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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

02.10.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

A grande maioria do movimento musical português continua, até hoje, a centrar-se em torno do pop-rock 'de guitarras' de pendor radiofónico, surgido nos anos 70 e consolidado como principal género lusitano nas duas décadas seguintes. Aqui e ali, surgem nomes proeminentes em outros estilos – nomeadamente o hip-hop, o metal e mesmo o tradicional fado – mas os mesmos continuam a ser uma minoria, e até mesmo esta breve 'janela' de oportunidade tende a não se estender a géneros mais periféricos do espectro musical. Serve esta introdução para clarificar que fundar um projecto de rock industrial em Portugal é nada menos do que um acto de coragem – e conseguir mantê-lo activo e relevante durante três décadas, uma façanha digna de ser louvada.

E, no entanto, é precisamente isso que Armando Teixeira e Rui Sidónio têm vindo a conseguir com o projecto Bizarra Locomotiva, cujo último álbum saiu há pouco mais de uma semana à data de publicação deste 'post', que teria sido escrito apenas dois dias após o seu lançamento, não fora o hiato forçado. Ainda assim, mesmo com este atraso, o lançamento de 'Volutabro' continua a ser relevante o suficiente para justificar uma retrospectiva dos seus autores, até por este ano assinalar o trigésimo aniversário do projecto.

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De facto, foi em 1993 que Teixeira e Sidónio procuraram reunir uma banda, com vista a participar no Concurso de Música Moderna de Lisboa. Desse primeiro passo à transição para banda 'a sério' mediariam apenas alguns meses, com o álbum de estreia auto-intitulado a sair logo no ano seguinte, pela independente Simbiose, uma das principais editoras de bandas 'underground' de rock pesado em Portugal.

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O álbum de estreia do grupo, lançado em 1994.

Esse mesmo selo viria, nos dois anos subsequentes, a editar mais dois registos de originais de um grupo que provava ter uma ética de trabalho 'à moda antiga', e que, no tempo que normalmente leva a uma banda a escrever um único álbum, lançava três registos, por entre uma agenda de concertos bastante preenchida – uma atitude que, aliada à qualidade do colectivo, não tardaria a torná-los conhecidos dentro dos círculos do rock, punk e metal portugueses, e que lhes valeria o respeito de nomes como Fernando Ribeiro, dos Moonspell (que viria a participar num dos discos do colectivo) e a participação na Bienal de Jovens Criadores da Europa Mediterrânica, em meados da década. Até final da mesma, tempo ainda para um quarto álbum ('Bestiário', de 1998, novamente pela Simbiose) e para a participação no lendário tributo aos Xutos e Pontapés, 'XX Anos, XX Bandas', com uma reinvenção industrializada do tema 'Se Me Amas' que não deixava de se destacar do som mais clássico e típico de outros colectivos presentes no disco, como os Entre Aspas.

O Novo Milénio via, finalmente, o ritmo de trabalho do grupo abrandar para um ritmo mais normal – nos primeiros dez anos do século XXI, saem três registos de originais, o último dos quais, 'Álbum Negro', de 2009, com intervalo de cinco anos em relação ao anterior 'Ódio' – mas sem beliscar minimamente a reputação do grupo, que perduraria até quando, na década de 2010, o grupo quase parou a produção criativa, soltando apenas um único álbum, o sétimo, intitulado 'Mortuário' e lançado por outra 'grande' independente portuguesa, a Rastilho, em 2015. Pelo meio, o afastamento do fundador e vocalista Armando Teixeira – um acontecimento que ditaria o fim de muitas bandas, mas não dos Bizarra, que, por entre compassos de espera tão forçados quanto necessários, chegariam, após tortuosos oito anos, ao disco correspondente (o oitavo) que prova que pouco ou nada mudou na sonoridade metálica industrial do grupo agora capitaneado por Rui Sidónio, um exemplo de perserverança numa cena que continua a ser ingrata para quem não aposte num estilo radiofónico e vendável. Que contem ainda muitos anos, porque o algo estagnado panorama musical português precisa de 'anomalias' como eles.

Primeiro avanço do novíssimo álbum do grupo, lançado no passado mês de Setembro

07.08.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

Qualquer propriedade intelectual que consiga algum sucesso – seja entre o público infanto-juvenil ou mesmo entre os mais 'crescidos' – estará sempre sujeita ao aparecimento de produtos que tentam utilizar a sua imagem para vender algo pouco ou nada relacionado com a mesma. Mas enquanto que a utilização dos sobrinhos do Pato Donald como porta-voz de cereais ainda pode ser vista como uma conexão com algum sentido, o mesmo não se pode dizer da presença de Songoku e seus amigos na capa de um CD de Europop.

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Um dos mais bizarros produtos já abordados no Anos 90 (crédito da imagem: OLX).

Que a maior febre de recreio de sempre em Portugal não poderia nunca ficar imune a este fenómeno era um dado adquirido; a estranheza vem do método escolhido para capitalizar sobre a popularidade da série. Isto porque, das sete músicas de 'Dragon Ball Z - Vivam os Meus Amigos' (lançado em 1997, no auge da popularidade da série) apenas as três escritas propositadamente pelo chefe do projecto, Fernando António dos Santos ('Kameame', 'Saber Ser Guerreiro' e 'Dragon Mix',) tentam estabelecer ligação com o 'anime' de Akira Toriyama, não constando sequer do alinhamento os lendários temas de abertura de qualquer dos (então) dois capítulos da saga. Mais – as músicas tão-pouco são interpretadas pelos actores da série, ficando, em vez disso, a cargo de vocalistas genéricos, alguns sem sequer direito a apelido nos créditos, caso do vocalista principal Cândido ou de uma tal Ana Margarida.

Quanto ao estilo musical, é o que se poderia esperar – um Eurodance marcadamente 'pimba', típico do período, e que não ficaria a mais num disco dos Excesso, D'Arrasar ou Santamaria (bandas que Cândido e os seus comparsas parecem, aliás, estar a tentar imitar.) Quem esperava algo mais tolo ou divertido, ao estilo de uns Aqua, poderá ficar desapontado, mas aqueles para quem a presença de Songoku na capa já constitui razão suficiente para a compra serão, sem dúvida, menos exigentes – à semelhança, aliás, dos responsáveis por este projecto, que nem sequer se preocuparam em colocar a imagem correcta na capa, já que o CD é alusivo a Dragon Ball Z, mas a ilustração é retirada do ÍNÍCIO da série original, com Songoku pré-adolescente e ainda de 'kimono' azul, e Yamcha com a sua roupa de fora-da-lei, antes de ambos trocarem as respectivas vestes pelo tradicional vermelho da escola do Mestre Tartaruga Genial!

'Vivam os Meus Amigos' destaca-se, assim, sobretudo pelo fascínio exercido por uma obra que consegue não acertar plenamente em absolutamente NADA, e cuja própria existência é, em si mesma, fascinantemente bizarra, justificando os elevadíssimos preços que o disco consegue em sites de leilões. Para quem ainda nutra alguma curiosidade mórbida quanto ao que se pode ouvir nesta 'pérola' da exploração comercial, fica abaixo o álbum completo, para que possam ser tiradas conclusões próprias...

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