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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.07.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Qualquer fã de futebol que tenha crescido em Portugal nas duas últimas décadas do século XX recordará com especial carinho as icónicas cadernetas de cromos alusivas aos campeonatos nacionais da época, cada uma repleta de clubes históricos e caras que, através da sua presença ano após ano, acabavam por se tornar familiares e conhecidas. O jogador de que falamos este Domingo, no dia do seu quinquagésimo-oitavo aniversário, foi uma dessas caras, tendo ficado ligado, na mente dos jovens adeptos nacionais, a um dos mais históricos de todos os clubes nacionais, o carismático Sporting Club Farense.

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O jogador com a camisola com que se tornou sinónimo.

De facto, apesar de nascido na Margem Sul do Tejo e formado no Sporting, onde dava os primeiros toques logo no início da adolescência, Rui Pedro Rodrigues Eugénio (vulgarmente conhecido apenas pelo seu apelido) veria a sua carreira sénior ficar ligada a regiões consideravelmente mais a Sul, nomeadamente a terras algarvias – região onde, aliás, daria os primeiros passos como sénior, aos dezoito anos recém-completos, ao serviço do Olhanense. Seguir-se-ia uma experiência mais a Norte (no Recreio de Águeda) e outra na zona de Lisboa – onde representaria, durante duas épocas, o Estoril-Praia – mas o dealbar da época 1988-89 via o defesa lateral ingressar na agremiação com que haveria de se tornar sinónimo para muitos adeptos portugueses ao longo da década seguinte. Essa primeira passagem pelo Farense durou quatro épocas, em que Eugénio se afirmou como peça-chave quase indiscutível da equipa algarvia, realizando mais de cento e trinta jogos entre a então Segunda Divisão de Honra e o escalão principal – que, aliás, ajudaria a equipa a atingir logo na sua segunda época, a qual ficou também coroada pela presença no Jamor (embora como finalista derrotado) e, a nível pessoal, pelo nascimento do filho, Pedro.

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Cromo da Panini dos tempos da passagem pelo Braga....

Foi com o Farense ainda 'em alta', e com estatuto de titular quase indiscutível, que Eugénio abraçou a sua próxima aventura, desta feita no outro extremo do País, e trocando a camisola alvinegra do Farense pela alvirrubra do Sporting de Braga de Mladen Karoglan. A passagem para um clube de maior dimensão não assustou, no entanto, Eugénio, que rapidamente se afirmou como opção também nos arsenalistas, pelos quais viria a realizar setenta e cinco jogos ao longo das três épocas seguintes.

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...e da segunda passagem pelo Farense.

Em 1995, no entanto, surgiria a oportunidade de 'regressar a casa', que Eugénio não hesitaria em aproveitar; seria, pois, de braços abertos que a 'capital' do Algarve voltaria a acolher um jogador que lhes dera muitas alegrias num passado nada distante. E a verdade é que Eugénio retomaria funções no mesmo patamar em que as havia deixado, ou seja, como titular habitual – pelo menos durante a primeira época, já que na seguinte (de 1996/97) viria a perder o lugar, realizando apenas sete partidas em toda a campanha. A situação viria, no entanto, a ser corrigida na época seguinte, tendo Eugénio voltado a figurar como parte importante da equipa durante os dois anos seguintes, antes de se tornar novamente opção de recurso na sua última época nos 'leões' algarvios, já no dealbar do Novo Milénio.

Por esta altura, o 'peso' da idade já se começava a fazer sentir, e Eugénio iniciaria, gradualmente, uma transição para o futebol semi-profissional, 'despedindo-se' dos principais escalões nacionais com uma época como 'jogador de plantel' do Olhanense (num bonito 'fecho de círculo' da sua carreira profissional) antes de ingressar por duas épocas no modesto Sambrasense (embora algumas fontes dêem também conta de uma passagem pelo Valdevez). Seria nesse clube, e na condição de amador, que, no final da época 2002/2003, Eugénio viria a fechar definitivamente o seu ciclo enquanto jogador de campo, deixando o legado do seu nome nas mãos do filho, Pedro, à época ainda em idade de Iniciado, e parte das escolas do Farense - ele que viria a passar pelas Academias de Sporting e Benfica e, tal como o pai, a representar o clube alvinegro em duas ocasiões distintas, antes de rumar ao estrangeiro para jogar na Bulgária, Turquia e, actualmente, Cazaquistão. Já o Eugénio 'sénior' transitaria, com naturalidade, para cargos técnicos do clube a que ficara indelevelmente ligado, tendo exercido funções de adjunto durante duas épocas, e chegado mesmo a ser treinador interino dos algarvios na época 2006/2007.

Hoje afastado do Mundo do futebol, Eugénio continua, no entanto, a ser lembrado com carinho pelos adeptos farenses, que aprenderam a respeitar e apreciar o profissionalismo do lateral, um homem de valores e personalidade bem maiores do que a sua estatura de módicos 1,66 metros, e que bem merece esta singela homenagem no dia do seu aniversário. Parabéns, e que conte muitos.

11.02.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Uma das grandes 'verdades implícitas' do futebol afirma que o melhor jogador das camadas jovens nem sempre será necessariamente o detentor da melhor carreira sénior; pelo contrário, na maior parte dos casos, uma mistura de falta de sorte, falta de oportunidade, imaturidade e factores externos acaba por condenar estes jovens a uma carreira não mais que honrosa, ou até mesmo ao 'esquecimento', bastando atentar nos famosos comentários de Cristiano Ronaldo sobre o colega de formação Fábio Paim para ter uma prova 'acabada' deste mesmo fenómeno.

Outro famoso exemplo, este cerca de uma década mais 'antigo', é o do jogador que recordamos este Domingo, apenas três dias após, aos cinquenta e dois anos, ter perdido a batalha contra a leucemia: um médio ofensivo (ou 'número dez') de consumado e reconhecido talento, Campeão do Mundo de sub-20 como parte da famosa 'Geração de Ouro', mas cuja carreira nunca logrou atingir os mesmos patamares das dos seus colegas de equipa na Selecção de Carlos Queiroz, incluindo a de um seu homónimo e colega de Selecção. Falamos de João Manuel de Oliveira Pinto, normalmente conhecido pelos seus dois apelidos, para o distinguir de dois homónimos contemporâneos: o histórico defesa-central do Porto com quem partilhava os dois nomes próprios, e o referido colega de posição na Selecção sub-20 de Lisboa '91, e futura estrela de Benfica e Sporting, João Vieira Pinto.

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O jogador ao serviço da Selecção

Formado nas então já célebres escolas do Sporting - onde foi campeão nacional de Juvenis e partihou o campo com nomes como Abel Xavier ou o futuro colega de Selecção Luís Figo - João Oliveira Pinto logrou vestir a camisola dos 'leões' apenas em uma ocasião, num jogo contra o Estoril a contar para a Taça de Honra de 1991/92, em que entrou como suplente, já na segunda parte; este efémero concretizar do sonho chegou já depois de um empréstimo ao Atlético lisboeta, então satélite do clube de Alvalade, onde o médio logrou realizar meras treze partidas antes do regresso a 'casa'.

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O cromo da Panini dos tempos do Gil Vicente (crédito da foto: Cromo Sem Caderneta)

Treze seria, também, o número de encontros que João Oliveira Pinto disputaria na temporada seguinte, já desvinculado do seu clube formador e efectivo no Vitória de Guimarães 'europeu' de Pedro Barbosa, Paulo Bento, Dimas, Quim Berto e Nuno Espírito Santo – apenas o primeiro de uma longa lista de clubes pelos quais o médio passaria nas nove temporadas subsequentes. Logo na época seguinte à passagem por Guimarães, por exemplo, Pinto ingressava no mesmo Estoril Praia que defrontara no seu único jogo com a 'listada' verde e branca, marcando presença em trinta e um jogos, contribuindo ainda com um golo.

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Com a camisola do Sporting de Braga.

Por sua vez, as boas exibições pelos 'canarinhos' valer-lhe-iam a transferência para o Gil Vicente, onde apenas na segunda época se lograria afirmar, com vinte e um jogos contra os quatorze de 1994/95, o suficiente para despertar o interesse do Braga de Quim e Karoglan. E se a primeira época na 'Pedreira' correu de feição, com vinte e seis presenças na equipa principal e um golo marcado, já a segunda veria o médio perder lugar no seio do plantel, figurando em apenas oito partidas no total da época. Estava, pois, na altura de novo 'salto', que levaria João Oliveira Pinto de um extremo ao outro do País, para assinar pelo Farense. Nova época em bom plano, com trinta e duas presenças no 'onze' e três golos (um recorde de carreira) suscitariam nova 'viagem', desta feita rumo às ilhas, para representar o Marítimo.

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O médio no Farense.

Na Madeira, o médio passaria duas épocas como elemento de 'rotação' (contribuindo, ainda assim, com vinte e quatro partidas e três golos) antes de, no final da primeira época completa do Novo Milénio, rumar à Académica, da então chamada Segunda Divisão de Honra. Apesar da temporada em relativamente bom plano, seria o primeiro de sucessivos 'passos atrás' na carreira, que veriam o outrora promissor médio passar de peça importante em históricos do escalão máximo do futebol nacional para reforço parcamente utilizado de clubes de ligas secundárias ou mesmo distritais, como o Imortal, Sesimbra, Amora (último clube onde se logrou impôr, com trinta presenças e dois golos na época 2003/04) e Alfarim, onde terminaria a carreira, já perto dos quarenta anos.

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João Pinto era, actualmente, dirigente do Sindicato dos Jogadores e delegado da FPF.

Ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, João Oliveira Pinto não assumiu, após pendurar as botas, a carreira de treinador, embora se tivesse mantido ligado à Federação Portuguesa e Sindicato dos Jogadores do desporto do qual, em tempos, fora tido como uma das grandes esperanças, mas onde, fosse por que razão fosse, nunca se conseguira afirmar ao nível desejado. Ainda assim, a imagem que fica após a sua 'partida' é a de um jogador tenaz, talentoso, e a quem apenas faltou uma 'pontinha' de sorte para chegar a ser mais do que aquilo a que os britânicos se referem como um 'journeyman'; um caso, portanto, semelhante ao dos inúmeros outros jovens de que falávamos no início deste texto, e que deveria ser 'caso de estudo' para os mesmos nas Academias deste País, como símbolo de perserverança, esforço e ética profissional em prol da manutenção da carreira. Que descanse em paz.

10.12.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

A História da Selecção Nacional Portuguesa, bem como dos três 'grandes' do País, está repleta de nomes sonantes, instantaneamente reconhecíveis para qualquer adepto nacional, e muitas vezes, também para os de fora de Portugal; no entanto, por 'detrás' dessas 'mega-estrelas', existe todo um contigente de outros jogadores que, sem terem tido carreiras ao nível dos seus compatriotas mais ilustres, não deixaram ainda assim de ter impacto no futebol português, tanto a nível interno como internacional. Uma dessas figuras é o homem de quem falamos este Domingo, por ocasião do seu quinquagésimo-quarto aniversário: um avançado suficientemente talentoso para ser opção principal para a linha frontal de um 'grande', mas cuja restante carreira se desenvolveu (quase) exclusivamente como Cara (Des)conhecida. Falamos de Paulo Lourenço Martins Alves, ou simplesmente Paulo Alves, o 'homem do Norte' que se viria a destacar um pouco mais a Sul, em meados dos anos 90.

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Com a camisola do clube ao qual o seu nome ficaria mais ligado, o Gil Vicente. (Crédito da foto: LastSticker.com)

Natural de Vila Real, região na qual iniciou a sua formação, Paulo Alves chegava à idade sénior como mais um dos inúmeros jovens das escolas de um 'grande' (no caso, o Futebol Clube do Porto) sem espaço no plantel principal, e, como tal, forçado a procurar opções alternativas para a sua carreira. Para o jovem Paulo, a solução encontrada foi o ingresso no Gil Vicente, histórico da região Norte onde o avançado principiaria a explanar o seu talento, conseguindo afirmar-se primeiro como opção válida e, mais tarde, como primeira escolha no plantel dos gilistas. O início da década de 90 assistiria, assim, à melhor das três épocas de Alves em Barcelos, com dez golos obtidos em trinta e oito partidas – isto já depois de ter sido Campeão do Mundo de sub-20, em 1989, ao lado de vários jogadores que se viriam a tornar históricos na Selecção Nacional AA ao longo das duas décadas seguintes, como parte da famosa 'Geração de Ouro'.

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Com a malha das Quinas.

Apenas na época de 1991/92 se assistiria, pois, a nova 'mudança de ares' por parte de Paulo Alves, que transitaria para outro histórico nortenho, o Tirsense, onde passaria uma época, jogando ao lado de outro ex-formando do FC Porto quase exactamente dois anos mais velho, Agostinho Caetano, que celebrou também este fim-de-semana o seu quinquagésimo-sexto aniversário. Em Santo Tirso, Alves conseguiria oito golos em trinta e três jogos, sendo sempre opção principal, e impressionando o suficiente para conseguir, na época seguinte, a transferência para o Marítimo, onde passaria a época e meia seguintes.

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Ao serviço dos insulares do Marítimo. (Crédito da foto: Cromo dos Cromos)

Num ambiente marcadamente diferente daquele a que estava habituado, Alves não deixaria, ainda assim, de se afirmar como escolha recorrente na equipa, tendo as suas exibições justificado nova transferência, há quase exactos trinta anos, no defeso de Inverno da temporada 1993/94. O avançado regressava, pois, ao 'seu' norte, para representar o Braga, mas seria 'sol de pouca dura', tendo Alves almejado apenas quatro presenças pelos arsenalistas antes de regressar ao Marítimo, onde faria a melhor época da sua carreira até então, conseguindo dezassete golos em pouco mais de quarenta exibições, e afirmando-se como peça fulcral dos verderrubros insulares.

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No Sporting, o maior clube que representou na sua carreira sénior.

Seria, precisamente, a sua impressionante prestação ao longo da época 1994/95 que valeria a Paulo Alves o primeiro grande 'salto' da carreira, ao ser contratado pelo Sporting. As três épocas seguintes veriam, pois, o avançado alinhar com a 'listada' verde e branca (com excepção de um breve empréstimo ao West Ham, de Inglaterra, que assinalaria a primeira experiência internacional do jogador) quase sempre como opção principal, e conseguindo médias bastante razoáveis de golos, tornando-se assim um dos nomes mais lembrados do ataque leonino da década de 90. As suas boas prestações ao serviço dos 'Leões' suscitariam, também, a sua convocatória para os Jogos Olímpicos de Atlanta '96, bem como o interesse de novo clube internacional – no caso o Bastia, de França, para o qual Paulo Alves se transferiria no início da época 1998/99.

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Durante a aventura em França.

Tal como a primeira 'aventura' internacional do jogador, no entanto, também esta teria curta duração, tendo o avançado regressado a Portugal ainda antes da viragem do Milénio, agora para um patamar bastante mais modesto, ao serviço de outro histórico nacional, o União de Leiria, onde passaria as duas épocas seguintes; o final de carreira, esse, viria a dar-se no mesmo sítio onde a trajectória de Alves havia começado – em Barcelos, onde surgia em 2001/02, com o estatuto de 'veterano famoso', e onde continuaria a 'dar cartas' durante as quatro épocas seguintes, até ao pendurar das botas, no final da temporada 2004/2005, quando contava já trinta e cinco anos.

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Durante um jogo do União de Leiria.

Foi também sem surpresas que os adeptos gilistas viram o seu 'ídolo' enveredar pela carreira de treinador dentro do próprio clube, onde passaria duas épocas antes de regressar à sua 'casa' anterior, o União de Leiria. Seguir-se-ia uma passagem pelo Vizela e uma fugaz nomeação como Seleccionador Nacional sub-20, antes de Alves voltar a Barcelos, para mais quatro épocas - o último período de estabilidade naquela que se viria a tornar uma carreira 'papa-léguas', que veria Alves passar por todos os escalões do futebol nacional e treinar clubes no Irão e Arábia Saudita, além de regressar mais uma vez ao Gil Vicente, para meia temporada, em 2017/2018. O mais recente projecto de Alves foi, no entanto, o Moreirense, que orientou na campanha transacta, na Liga Sagres, provando ter tanta qualidade enquanto treinador como teve dentro das quatro linhas, como Cara (Des)conhecida ou nome algo mais digno de nota. Parabéns, e que conte muitos.

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Na função de treinador.

20.08.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Ao longo dos tempos, poucos são os desportistas que merecem o rótulo de 'génios'; nomes como Messi, Ronaldo, Figo, Maradona ou Pelé aparecem, no máximo, uma ou duas vezes por geração. No entanto, o patamar logo abaixo está repleto de atletas que, sem serem foras-de-série, se afirmam como muito acima da média, e conseguem construir carreiras a condizer. No caso do futebol português, um desses atletas é o homem de quem falamos neste post, no fim-de-semana em que acaba de completar cinquenta e dois anos de idade.

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JVP na Selecção

Natural do Porto, seria, no entanto, na capital portuguesa que João Manuel Vieira Pinto viria a fazer carreira, afirmando-se, em momentos distintos, como uma das principais figuras dos dois 'grandes' lisboetas - de facto, um dos aspectos mais curiosos da sua carreira é o facto de o único 'grande' a nunca ter representado ser o da sua cidade-natal, que o recusou aquando de um treino de captação, ainda em idade de formação. Foi, pois, no outro grande clube da cidade, que o jovem médio-ofensivo - descrito pelo seleccionador nacional de sub-20, Carlos Queiroz, como 'loirinho e magrinho' - se começou pela primeira vez a destacar pelo seu fino toque de bola e qualidade de passe, corriam ainda os últimos anos da década de 80.

Com apenas dezassete anos, é natural que o jovem não 'pegasse imediatamente de estaca' na equipa do Boavista, mas ainda assim, os dezassete jogos que realizou pela formação axadrezada (marcando quatro golos) foram suficientes para que o mundo futebolístico internacional pusesse os olhos naquele jovem mais do que promissor - especialmente depois de este ter sido peça fulcral na conquista do bi-campeonato do Mundo sub-20 por parte da Geração de Ouro, em 1989 e 1991.

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No estádio que o consagraria, ao serviço da Selecção de sub-20, em 1991.

Aquando desta segunda conquista, aliás, o jovem gozava já de experiência internacional, enquanto parte da equipa de reservas do 'gigante' Atlético de Madrid, pela qal realizaria trinta jogos durante a primeira época completa dos anos 90, contribuindo com nove golos. Sem espaço nos 'colchoneros', o jovem seria, no entanto, 'devolvido à precedência' na temporada seguinte, que passaria a reafirmar-se como estrela do clube que o revelara, que ajudaria mesmo a conquistar a Taça de Portugal de 1991-92, contra o rival nortenho que, em tempos, o havia rejeitado. Previsivelmente, as suas exibições ao longo da referida temporada não tardaram a atrair novamente a atenção de um clube maior, mas, desta vez, a proposta veio de 'dentro de portas' - concretamente, do Benfica, clube com o qual ficaria associado durante a meia década seguinte.

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Durante a breve passagem pelo Atlético de Madrid, em inícios da década de 90

De facto, foi nos 'encarnados' de Lisboa que João Vieira Pinto verdadeiramente atingiu e cimentou o estatuto histórico de que gozou durante os últimos anos do século XX. Mesmo após um 'susto' que quase ameaçou terminar-lhe com a carreira (um pneumotórax contraído durante um jogo de qualificação para o Mundial de 1994) o eterno 'Menino de Ouro' benfiquista continuou a afirmar-se, época após época, como um dos melhores jogadores portugueses da sua geração, atingindo o estatuto de capitão e referência da equipa, bem como de ídolo incontestado dos adeptos. No total, foram mais de duzentos e vinte os jogos de 'JVP' de águia ao peito, entre os quais se contam exibições tão históricas quanto a do famoso 'derby' lisboeta de 1994, em que dizimou quase por si só o eterno rival do Benfica. Tal era a importância do '8' para o jogo dos encarnados, aliás, que o mesmo viria, inclusivamente, a assinar um contrato vitalício com o clube, em finais da década, já depois de ter sido um dos poucos pontos altos 'daquela' equipa orientada por Graeme Souness.

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Com a camisola que o tornaria famoso.

Tendo tudo isto em conta, terá sido com pasmo, choque e até fúria justificada que os adeptos benfiquistas viram o seu símbolo ser, na 'virada' do Milénio, dispensado a custo zero pelo então presidente Vale e Azevedo, e prontamente realizar a viagem até ao outro lado da Segunda Circular para reforçar o rival - isto já depois de ter sido, enquanto jogador livre, uma das figuras da honrosa campanha portuguesa no Euro 2000.

O crucial golo que cimentou a vitória de Portugal sobre a Inglaterra, no Euro 2000.

Para piorar ainda mais a situação, na sua segunda época de verde e branco, João Pinto conseguiria o feito que sempre lhe escapara em seis anos de Benfica, sagrando-se Campeão Nacional de 2001-2002, naquele que seria o segundo título do Sporting em três épocas. Seguiram-se mais duas épocas, sempre como figura fulcral dos 'Leões', pelos quais realizaria cerca de cento e quinze jogos, marcando quase seis dezenas e meia de golos e servindo como 'assistente' para nomes como Mário Jardel, Marius Niculae e até um jovem extremo madeirense de talento fora do vulgar, de nome próprio Cristiano...

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Ao serviço do Sporting.

Este 'segundo estado de graça' de João Pinto não ficou, no entanto, imune a algumas controvérsias - a maior das quais custaria a Portugal uma vitória importante no Mundial de 2002, na Coreia e Japão, palco do famoso murro de JVP ao árbitro espanhol Ángel Sánchez, após o mesmo lhe ter mostrado o cartão vermelho, que resultaria na suspensão do avançado de jogos internacionais por um período de seis meses. Também bem conhecida era a sua animosidade em relação a Paulinho Santos - a qual era, aliás, reciprocada pelo belicoso ícone da fase 'sarrafeira' do Futebol Clube do Porto.

O momento que terminaria a carreira internacional de João Pinto.

Estes incidentes não deixaram de afectar mentalmente o jogador que, após o término da carreira internacional e duas épocas medianas no Sporting, se veria novamente na condição de jogador livre, e de volta a 'casa', envergando pela terceira vez a camisola axadrezada, desta vez enquanto jogador experiente e 'patrão' da equipa. Esta terceira incursão de Pinto pelo clube que o revelara saldar-se-ia em pouco menos de setenta jogos em duas épocas, com mais onze golos a juntar ao seu pecúlio pessoal.

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No regresso ao Boavista.

Seria um fim de carreira digno para um dos pilares da 'Geração de Ouro', no clube que o ajudara a lançar, mas JVP optaria por realizar, ainda, mais uma época ao mais alto nível, ao serviço do Sporting de Braga, onde viria a encerrar definitivamente actividades após uma época e meia como titular quase indiscutível.

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No Braga.

Apesar de ainda ter realizado testes junto do Toronto FC, clube canadiano então na Major League Soccer, o eterno '8' da Selecção viria mesmo a 'pendurar as botas' em Fevereiro de 2008, transitando mais tarde para cargos de dirigente no seio da Federação Portuguesa de Futebol. Não terminava aí, no entanto, o legado da família Pinto no mundo do futebol, já que o jogador deixava um 'herdeiro', Tiago, defesa-esquerdo formado no Sporting e que continua a prosseguir uma carreira honrosa até aos dias de hoje, jogando actualmente pelo Ankaragucu, da Turquia.

Quanto ao pai, uma análise global à sua carreira deixa a imagem de um jogador que, sem nunca ter vingado a nível internacional ou mundial, não deixou de ter uma carreira extraordinária 'dentro de portas' e enquanto esteio da Selecção Nacional, reunindo muitas vezes o consenso até junto de adeptos rivais dos clubes que representava - entre eles este que vos escreve, nos tempos em que o médio ofensivo actuava no Benfica. Fica aqui, pois, a nossa singela e sentida homenagem a um dos melhores jogadores que tivemos o prazer de ver jogar; parabéns, JVP, e obrigado por tudo.

Talvez o momento áureo da carreira de João Pinto.

23.07.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

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O jogador com a última camisola que envergaria.

Era só mais uma jornada, de só mais um Campeonato Nacional da Primeira Divisão. O Benfica viajava até Guimarães para defrontar o Vitória local, numa fria noite de Janeiro de 2004. Do banco, saltava um avançado loiro, contratado a custo zero após rescisão com o FC Porto, e que vinha, a pouco e pouco, conquistando o seu espaço na equipa. E a verdade é que, neste jogo, o mesmo jogador não tarda a deixar a sua marca, fazendo a assistência para o golo da vitória dos encarnados, o único da partida, marcado por Fernando Aguiar. Mais tarde, o mesmo jogador seria admoestado com um cartão amarelo e, em reacção, esboçaria um sorriso irónico e inclinar-se-ia para a frente, pondo as mãos nos joelhos; momentos mais tarde – mas que pareceram uma eternidade – colapsaria no terreno de jogo, suscitando acção imediata por parte das equipas médicas de ambos os clubes, bem como do INEM, que levaria o jogador de urgência para o hospital. Infelizmente, o jovem não viria a conseguir recuperar do acidente cardíaco e, nesse mesmo dia, era noticiado o seu falecimento, aos vinte e quatro anos de idade. Chamava-se Miklos Feher, teria feito há poucos dias quarenta e quatro anos, e a sua morte é ainda hoje lembrada por qualquer adepto português daquela época como talvez a maior tragédia de sempre no desporto-rei nacional.

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A primeira experiência de Feher fora da Hungria foi a sua passagem atribulada pelo Porto.

Do que muitos talvez não se recordem, no entanto, é que Feher vinha já fazendo uma carreira honrosa em Portugal antes da sua chegada à Segunda Circular lisboeta, tendo sido Cara (Des)conhecida num par de 'históricos', e tido mesmo a sua afirmação num deles. Contratado pelo FC Porto ao Gyori ETO, da sua Hungria natal, no defeso de Verão de 1998, pouco antes ou pouco depois de completar dezanove anos de idade (nasceu a 20 de Julho de 1979), o ponta-de-lança já internacional sub-21 pelo seu país ver-se-ia, no entanto, sem espaço no plantel portista da altura, tendo conseguido amealhar apenas dez presenças pela equipa principal dos Dragões (um golo) e mais sete pela equipa B (dois golos) antes de seguir o habitual percurso de empréstimos para ganhar experiência.

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O jogador no Salgueiros...

A primeira paragem foi o 'vizinho' Salgueiros, onde ingressou logo no dealbar do ano 2000, ainda a tempo de efectuar catorze jogos e contribuir com cinco golos; já a primeira época completa do Milénio vê-lo-ia afirmar-se no Braga, onde marcaria catorze golos em vinte e seis jogos, uma média de mais de um golo a cada dois jogos. Pelo meio, ficariam ainda vinte e cinco internacionalizações pela equipa A da Hungria, pela qual marcaria sete golos.

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...e no Braga, onde faria a sua melhor época.

Seriam estas boas exibições que viriam a despertar o interesse do Benfica, com o qual Feher assinaria contrato no final da época 2001-2002, após mais uma temporada 'gorada' no Porto, e por quem chegaria aos trinta jogos e sete golos, sendo opção regular a partir do banco, e ganhando aos poucos a confiança dos adeptos. Tudo viria, no entanto, a terminar naquela noite de Janeiro, em que a morte ceifaria uma carreira que, caso contrário, talvez ainda tivesse continuado durante pelo menos mais uma década, quiçá nas divisões inferiores, ou em outros 'históricos' das ligas portuguesas, até se dar a inevitável transição para o posto de treinador, que talvez ainda ocupasse nos dias de hoje.

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A estátua a Feher no Estádio da Luz.

Tal como sucedeu, no entanto, a História trataria de eternizar Miklos Feher como aquele jovem de 'farripas' loiras e sorriso malandro, vestido com a camisola encarnada com patrocínio da Vodafone, que tiraria um momento para descansar no fim de um jogo físico e intenso, e não tornaria a levantar-se, e que é hoje homenageado com uma estátua no Estádio da Luz, e tributado sempre que uma equipa húngara visita Portugal. Que descanse em paz.

12.02.23

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Numa semana em que o Sporting Clube de Braga está nas 'bocas do Mundo' por ter eliminado o Benfica da Taça de Portugal, nada melhor do que recordar um dos jogadores históricos da fase 'noventista' do clube nortenho. Não, não se trata da escolha óbvia, já que esse foi fazer História também no Benfica, na década seguinte, desqualificando-o da selecção para esta rubrica; falamos, antes, de um jogador que passou oito épocas em Portugal (seis delas em Braga) sem nunca ter querido 'dar o salto' para mais altos vôos – o ponta-de-lança Mladen Karoglan.

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O avançado com a camisola que o notabilizou.

Nome clássico dos Elifoots daqueles tempos (em que acabava, muitas vezes, a carimbar por si mesmo a subida de um clube da Quarta Divisão), Karoglan passou grande parte da sua carreira na sua Croácia natal, tendo a sua estreia como sénior tido lugar ainda no início da década de 80, pelo Hadjuk Split, onde havia feito a sua formação; sem espaço no 'grande' croata, no entanto, o jovem Karoglan teria uma única presença pelo clube, transferindo-se, logo na época seguinte, para o modesto Iskra Bugojno, onde passaria cinco épocas, com utilização apenas esporádica.

A paragem seguinte seria o também inexpressivo Dínamo Vinkovci, onde se estabeleceria finalmente como parte importante da equipa titular, justificando a transferência, logo no início da década de 90, para o NK Zagreb, onde passaria uma época, participando em quase todos os jogos e contribuindo com um golo. Uma marca escassa para um ponta-de-lança, mas que seria, ainda assim, suficiente para assegurar a Karoglan, então com 26 anos, a primeira (e única) aventura internacional - motivada, em grande parte, pela guerra então vivida na ex-Jugoslávia, conforme o avançado revelou numa entrevista anos depois.

O destino era Portugal, nomeadamente Chaves, onde o croata rapidamente se destacou pela boa química com o parceiro de ataque, o finlandês Kimmo Tarkkio, que lhe valeu a condição de titular quase indiscutível; no total, em duas épocas, o avançado realizou sessenta e duas partidas, contribuindo com dezassete golos, e deixando indicações suficientemente boas para suscitar um suposto interesse do FC Porto (que nunca se chegaria, no entanto, a concretizar) e lhe garantir a transferência para um clube do nível seguinte – no caso, o emblema onde se viria a tornar 'herói', e a terminar a carreira profissional.

Chegado a Braga no início da época 1993/94, Karoglan rapidamente se estabeleceria como pedra basilar da equipa principal, tal como já acontecera em Chaves, tornando-se muito acarinhado pelos adeptos locais ao longo das seis épocas que passou no emblema arsenalista, durante as quais partilhou o balneário com outros 'Grandes dos Pequenos', como Gamboa, bem como com futuros 'famosos' como Quim (o outro grande nome da História do clube) e Elpídio Silva. Partidas, essas, foram mais de duzentas, com cerca de sessenta e cinco golos apontados, tornando o avançado num dos melhores da História dos arsenalistas, e deixando-o com um total de oitenta e dois golos marcados em oito temporadas passadas nos campeonatos nacionais, dos quais apenas dez não foram obtidos em jogos da Primeira Divisão; uma marca que, mais uma vez, pode parecer escassa para um 'ponta-de-lança', mas que foi ainda assim suficiente – em conjunto com os restantes atributos técnicos do futebolista – para render a Karoglan o estatuto de nome lendário da Primeira Divisão nacional, e de 'grande' de um 'pequeno' que nem o era assim tanto, conforme viria a provar em anos subsequentes...

Karoglan em acção.

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