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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

10.03.24

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de, hoje em dia, militar na modesta Liga 3 (ao lado de outros históricos do futebol português, como Belenenses e Vitória de Setúbal) a União de Leiria sempre foi - historicamente e em particular em finais do século XX e inícios do seguinte – um dos emblemas-estandarte das divisões profissionais nacionais, daqueles que qualquer adepto da época nem sequer equacionava não ver nas páginas da tradicional caderneta anual da Panini. Por entre classificações honrosas (mas sem nunca 'tocar' nos 'grandes') e as habituais 'subidas e descidas' experienciadas por um clube da sua dimensão, o Leiria conseguia, ainda, revelar uma série de jogadores que, mais tarde, viriam a almejar a mais altos vôos, com destaque para Hélton (histórico guardião do Porto que teve na cidade do Lis a sua primeira experiência futebolística em Portugal) e para os prolíficos avançados Maciel e Derlei, este último 'destinado' a fazer História como um dos poucos jogadores a vestir a camisola de todos os três grandes, e a gozar de sucesso em todos os três.

Em meio a estas revelações, no entanto, o clube alvirrubro contava, também, com a sua quota parte de 'jogadores de clube', aqueles 'Grandes dos Pequenos' que se contenta(va)m com uma carreira estável e o estatuto de ídolo dos adeptos; e, no período em causa, um destes nomes foi o de um médio trasmontano que, durante mais de uma mão-cheia de épocas, assegurou a consistência defensiva no centro do terreno leiriense, e que comemora este Domingo cinco décadas de vida.

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O médio ao serviço do clube onde se notabilizou.

Proveniente do Académico de Viseu, onde se formara e onde tivera as primeiras experiências como futebolista sénior, Luís Miguel Silva Tavares, mais conhecido como Luís Vouzela, chegava a Leiria, no início da época 1995/96, já com créditos de jogador estabelecido, após duas temporadas como peça indispensável do emblema viseense. O 'salto' para um nível consideravelmente mais alto tão-pouco assustou o médio, que, das seis temporadas que passaria no clube do Lis, apenas em uma não conseguiria afirmar-se como indispensável (1997/98, em que apenas amealhou pouco mais de uma dezena de presenças), tendo, nas restantes, sido pedra basilar do meio-campo alvirrubro, sempre com cerca de trinta a trinta e cinco jogos ao longo de cada época. Neste período, o viseense chegou também a partilhar o relvado com nomes sonantes do futebol nacional, como os futuros ídolos portistas Derlei e Nuno Valente, a ex-estrela de Benfica e Porto Tiago, o guarda-redes Costinha, antigo mal amado de Sporting e FC Porto, ou o futuro treinador dos 'leões', Silas, outro 'histórico' do clube.

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Vouzela no Moreirense.

Curiosamente, este honroso e regular registo, bem como o apreço de que gozava junto dos adeptos leirienses, não resultou em vôos ainda mais altos para Luís Vouzela; pelo contrário, os passos seguintes do médio seriam 'para o lado', já que se transferiria para emblemas da mesma dimensão do Leiria, ou até um pouco menores. O que também não mudaria seria o estatuto do jogador dentro dos plantéis de Santa Clara (primeiro) e Moreirense (depois), clubes entre os quais dividiria as épocas entre 2002/2003 e 2004/2005, realizando entre quatro a cinco dezenas de jogos por cada um. O 'salto', no caso para o estrangeiro, ficaria adiado para o fim de uma única época ao serviço do Beira-Mar, também em bom plano, após a qual o médio assinaria pelo Olympiakos Nicosia, de Chipre – à época destino de 'férias pagas' para um sem-número de jogadores portugueses de nível médio.

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Ao serviço do Beira-Mar.

Durou pouco, no entanto, a 'viagem de férias' de Vouzela, que se veria de regresso ao futebol nacional no final dessa época de 2006-2007, após apenas uma dezena de partidas pelo emblema cipriota. O 'remédio' para relançar a carreira passou, assim, por nova descida de nível profissional, com as épocas seguintes a verem Vouzela representar clubes progressivamente mais modestos: Desportivo de Chaves (onde se chegou a cruzar com outro Grande dos Pequenos, Kasongo, na última época do congolês enquanto futebolista), Nelas, e Penalva do Castelo foram os seus destinos nas três temporadas seguintes, antes de 'regressar a casa' para duas épocas no clube que o vira despontar para o futebol, no decurso das quais sofreu uma lesão grave na perna.

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Com a camisola do Chaves.

Ao contrário do que seria de esperar, no entanto, não seria no Académico de Viseu que Vouzela viria a dar por encerrada a carreira, tendo o médio recuperado da referida lesão o suficiente para representar ainda, já com estatuto de veterano, por Nogueirense e Oliveira de Frades, onde viria a terminar o seu percurso, já com quarenta anos feitos.

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No 'seu' Académico de Viseu, já veterano.

Um exemplo de longevidade dentro das quatro linhas, que chegaria ainda a ter um 'gostinho' da carreira de treinador, ao orientar os modestos Campia e Santacruzense durante um par de jogos cada, nas épocas de 2017/18 e 2018/19, respectivamente. Desde então, Vouzela tem-se mantido afastado do Mundo do futebol, preferindo dedicar-se a outras actividades na sua 'reforma', e ser lembrado por aquilo que deu aos campeonatos portugueses nos seus tempos de mais jovem. Parabéns, e que conte muitos.

18.12.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Um dos principais axiomas do futebol jovem é que poucos são aqueles que, destacando-se ao nível da formação, chegarão também a brilhar ao mais alto nível; de facto, na maioria dos casos, ocorre precisamente o contrário, e um jovem que integra as selecções jovens do seu país de origem acaba por não almejar mais do que uma carreira honrosa, mas longe das 'luzes da ribalta' atingidas por outros seus colegas - ou seja, torna-se um 'grande dos pequenos'.

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Tal é, sem qualquer dúvida, o caso de Rui Óscar Neves de Sousa Viana, internacional e campeão europeu sub-18 por Portugal, mas cuja carreira nunca chegou verdadeiramente a 'descolar' da forma que tal início poderia fazer prever; ainda assim, o percurso do ex-defesa pelo futebol profissional foi suficientemente destacado para que, no fim-de-semana em que completa 47 anos de idade, valha a pena dedicar-lhe algumas linhas nesta nossa rubrica sobre os 'actores secundários' dos campeonatos nacionais de futebol dos anos 90.

Natural de Gondomar e formado no FC Porto - ao serviço do qual se sagraria internacional sub-18 e conquistaria o Europeu de 1994 do escalão - Rui Óscar começou por dar nas vistas no histórico União de Lamas, emblema pelo qual realizou a sua primeira época como sénior, contribuindo com um golo ao longo de dezassete partidas. Um início bastante comum para um jovem futebolista da época, mas que não deixou de valer a Rui Óscar a atenção de uma agremiação de maiores dimensões - no caso o Leça, que, naquela época 1995-96, competia ao nível da Primeira Divisão nacional. O defesa nortenho tornou-se assim, durante uma temporada, colega de outro jogador que abordámos nesta rubrica, Serifo, tendo sido presença assídua na equipa leceira, com um total de vinte e sete presenças, e feito por merecer a chamada às Selecções tanto de sub-20 como de sub-21, que representaria, respectivamente, no prestigiado Torneio de Toulon e na qualificação para o Europeu de Sub-21 de 1998.

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O cromo do jogador nos tempos do Leça

Deu-se, então, um 'salto' para Rui Óscar que quase o desqualificaria desta rubrica, tivesse o jogador ido além das duas partidas ao nível sénior pelo FC Porto; ficou-se, no entanto, por aí a contribuição do defesa para o campeonato dos Dragões da época 1996-97, não tendo sequer tido direito a sagrar-se campeão pelo clube que o formara. A temporada  após esta 'aventura' falhada veria, assim, o defesa integrar o plantel do primeiro de dois clubes pelos quais pode reclamar o estatuto de 'grande dos pequenos' - o Marítimo, onde permaneceria durante três épocas e se afirmaria como 'esteio', amealhando um total de oitenta e sete jogos e apontando dois golos.

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Rui Óscar no Marítimo

Apesar do sucesso desta 'aventura' insular, no entanto, o dealbar do novo milénio veria, ainda assim, o defesa regressar à sua zona de origem, ainda a tempo de celebrar a inusitada e inédita conquista do Campeonato Nacional da I Divisão por parte do outro grande clube da cidade do Porto, o Boavista, que negava assim ao Sporting aquilo que, se tivesse acontecido, viria a ser um bi-campeonato, e mais tarde um 'tri'.

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O defesa ao serviço do Boavista

A essa época histórica, seguir-se-iam mais três, durante as quais Rui Óscar marcaria assiduamente presença na equipa boavisteira, ao lado de nomes como Martelinho ou Fary - no total, foram setenta e uma as presenças do defesa ao serviço dos axadrezados entre 2000 (ano em que conseguiu, também, a sua única internacionalização sénior, pela equipa B de Portugal) e 2004, quando se mudou um pouco mais 'para baixo' para representar o futuro clube do ex-colega boavisteiro Fary, o Beira-Mar de Aveiro.

download.jpgÓscar no Beira-Mar

Correu, no entanto, menos bem esta última aventura do ex-internacional português, que somaria apenas três partidas pelos aurinegros, e acabaria mesmo por 'pendurar as botas' no final da temporada, com apenas trinta anos de idade, e com capacidade para, pelo menos, mais um punhado de épocas ao nível a que jogava. Ainda assim, há que respeitar a decisão de um jogador que, nas dez épocas que passou como profissional de futebol, conseguiu deixar a sua marca nos campeonatos profissionais de futebol portugueses de finais do século XX e inícios do XXI, e conquistar o seu lugar entre os verdadeiros 'grandes dos pequenos' existentes no seio dos mesmos. Parabéns, Rui Óscar - e que conte muitos!

13.11.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

Apesar de grande parte da atenção de um adepto de futebol recair nos jogadores de campo, e sobretudo nos da metade ofensiva do terreno, a importância de uma presença e personalidade consistente e talentosa entre os postes não pode ser descurada – sobretudo se a mesma exibir, também, lealdade, brio profissional e genuína dedicação ao emblema que representa.

Serve esta introdução para falar de um nome que, apesar de nunca ter sido dos mais conhecidos ou recordados pelos adeptos portugueses, exibiu, enquanto jogador, todas essas características, afirmando-se como um verdadeiro e autêntico 'grande dos pequenos', e que celebra precisamente hoje, dia 13 de Novembro, o seu vigésimo-segundo aniversário. Falamos de Paulo Sérgio Rodrigues Firmino, comummente conhecido apenas pelos seus dois primeiros nomes, e que foi figura central do histórico Campomaiorense durante as épocas em que o emblema ribatejano militou na então chamada Primeira Divisão nacional.

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O guarda-redes no Beira-Mar, já em final de carreira.

Nascido no Barreiro, na Margem Sul do Rio Tejo, Paulo Sérgio iniciou a sua carreira sénior, não no emblema local, mas no 'vizinho' Vitória Futebol Clube, onde ingressaria na última época da década de 80, com apenas dezanove anos; a primeira oportunidade de alinhar pelo novo emblema demoraria ainda, no entanto, duas épocas a surgir, tendo o guardião efectuado os primeiros jogos pelos sadinos no decurso da época 1991/92, em que alinharia num total de vinte partidas. A época seguinte traria mais do mesmo (19 partidas, cerca de metade das que um clube das divisões superiores realiza no decurso de uma época) antes de Paulo Sérgio voltar a perder preponderância no histórico emblema setubalense, realizando apenas um total de nove partidas ao longo das duas épocas seguintes.

Sem espaço para jogar, foi com naturalidade que o guarda-redes procurou, logo na época seguinte, novas paragens, encontrando nova 'casa' em Campo Maior; também aqui, no entanto, a afirmação tardaria a chegar, tendo Paulo Sérgio acumulado apenas uma dezena de jogos durante a sua primeira época no novo emblema. Desta vez, no entanto, a situação viria a alterar-se logo na época seguinte, quando o ex-sadino se tornaria escolha principal para a baliza do Campomaiorense, posto de que não mais viria a largar mão durante as restantes seis épocas que passou na histórica agremiação; da época de 1996/97 até à sua saída para o Beira-Mar, em 2002/2003, o número mínimo de partidas que Paulo Sérgio amealharia durante uma época seria de dezasseis (na época 1998/99, em que foi suplente de Poleksic, outro histórico da Primeira Divisão da época) ficando este número, quase sempre, bem acima das duas dezenas nas restantes temporadas. Durante este período, o guardião teve, ainda, o privilégio de partilhar o balneário com nomes como Jimmy Floyd Hasselbaink (um dos mais notáveis 'Grande dos Pequenos'), Beto Severo, Isaías, Paulo Torres, Jordão, Isaías, Rogério Matias (outro jogador cuja carreira justifica a presença nesta secção) e outro verdadeiro histórico dos ribatejanos, o angolano Fernando Sousa.

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O jogador ao serviço do clube que o notabilizou.

Tendo em conta este historial, e a forma como acompanhara o clube durante a sua 'queda' da Primeira Divisão e eventual regresso aos escalões secundários, foi talvez com alguma surpresa que os adeptos viram Paulo Sérgio abandonar o Campomaiorense em favor do Beira-Mar, em 2003 – ainda a tempo de fazer uma época em 'alta' pelos aveirenses, alinhando em vinte e quatro das partidas disputadas nessa época, antes de seguir o percurso natural de um jogador em fase descendente de carreira, assumindo papéis de apoio primeiro no próprio Beira-Mar, (onde alinharia em apenas nove jogos no cômputo geral das duas épocas seguintes), depois no Pinhalnovense (onde ficaria uma temporada sem nunca sair do banco) e finalmente no Olivais e Moscavide, onde viria a terminar a carreira em campo - após apenas dois jogos em outras tantas épocas - antes de rumar ao vizinho Oriental, para assumir o cargo de treinador de guarda-redes. Um desfecho honroso para um nome que, apesar de não figurar entre os 'ilustres' da Primeira Divisão de finais do século XX, não deixa, no entanto, de ter desempenhado papel de relevo em alguns dos principais emblemas 'periféricos' da mesma, fazendo, assim, por merecer o epíteto de 'Grande dos Pequenos' - e esta pequena homenagem na data do seu aniversário. Parabéns, Paulo Sérgio - que conte muitos!

04.09.22

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.

O avançado africano parco em técnica mas que compensa esse defeito com muita velocidade e boa compleição física é uma das figuras clássicas do futebol, não só português, como mundial; e se mesmo na era do futebol moderno e 'rendilhado' é possível encontrar exemplos deste tipo de futebolista um pouco por todo o Mundo, escusado será dizer que, na época em que o desporto-rei era bem mais físico e 'feio', os mesmos eram presença constante, sobretudo em clubes e ligas mais 'periféricos'. Portugal não constituiu de todo, excepção a esta regra, bastando lembrar nomes tão icónicos dos campeonatos dos anos 90 e 2000 como Chiquinho Conde, Douala, Cafu (um dos exemplos mais 'acabados' deste tipo de futebolista) ou o 'Grande dos Pequenos' que focaremos esta semana, Faye Fary.

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Um dos inevitáveis cromos da Panini referentes ao jogador

Nome tão conhecido de quem acompanhava o futebol português da época como qualquer dos anteriores, o avançado senegalês chegava a Portugal na segunda metade da década de 90, pela mão da modesta União de Montemor, após ter sido 'descoberto' a jogar na desconhecida ASC Diaraf, do seu país natal, e contratado para reforçar o plantel da referida equipa para a época 1996/97. Seguir-se-iam duas auspiciosas épocas de estreia no futebol europeu, com Fary a não acusar a transição para o futebol europeu (algo que continua a afectar um grande número de futebolistas oriundos de outros continentes, mesmo nos dias que correm) e facturando um total de quarenta golos em pouco menos de sessenta jogos – uma marca admirável, mesmo numa divisão inferior.

Foi, portanto, sem surpresas que a pré-época de 1998-99 viu Fary dar o 'salto' profissionalizante, ao ingressar no histórico Beira-Mar, um dos dois clubes 'pequenos' de que se viria a tornar 'Grande'; no total, foram cinco épocas equipado de aurinegro, durante as quais participou em 165 jogos e marcou 63 golos (tendo-se mesmo afirmado como Bola de Prata da I Liga na temporada 2002-2003), venceu uma Taça de Portugal (logo na sua época de estreia), visitou palcos europeus, e se assumiu como parte importante da equipa principal dos aveirenses, com os quais empreendeu uma viagem de 'ida e volta' entre a I Divisão Nacional e a então chamada II Divisão de Honra.

Os 18 golos do jogador valeram-lhe a Bola de Prata em 2002/2003

Foi já no novo milénio, no entanto, que Fary deu o passo que o tornaria nome de charneira nos campeonatos portugueses, e cimentaria o seu estatuto como 'Grande dos Pequenos' – a transferência para o Boavista, clube onde se viria a tornar símbolo, não obstante a alarmante falta de golos (apenas dezassete em cinco épocas e cem jogos pelo emblema axadrezado), constituindo uma das principais constantes na verdadeira 'montanha russa' que foram os anos após a conquista do campeonato nacional pelos axadrezados, que seriam relegados à II Divisão B umas meras três épocas após o histórico feito.

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O senegalês com a camisola do segundo clube de que se viria a tornar ídolo

Os anos seguintes veriam o avançado senegalês reforçar ainda mais o seu lugar no coração dos adeptos dos dois emblemas nortenhos, primeiro com um regresso ao Beira-Mar, por duas épocas (embora, desta vez, como peça bastante secundário, tendo amealhado umas parcas trinta exibições e quatro golos ao longo desse período) e, mais tarde, com novo ingresso no Boavista, onde viria a fazer as últimas quatro épocas da sua carreira profissional, cimentando o seu estatuto como representante da 'mística' boavisteira no balneário, e recuperando mesmo a sua veia goleadora, com uns honrosos 31 golos apontados em 79 aparições (incluindo 15 em uma época, que lhe valiam o título de melhor marcador da II Divisão B em 2012/2013), o seu melhor registo pessoal desde a viragem do milénio. Pelo meio, ficava uma passagem apagada pelo Desportivo das Aves de 2010-2011, onde nunca 'contou para o Totobola', e que o impede de conquistar a marca bonita de ter representado apenas dois clubes nas suas quinze épocas de carreira no século XXI.

Apesar dos percalços e passos em falso, no entanto, a carreira de Faye Fary não deixa de ser um exemplo perfeito de brio profissional e dedicação a (neste caso) dois emblemas, características que compensavam algumas deficiências técnicas que (presumivelmente) terão sido o único obstáculo a que o senegalês ingressasse num dos 'três grandes' portugueses; ainda assim, aquando da sua reforma - aos quarenta (!!) anos – o jogador podia orgulhar-se de ter sido ídolo de mais do que uma agremiação histórica do futebol português, e de ter verdadeiramente adquirido o estatuto de 'Grande dos Pequenos'. E pensar que tudo começou nas divisões amadoras de meados dos anos 90...

O tributo de um adepto boavisteiros ao jogador, aquando do fim da sua carreira, mostra bem o estatuto de que Fary gozava no seio dos axadrezados

18.10.21

NOTA: Este post é respeitante a Domingo, 17 de Outubro de 2021.

Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos desportivos da década.

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De entre as (cada vez mais) provas que compõem a época futebolística portuguesa, a Taça de Portugal continua a ser a mais acarinhada pela maioria dos verdadeiros entusiastas de futebol. Isto porque, mais do que uma oportunidade para o nosso clube do coração ganhar mais um troféu, a Taça afirma-se como a mais pura das competições desportivas nacionais (talvez em qualquer modalidade) pelo carácter igualitário que fomenta, permitindo a agremiações que normalmente nunca chegariam a ver as luzes da ribalta jogar olhos nos olhos com as principais equipas nacionais, proporcionando-lhes assim, não só visibilidade e receitas, como também a oportunidade de 'fazer uma gracinha'; e embora este último cenário não seja por aí além frequente, a verdade é que, por vezes, a Taça de Portugal lá reserva uma surpresa aos entusiastas de futebol – e os 'nossos' anos 90 foram palco daquela que talvez seja a mais cabal demonstração deste princípio em toda a História moderna da prova: a Taça de 1998-99.

As peculiaridades da referida edição da Taça começaram logo na quinta eliminatória (a primeira considerada pela maioria das listagens 'online'), em que já só se perfilavam dois dos tradicionais 'três grandes' portugueses, tendo o Sporting ficado pelo caminho ainda numa das rondas anteriores. As duas equipas que sobravam, Benfica e Porto, tinham, obviamente, enorme favoritismo, mas também elas viriam a soçobrar logo nessa mesma eliminatória, com o campeão em título a ser alvo de uma das tais 'gracinhas' mencionadas anteriormente, ao ser batido pelo Torreense em pleno Estádio das Antas - num jogo que pôs o nome de Cláudio Oeiras no radar futebolístico português - e o Benfica a perder com o Vitória de Setúbal, no Bonfim, por 2-0 – um mau resultado, sim, mas longe de uma derrota em casa contra uma equipa da II Divisão B...

As desapontantes prestações dos 'grandes', juntamente com alguns 'agigantamentos' de agremiações mais pequenas (talvez motivadas pela janela de oportunidade que as mesmas proporcionavam) resultaram naquelas que talvez sejam as meias-finais mais atípicas da História da prova, sem nenhuma equipa grande, e com a presença insólita do Esposende, o mais valoroso 'tomba-gigantes' numa época repleta deles, mas que viria a claudicar perante um Campomaiorense então ainda no pleno das suas forças; já no outro jogo, o Beira-Mar levava a melhor sobre o Vitória de Setúbal, confirmando assim uma final da Taça entre dois emblemas de meio da tabela do escalão principal – uma lufada de ar fresco que não se viria a repetir, e que permitiria ao Beira-Mar (mediante um golo de Ricardo Sousa) alcançar um feito histórico para o seu palmarés, carimbando o acesso à Liga dos Campeões do ano seguinte e tornando-se a segunda equipa da década a conseguir desafiar a hegemonia dos 'grandes' (sendo a outra o Boavista, no extremo oposto da década, em 1991.)

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A equipa vencedora, em pleno momento de festa após o seu feito histórico

Uma edição da Taça a todos os níveis atípica, portanto, e que provavelmente já não seria possível na era moderna, em que o futebol é clínico e táctico, e os favoritos normalmente acabam mesmo por ganhar. Ainda assim, o desaire do Sporting frente ao Alverca em 2019-2020 mostra que, apesar de improvável, uma repetição desta Taça não é, de todo, impossível – bastando, para isso, que uma das equipas mais pequenas em prova saiba aproveitar as oportunidades, e apanhar os adversários de surpresa. Até lá, e num fim-de-semana em que se celebrou mais uma vez a chamada 'festa da Taça', nada melhor do que recordar o ano em que alguns dos mais históricos emblemas secundários dos campeonatos portugueses tiveram, por breves instantes, o seu 'lugar ao sol'...

 

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