfiar a mão num pacote acabadinho de abrir e 'vasculhar' no interior para ver o que tinha saído; quem viveu aqueles tempos, no entanto, certamente nunca esquecerá – e brindes como o aqui abordado são, em grande parte, responsáveis pelo acesso de nostalgia que tal lembrança continua, ainda hoje, a causar.

 

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