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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

27.02.25

NOTA: Este 'post' é respeitante a Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2025.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Já aqui por diversas vezes falámos da enorme latitude que a hegemonia da Abril-Controljornal sobre o mercado da banda desenhada 'de quiosque' em Portugal lhe permitia. Com a sua principal competição a vir do estrangeiro – nomeadamente do Brasil – a editora responsável pelas revistas Disney e Marvel tinha amplas oportunidades para experimentar os mais diversos conceitos sem, com isso, arriscar perder o seu espaço dentro do referido mercado. A série de que falamos hoje é apenas mais uma dessas tentativas, desta feita tematizada e coerente, mas com uma designação tão genérica quanto confusa, e abertamente baseada em OUTRA série de publicações Disney da mesma editora.

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Os três únicos vestígios da revista restantes na Internet.

De facto, a colecção de volumes conhecida como 'Especial Pateta' é totalmente separada do icónico 'Disney Especial', surgindo, em vez disso, sob a designação 'Hiper Disney', talvez pelo número avultado de páginas. No entanto, os números desta série estão longe de ser apenas variantes do normal Hiper Disney, centrando-se em vez disso em torno de um personagem específico – o eterno coadjuvante de Mickey nas páginas da Abril – o que os aproxima mais de um...Disney Especial!

Confusões à parte, no entanto, o que a (pelo menos) dúzia de títulos publicados há cerca de trinta anos oferece é, precisamente, aquilo que promete: uma selecção de alguns dos melhores momentos de Pateta enquanto personagem principal ou de relevo, divididas entre as habituais histórias mais clássicas e a vertente mais moderna, representada por tramas criadas no Brasil ou em Itália. Para além do generoso tamanho do volume – perfeito para ser lido numa viagem mais longa ou numa tranquila tarde de fim-de-semana – pouco mais há a dizer sobre aquela que é, para todos os efeitos, apenas 'mais uma' das muitas colecções lançadas pela Abril nesta época, mas que decerto não terá deixado de agradar aos fãs da personagem em foco (entre os quais se contava, na altura, o autor deste 'blog', que teria decerto apreciado esta colecção). Nada de essencial ou revolucionário, mas ainda assim uma colecção de revistas de BD bem conseguida, que, três décadas após o seu último volume, merecia ser mais lembrada pelos fãs dos 'quadradinhos' Disney em Portugal.

05.12.24

NOTA: Este post é respeitante a Quarta-feira, 04 de Dezembro de 2024.

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Os anos 90 viram surgir nas bancas muitas e boas revistas, não só dirigidas ao público jovem como também generalistas, mas de interesse para o mesmo. Nesta rubrica, recordamos alguns dos títulos mais marcantes dentro desse espectro.

Já aqui em diversas ocasiões falámos do quase total monopólio que a Abril Jovem (ou Abril-Controljornal) tinha sobre o mercado de banda desenhada em português dos anos 80 e 90. Fosse através de títulos próprios, fosse por meio de importações brasileiras, a editora era responsável por grande parte dos lançamentos vistos nas tabacarias ou quiosques do nosso País, sendo a grande e honrosa excepção a Turma da Mônica, que, a partir de 1987 e até aos primeiros anos do século XXI passaria a pertencer à Globo. Tendo em conta todo este domínio e hegemonia, não é de surpreender que a casa editorial em causa tenha querido, em meados da última década do século XX, 'puxar a brasa à sua sardinha' através do lançamento de uma revista própria quase inteiramente dedicada aos títulos do seu catálogo.

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Mais do que um veículo de propaganda, no entanto (que era), 'Heróis' procurava ser uma espécie de versão portuguesa e muito simplificada da lendária 'Wizard', a referência internacional por excelência para quem se interessava por banda desenhada, jogos de vídeo ou figuras de acção naquela época. Face aos preços proibitivos das edições desta última importadas quer da América do Norte, quer da do Sul, não deixava no entanto de constituir um objectivo nobre querer oferecer aos jovens nacionais uma alternativa com talvez menos qualidade, mas também a uma fracção do preço.

E a verdade é que grande parte do público-alvo, já de si habituados a padrões de qualidade pautados pelo mediano, não pareceu importar-se grandemente com os artigos curtos ou a impressão em papel de jornal, aderindo em massa à 'Heróis' durante o curto tempo da mesma nas bancas. E com alguma razão, já que, ultrapassados estes aspectos menos cuidados ou conseguidos, a revista se afirmava como uma fonte bastante razoável de informação sobre assuntos que interessavam à sua faixa demográfica alvo, sobretudo centrados nos super-heróis da Marvel e DC (que a Abril editava à época) mas passando também pelos mundos dos desenhos animados e dos videojogos, incluindo mesmo uma grelha televisiva com destaques para programas potencialmente do interesse dos mais jovens. Um recurso mais valioso do que poderia à primeira vista parecer, portanto, e que justificava bem o investimento de cem escudos – especialmente se trouxesse acoplada uma carta holográfica (ou Holoucura), como aconteceu com os primeiros números.

Tal como referido anteriormente, foi curto o tempo da vida da 'Heróis'. No entanto, mesmo com esse reduzido intervalo, a revista conseguiu deixar a sua marca junto dos jovens fãs das BD's da Abril – mesmo que hoje se encontre algo Esquecida Pela Net (ainda que seja possível encontrar pelo menos uma digitalização de um dos números publicados, no caso o número 4, que ilustra também esta publicação.) Nada mais merecido, portanto, do que dedicar este 'post' duplo a preservar a memória daquela que foi mais uma publicação de (relativa) qualidade dirigida ao público jovem português da geração 'Millennial'.

23.10.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

De entre as inúmeras máximas populares da língua portuguesa (e não só), 'as aparências iludem' ou 'nem tudo o que parece, é' são duas das que mais frequentemente se demonstram correctas, em todos os aspectos da vida quotidiana, incluindo no tocante à produção criativa e artística. Algo que, à primeira vista, parece inocente ou inofensivo pode, de facto, ser significativamente diferente do que aparenta, sem que tal se torne evidente até depois de o 'mal' já estar feito. O panorama mediático português dos anos 80, 90 e 2000, por exemplo, esteve repleto de exemplos deste paradigma, sendo sobretudo graças ao mesmo que os jovens da época puderam ter contacto com produtos que tinham toda a aparência de lhes serem dirigidos, mas que, de facto, se destinavam a um público decididamente adulto - subterfúgio esse que permitiu a muitas crianças e adolescentes ficar a conhecer séries como 'Os Simpsons' ou 'South Park', e bandas desenhadas como 'Condorito' (uma BD estilo 'brejeiro' importada da América do Sul) ou aquela de que falamos neste 'post', e que, ao contrário dos restantes exemplos, nada tem de divertido, devendo mesmo ter traumatizado a sua quota-parte de jovens à época de lançamento.

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Isto porque 'Maus', de Art Spiegelman (produzido em duas partes entre 1986 e 1991, e lançado em Portugal pouco depois, já com honras de vencedor do Pulitzer) utiliza a imagética tipicamente infantil de canídeos, felinos e roedores antropomórficos – estes últimos os 'Ratos' do título, que nada tem a ver com malfeitores, e reflecte apenas a palavra alemã para designar essa espécie animal – para abordar os horrores do Holocausto em primeira pessoa, através de declarações do próprio pai de Spiegelman, sobrevivente dos campos de concentração da II Guerra Mundial. Os judeus são, assim, transformados em ratos, os Nazis (inevitavelmente) em gatos e os americanos em cães, com a parcela não-judaica da população polaca a ser retratada, pouco honrosamente, como integrante da raça suína. Com estes elementos alegóricos se desenrola, então, uma narrativa que tem tanto de realista quanto o cenário tem de absurdista, numa dicotomia que poderá bem ter deixado os leitores mais incautos (e mais novos), que esperavam uma 'história de ratinhos', com os cabelos em pé. Quem sabia, de antemão, ao que ia não terá, no entanto, deixado de apreciar a mestria com que esse recurso é aplicado à narrativa, a qual valeu ao livro o bem merecido prémio de literatura.

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O impacto de 'Maus' não diminuiu, aliás, com a passagem do tempo. Ao contrário da maioria das obras que aqui abordamos, a duologia de Spiegelman continua não só disponível como presente na memória cultural portuguesa, tendo inclusivamente sido re-traduzida e condensada num só volume, formato no qual se encontra actualmente à venda. Oportunidade perfeita, pois, para quem leu à época apresentar à nova geração esta magnífica obra – desta vez, de preferência, com pré-aviso quanto à natureza da mesma, para evitar os equívocos e potenciais traumas derivados da sua própria abordagem ao trabalho...

25.09.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

As revistas licenciadas têm, desde os primórdios da banda desenhada 'moderna', feito parte integrante do panorama dos 'quadradinhos' mais comerciais, um paradigma que, vistas bem as coisas, acaba por fazer todo o sentido; afinal, estas revistas têm vendas praticamente garantidas junto dos fãs da licença em causa e, no caso de uma propriedade particularmente popular, poderão também atrair novos aficionados ou até leitores mais 'casuais', justificando assim o investimento, mesmo que muitos dos seus ciclos de vida acabem por primar pela brevidade. Os anos 80 e 90, em particular, conhecidos como a época áurea das propriedades ditas 'brinquedéticas' (em Inglês, 'toyetic', ou propício à criação de brinquedos) não poderiam ficar imunes a este fenómeno, tendo sido inúmeros os títulos licenciados a 'tomar de assalto' as bancas americanas durante esse período; e ainda que a maioria delas não tenha transposto o Oceano Atlântico, algumas lograram, ainda assim, chegar às praias lusas, quer na sua edição brasileira (como 'Ewoks', um dos 'comics' de 'Guerra das Estrelas' publicados na linha infantil da Marvel, a Star Comics) quer em formato 'made in Portugal', como com as bandas desenhadas de Indiana Jones, 'Parque Jurássico', 'Guerra das Estrelas' ou – alguns anos antes destas – 'Transformers'.

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Capa do primeiro número da série editado em Portugal.

Editada logo nos primeiros meses dos anos 90, no auge da popularidade dos veículos-robôs em Portugal, a série originalmente concebida e publicada pela Marvel surgia no nosso País não pela mão da Abril (a qual, na altura, ainda não detinha necessariamente a exclusividade nacional de publicação deste tipo de material), mas da Meribérica-Liber, para a qual os 'comics' de acção americanos representavam um desvio considerável do habitual foco na BD franco-belga. Fosse como fosse, Optimus Prime e os seus companheiros passariam mesmo cerca de oito meses na companhia de Lucky Luke, Tintin e Astérix – e se estes heróis apenas esporadicamente viam serem editados álbuns das suas aventuras, os 'robôs disfarçados' tiveram honras de edição quinzenal, como era 'da praxe' para 'quadradinhos' da sua índole.

E a verdade é que a periodicidade não era o único elemento típico da BD de 'Transformers', cujos argumentos e desenhos eram tão típicos da Marvel que não destoariam entre o catálogo da Abril de meados da década de 90; de especial e 'vendável', portanto, apenas a presença dos robôs protagonistas, os quais, à época, eram bem capazes de 'vender' revistas por si só...pelo menos nos Estados Unidos. Em Portugal, onde a série animada teve bastante menos expressão (apesar de os brinquedos serem fáceis de encontrar em qualquer loja especializada) os cerca de setenta números lançados nos EUA desde o aparecimento da série, em 1984, viram-se reduzidos a apenas dezoito, sem que a mitologia criada pelos argumentistas e artistas tivesse deixado entre a juventude portuguesa o mesmo tipo de impacto que teve sobre a americana, onde a série animada original de 'Transformers' continua, até hoje, a ser tida em grande conta, e a contar com fãs de todas as idades. Ainda assim, durante a sua breve estadia nas bancas nacionais, 'Transformers' terá sido capaz de entreter o seu público-alvo pelo menos tanto quanto a congénere alusiva às Tartarugas Ninja – ainda que, como esta, a sua natureza dificilmente conduziria ao estatuto de clássico intemporal almejado por outras publicações da Marvel da mesma altura...

24.07.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

É uma verdade inegável que, de entre todos os personagens da Walt Disney, o Rato Mickey goza do estatuto de 'estrela', tendo desde sempre sido a 'cara' da companhia, e contando-se hoje em dia entre os ícones 'pop' mais reconhecíveis a nível mundial; no entanto, não é menos acertado dizer que o Pato Donald ocupa um segundo lugar muito próximo nessa lista, surgindo à frente de Pateta (o terceiro personagem do 'trio maravilha' da BD Disney) e da própria namorada de Mickey, Minnie. Assim, não é de todo de espantar que, aquando dos dois aniversários marcantes que o pato mais famoso do Mundo celebrou durante os anos 90, a sua editora nacional da altura realizasse uma comemoração 'à altura', tal como fizera por ocasião dos aniversários de sessenta e cinco e setenta anos de Mickey. O resultado foram duas edições comemorativas que – ao contrário do que sucedia com pelo menos uma das do Rato Mickey – valia bem a pena ter na colecção para quem fosse fã da irascível ave aquática de fato de marinheiro.

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A primeira destas, que comemora dentro de um par de dias (a 26 de Julho) o trigésimo aniversário da sua chegada às bancas, era alusiva aos sessenta anos de Donald, e trazia quase duzentas e quarenta páginas com quase duas dezenas e meia de histórias protagonizadas pelo pato aniversariante e seu restante núcleo, com especial ênfase para os seus sobrinhos, catalistas da dinâmica familiar presente em muitas histórias do personagem. Infelizmente, das vinte e quatro aventuras que compunham o volume, a esmagadora maioria era de produção (à época) moderna, tendo sido originalmente publicada em meados da década de 80, o que fazia da edição pouco mais do que um Hiper Disney tematizado em torno do aniversário de Donald. Ainda assim, uma edição de valor para quem privilegiasse o coleccionismo, pese embora o proibitivo preço (quase setecentos escudos, uma 'pequena fortuna' em 1994, sobretudo no tocante a banda desenhada).

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Previsivelmente, muitas das falhas dessa primeira edição eram corrigidas na segunda, saída quase exactamente cinco anos depois, no mesmo mês de Julho (embora a data exacta de publicação não se encontre, neste caso, disponível) e que comemorava os sessenta e cinco anos do pato marinheiro. De facto, apesar de contar com apenas dois terços das páginas da 'irmã mais velha' (menos de duzentas), esta edição tirava o máximo proveito do espaço de que dispunha, apresentando não só uma mistura mais equilibrada de histórias antigas e modernas (com mais de metade – cinco em nove – assinadas por Carl Barks) como também uma estrutura seccionada por temas, cada um deles introduzido por uma página de texto informativo, e ainda uma capa e contra-capa dedicadas e devidamente assinaladas. Medidas que, em edições menos especiais, poderiam parecer 'para encher chouriços', mas que, neste contexto, dão ao volume o carácter diferenciado que se espera de uma edição de aniversário – e tudo por menos de quinhentos escudos, o que, em 1999, era consideravelmente menos do que os setecentos de 1994! Estes pequenos mas nada insignificantes ajustes ajudavam a fazer da edição '65 Anos' a melhor das duas, e mais do que colmatavam a redução em conteúdo e número de páginas, tornando-a quase essencial para fãs do temperamental pato.

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De realçar ainda duas edições, ambas de 1994 e ambas publicadas à margem das 'oficiais' da Abril: 'Feliz Aniversário, Donald – O Livro de Ouro das Suas Melhores Histórias', publicada pela RBA Editora como parte da colecção 'Disney em Banda Desenhada', e o livro do mesmo título da colecção 'Clássicos da BD'. Ambas são bem sucedidas em transmitir a sensação de 'edição de luxo', com as suas capas encadernadas e de cuidado desenho, mas (apesar dos títulos quase idênticos) os conteúdos de ambas são vastamente diferentes: o volume da RBA Editora segue, em larga medida, a mesma linha das edições da Abril, abrindo com três páginas dedicadas à génese do personagem e uma quarta com instruções sobre como desenhar Donald, e partindo daí para uma colectânea de histórias de todas as eras do personagem, enquanto o segundo livro foca-se, sobretudo, nas informações sobre a génese e percurso do aniversariante, descurando o aspecto de BD em si (embora contenha ainda duas histórias, nas últimas páginas.) Duas abordagens completamente diferentes, mas que resultam ambas bastante bem, podendo mesmo ser consideradas melhores do que qualquer das propostas da Abril/Controljornal, as quais não tinham quaisquer pretensões a ser algo mais do que revistas aos quadradinhos ligeiramente mais luxuosas do que a média.

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Independentemente do volume em que recaísse a escolha do jovem leitor, no entanto, uma coisa é certa: o sexagésimo e sexagésimo-quinto aniversários de Donald foram celebrados com tanta ou mais pompa e circunstância que o do 'melhor inimigo', e providenciou aos fãs do pato mais famoso do Mundo muito e bom material de leitura durante aqueles Verões de 1994 e 1999. Feliz aniversário, Donald, e que contes ainda muitos.

24.04.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

Em tempos considerado a personalidade mais conhecida em todo o Mundo (fosse fictícia ou de 'carne e osso') o Rato Mickey continua, até hoje, a ser um ícone verdadeiramente intemporal da cultura popular, presente no imaginário infanto-juvenil de todas as gerações surgidas desde a sua criação em finais dos anos 20, e sempre com o mesmo (alto) nível de popularidade. Assim, não é de surpreender que cada novo aniversário do roedor mais famoso do Mundo seja motivo para celebração, com um sem-número de eventos alusivos à data e transversais a todas as áreas culturais em que o rato de Walt Disney se inseriu; e, sendo a banda desenhada uma das principais de entre elas, tão-pouco é de espantar que se tenham verificado, ao longo dos anos, uma série de edições comemorativas, lançadas um pouco por todo o Mundo.

Enquanto mercado da 'linha da frente' no consumo de banda desenhada em finais do século XX, Portugal não podia, claro, ser excepção a esta regra, tendo visto serem lançadas uma série de especiais alusivos ao aniversário de Mickey, pela mão da Abril, então detentora dos direitos de edição das BD's Disney em Portugal. O primeiro destes, de 1988, era uma verdadeira edição histórica, com vários volumes que traçavam o percurso de Mickey através das décadas; já o segundo pouco passava de uma revista vulgar, com as únicas alusões à efeméride a terem lugar no desenho de capa – e, para cúmulo, lançada com atraso de quase um ano! Um deslize que, crédito lhe seja feito, a editora tentou corrigir com o lançamento seguinte, editado há vinte e cinco anos, por ocasião dos setenta anos de Mickey, que surgia em formato encadernado e dividida em dois volumes, num total de quase duzentas páginas de banda desenhada.

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Capas dos dois volumes do especial, cada um com cem páginas.

Felizmente, tal como acontecera com o especial de 1988, também aqui a qualidade do conteúdo se coadunava com a apresentação, surgindo cada um dos volumes dividido em secções temáticas, cada uma com um respectivo texto introdutório e explicativo. O primeiro volume trazia, assim, uma parte dedicada às tiras diárias de Floyd Gottfredson, outra ao detective Sir Lock e outra à 'Patrulha Estelar' que trazia Mickey e Pateta como astronautas e heróis futuristas; já o segundo tomo trazia secções alusivas aos principais coadjuvantes e personagens secundários do universo de Mickey, como o Capitão Plim, o extraterrestre Esquálidus e o inevitável Pateta – embora, estranhamente, deixando de fora nomes tão icónicos como João Bafo-de-Onça, Mancha Negra e, claro, a namorada do herói, Minnie. Deste volume faziam, ainda, parte um texto genérico sobre outros personagens, um 'cantinho do artista', onde eram publicados alguns desenhos enviados para a editora por fãs do rato e respectivos amigos, e uma história interactiva, em prosa, que convidava os leitores a resolverem o mistério de onde estaria o bolo de aniversário de Mickey.

No cômputo geral, portanto, uma edição que fazia por justificar o (sem dúvida exorbitante) preço de capa, e por 'emendar a mão' após a 'derrapagem' por altura dos sessenta e cinco anos do personagem – objectivos que atingiu com louvor, perfilando-se como uma homenagem tão adequada como justa e sentida a um dos maiores personagens de banda desenhada de sempre, que (aos quase cem anos de 'vida') continua tão relevante como sempre foi.

14.02.24

A banda desenhada fez, desde sempre, parte da vida das crianças e jovens portugueses. Às quartas, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos títulos e séries mais marcantes lançados em território nacional.

O universo 'Star Wars', ou 'Guerra das Estrelas', tem, tradicionalmente, sido um dos que mais se auto-actualiza e expande de entre todos os da cultura 'pop'. Mesmo durante os longos intervalos de quase uma década e meia entre trilogias de filmes, continuam a ser editadas um sem-número de obras paralelas e periféricas, a maioria das quais serve um de dois grandes objectivos: apresentar aos fãs novos personagens dentro da mitologia da série (muitos dos quais são, depois, referenciados nos filmes e séries 'principais') e dar a conhecer eventos no passado ou futuro da cronologia da mesma, sejam referentes aos heróicos Jedi ou aos maléficos Sith, o famoso 'Império' que origina os principais vilões da série.

Por sua vez, grande parte destas 'expansões' e aventuras paralelas desenrolavam-se através de banda desenhada, um meio visual que se insere na mesma categoria de cultura 'pop' que os próprios filmes da série, e que tende a atrair o mesmo público, não sendo, pois, de espantar que sejam inúmeras as séries de BD alusivas à franquia publicadas ao longo das últimas quatro décadas. E se, em Portugal, foi a Planeta DeAgostini a principal responsável pela edição da maioria dos títulos de banda desenhada da 'Guerra das Estrelas', não foi à famosa veiculadora de colecções em fascículos que coube a honra de publicar a primeira aventura da saga a chegar ao território português; esse marco ficou a cargo da inevitável Abril-Controljornal, a qual, em 1997, utilizava a sua ligação ao mercado das revistas de super-heróis para fazer chegar às bancas lusitanas uma mini-série de seis números da Dark Horse Comics, intitulada 'Star Wars: Império das Trevas'.

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Capa do primeiro número da série. (Crédito da foto: Station Comics, no Facebook)

Originalmente publicada no início da década com o título 'Star Wars: Dark Empire', a série a cargo do desenhista Cam Kennedy e do argumentista Tom Veitch (este último conhecido pelo seu trabalho com a DC Comics, algum do qual já então publicado pela Abril no nosso País) a série 'Império das Trevas' relata os acontecimentos imediatamente posteriores ao fim de 'O Regresso de Jedi', e à aniquilação do Império pela Aliança Rebelde. E, ao contrário do que poderia ter sido expectável, não são tempos felizes os que então se vivem, com a República a demonstrar um misto de inexperiência e fragilidade bélica, que motiva os sobreviventes do Império a juntarem-se e assumirem o comando do quarto da Galáxia ainda não dominado pelos seus opositores, dando assim origem a mais uma 'Guerra nas Estrelas'. Numa das batalhas desse novo conflito, Luke Skywalker e Lando Calrissian despenham-se e são capturados, cabendo agora a Han Solo, Leia Organa, Chewbacca e aos inseparáveis dróides R2-D2 e C-3PO salvar os seus companheiros. Um enredo entusiasmante e repleto de possibilidades, que não deixou de entusiasmar os fãs nacionais da saga, como já o havia feito com os seus congéneres norte-americanos.

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Exemplo do argumento e desenhos da mini-série.

O sucesso desta mini-série foi, aliás, tal que não só motivou a edição de novos materiais de 'Star Wars' no nosso País – em banda desenhada e não só – como também uma reedição por parte da Planeta DeAgostini, já no século XXI, quando a editora espanhola detinha já a quase exclusividade sobre os 'comics' da saga. É possível, no entanto, que as condições mais do que favoráveis por detrás desse relançamento (bem como do subsequente livro que reunía esta mini-série e as suas duas sequelas num só volume) nunca tivessem sido atingidas sem o esforço e a coragem da Abril-Controljornal, que – dois anos antes do lançamento da primeira 'prequela' e depois da reedição dos filmes originais em VHS, e durante uma 'fase baixa' para a franquia – utilizou o seu estatuto hegemónico para 'arriscar' na publicação desta aventura, ajudando assim a introduzir os milhares de fãs nacionais de 'Star Wars' (a maioria sem acesso a revistas importadas) ao 'universo paralelo' gizado nas páginas dos 'comics' americanos da saga, e suscitando-lhes o interesse por saber mais sobre o mesmo...

17.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A última Quarta aos Quadradinhos foi dedicada à adaptação oficial em BD de 'Indiana Jones – Crónicas da Juventude', a série de TV que serviu, em 1992-93, de prequela às aventuras cinematográficas do arqueólogo e aventureiro Henry Jones Jr.; nada melhor, portanto, do que dedicarmos a edição seguinte desta rubrica à outra adaptação em banda desenhada do personagem de Steven Spielberg e George Lucas, esta directamente relacionada com a trilogia inicial de filmes lançada nos anos 80 e inícios de 90.

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Capa do primeiro dos quatro números da série.

Trata-se de 'Indiana Jones e a Última Cruzada', mini-série originalmente lançada pela Marvel ainda nos anos 80, e que surgia em Portugal nos primeiros meses da década de 90, nos mesmos quatro volumes da edição original e, curiosamente, pela mão da Meribérica-Liber (conhecida, sobretudo, pelos seus álbuns de BD franco-belga) e não da Abril Jovem, que detinha, à época, os direitos de edição nacionais da maioria dos títulos da Marvel e DC. O conteúdo, esse, não deixava margem para quaisquer surpresas, tratando-se de uma recriação do enredo e cinematografia do filme em formato gráfico, que se inseria declaradamente na então bastante popular categoria das adaptações de filmes em banda desenhada, que veria também serem editados em Portugal, na primeira metade dos anos 90, álbuns e colecções alusivas a 'Batman Para Sempre' e 'Parque Jurássico'.

Ao contrário do que acontecia com aquelas obras, no entanto, esta adaptação em BD apresenta uma série de pequenas diferenças, justificadas pelo facto de a adaptação gráfica se basear na novelização oficial do filme, onde se verificavam os mesmos desvios. Nada que prejudique a experiência ou até o desfecho da trama, no entanto, sendo que qualquer fã dos filmes se sentirá em 'território familiar' ao explorar a obra do argumentista David Michelinie (à época um nome sonante no seio da Marvel) e dos artistas Brett Blevins e Gregory Wright. Uma proposta interessante, pois, para quem queira 'mergulhar' no 'Universo circundante' da franquia 'Indiana Jones', e descobrir um pouco do 'merchandising' e produtos complementares que a mesma gerava no auge da sua popularidade – dos quais esta adaptação em 'quadradinhos' está longe de ser a mais inusitada.

03.01.24

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.
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As adaptações de filmes e séries populares em banda desenhada foi um dos principais filões da banda desenhada de finais do século XX, com muitas criações audio-visuais da época a terem direito ao seu próprio álbum oficial em 'quadradinhos' - ou até mesmo a uma série completa, como no caso da colecção que abordamos nesta primeira Quarta aos Quadradinhos de 2024.

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Os primeiros dois números da série (crédito da foto: CustoJusto.pt)

Lançada em Portugal há pouco mais de trinta anos (em 1993, menos de um ano após a edição original norte-americana) pela TeleBD - 'braço' da TV Guia dedicado aos quadradinhos que também lançaria adaptações em BD das 'Tartarugas Ninja' e do 'Capitão Planeta', no mesmo período - 'Indiana Jones - Crónicas da Juventude' propunha-se servir de complemento ao programa televisivo do mesmo nome, à época em exibição no nosso país, e que viria também a justificar o lançamento de uma série de livros, por parte da Europa-América. Nos três casos, a premissa era a mesma: relatar algumas das aventuras e peripécias do arqueólogo aventureiro Henry Jones Jr. durante os seus anos de infância e adolescência, ao lado do pai, Henry Sr. (famosamente interpretado por Sean Connery em 'Indiana Jones e a Última Cruzada', segundo capítulo da trilogia cinematográfica original, também ele adaptado em BD, lançada em Portugal pela Meribérica) e de alguns outros personagens criados especificamente para a série.
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A banda desenhada não foge a este padrão, sendo que os sete volumes lançados em Portugal pela Tele BD (doze no original americano) incluem várias novas-velhas aventuras protagonizadas pelo jovem Henry e pelos seus amigos na década de 1910, nas mais diversas partes do Mundo, do Egipto ao México, África ou aos campos de batalha da I Guerra Mundial. Em todas estas localidades, 'Indy' e os seus companheiros terão de se haver com malfeitores e resolver mistérios arqueológicos antigos, bem ao estilo do que o arqueólogo de chicote e chapéu viria a fazer nos seus anos de 'crescido'. Apesar de díspares, no entanto, estas aventuras possuíam, ainda assim, um elo de ligação: o argumentista Dan Barry, que trabalharia com uma série de diferentes equipas artísticas ao longo da curta duração do título (precisamente um ano na edição original norte-americana, e apenas sete meses no caso da portuguesa). A permanência do argumentista ao longo de toda a série ajudaria a manter uma certa coesão entre os diferentes números, que compensava os estilos de desenho e arte-final algo díspares, e dava à série uma atmosfera muito própria.

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Exemplo da arte e argumento da série (crédito da imagem: CustoJusto.pt)

Ao contrário de muitos outros títulos que aqui abordamos, a razão para o fim de 'Indiana Jones - Crónicas da Juventude' (tanto em Portugal como nos EUA) é bastante óbvia, tendo o fim da série televisiva - e, subsequentemente, do interesse na mesma - assinado a 'sentença de morte' para produtos periféricos e derivados, como o é esta colecção da Dark Horse. Ainda assim, para um produto puramente motivado pelo lucro, a série em causa até consegue manter um padrão de qualidade elevado, ao nível das restantes obras da editora original, que faz com que valha bem a pena uma 'revisita' por parte dos fãs do arqueólogo e aventureiro criado por Steven Spielberg - isto, claro está, se conseguirem encontrar as edições em causa...

22.11.23

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Uma das primeiras Sessões de Sexta do nosso blog teve como tema 'Parque Jurássico', a mega-produção de Steven Spielberg que se viria a tornar um dos mais bem-sucedidos, icónicos e memoráveis filmes dos anos 90, e a gerar um sem-número de items de 'merchandising' com o seu logotipo, dos habituais videojogos, peças de roupa e réplicas em borracha dos dinossauros do filme a porta-chaves, bolsinhas para documentos, e até uma adaptação oficial em banda desenhada. Logicamente, é sobre esta última, editada em Portugal no mesmo ano em que o filme chegava aos cinemas - 1993 - que nos debruçaremos neste post.

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Capas de três dos quatro volumes da mini-série. (Crédito da foto: Trade Stories)

Tendo em conta o considerável sucesso e legado do filme em que se baseia, é nada menos do que surpreendente constatar que a BD de 'Parque Jurássico' está praticamente Esquecido Pela Net. De facto, àparte a listagem oficial no site Bazar0 e um único anúncio de edições para venda (de onde retirámos as imagens para este post) é praticamente nula a informação relativa à edição portuguesa desta mini-série, lançada no nosso País em quatro volumes pela inexpressiva Alfama Editores.

Talvez resida, precisamente, aí a razão do 'falhanço' desta BD – a falta de uma infra-estrutura ao nível de uma Abril/Controljornal (já para não falar nas editoras de BD franco-belga ou álbuns de tirinhas norte-americanas) terá impedido a referida publicação de ser 'escarrapachada debaixo do nariz' do público-alvo, que – ao contrário do que acontecia com as revistas da Disney, Marvel, DC ou mesmo da Turma da Mônica – dificilmente terá sabido da sua existência. O autor deste blog, por exemplo, enquanto fã do filme, não teria decerto perdido a oportunidade de adquirir os quatro volumes, caso tivesse tido sequer ideia da existência dos mesmos, o que nunca chegou a acontecer.

Assim, trinta anos após a sua edição original, tudo o que resta da edição portuguesa de 'Parque Jurássico' em BD são as quatro capas, uma única página, e a contracapa, que anunciava o jogo do filme para SEGA Mega Drive (e se 'esquecia' de retirar do mesmo a pontuação espanhola). É, pois, necessária uma pesquisa pela edição original norte-americana, lançada pela Topps, para ter ideia de quem escreveu e desenhou os volumes, que contaram com a participação de nomes sonantes da BD norte-americana da época, como os desenhistas Gil Kane, George Perez e Art Adams ou os argumentistas Walter Simonson (marido de Louise, que escrevia, na mesma época, para o 'Super-Homem') ou David Koepp.

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Exemplos da arte dos volumes e do anúncio da contracapa, alusivo ao jogo para Mega Drive. (Crédito das fotos: Trade Stories)

Em suma, um lançamento, à época, extremamente relevante, 'fadado' ao sucesso e que teria, sem dúvida, agradado à 'legião' de fãs do filme, não fossem os problemas de divulgação e distribuição que, presumivelmente, o terão mantido restrita a um número muito reduzido de quiosques, tabacarias e papelarias, e impedido que se tornasse o 'marco' da BD portuguesa noventista que poderia ter sido, dado o sucesso do material de base. Em vez disso, a adaptação 'aos quadradinhos' de 'Parque Jurássico' perfila-se, hoje, sobretudo como prova cabal da importância e influência qde boa infra-estrutura editorial no 'destino' de qualquer publicação, sobretudo naqueles anos pré-Internet, em que a tiragem era 'rainha', e em que uma oportunidade aparentemente imperdível podia claudicar apenas e só por falta de divulgação, como parece ter sido o caso com esta mini-série.

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