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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

20.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo dos tempos, poucos são os desportistas que merecem o rótulo de 'génios'; nomes como Messi, Ronaldo, Figo, Maradona ou Pelé aparecem, no máximo, uma ou duas vezes por geração. No entanto, o patamar logo abaixo está repleto de atletas que, sem serem foras-de-série, se afirmam como muito acima da média, e conseguem construir carreiras a condizer. No caso do futebol português, um desses atletas é o homem de quem falamos neste post, no fim-de-semana em que acaba de completar cinquenta e dois anos de idade.

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JVP na Selecção

Natural do Porto, seria, no entanto, na capital portuguesa que João Manuel Vieira Pinto viria a fazer carreira, afirmando-se, em momentos distintos, como uma das principais figuras dos dois 'grandes' lisboetas - de facto, um dos aspectos mais curiosos da sua carreira é o facto de o único 'grande' a nunca ter representado ser o da sua cidade-natal, que o recusou aquando de um treino de captação, ainda em idade de formação. Foi, pois, no outro grande clube da cidade, que o jovem médio-ofensivo - descrito pelo seleccionador nacional de sub-20, Carlos Queiroz, como 'loirinho e magrinho' - se começou pela primeira vez a destacar pelo seu fino toque de bola e qualidade de passe, corriam ainda os últimos anos da década de 80.

Com apenas dezassete anos, é natural que o jovem não 'pegasse imediatamente de estaca' na equipa do Boavista, mas ainda assim, os dezassete jogos que realizou pela formação axadrezada (marcando quatro golos) foram suficientes para que o mundo futebolístico internacional pusesse os olhos naquele jovem mais do que promissor - especialmente depois de este ter sido peça fulcral na conquista do bi-campeonato do Mundo sub-20 por parte da Geração de Ouro, em 1989 e 1991.

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No estádio que o consagraria, ao serviço da Selecção de sub-20, em 1991.

Aquando desta segunda conquista, aliás, o jovem gozava já de experiência internacional, enquanto parte da equipa de reservas do 'gigante' Atlético de Madrid, pela qal realizaria trinta jogos durante a primeira época completa dos anos 90, contribuindo com nove golos. Sem espaço nos 'colchoneros', o jovem seria, no entanto, 'devolvido à precedência' na temporada seguinte, que passaria a reafirmar-se como estrela do clube que o revelara, que ajudaria mesmo a conquistar a Taça de Portugal de 1991-92, contra o rival nortenho que, em tempos, o havia rejeitado. Previsivelmente, as suas exibições ao longo da referida temporada não tardaram a atrair novamente a atenção de um clube maior, mas, desta vez, a proposta veio de 'dentro de portas' - concretamente, do Benfica, clube com o qual ficaria associado durante a meia década seguinte.

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Durante a breve passagem pelo Atlético de Madrid, em inícios da década de 90

De facto, foi nos 'encarnados' de Lisboa que João Vieira Pinto verdadeiramente atingiu e cimentou o estatuto histórico de que gozou durante os últimos anos do século XX. Mesmo após um 'susto' que quase ameaçou terminar-lhe com a carreira (um pneumotórax contraído durante um jogo de qualificação para o Mundial de 1994) o eterno 'Menino de Ouro' benfiquista continuou a afirmar-se, época após época, como um dos melhores jogadores portugueses da sua geração, atingindo o estatuto de capitão e referência da equipa, bem como de ídolo incontestado dos adeptos. No total, foram mais de duzentos e vinte os jogos de 'JVP' de águia ao peito, entre os quais se contam exibições tão históricas quanto a do famoso 'derby' lisboeta de 1994, em que dizimou quase por si só o eterno rival do Benfica. Tal era a importância do '8' para o jogo dos encarnados, aliás, que o mesmo viria, inclusivamente, a assinar um contrato vitalício com o clube, em finais da década, já depois de ter sido um dos poucos pontos altos 'daquela' equipa orientada por Graeme Souness.

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Com a camisola que o tornaria famoso.

Tendo tudo isto em conta, terá sido com pasmo, choque e até fúria justificada que os adeptos benfiquistas viram o seu símbolo ser, na 'virada' do Milénio, dispensado a custo zero pelo então presidente Vale e Azevedo, e prontamente realizar a viagem até ao outro lado da Segunda Circular para reforçar o rival - isto já depois de ter sido, enquanto jogador livre, uma das figuras da honrosa campanha portuguesa no Euro 2000.

O crucial golo que cimentou a vitória de Portugal sobre a Inglaterra, no Euro 2000.

Para piorar ainda mais a situação, na sua segunda época de verde e branco, João Pinto conseguiria o feito que sempre lhe escapara em seis anos de Benfica, sagrando-se Campeão Nacional de 2001-2002, naquele que seria o segundo título do Sporting em três épocas. Seguiram-se mais duas épocas, sempre como figura fulcral dos 'Leões', pelos quais realizaria cerca de cento e quinze jogos, marcando quase seis dezenas e meia de golos e servindo como 'assistente' para nomes como Mário Jardel, Marius Niculae e até um jovem extremo madeirense de talento fora do vulgar, de nome próprio Cristiano...

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Ao serviço do Sporting.

Este 'segundo estado de graça' de João Pinto não ficou, no entanto, imune a algumas controvérsias - a maior das quais custaria a Portugal uma vitória importante no Mundial de 2002, na Coreia e Japão, palco do famoso murro de JVP ao árbitro espanhol Ángel Sánchez, após o mesmo lhe ter mostrado o cartão vermelho, que resultaria na suspensão do avançado de jogos internacionais por um período de seis meses. Também bem conhecida era a sua animosidade em relação a Paulinho Santos - a qual era, aliás, reciprocada pelo belicoso ícone da fase 'sarrafeira' do Futebol Clube do Porto.

O momento que terminaria a carreira internacional de João Pinto.

Estes incidentes não deixaram de afectar mentalmente o jogador que, após o término da carreira internacional e duas épocas medianas no Sporting, se veria novamente na condição de jogador livre, e de volta a 'casa', envergando pela terceira vez a camisola axadrezada, desta vez enquanto jogador experiente e 'patrão' da equipa. Esta terceira incursão de Pinto pelo clube que o revelara saldar-se-ia em pouco menos de setenta jogos em duas épocas, com mais onze golos a juntar ao seu pecúlio pessoal.

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No regresso ao Boavista.

Seria um fim de carreira digno para um dos pilares da 'Geração de Ouro', no clube que o ajudara a lançar, mas JVP optaria por realizar, ainda, mais uma época ao mais alto nível, ao serviço do Sporting de Braga, onde viria a encerrar definitivamente actividades após uma época e meia como titular quase indiscutível.

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No Braga.

Apesar de ainda ter realizado testes junto do Toronto FC, clube canadiano então na Major League Soccer, o eterno '8' da Selecção viria mesmo a 'pendurar as botas' em Fevereiro de 2008, transitando mais tarde para cargos de dirigente no seio da Federação Portuguesa de Futebol. Não terminava aí, no entanto, o legado da família Pinto no mundo do futebol, já que o jogador deixava um 'herdeiro', Tiago, defesa-esquerdo formado no Sporting e que continua a prosseguir uma carreira honrosa até aos dias de hoje, jogando actualmente pelo Ankaragucu, da Turquia.

Quanto ao pai, uma análise global à sua carreira deixa a imagem de um jogador que, sem nunca ter vingado a nível internacional ou mundial, não deixou de ter uma carreira extraordinária 'dentro de portas' e enquanto esteio da Selecção Nacional, reunindo muitas vezes o consenso até junto de adeptos rivais dos clubes que representava - entre eles este que vos escreve, nos tempos em que o médio ofensivo actuava no Benfica. Fica aqui, pois, a nossa singela e sentida homenagem a um dos melhores jogadores que tivemos o prazer de ver jogar; parabéns, JVP, e obrigado por tudo.

Talvez o momento áureo da carreira de João Pinto.

23.07.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O jogador com a última camisola que envergaria.

Era só mais uma jornada, de só mais um Campeonato Nacional da Primeira Divisão. O Benfica viajava até Guimarães para defrontar o Vitória local, numa fria noite de Janeiro de 2004. Do banco, saltava um avançado loiro, contratado a custo zero após rescisão com o FC Porto, e que vinha, a pouco e pouco, conquistando o seu espaço na equipa. E a verdade é que, neste jogo, o mesmo jogador não tarda a deixar a sua marca, fazendo a assistência para o golo da vitória dos encarnados, o único da partida, marcado por Fernando Aguiar. Mais tarde, o mesmo jogador seria admoestado com um cartão amarelo e, em reacção, esboçaria um sorriso irónico e inclinar-se-ia para a frente, pondo as mãos nos joelhos; momentos mais tarde – mas que pareceram uma eternidade – colapsaria no terreno de jogo, suscitando acção imediata por parte das equipas médicas de ambos os clubes, bem como do INEM, que levaria o jogador de urgência para o hospital. Infelizmente, o jovem não viria a conseguir recuperar do acidente cardíaco e, nesse mesmo dia, era noticiado o seu falecimento, aos vinte e quatro anos de idade. Chamava-se Miklos Feher, teria feito há poucos dias quarenta e quatro anos, e a sua morte é ainda hoje lembrada por qualquer adepto português daquela época como talvez a maior tragédia de sempre no desporto-rei nacional.

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A primeira experiência de Feher fora da Hungria foi a sua passagem atribulada pelo Porto.

Do que muitos talvez não se recordem, no entanto, é que Feher vinha já fazendo uma carreira honrosa em Portugal antes da sua chegada à Segunda Circular lisboeta, tendo sido Cara (Des)conhecida num par de 'históricos', e tido mesmo a sua afirmação num deles. Contratado pelo FC Porto ao Gyori ETO, da sua Hungria natal, no defeso de Verão de 1998, pouco antes ou pouco depois de completar dezanove anos de idade (nasceu a 20 de Julho de 1979), o ponta-de-lança já internacional sub-21 pelo seu país ver-se-ia, no entanto, sem espaço no plantel portista da altura, tendo conseguido amealhar apenas dez presenças pela equipa principal dos Dragões (um golo) e mais sete pela equipa B (dois golos) antes de seguir o habitual percurso de empréstimos para ganhar experiência.

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O jogador no Salgueiros...

A primeira paragem foi o 'vizinho' Salgueiros, onde ingressou logo no dealbar do ano 2000, ainda a tempo de efectuar catorze jogos e contribuir com cinco golos; já a primeira época completa do Milénio vê-lo-ia afirmar-se no Braga, onde marcaria catorze golos em vinte e seis jogos, uma média de mais de um golo a cada dois jogos. Pelo meio, ficariam ainda vinte e cinco internacionalizações pela equipa A da Hungria, pela qual marcaria sete golos.

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...e no Braga, onde faria a sua melhor época.

Seriam estas boas exibições que viriam a despertar o interesse do Benfica, com o qual Feher assinaria contrato no final da época 2001-2002, após mais uma temporada 'gorada' no Porto, e por quem chegaria aos trinta jogos e sete golos, sendo opção regular a partir do banco, e ganhando aos poucos a confiança dos adeptos. Tudo viria, no entanto, a terminar naquela noite de Janeiro, em que a morte ceifaria uma carreira que, caso contrário, talvez ainda tivesse continuado durante pelo menos mais uma década, quiçá nas divisões inferiores, ou em outros 'históricos' das ligas portuguesas, até se dar a inevitável transição para o posto de treinador, que talvez ainda ocupasse nos dias de hoje.

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A estátua a Feher no Estádio da Luz.

Tal como sucedeu, no entanto, a História trataria de eternizar Miklos Feher como aquele jovem de 'farripas' loiras e sorriso malandro, vestido com a camisola encarnada com patrocínio da Vodafone, que tiraria um momento para descansar no fim de um jogo físico e intenso, e não tornaria a levantar-se, e que é hoje homenageado com uma estátua no Estádio da Luz, e tributado sempre que uma equipa húngara visita Portugal. Que descanse em paz.

12.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa semana em que o Sporting Clube de Braga está nas 'bocas do Mundo' por ter eliminado o Benfica da Taça de Portugal, nada melhor do que recordar um dos jogadores históricos da fase 'noventista' do clube nortenho. Não, não se trata da escolha óbvia, já que esse foi fazer História também no Benfica, na década seguinte, desqualificando-o da selecção para esta rubrica; falamos, antes, de um jogador que passou oito épocas em Portugal (seis delas em Braga) sem nunca ter querido 'dar o salto' para mais altos vôos – o ponta-de-lança Mladen Karoglan.

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O avançado com a camisola que o notabilizou.

Nome clássico dos Elifoots daqueles tempos (em que acabava, muitas vezes, a carimbar por si mesmo a subida de um clube da Quarta Divisão), Karoglan passou grande parte da sua carreira na sua Croácia natal, tendo a sua estreia como sénior tido lugar ainda no início da década de 80, pelo Hadjuk Split, onde havia feito a sua formação; sem espaço no 'grande' croata, no entanto, o jovem Karoglan teria uma única presença pelo clube, transferindo-se, logo na época seguinte, para o modesto Iskra Bugojno, onde passaria cinco épocas, com utilização apenas esporádica.

A paragem seguinte seria o também inexpressivo Dínamo Vinkovci, onde se estabeleceria finalmente como parte importante da equipa titular, justificando a transferência, logo no início da década de 90, para o NK Zagreb, onde passaria uma época, participando em quase todos os jogos e contribuindo com um golo. Uma marca escassa para um ponta-de-lança, mas que seria, ainda assim, suficiente para assegurar a Karoglan, então com 26 anos, a primeira (e única) aventura internacional - motivada, em grande parte, pela guerra então vivida na ex-Jugoslávia, conforme o avançado revelou numa entrevista anos depois.

O destino era Portugal, nomeadamente Chaves, onde o croata rapidamente se destacou pela boa química com o parceiro de ataque, o finlandês Kimmo Tarkkio, que lhe valeu a condição de titular quase indiscutível; no total, em duas épocas, o avançado realizou sessenta e duas partidas, contribuindo com dezassete golos, e deixando indicações suficientemente boas para suscitar um suposto interesse do FC Porto (que nunca se chegaria, no entanto, a concretizar) e lhe garantir a transferência para um clube do nível seguinte – no caso, o emblema onde se viria a tornar 'herói', e a terminar a carreira profissional.

Chegado a Braga no início da época 1993/94, Karoglan rapidamente se estabeleceria como pedra basilar da equipa principal, tal como já acontecera em Chaves, tornando-se muito acarinhado pelos adeptos locais ao longo das seis épocas que passou no emblema arsenalista, durante as quais partilhou o balneário com outros 'Grandes dos Pequenos', como Gamboa, bem como com futuros 'famosos' como Quim (o outro grande nome da História do clube) e Elpídio Silva. Partidas, essas, foram mais de duzentas, com cerca de sessenta e cinco golos apontados, tornando o avançado num dos melhores da História dos arsenalistas, e deixando-o com um total de oitenta e dois golos marcados em oito temporadas passadas nos campeonatos nacionais, dos quais apenas dez não foram obtidos em jogos da Primeira Divisão; uma marca que, mais uma vez, pode parecer escassa para um 'ponta-de-lança', mas que foi ainda assim suficiente – em conjunto com os restantes atributos técnicos do futebolista – para render a Karoglan o estatuto de nome lendário da Primeira Divisão nacional, e de 'grande' de um 'pequeno' que nem o era assim tanto, conforme viria a provar em anos subsequentes...

Karoglan em acção.

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