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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

17.10.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Hoje em dia, o conceito de 'pacotes-mistério' – ou seja, embalagens opacas que prometem uma figura ou brinde da colecção a que são alusivas, mas não especificam qual, estando parte da emoção, precisamente, no mistério – é por demais popular entre as crianças e jovens das gerações 'Z' e 'Alfa'; no entanto, o referido sistema tem raízes bastante mais antigas do que se possa pensar, fazendo já sucesso junto das demografias 'X' e 'millennial'. De facto, uma das instâncias mais antigas desse tipo de fenómeno em Portugal remonta ao início dos anos 90, quando grande parte das crianças e jovens nacionais decidiram coleccionar porquinhos.

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Alguns dos muitos porquinhos da colecção.

Sim, nos anos antes dos ovos Kinder popularizarem as colecções de 'bonequinhos' como brinde alimentar, já uma companhia havia procurado explorar esse mercado de forma mais tradicional, através do lançamento de uma colecção de porquinhos 'humanizados' (ainda que não antropomórficos) com as mais variadas temáticas, de bebés de touca ou babete a árbitros de futebol ou boxeadores, passando por porcos de fato (um dos quais fazia lembrar a icónica indumentária de Babar) ou porcas fêmeas de batom ou a fazer bailado, entre muitas outras figuras altamente coleccionáveis, e apelativas para ambos os sexos – embora, claro, houvesse sempre algumas consideradas demasiado femininas para os rapazes, ou vice-versa.

Escusado será dizer que o próprio conceito da linha, muito semelhante ao subjacente às cadernetas de cromos, não só fomentava como praticamente exigia a troca de figuras, de modo a completar ao máximo possível a colecção – um factor absolutamente necessário ao procurar criar uma 'febre de recreio'. E apesar de estes porquinhos não terem chegado ao nível de iconicidade e 'culto' de uns Tazos, Pega-Monstro ou Caveiras Luminosas – encontrando-se mesmo algo Esquecidos Pela Net – o volume que se pode encontrar para venda no OLX indicia que terá havido uma percentagem significativa de portugueses e portuguesas não só a coleccionar estas figuras à época do seu lançamento, como também a guardar a sua colecção de infância para propósitos nostálgicos; para esses, aqui fica mais uma lembrança daquela que foi uma das pioneiras do conceito de 'pacotes-mistério' em território nacional.

26.09.24

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

O elemento de surpresa - a emoção de avançar para o desconhecido, de 'arriscar' e esperar pelo melhor - tende a mover grande parte da população mundial, e tem desde sempre sido uma das formas mais simples de entusiasmar a maioria dos seres humanos, independentemente da idade ou época em que tenham crescido. E se, actualmente, tal tendência se reflecte na compra de 'pacotes-mistério' no eBay ou Amazon, ou, para os mais jovens, de 'saquinhos' opacos com uma figura sortida, nos anos 90, um dos principais expoentes da mesma eram as cápsulas dissolventes com uma surpresa no interior – um conceito na mesma linha dos referidos 'saquinhos-mistério' tão populares actualmente, mas que adicionava ainda mais um elemento entusiasmante a uma equação já de si apelativa.

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Exemplo moderno do produto em análise.

Isto porque cada cápsula ou 'ovo' tinha de ser dissolvida em água a fim de revelar a surpresa no seu interior – invariavelmente uma pequena figura na linha dos M.U.S.C.L.E ou Monsters In My Pocket, mas subordinada ao tema sugerido no exterior da cápsula. A diversão começava, portanto, logo a partir do momento em que se submergia a cápsula (que não podia, aliás, ser aberta por meios tradicionais) e se via a mesma principiar a dissolver-se, revelando a pouco e pouco, por entre as inúmeras bolhinhas, o 'boneco' nela contido. Aliás, poder-se-ia até dizer que, neste caso, o processo sobrepunha-se à recompensa, já que o verdadeiro interesse destas cápsulas estava mais no seu método de funcionamento do que propriamente no prémio, que não era melhor do que algo obtido numa máquina de bolinhas com prémio.

Ainda assim, o referido 'segredo' de abertura destes 'ovos com prémio' era suficiente para os tornar apelativos para as crianças da era pré-digital - embora seja pouco provável que tivessem o mesmo efeito sobre a actual 'Geração Alfa' – e para lhes garantir um lugar na memória nostálgica de duas gerações de portugueses (e não só) e, como tal, também nas páginas deste blog.

05.07.24

NOTA: Este post é respeitante a Quinta-feira, 4 de Julho de 2024.

Trazer milhões de ‘quinquilharias’ nos bolsos, no estojo ou na pasta faz parte da experiência de ser criança. Às quintas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos brindes e ‘porcarias’ preferidos da juventude daquela época.

Desde a sua massificação em inícios do século XX, o futebol tem sido o desporto mais consensual e com maior base de fãs a nível mundial; Portugal não é, de todo, excepção a esta regra, como se pode facilmente verificar pela existência de nada menos do que três jornais diários dedicados apenas e tão-somente a notícias de cariz desportivo, com natural primazia para o futebol. Não é, pois, de estranhar que cada nova competição internacional, particularmente as disputadas entre selecções de jogadores de cada país, façam 'parar' grande parte do Mundo, e motivem um sem-número de companhias a efectuar promoções alusivas ao certame em causa.

O Euro '96, levado a cabo em Inglaterra, não foi, de forma alguma, excepção a esta regra, tendo vários produtos, companhias e entidades adoptado temporariamente as cores da bandeira do país em que eram comercializados, e oferecido brindes centrados nas equipas presentes no torneio. Em Portugal, uma dessas entidades era o jornal 'A Bola', que, não querendo deixar créditos por mãos alheias no que toca à sua área de especialização, veiculava esse Verão, em conjunto com o seu jornal, figuras em borracha dos jogadores da Selecção Portuguesa da altura.

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Algumas das figuras da colecção, e respectivos cartões de 'identidade'.

Inteligentemente chamados de Figuras da Bola (num trocadilho com o nome do jornal) estes bonecos constituíam, basicamente, caricaturas tridimensionais dos jogadores, cada um dos quais surgia com as feições exageradas daquele estilo de arte, e com cabeças muito maiores do que o 'esquelético' corpo em que assentavam. Ainda assim, e apesar da abordagem 'cartunesca', a maioria dos 'craques' da Geração de Ouro era, ainda, perfeitamente reconhecível, de Fernando Couto e Paulo Sousa com as suas 'melenas' à não menos farta cabeleira loira de Jorge Cadete, o enorme queixo de Sá Pinto ou a cabeça achatada de Luís Figo, entre outras características propositalmente ampliadas para máximo efeito cómico. Juntamente com cada uma das figuras vinha, ainda, um cartão, com uma caricatura do jogador em causa e alguns dados vitais do mesmo – um pormenor cujo valor era apenas aparente, já que o que verdadeiramente interessava era a figura, ideal para colocar na estante, mesa de cabeceira ou secretária (não confundir com Secretário, que também faz parte da colecção...!) e mostrar assim o apoio à Selecção.

Curiosamente, apesar da natureza obviamente atractiva desta promoção (mais próxima de um brinde dos ovos Kinder ou do Happy Meal do McDonald's do que algo oferecido por um jornal), não tornou a haver, em certames subsequentes, qualquer outra promoção deste tipo, deixando a 'Selecção' de Figuras da Bola como uma iniciativa única no panorama promocional português, quer do século XX quer do actual, e bem merecedora de lembrança nas páginas deste nosso blog.

08.10.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Na última edição desta rubrica, abordámos os super-heróis da 'loja dos trezentos' – aquelas figuras inertes, inexpressivas e maioritariamente imóveis moldadas e pintadas para parecerem Power Rangers ou VR Troopers, sem no entanto terem as dimensões ou proporções correctas para alinharam ao lado destes nas diversas aventuras a que a criança média portuguesa da época submetia os seus 'bonecos', e demasiado rígidos para entrarem nas missões dos Action Man. Muitos dos que formavam parte do referido grupo demográfico certamente se lembrarão, no entanto, que estas estavam longe de ser as únicas 'contrafacções' feitas para simular os heróis das propriedades intelectuais mais populares da época; de facto, existia também, ao mesmo tempo, uma variante 'feminina' deste tipo de figura, que muitas meninas de finais do século XX certamente terão tido entre a sua vasta colecção de bonecas ao estilo Barbie.

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Exemplo bem típico das bonecas em causa, aqui numa fusão das navegantes da Lua e de Mercúrio.

Falamos, claro, dos 'sucedâneos' de Sailor Moon, disponíveis nas mesmíssimas lojas dos 'trezentos' – e, mais tarde, chinesas – muitas vezes imediatamente ao lado daqueles que estavam, inevitavelmente, fadados a tornar-se seus namorados em casas com crianças de ambos os sexos, por muitos que fossem os protestos da(s) parcela(s) masculina(s) dessa equação. Em tudo semelhantes às pseudo-'Barbies' vestidas de gala ou de sereia que as rodeavam, o único factor distintivo destas bonecas era, precisamente, a roupa, que emulava a de Serena, líder e personagem principal das icónicas 'Navegantes da Lua', um dos mais populares desenhos animados entre o público feminino da época. Quem tivesse menos apetência para passagens de modelos ou aventuras encantadas podia, assim, organizar um 'esquadrão' de estudantes com super-poderes, prontas a defender o quarto de todos os perigos com a ajuda das suas tiaras mágicas – e tudo isto sem ter de gastar o dinheiro correspondente à compra de uma figura oficial (algo que, aliás, não existia ainda em Portugal no período em análise.)

A contrapartida a esta atractiva proposta prendia-se, claro está, com a qualidade de fabrico, que era tão fraca quanto a de qualquer outra boneca dos 'trezentos', com corpo e membros ocos, que se amolgavam ao mínimo toque e pareciam sempre em riscos de se partir ou desconjuntar; no entanto, e ao contrário do que muitas vezes se pensa, quem comprava este tipo de brinquedo na altura sabia, na maioria das vezes, 'ao que ia', e não tinha qualquer problema em aceitar esta inevitabilidade face à possibilidade de contar com uma réplica relativamente aproximada de uma das suas heroínas televisivas favoritas.

Tal como sucede com os seus congéneres masculinos, estas bonecas marcam, até hoje, presença nas lojas em causa, prontas a aliciar a Geração Z da mesma forma que fizeram com a sua antecessora; e, sendo 'Navegantes da Lua' ainda hoje uma propriedade popular entre as crianças e jovens, resta saber se os pequenos 'Z' estarão dispostos a aceitar os defeitos inerentes a estas figuras como o fizeram as suas mães e irmãs mais velhas. Sendo esse o caso, é de crer que estas bonecas gozem, ainda, de muitos e bons anos como 'alternativa' pseudo-licenciada a Barbie, Sindy e restantes congéneres...

10.09.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

As primeiras edições desta rubrica abordaram, entre outros temas, as bonecas Barbie (e respectivas 'imitadoras' e as figuras de acção, vulgo 'bonecos', dois dos tipos de brinquedo mais populares dos anos 90 entre, respectivamente, os públicos masculino e feminino. E dado ter sido, também, nessa década (bem como na anterior) que se verificou a expansão e globalização dos produtos baratos fabricados nos mercados asiáticos, não é de espantar que algum empresário mais ambicioso tenha tido a ideia de combinar estas duas categorias de produto numa só, e de as vender, a um preço irrisório, no mesmo tipo de estabelecimento que já albergava inúmeras 'cópias' de qualidade mais que duvidosa de Barbie, Sindy, Batman ou Power Rangers.

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Um exemplo típico deste tipo de figura, claramente baseado nos Power Rangers.

Nasce, assim, a selecta mas ainda assim icónica categoria dos super-heróis de imitação, não de 20cm, mas do tamanho normalmente associado a bonecas para raparigas. Normalmente estilizados a partir dos Power Rangers ou VR Troopers (embora com suficientes diferenças para constituírem uma personagem 'única', por oposição a uma cópia descarada) estes bonecos tendiam a notabilizar-se pela falta de articulação e movimento. campo em que eram diametralmente opostos às figuras mais pequenas, que, na altura, se revezavam para ver quem conseguia ter MAIS pontos de encaixe de membros. Esta falta de flexibilidade, aliada ao tamanho da própria figura, tendia a tornar impossível a sua convivência com os 'bonecos' mais pequenos, tornando-a, na melhor das hipóteses, candidata a 'monstro da semana' e, na pior, um bocado de plástico duro fadado a ser usado como 'noivo' de uma qualquer boneca pela irmã mais nova.

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Outro exemplo fabuloso, este com comparação de escala.

Ainda assim, por comparação a outras figuras piratas da altura – como as inenarráveis bonecas Sailor Moon, que ameaçavam partir-se a qualquer toque mais forte – este tipo de super-herói até gozava de uma qualidade de construção bastante razoável, sendo mais pesado e 'cheio' do que os bonecos e bonecas invariavelmente ocos e ultra-leves que o rodeavam nas prateleiras das lojas 'dos trezentos' e estabelecimentos semelhantes. E, sem terem sido o brinquedo preferido de ninguém, a verdade é que estes bonecos terão tocado, em algum momento, a infância de quase todos os jovens portugueses da época – sobretudo do sexo masculino – o que os torna, de certo modo, um produto icónico e de referência para a geração nascida e crescida de cada um dos 'lados' do Novo Milénio.

02.07.23

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Já aqui anteriormente falámos dos diversos tipos de bonecas e bonecos para todas as idades disponíveis em finais do século XX e que, além do próprio conceito de emularem uma figura (mais ou menos) humana, partilhavam ainda uma outra característica: o facto de serem frágeis, e poucas vezes resistirem ao manuseamento tipicamente 'bruto' a que eram sujeitos pelo seu público-alvo, a ponto de Barbies ou Action Man sem cabelo, braços ou pernas serem comuns o suficiente para se tornarem um estereótipo, presente inclusivamente em filmes como 'Toy Story'. Assim, não foi de estranhar que, durante a década de 70, uma companhia americana procurasse criar um boneco que evitasse esse tipo de problema – uma figura que acabaria por se chamar Stretch Armstrong e que, nas décadas seguintes, chegaria a todo o tipo de mercados ao redor do Mundo, entre eles Portugal, onde 'aterraria' precisamente nos anos 90.

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As duas versões do boneco, ambas comercializadas em Portugal nos anos 90, e a primeira relançada em 2016.

Distribuído em terras lusas pela Famosa – conhecida sobretudo como a companhia comercializadora dos Nenucos – Stretch Armstrong trazia como principal atractivo o facto de poder ser puxado, esticado e 'maltratado' das mais diversas formas sem se partir nem danificar. Isto porque o corpo do boneco, à excepção da cabeça, era feito de borracha e recheado com um gel especial, que permitia que a figura se mantivesse 'esticada' durante alguns momentos antes de, quase como por magia, regressar à sua forma original – uma proposta irresistível para a grande maioria das crianças daquele fim de século, que podiam, assim, 'abusar' do boneco sem sofrer as normalmente inevitáveis consequências.

De referir que a versão mais conhecida em Portugal do boneco é a segunda, de feições exageradas e roupa de ginásio preta, originalmente lançada nos EUA entre 1993 e 1994 juntamente com uma série de outras figuras, como o cão Fetch Armstrong e o irmão malvado de Stretch, Wretch Armstrong, todos capazes de 'esticar' quase até ao infinito; já a versão original não tinha família nem mascote, e apresentava a aparência típica de um lutador de luta-livre dos anos 70 e 80, com cabelo loiro, tronco nu e uma 'tanga' azul. Ambos estiveram disponíveis no nosso País à época, tendo o segundo sido mesmo relançado já nos anos 2010, podendo ainda ser adquirido.

No fundo, apesar de não ser dos brinquedos mais conhecidos ou falados daquele final de século XX, Stretch Armstrong veio colmatar uma das principais lacunas das bonecas e figuras de acção, e dar às crianças da época algo que elas activamente procuravam num brinquedo desse tipo, merecendo por isso esta pequena homenagem nas páginas deste nosso blog.

15.05.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Em edições passadas desta rubrica, falámos aqui de algumas das mais emblemáticas linhas de 'bonecos' dos anos 90, dos LEGOs aos Pinypons, passando pelos Playmobil e, já um pouco 'fora' desse espectro, os bonecos de borracha para bebés e as figuras de acção articuladas; no entanto, havia à época um outro tipo de figurino que, embora ocasionalmente abordado em outros 'posts' nas nossas páginas, ainda não tinha sido devidamente explorado – situação que, hoje, aqui corrigimos.

Falamos dos bonecos em vinil, um brinquedo extremamente popular e fácil de adquirir nos anos 90, mas que – como aconteceu com tantos outros produtos já abordados nestas páginas – foi perdendo relevância com o passar das décadas; hoje em dia, embora ainda se vão encontrando (sobretudo nos chamados 'mystery bags' ou 'blind bags') este tipo de figuras já não tem a relevância que outrora teve, tendo o seu título sido transferido para os a dada altura mega-populares Funko Pops, as estátuas 'cabeçudas' e de olhos inexpressivos que, hoje em dia, se encontram também eles em declínio.

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Boneco em vinil do Luzinha, mascote de uma campanha da EDP nos anos 90, e um bom exemplo-padrão deste tipo de brinquedo

O conceito das figuras de vinil dos anos 90 era, aliás, precisamente oposto ao dos Funkos: onde estes consistem de um modelo homogéneo, de proporções exageradas, e que é customizado e adaptado consoante quem se deseje representar, os bonecos dos anos 90 procuravam ser o mais fiéis possível à personagem que procuravam representar, de modo a ser imediatamente possível discernir de quem se tratava.

De igual modo, enquanto os Funkos ficam mais próximos do tamanho de estatuetas, os bonecos dos anos 90 eram feitos para serem seguros na palma da mão e transportados no bolso, não passando normalmente de um tamanho equivalente ao de um Pinypon, por exemplo. Isto permitia que, não obstante a sua postura estática e falta de articulação, estes bonecos fossem incluídos em brincadeiras ao lado de qualquer dos tipos de figura mencionados no início deste texto, sem que parecessem fora do lugar ou descabidos no contexto da mesma, como aconteceria com um Funko na mesma situação.

Não nos equivoquemos, no entanto – a principal função destas figuras, tal como dos seus 'primos' actuais, era decorativa; pura e simplesmente, os bonecos 'ficavam bem' numa prateleira, e era mesmo nesse tipo de ambiente que passavam a maior parte do seu tempo. Ainda assim, quando tocava a integrá-los numa brincadeira, eram poucas as crianças (independentemente do sexo) que hesitavam em os ir buscar à referida prateleira, para ajudar em fosse qual fosse a guerra, missão ou aventura em que os outros brinquedos estavam prestes a embarcar; no fundo, apesar das suas limitações, estes brinquedos eram tratados como quaisquer outros, o que não se pode dizer em relação aos Funko Pops.

Pode considerar-se que talvez o conceito destes pequenos figurinos seja demasiado 'básico' para as crianças de hoje, com a possível excepção das mais pequenas; no entanto, se o sucesso dos referidos 'saquinhos mistério' fôr indicação, é de prever que este tipo de brinquedo continue, em maior ou menor grau, a existir na esfera social infantil durante ainda algumas décadas...

20.03.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Na última edição desta rubrica, falámos dos peluches, um dos principais tipos de brinquedo para bebé dos anos 90 (e, diga-se de passagem, ainda dos dias que correm); hoje, chega a vez de falarmos de outra categoria de produto para recém-nascidos e crianças muito jovens, não menos popular naquele tempo, embora essa popularidade tenha entretanto diminuído – os brinquedos de borracha 'de piar'.

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Sim, apesar de hoje em dia este tipo de boneco em borracha com um mecanismo de expulsão de ar que provoca um som ao apertar seja mais comummente associado aos animais de estimação, tempos houve em que não havia bebé humano que não tivesse pilhas e pilhas de brinquedos deste tipo, sendo os mesmos quase tão omnipresentes nos quartos de recém-nascido como os próprios peluches. Tematizados ou genéricos, nas mais variadas formas (embora grande parte das vezes representassem animais ou personagens licenciados), estes bonecos faziam as delícias de quem tinha idade para pouco mais do que processar a relação causa-efeito entre o toque no boneco e a emissão do característico 'suspiro' em tons agudos resultante da expulsão de ar – até porque constituíam, além de uma experiência sensorial divertida, também excelentes armas de arremesso...

Infelizmente, tal como também acontecia com os peluches, nem todos os bonecos 'de piar' obedeciam aos mesmos padrões de qualidade, sendo que alguns representavam um perigo activo de ingestão e asfixia, tanto graças a 'pipos' mal afixados ao respectivo brinquedo (e que pareciam ameaçar saltar sempre que o mesmo era apertado) quanto a tintas passíveis de serem sugadas e, subsequentemente, ingeridas – o que, para uma demografia que tem por hábito levar qualquer tipo de objecto à boca, não é, de todo, ideal...

Talvez resida aí a principal razão para o declinio de popularidade deste tipo de brinquedos – ou talvez os tempos tenham, simplesmente, mudado. Seja qual for o caso, a verdade é que, ao contrário dos congéneres de peluche – e à parte os tradicionais 'patinhos' para usar na banheira, que tiraram proveito do estranho fenómeno da nostalgia 'nerd' e 'hipster' para se tornarem novamente relevantes – já é muito raro ver brinquedos deste tipo nos dias de hoje, quer nas lojas (que apostam, sobretudo, no plástico e madeira) quer nas mãos de bebés propriamente ditos. Quem quiser recriar a sua experiência de infância terá, pois, de 'roubar' temporariamente o brinquedo a um cão ou gato, o que não deixa de ser um estranho mas apto reflexo de como as mudanças na sociedade ocidental nos últimos 30 anos afectaram até as mais ínfimas partes da mesma...

06.02.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 80 e 90 foram, no que toca a brinquedos, estranhamente pródigos em linhas de figuras assexuadas e que procuravam retratar tanto a vida quotidiana como cenários algo mais fantasiosos; e depois de já aqui termos falado, em edições passadas desta rubrica, da LEGO (cujas linhas de mini-figuras e acessórios cobriam desde profissões a cenas de lazer da vida quotidiana, passando por versões romanceadas de períodos históricos) e da Pinypon (que procurava reproduzir tanto o quotidiano de uma criança em idade pré-escolar como as fantasias da sua imaginação) chega hoje a vez de falarmos do terceiro membro daquilo que se podia considerar uma espécie de 'Santíssima Trindade' dos brinquedos infantis da época – a Playmobil.

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Criada pelo alemão Hans Beck em 1974 – e chegada à Península Ibérica dois anos depois, então com a designação Famobil - foi, no entanto, nas duas décadas seguintes que a Playmobil viveu o seu período de maior popularidade internacional, tornando-se um êxito de vendas - e presença obrigatória nos anúncios televisivos, catálogos de brinquedos e prateleiras de hipermercados por alturas do Natal - em muitos países, entre os quais Portugal.

Tal facto não é, de todo, surpreendente quando se considera que a linha alemã tem exactamente o mesmo conceito da LEGO, e que mais tarde viria a ser adoptado também pela Pinypon – nomeadamente, figuras estandartizadas, a maioria iguais entre si (os únicos elementos díspares entre os personagens Playmobil eram, normalmente, a cor da camisola, a cor do cabelo, quaisquer potenciais acessórios, e quiçá um qualquer detalhe da pintura, como uma barba, embora também existissem figuras infantis) e que viviam tanto situações perfeitamente quotidianas como mais aventurosas ou romanceadas, sendo muitas destas últimas baseadas em cenários comuns de obras de aventuras, como o Velho Oeste ou a época dos piratas (para a História fica o fabuloso barco pirata comercializado pela marca, um dos presentes de Natal mais cobiçados da década, sobretudo pelo sexo masculino.)

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Uma imagem que dispensa maiores legendas. Admirem, e babem-se.

O facto de a maioria destas figuras mal terem articulação (ao contrário das mini-figuras da LEGO, nos bonecos Playmobil, apenas era possível mexer os braços, e apenas em linha recta) não era impedimento à diversão, já que a maioria dos acessórios e cenários eram especificamente adaptados a esta característica – os cavalos dos 'cowboys' e índios, por exemplo, tinham costas suficientemente largas para encaixarem no ângulo de pernas dos bonecos, permitindo-lhes assim montá-los. Isto tornava as brincadeiras simples e intuitivas, e, como tal, convidativas à exploração alargada e demorada das possibilidades de cada conjunto. A maioria das crianças não se fazia rogada, sendo a linha Playmobil opção recorrente para sessões de 'imaginação' em tardes preguiçosas de fim-de-semana, ou até mesmo depois da escola.

Também à semelhança das suas contemporâneas da LEGO e Pinypon, a linha Pluymobil persiste até aos dias de hoje, tendo, inclusivamente, tido direito a uma adaptação cinematográfica em 2019, a qual passou, no entanto, bem mais despercebida do que a sua congénere da LEGO, anos antes. Também como os LEGOs, e ao contrário do que aconteceu com os Pinypon, os brinquedos da Playmobil mantêm, em grande medida, a sua identidade intacta, embora – novamente como aconteceu com a LEGO – a marca se tenha visto obrigada a diversificar a sua proposta, e a aumentar os seus preços, embora a um nível menor do que o da rival dinamarquesa.

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Como a LEGO, também a Playmobil tem, hoje, linhas licenciadas

Ao contrário do que acontece com a marca das mini-figuras amarelas, no entanto, a Playmobil perdeu, nas três décadas desde o seu apogeu, muita da sua preponderância, sendo hoje pouco mais do que uma recordação nostálgica para a geração que com ela cresceu. Ainda assim, os membros dessa mesma geração podem, hoje em dia, trocar impressões e memórias no portal online Playmogal, que (apesar de pouco participado) prova que, ainda que muito menos preponderante do que em tempos já foi, a marca alemã está longe de estar totalmente desaparecida, e pode ainda – quem sabe – voltar a fazer as delícias das demografias mais novas em anos vindouros...

23.01.22

Ser criança é gostar de se divertir, e por isso, em Domingos alternados, o Anos 90 relembra algumas das diversões que não cabem em qualquer outra rubrica deste blog.

Os anos 90 (tal como a década anterior) são, hoje em dia, justamente lembrados como uma era em que a indústria de fabrico e comercialização de brinquedos obedecia a certos padrões em termos do que era ou não popular. Os rapazes da época, por exemplo, privilegiavam brinquedos ligados à banda desenhada ou aos desenhos animados, ou simplesmente que tivessem um aspecto atractivo, como no caso dos carros telecomandados; já as raparigas procuravam linhas de brinquedos que reflectissem aspectos do quotidiano, fossem eles o dia-a-dia das mães de bebés recém-nascidos, das donas de casa, ou até de uma super-modelo com mansão, carro descapotável e namorado igualmente atraente. Havia, claro, brinquedos que desafiavam esta 'regra', mas até mesmo esses sucumbiam, aqui e ali, aos estereótipos sobre aquilo que as crianças verdadeiramente procuravam – basta atentar nas linhas marcadamente 'sexuadas' oferecidas pela LEGO na época, por exemplo.

Foi com panorama vigente que, ainda nos anos 80, a espanhola Famosa – também responsável pelo Nenuco, pelas Barriguitas e por vários outros dos brinquedos favoritos das meninas da época – decidiu lançar internacionalmente os bonecos e cenários que criara ainda na década anterior, e a que chamara Pin Y Pon (conhecido em Portugal, devido à sua grafia estilizada, como Pinypon.) E como seria de esperar, um dos primeiros mercados abrangidos por esta expansão foi, precisamente, o do país vizinho, onde estes bonecos aterraram algures nos anos 80, prontos para mais de duas décadas de sucesso entre a criançada.

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Com um design estilizado e 'fofinho' (muito semelhante ao que hoje inspira os popularíssimos Funko Pops) e dimensões reduzidas – maiores que uma figura da Lego, mas menores que uma da Playmobil – Pin (o rapaz) e Pon (a rapariga) eram dirigidos a um público mais jovem do que qualquer das suas concorrentes (sensivelmente o mesmo a que se destinava a linha Duplo da LEGO) e traziam como principal atractivo o facto de os seus cabelos serem totalmente removíveis, podendo assim qualquer figura usar o 'penteado' de qualquer outra - uma característica que era acentuada pelo facto de, na maioria das vezes, os bonecos usarem apenas pijamas estilo 'onesie' de cor uniforme, impedindo assim, propositadamente, a distinção entre sexos. Também à semelhança do que sucedia com as mini-figuras da LEGO, certos conjuntos de Pinypon traziam, além do cabelo, alguns acessórios extra, como chapéus, que eram também intercambiáveis, oferecendo assim ainda mais possibilidades a cada brincadeira.

É claro que, para além dos bonecos em si, esta linha oferecia também alguns cenários onde os colocar, a maioria baseada em locais corriqueiros, onde crianças da idade dos dois bonecos se poderiam realisticamente encontrar; no entanto, como seria de esperar numa linha deste tipo, certos destes cenários pendiam mais para a vertente da realização de algumas das mais frequentes fantasias infantis, apresentando locais como circos ou marchas, em que o casalinho de bonecos era protagonista principal.

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Exemplo de um cenário da linha

No cômputo geral, esta era uma linha bastante sólida do ponto de vista conceptual, mas que – como tantas vezes sucede – não tardou a sofrer alterações, em parte impostas pelas alterações no mercado de brinquedos, e pela necessidade de se manter relevante e continuar a vender. Primeiro, os bonecos passaram a ter caras detalhadas, em substituição dos olhos negros e sem pupilas de anteriormente; depois, ganharam articulações; e por fim (já no século XX, e após um hiato de três anos na produção da linha) reinventaram-se com um 'design' estilo 'anime', que os torna praticamente irreconhecíveis para quem com eles brincou nos simples e honestos primórdios dos anos 80 e 90.

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As três gerações de Pinypon

Ainda assim, há que dar mérito a esta linha da Famosa por se ter conseguido 'aguentar' nas prateleiras de brinquedos durante cinco décadas, mesmo depois de a maioria dos brinquedos deste tipo terem perdido totalmente a atenção do público alvo; nesse capítulo, os Pinypons rivalizam apenas com linhas e marcas do calibre da LEGO (que também se viu obrigada a mudar com os tempos), a Barbie, a Polly Pocket ou os referidos Nenucos. Pena que, ao contrário da maioria destas, o tenham feito à custa de uma identidade própria que, no início da sua trajectória, era precisamente o que os distinguia da concorrência...

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