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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

11.11.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Em Portugal, em meados do mês de Novembro, ocorre, quase invariavelmente, um estranho fenómeno: durante alguns dias, o clima torna-se ameno, solarengo e tipicamente outonal, em claro contraste com a habitual chuva que marca o Outono e início Inverno nas latitudes ibéricas. E apesar de haver, certamente, uma explicação científica para tão abrupta e temporária mudança climatérica, na sabedoria popular, esta 'bonança' fica ligada à lenda do S. Martinho, sendo o período em causa conhecido como 'Verão de S. Martinho'.

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Um típico dia de 'Verão de S. Martinho'

Escusado será dizer que, em meio a uma estação que – conforme atrás referido – se tende a pautar pela chuva, este período mais ameno, aliado ao feriado que lhe está associado, serve de pretexto para pôr de lado as galochas (pelo menos por uns dias) e usufruir de uns belos Sábados aos Saltos por parte das demografias mais jovens; pelo menos, era esse o caso nos anos 90, quando a oferta digital não era, ainda, atractiva o suficiente para suplantar um dia de sol, sem escola, e com os amigos da rua ou do bairro igualmente livres para um sem-número de brincadeiras. Antes (ou depois) disso, na escola, comiam-se castanhas, como forma de celebrar a festa em causa, e no próprio dia, celebrava-se também o Magusto – efemérides que apenas ajudavam a tornar mais atractiva aquela semana de sol no meio do Outono.

E apesar de a mesma passar rápido, e rapidamente a vida voltar ao mesmo 'rame-rame' frio e chuvoso de sempre, a cada ano, havia sempre aquele 'oásis' pelo qual esperar, e que garantia que pelo menos uma das semanas do período de Outono era passada no exterior, em jogos e brincadeiras com os amigos, numa espécie de 'despedida' definitiva do Verão, que assim 'abalava' no cavalo de S. Martinho rumo ao outro lado do Atlântico, deixando memórias de inesquecíveis Sábados aos Saltos, e a esperança de os poder repetir uma vez regressado o calor.

Feliz Dia de S. Martinho!

28.10.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

A infância e adolescência, como fases formativas da personalidade humana que são, trazem consigo certas compulsões e impulsos primários e inexplicáveis, que se vão esbatendo gradualmente à medida que o ser humano em causa se aproxima da idade adulta. Destes instintos, um dos mais conhecidos (e nostálgicos) é aquele que impulsiona à perturbação, ainda que temporária, de uma superfície inerte e simétrica, sobretudo se a mesma for de origem natural; por outras palavras, trata-se da compulsão que leva qualquer criança a saltar a pés juntos para dentro de uma poça de água num dia chuvoso ou, numa tarde de Outono, a lançar-se sobre um monte de folhas caídas que alguém tenha tido o cuidado de recolher do chão.

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Quem nunca...?

De facto, qualquer criança da época atestará que, assim que chegava o Outono, nenhum jardineiro (profissional ou amador) estava inteiramente a salvo de ter as suas meticulosas pilhas de folhas espalhadas aos quatro ventos pelas crianças ou jovens mais próximos, fosse através do salto (algo que é, também, irresistível para a maioria dos cães) fosse simplesmente atirando-as com os pés ou as mãos, quer uns aos outros, quer apenas 'ao ar'. E, ao contrário do que se possa pensar, a grande maioria destes 'putos' não tinha, nesta acção, qualquer intenção malévola ou destruidora; muitas vezes, tratava-se, apenas, de uma expressão da alegria de viver, e de gozar a natureza outonal.

Com a maior sensibilização para a natureza e trabalho alheio da Geração Z relativamente à sua antecessora (bem como o maior pendor para actividades digitais, por oposição a físicas) é de crer que este tipo de 'ritual' de Outono se esbata, ou até desapareça, nos próximos anos; é possível, no entanto, que o mesmo instinto de que falámos no início deste texto ainda se aplique aos 'putos' de hoje em dia, e que um monte de folhas caídas recohidas em monte a um canto continue a representar, para os mesmos, o mesmo 'alvo' irresistível que era para os seus pais...

14.10.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Apesar de a maioria dos tópicos abordados nesta secção serem referentes a actividades em conjunto, as crianças dos anos 80, 90 e 2000 também sabiam brincar sozinhas, mesmo no exterior; e. nessa conjuntura, uma das mais frequentes actividades prendia-se com algo que hoje sabemos ser crueldade animal, mas que, à época, pretendia apenas saciar a curiosidade natural dessa fase do desenvolvimento humano.

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Quem nunca?

Falamos das inúmeras 'brincadeiras' e 'experiências' que tinham como vítima os insectos e outros animais de porte microscópico, como os girinos e peixes bebés; e ainda que algumas destas fossem relativamente inocentes (como apanhar peixinhos, girinos ou 'alfaiates' no balde, na praia, ou num copo ou recipiente, no rio) outros cruzavam, efectivamente, o limiar da crueldade, como o arrancar das asas às moscas, impedindo-as de voar, o agarrar em borboletas pelas asas, o desenrolar forçado de bichos de conta, o desenterrar de minhocas da terra, o esborrachamento de formigas com os dedos ou a inserção de paus ou agulhas de caruma nas cascas dos caracóis para os fazer sair. Não deixa de ser estranho que, entre uma demografia que condenava intrinsecamente outros actos (como queimar formigas com lupas, por exemplo) este tipo de acções fosse tomado como perfeitamente normal, mas era precisamente isso que se passava, não havendo certamente um único membro das gerações 'X' e 'millennial' que não seja culpado de ter feito pelo menos uma destas coisas, pelo menos uma vez - por aqui, por exemplo, esborracharam-se ou desviaram-se do rumo muitas formigas em momentos de maior aborrecimento, e também se perturbaram muitos caracóis para os ver 'correr'...

Felizmente, a sociedade evoluiu desde esse tempo, e actos como os anteriormente referidos são, hoje, activamente denunciados, inclusivamente pela demografia equivalente à acima mencionada – apesar de a existência ainda hoje, no Google, de um jogo para telemóvel intitulado 'Ant Smash', já na terceira edição, indicar que talvez nem tanto tenha mudado desde aqueles anos...

01.10.23

NOTA: Este post é correspondente a Sábado, 30 de Setembro de 2023.

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

O título desta rubrica remete a um período em que as crianças passavam, ainda, os dias 'de folga' e com sol maioritariamente no exterior – e em que, apesar da vasta panóplia de apetrechos 'auxiliares de brincadeira', muito desse tempo era gasto em brincadeiras tão simples que mal requeriam equipamento. Dessas, já aqui falámos dos jogos tradicionais, do futebol humano, do 'quarto escuro' (este jogado dentro de portas, mas fácil de inserir na mesma categoria) e dos jogos 'de palminhas' e da 'sardinha'; no entanto, pode ainda ser adicionada a esta lista uma actividade tão simples e divertida quanto os concursos de cambalhotas, de pinos ou de rodas.

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De facto, eram poucas as oportunidades para se 'exibir' fisicamente diante dos seus pares que as crianças de finais do século XX desperdiçavam – e concursos deste tipo (levados a cabo quer na rua, quer no jardim, na praia, ou até mesmo dentro de água, no mar ou na piscina) eram a oportunidade perfeita para o fazer. Pior ficava quem mal conseguia fazer uma roda sem dobrar as pernas, ou um pino sem se encostar à parede; para quem era mais atleticamente inclinado, no entanto, competições deste tipo eram 'ouro sobre azul', já que permitiam superiorizar-se aos colegas e amigos e, quiçá, até deixar bem impressionado o sexo oposto...

Mais - apesar dos recursos tecnológicos terem vindo diminuir consideravelmente a frequência deste tipo de brincadeiras, as mesmas têm um cariz suficientemente intemporal para nunca desaparecerem totalmente dos recreios, pátios e quintais do nosso País, sendo de crer que a Geração Z continue, sobretudo em meios mais rurais, a proceder exactamente aos mesmos trâmites que orientavam este tipo de competição no tempo dos seus pais ou até avós, e a descrever, no asfalto, terra ou relva, rodas perfeitas, cambalhotas e 'mortais' mirabolantes, e pinos (em uma ou duas mãos) de fazer inveja a qualquer ginasta. A diferença é que as referidas 'piruetas' serão, depois, partilhadas no TikTok ou Instagram, impressionando assim não só os amigos, mas todos aqueles que as virem na Internet...

16.09.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Já aqui, recentemente, abordámos os métodos de escolha utilizados pelas crianças de finais do século XX (e não só) para escolherem quem começava um dos muitos jogos de exterior ainda sobejamente praticados naquela época; no entanto, havia, na mesma altura, uma outra prática enraizada entre o mesmo sector demográfico, e aplicada de forma tão ou mais inata, embora num contexto ligeiramente diferente – o método conhecido como 'roda-bota-fora'.

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O futebol de rua é um dos jogos onde o método é mais frequentemente utilizado.

Utilizado, sobretudo, no contexto de jogos de índole desportiva, como o pingue-pongue, o futebol ou o basquetebol, este método tão simples como eficaz era posto em prática sempre que se verificasse haver um número excessivo de praticantes ou equipas para a actividade em causa – três equipas para um jogo 'com bola', ou três jogadores para um jogo de pingue-pongue um-contra-um, por exemplo. O método em si consistia, simplesmente, em 'eliminar' a equipa ou jogador que perdesse a primeira partida, e substituí-los pelo elemento que se encontrava de fora, passando os perdedores a ficar 'de lado', à espera, enquanto se desenrolava novo jogo entre os restantes participantes; este ciclo podia, depois, continuar infinitamente até terminarem os jogos, ou até existir um número par de participantes, caso em que se passariam, potencialmente, a desenolar múltiplas partidas de uma só vez, tendendo a brincadeira a assumir, nesta altura, contornos de 'mini-torneio'.

De referir que, enquanto que algumas actividades previam o ponto de término de um jogo nas próprias regras (caso do pingue-pongue, que terminava normalmente aos dez, quinze ou vinte e um pontos, ou sempre que se verificasse um 'capote') outros obrigavam a determinar um objectivo específico para a vitória, normalmente ligado a um determinado número de golos ou pontos, ou atingido mediante o clássico 'o próximo a marcar ganha'. Tal como tantas outras 'regras' do recreio, estes parâmetros raramente eram contestados, excepto por motivos de falta de tempo (por exemplo, no contexto de um intervalo de dez ou quinze minutos), devendo qualquer participante que pretendesse jogar obedecer às regras já muitas vezes pré-estabelecidas.

É de crer que, à semelhança dos outros métodos de selecção que abordámos, a 'roda-bota-fora' continue a ser utilizado em recreios de Norte a Sul do País; afinal, trata-se de um método simples, prático e justo de envolver o máximo de participantes possível numa actividade desportiva, já testado por múltiplas gerações de jovens, e com resultados comprovados. Caso não seja esse o caso, no entanto (e mesmo que ainda o seja) nunca é demais recordar mais um dos 'conhecimentos inatos' de que as gerações de crianças de finais do século XX fizeram uso durate os seus Sábados aos Saltos.

02.09.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Apesar das rápidas mudanças sociais, culturais e tecnológicas verificadas em finais do século XX, o Portugal dos anos 80 e 90 continuava, particularmente nas zonas rurais, a contar com uma série de ligações às décadas transactas, quer a nível de festividades e tradições, quer mesmo de brincadeiras. E se os baloiços de pneu, os jogos tradicionais ou brincadeiras como os berlindes ou o pião ainda contavam com alguma tracção mesmo em ambientes mais urbanos, outros elementos havia que já se cingiam, quase exclusivamente, ao Portugal rural; e, destes, um dos mais conhecidos era o jogo da 'malha', ou do chinquilho.

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Sem qualquer expressão nas escolas, clubes ou comunidades das chamadas 'grandes cidades' portuguesas, esta brincadeira continuava, no entanto, a animar os Sábados aos Saltos de muitos 'putos' noventistas residentes em localidades mais pequenas e, na altura, ainda mais remotas ou menos desenvolvidas. Essa menor presença de tecnologias como os computadores ou as consolas, bem como de outros brinquedos da moda - e, por vezes, até de estruturas como um parque infantil, como nos recordava um lendário anúncio da época -  era, aliás, um dos principais factores responsáveis pela persistência deste tipo de jogo e brincadeira nestes ambientes, por oposição aos das cidades, onde tudo se movia mais depressa e os produtos chegavam mais cedo.

Assim, eram ainda muitos os jovens que, nos anos 80 e 90, passavam a tarde de fim-de-semana acocorados no chão, a tentar derrubar, com pedras (ou 'malhas'), um pino ou prego colocado a alguma distância e semi-enterrado no chão – sendo o vencedor, obviamente, aquele que primeiro conseguisse cumprir este objectivo, ou que, pelo menos, conseguisse fazer chegar a sua 'malha' o mais próximo possível do alvo. Uma fórmula simples, tão simples quanto a de qualquer outro jogo tradicional de exterior, mas igualmente capaz de proporcionar momentos de diversão às crianças daquele tempo mais simples, em que os jogos de computador e de vídeo eram caros, e os 'smartphones' pouco mais do que um 'sonho molhado' de personagens como Steve Jobs.

Ainda assim, não é difícil constatar o porquê de o jogo da malha ter perdido a popularidade de que então gozava; com as suas conotações populares (vem dele o verbo 'achincalhar') e associações a um tempo em que a sociedade portuguesa sofria uma intensa divisão de classes, esta era uma actividade que se prestava, naturalmente, ao repúdio das gerações mais novas – o que, aliado à globalização da tecnologia, contribuiu para tornar o chinquilho um jogo quase exclusivamente desfrutado pelas gerações mais velhas.

A herança e tradição deste jogo não se encontram, no entanto, totalmente perdidas – em Bragança, por exemplo, ainda se joga assiduamente ao 'fito', variante nortenha deste mesmo jogo. O rápido envelhecimento das gerações que conheceram este jogo poderá, todavia, resultar numa extinção a médio prazo desta tradição portuguesa em tempos tão popular; resta esperar que tal previsão não se torne realidade, para que este jogo tradicional com origens no tempo das ocupações romanas não veja terminada de forma tão abrupta a sua História milenar, e para que não se perca ainda mais uma das já poucas ligações ao passado remoto do nosso País.

19.08.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

O Verão em Portugal é, em larga medida, sinónimo de idas à praia, piscina ou parque aquático - e estas, por sua vez, trazem associada toda uma série de brinquedos e produtos específicos. Já há algum tempo aqui falámos de um deles - os colchões insufláveis - e chega, agora, a altura de falarmos de outro, nomeadamente as pranchas de 'bodyboard' concebidas especialmente para crianças.

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Exemplo moderno dos produtos em causa.

Ainda hoje disponíveis em muitas lojas de praia - embora bastante menos comuns no areal em si do que em tempos já foram - estas pranchas constituíram, para muitas crianças dos anos 90, o primeiro contacto com os desportos aquáticos que tanto fascinavam a juventude da época; e ainda que não fossem, nem de longe, resistentes o suficiente para enfrentarem mesmo as ondas mais pequenas, estavam mais do que à altura da tarefa de emular, na orla da água, os 'verdadeiros' surfistas e 'bodyboarders' que explanavam os seus truques alguns metros mais à frente. Com algum jeito, era até possível fazer estas pranchas deslizar pela areia molhada, ao estilo 'skimboard', algo que não deixava de deliciar a demografia-alvo.

Assim, não é de admirar que estas pranchas se tornassem rapidamente, para quem as tinha, apetrecho indispensável de cada ida à praia - tão impossível de ser esquecido como o balde, as forminhas ou as raquetes - e, para quem não tinha, objecto de cobiça, que fazia sonhar com o momento em que também esses pudessem revoltear sobre a rebentação baixa à beira-mar, a 'treinar' para quando, anos mais tarde, pudessem verdadeiramente tornar-se desportistas radicais marítimos - um objectivo que as escolas de surf tornam, hoje, mais fácil, tornando as pranchas de brincar algo obsoletas. Ainda assim, para quem viveu no tempo em que nem tudo estava, ainda, largamente disponível, estes brinquedos terão, sem dúvida, marcado época, e contribuído para muitos Sábados aos Saltos durante as férias de Verão na praia...

05.08.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Um dos temas recorrentes deste nosso blog prende-se com a relação directa entre a simplicidade de um brinquedo ou produto e o seu potencial para diversão – um paradigma que ganha a sua máxima expressão com alguns dos brinquedos de exterior que faziam as delícias das crianças noventistas. De tubos que, ao serem girados, faziam eco a simples balões de hélio, passando pelas bisnagas, pelos martelinhos de borracha, pelas rodas e outros brinquedos de empurrar ou puxar, pelos baloiços artesanais ou pelas eternas bolas, são inúmeros os exemplos de produtos que, apesar de simples, eram também capazes de render momentos bem divertidos; e, a essa lista, há ainda que juntar o brinquedo de que falamos hoje, e que qualquer jovem crescido em finais do século XX imediatamente reconhecerá e recordará da sua infância.

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Falamos dos cata-ventos, simples pedaços de plástico multi-colorido retorcidos numa configuração aerodinâmica e 'espetados' num pauzinho, também feito de plástico, pronto a absorverem qualquer aragem que lhes permitisse mostrar o seu 'truque': um efeito giratório que tirava o máximo partido das cores utilizadas, e que deixava deliciado qualquer pequeno da época – especialmente quando a referida aragem era combinada com um movimento rápido, de corrida, que fazia com que o efeito se realizasse com ainda maior velocidade, criando um padrão visualmente espectacular. A única preocupação era, pois, a possibilidade de apanhar vento em excesso, havendo, nesse caso, grandes probabilidades de o plástico ser arrancado do pauzinho e levado por uma rajada, acabando assim com o brinquedo. Mesmo esse caso era, no entanto, de somenos importância, já que os cata-ventos eram não só fáceis de encontrar, como também relativamente baratos, o que tornava simples encontrar um substituto em caso de 'desastre'.

Tal como muitos outros brinquedos e produtos de que aqui vimos falando, os cata-ventos inserem-se naquele grupo de distracções de finais do século XX que dificilmente interessarão às crianças do Novo Milénio, com a possível excepção das muito pequenas; de facto, seria mais provável ver membros da Geração Z a utilizar uma aplicação de telemóvel que simulasse um destes brinquedos do que a correr pelo jardim com um deles na mão; os seus 'antecessores' das gerações 'millennial' e X, no entanto, sabem o prazer único que dava sair à rua com um cata-vento num Sábado aos Saltos de Primavera ou Verão, e esperar que o vento fizesse a sua parte – um daqueles prazeres simples que, infelizmente, parecem cada vez mais perdidos no novo Mundo digital.

22.07.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Num dos primeiros posts 'de Verão' deste nosso blog, abordámos as pistolas Super Soaker, um dos brinquedos mais instantaneamente associáveis ao calor para as crianças dos anos 90. Apesar de popular, no entanto, as referidas pistolas de água não eram tão ubíquas quanto se possa pensar, graças a uma combinação de preços proibitivos (comuns a todos os brinquedos 'da moda' do século XX) e alguma controvérsia, graças à força que os jactos de água atingiam nos modelos mais potentes; assim, muitas das crianças e jovens portugueses da época continuavam a ver-se obrigados a recorrer a métodos mais 'tradicionais' para se refrescarem a si próprios e aos amigos em dias quentes de Verão, fossem eles os banhos de piscina, mangueira ou tanque, os sempre clássicos balões de água ou os brinquedos de que falamos este Sábado, as não menos tradicionais 'bisnagas'.

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Associados – como os balões de água – tanto ao Verão como ao Carnaval, os icónicos 'revólveres´ de plástico translúcido e colorido, com um 'pipo' na frente por onde entrava a 'munição', vulgo a água, não podiam faltar na gaveta de qualquer menor de idade de finais do século XX, onde esperavam a época certa para 'entrar em acção', e molhar tudo e todos ao seu redor; e ainda que os seus jactos 'às pinguinhas' fossem mais irritantes que eficazes, os mesmos não deixavam, ainda assim, de atingir o objectivo proposto, nomeadamente o de 'chatear' os amigos e os deixar desconfortáveis.

Tal como tantos outros produtos de que aqui falamos, no entanto, também as bisnagas de água caíram em desuso com o passar das décadas, até por terem deixado de estar, como dantes, disponíveis em qualquer drogaria, loja dos 'trezentos' ou superfície comercial de bairro, a um preço hoje equivalente a uns poucos cêntimos. Ainda assim, é de crer que o seu atractivo não se tenha desvanecido para as crianças da nova geração, e que as mesmas saberiam o que fazer com um destes brinquedos se o mesmo lhe fosse posto nas mãos; afinal, por muito que as mentalidades mudem, há instintos e comportamentos que são inatos a qualquer criança ou jovem, e estes produtos conseguem juntar dois – o de brincar com água, e o de irritar os amigos – assegurando assim que o seu apelo permanece intemportal...

08.07.23

Os Sábados marcam o início do fim-de-semana, altura que muitas crianças aproveitam para sair e brincar na rua ou no parque. Nos anos 90, esta situação não era diferente, com o atrativo adicional de, naquela época, a miudagem disfrutar de muitos e bons complementos a estas brincadeiras. Em Sábados alternados, este blog vai recordar os mais memoráveis de entre os brinquedos, acessórios e jogos de exterior disponíveis naquela década.

Entre as principais características de qualquer criança ou jovem encontram-se a imaginação, a capacidade de improviso e o desejo de explorar novas possibilidades e definir novas fronteiras e limites para a sua vida quotidiana, seja por meios autorizados, ou testando até onde vai a permissividade das figuras de autoridade adultas; e uma das actividades que, em finais do século passado, melhor combinava todas estas vertentes era a manufactura de “esconderijos” , fosse para a própria pessoa, ou apenas para os seus pertences.

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Exemplo de um esconderijo florestal semi-natural.

Viáveis, sobretudo, em meios mais rurais (ou, no mínimo, menos urbanos) estes esconderijos e locais secretos podiam assumir todo o tipo de formas, das tradicionais casas na árvore até formações pré-existentes (clareiras na folhagem, buracos no chão, terrenos baldios ou recantos em edifícios abandonados, entre outros) ou outras construídas pelas próprias crianças, normalmente de forma tosca e artesanal. Uma vez encontrados e “reclamados” para um indivíduo ou grupo, estes locais passavam a formar pontos de encontro ou repositórios de brinquedos e outras “quinquilharias” para referência futura; fosse qual fosse a função dos mesmos, o importante era deixar bem claro a quem pertenciam, defendendo-os de potenciais “pretendentes” ou até ladrões.

É claro que, no decurso de todo este processo, raramente era tido em conta o perigo que estes esconderijos, “cabanas”, alcovas e locais secretos potencialmente representavam - não só em termos de integridade física como de “encontros” indesejados - e que, juntamente com o aumento exponencial dos recursos tecnológicos disponíveis para essa demografia, constitui uma das principais razões para os mesmos terem praticamente desaparecido do quotidiano infanto-juvenil das gerações actuais. Quem nasceu ou cresceu num período pré-digital, ou nos primórdios da era tecnológica, certamente terá tido, ou conhecido quem tivesse, pelo menos um destes locais secretos, onde se reunir com os amigos, fazer de pirata ou Tom Sawyer, ou guardar aquele brinquedo especial que garantisse a diversão durante um Sábado aos Saltos...

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