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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

21.02.23

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Apesar de os anos 80 e 90 serem, normalmente, tidos como a era, sobretudo, dos avanços tecnológicos, este esteve longe de ser o único campo a sofrer evoluções; pelo contrário, foram vários os sectores a evidenciar progressos durante esta época da História, ainda que nem todos de forma tão 'declarada' ou evidente como o da tecnologia. A área do audio-visual, por exemplo, evoluiu também bastante durante estes anos – um fenómeno que, em Portugal, se fez verificar principalmente através da duplicação, num período de apenas quatro meses em inícios da década de 90, do número de canais televisivos em Portugal.

De facto, se à entrada para o segundo semestre do ano de 1992, Portugal tinha apenas os mesmos dois canais de que sempre dispusera – mais as respectivas 'filiais' regionais disponíveis por satélite – em inícios do ano seguinte, a situação era já significativamente diferente: em Outubro de 1992, a oferta aumentara para três canais, com o aparecimento da primeira emissora privada em território nacional, a SIC, e logo em Fevereiro de 1993, verificar-se-ia o aparecimento de uma segunda estação privada – uma estação com imagética alusiva aos Descobrimentos nos seus separadores e até no símbolo (que fazia lembrar a vela de uma caravela), informalmente conhecida nos seus primórdios como 'a Quatro', e cujo nome oficial viria, anos mais tarde, a polarizar todo um País.

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Falamos, claro está, da TVI, a qual celebrou ontem, 20 de Fevereiro de 2023, os exactos trinta anos da sua primeira emissão – oportunidade perfeita, pois, para fazermos uma breve retrospectiva dos seus inícios, à semelhança da que dedicámos à SIC aquando dessa mesma marca.

Corria a última semana de Janeiro de 1993 quando uma nova emissora, então ainda sedeada em Cabo Ruivo, e que mais tarde se mudaria para Queluz, levava a cabo a sua primeira emissão experimental: duas horas de 'ensaio', com transmissão de filmes e séries, que tinham honras de notícia no Telejornal da concorrente RTP (algo impensável hoje em dia), onde José Nuno Martins, director do novo canal, compreensivelmente se 'fechava em copas' e 'fazia questão de não dizer' nada sobre a nova estação, baptizada TVI – oficialmente 'Televisão Independente', mas também, para alguns, 'Televisão da Igreja', face à sua principal 'financiadora'.

De facto, a 'Quatro' era, aberta e declaradamente, um projecto da Igreja Católica, um facto que chegaria a influenciar certos aspectos da sua programação dos 'primórdios'; no entanto, o principal foco não eram tanto os conteúdos religiosos, mas sim as séries estrangeiras, que a emissora importava em exclusivo (como foi, fmaosamente, o caso com 'Ficheiros Secretos') ou 'recauchutava' dos arquivos da televisão estatal, como era o caso com 'Marés Vivas', 'MacGyver', 'O Justiceiro' ou 'Esquadrão Classe A', estes últimos na icónica dobragem brasileira. Os filmes eram outro dos principais 'pontos de venda' do novo canal, que se esforçava por exibir obras ainda inéditas em Portugal. Esta estratégia viria, rapidamente, a render dividendos para a TVI, que cresceria a olhos vistos durante os dois anos seguintes, integrando-se na rede satélite (que lhe permitia chegar às ilhas) e arriscando mesmo novas experiências, como o falhado formato 16:9. Programas marcantes, esses, também não faltavam, com 'A Amiga Olga', o 'Jogo do Ganso''A Casa do Tio Carlos' ou 'Circo Alegria'/'Vamos ao Circo' a ficarem, particularmente, na memória de quem crescia durante aqueles anos.

O verdadeiro 'salto', no entanto, dar-se-ia em 1997, quando a poderosa Media Capital adquire capital social na estação de Queluz, e dá início à mudança de paradigma que, a longo prazo, resultaria no canal que os Portugueses conhecem hoje, de cariz assumidamente popular e até um pouco sensacionalista, e com forte aposta na ficção nacional, em particular nas telenovelas, em que foi pioneira. De facto, por alturas da viragem do Milénio, a emissora era, já, praticamente irreconhecível, fazendo de programas como o 'Batatoon' e 'Mix Max', 'sitcoms' como 'Bora Lá Marina' (com a icónica Marina Mota) ou séries como 'Super Pai' os principais esteios da sua programação, e relegando para segundo plano as séries estrangeiras que a haviam alicerçado nos seus inícios (embora ainda houvesse espaço para 'Seinfeld' ou 'Profiler', e mais tarde 'CSI'.) Uma transformação que não deixaria indiferente quem, poucos anos antes, vira em directo os primeiros passos daquele canal tímido, até introvertido, que emitia em horário limitado e parecia perfeitamente contente em transmitir séries estrangeiras, e que agora se assumia como concorrente extrovertido e confiante ás mesmas emissoras que, naqueles primórdios, lhes concediam tempo de antena durante o Telejornal. Feliz aniversário TVI – e que continues a afirmar-te como uma alternativa durante muitos mais.

 

20.02.23

Qualquer jovem é, inevitavelmente, influenciado pela música que ouve – e nos anos 90, havia muito por onde escolher. Em segundas alternadas, exploramos aqui alguns dos muitos artistas e géneros que faziam sucesso entre as crianças daquela época.

E em pleno período de Carnaval, nada melhor do que recordar aquele que foi um dos discos de maior sucesso entre a 'criançada' portuguesa noventista, e que tinha como intérpretes uma dupla de palhaços, um dos símbolos máximos desta época do ano.

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Capa e alinhamento do álbum.

Falamos do primeiro dos quatro (!) álbuns alusivos ao programa infantil Batatoon, lançado em 1999, e que foi talvez o expoente máximo do 'império' comercial derivado daquele que foi, também, um dos maiores sucessos da década junto do público-alvo, cuja licença se estendia ainda a uma revista e a um sem-número de produtos com as caras dos apresentadores Batatinha e Companhia; no entanto, era mesmo o CD ou cassette que os pequenos fãs do programa mais procuravam, tendo-se este álbum rapidamente tornado um êxito, não só em termos de vendas, mas também de popularidade entre a demografia em causa.

As razões para tal estatuto eram simples, e estavam ligadas ao facto de, ao contrário de outros álbuns infantis licenciados do mesmo período, como o d''Os Patinhos', este lançamento consistir, não apenas de duas ou três faixas 'licenciadas' – neste caso, os dois temas-título e a música dos 'Parabéns', as músicas mais populares do programa - rodeadas de versões de cantigas do domínio público; em vez disso, o restante alinhamento consistia de músicas verdadeiramente ouvidas no contexto do programa da TVI, aproximando assim o disco de algo como 'As Canções do Lecas' ou dos álbuns do Buereré ou da Arca de Noé, que se podem considerar seus precursores directos

O que muitas das crianças que vibravam ao som de 'Croc Croc' ou 'O Cãozinho Entra na Roda' certamente não saberiam à época era que estas mesmas músicas eram adaptações quase directas do repertório da famosa Xuxa, lenda viva dos programas infantis brasileiros, ou de outros conjuntos infantis daquele país, como o Trem da Alegria, com apenas muito ligeiros ajustes de linguagem para os trazer do Português do Brasil para o europeu, reduzindo assim a necessidade de compôr e gravar temas originais...

Comparação entre a versão original brasileira de 'Croc Croc' e a adaptação portuguesa incluída no álbum.

Mérito, ainda assim, para os dois intérpretes, que conseguiram não só 'trazer' estas músicas para o outro lado do Oceano Atlântico, mas também torná-las sucessos junto de um público infantil algo diferente do do brasileiro – até porque muitos destes temas tinham já mais de uma década de existência quando 'aterraram' na Península Ibérica pela mão dos dois palhaços. E apesar de muitas das crianças que corriam às prateleiras das lojas de discos ou supermercados para adquirir o CD só quererem ouvir o 'Ba Bata Batatoon' ou o tema de abertura, a verdade é que Batatinha e Companhia (ou os seus produtores) ofereciam um produto mais cuidado e completo do que a média, fazendo com que o dinheiro investido neste álbum ou nos seus sucessores directos se pudesse considerar bem gasto.

 

15.11.22

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

Desde a criação deste blog, e desta secção em particular, temos vindo a recordar inúmeros exemplos de programas infanto-juvenis memoráveis transmitidos nos anos 90, quer no tocante a blocos de desenhos animados, como o Buereré, a Casa do Tio Carlos, o Mix-Max, o Brinca Brincando ou o Batatoon, quer a concursos, como a Arca de Noé, Tal Pai, Tal Filho ou o(s) programa(s) que hoje aqui abordamos: o Circo Alegria, e a sua 'continuação não-oficial', o 'Vamos ao Circo'.

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Logotipo do 'Circo Alegria', o primeiro dos dois programas em análise.

E já que acima mencionámos o Batatoon, convém, desde logo, começar por referir que estes dois programas forneceram à maioria das crianças portuguesas o primeiro grande contacto com aquela que se viria a tornar a dupla de palhaços mais conhecida e famosa de Portugal, muito graças ao referido bloco vespertino de desenhos animados; sim, o concurso estreado em 1992 pela RTP, e 'repescado' dois anos mais tarde pela TVI, marca a génese da parceria entre António Branco, o Batatinha, e Paulo Guilherme, o Companhia - então com aparência e maquiagem algo diferentes, mas já com as personalidades, dinâmica e 'timings' bem definidos, tornando os seus segmentos um dos pontos altos de cada episódio (como, aliás, o foram depois no Batatoon).

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O visual de Batatinha à época, algures entre o ex-parceiro Croquete e o aterrorizante Pennywise.

Ao contrário do espaço que os tornaria famosos, no entanto, o foco do 'Circo Alegria' e do 'Vamos ao Circo' eram, não os desenhos animados, mas as provas fisicas, sempre disputadas entre duas equipas seleccionadas de entre as escolas que compunham a plateia (uma prática, aliás, bastante comum em programas de auditório infanto-juvenis da época, que nunca deixavam de contar com pelo menos um estabelecimento de ensino entre o público presente em estúdio.) Pelo meio, além das interacções entre Batatinha e a sua perene 'pulga no sapato' Companhia, ficavam ainda números musicais com artistas convidados 'da moda' (outra prática quase obrigatória em programas deste tipo à época) e, claro, as algo atrevidas sugestões do apresentador à bela assistente feminina, mediante o icónico 'Ó Mimi, apita aqui!' (que a dita talvez tenha levado a peito, motivando a sua substituição, aquando da transição para a TVI, por uma nova Mimi, de cabelo mais escuro...) De referir ainda que, além da Mimi e do inevitável Companhia, estes dois programas marcam, também, a estreia de Honório e Finório, a dupla de 'assistentes de circo' silenciosos e expressivos que acompanhariam os apresentadores até ao final da sua carreira como dupla.

Exemplo dos segmentos humorísticos do programa (crédito: Desenhos Animados PT)

No fundo, dois programas bastante parecidos, que não só estabeleceram o duo Batatinha e Companhia como grande favorito das crianças (estatuto que o Batatoon viria, mais tarde, a cimentar) como também marcaram época durante a primeira metade dos anos 90, fazendo ainda hoje parte da memória de muitos dos ex-jovens que, tarde após tarde, acompanharam com regozijo tanto as peripécias dos dois palhaços como as provas por eles engendradas, e disputadas por participantes da sua própria faixa etária. Razões mais que suficientes, portanto, para recordarmos ambos os (francamente, indissociáveis) programas, precisamente no ano em que a versão transmitida pela RTP celebra trinta anos sobre a sua primeira emissão, e a da TVI, vinte e cinco sobre a última...

Um dos programas do Natal de 1992

09.05.22

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

A par de Super Mario, Sonic, o porco-espinho azul da Sega, foi sem dúvida a mascote mais popular dos anos 90 (o terceiro lugar é dividido entre Crash Bandicoot, o marsupial da Sony, e o dragão Spyro); até mesmo depois de ter decrescido de popularidade (e os seus jogos, de qualidade, o supersónico bicharoco continuou a ser um chamariz para a maioria dos 'gamers' um pouco por todo o Mundo, como bem o comprova o sucesso que o seu segundo filme vai actualmente fazendo entre essa mesma demografia.

Dada esta popularidade entre o público-alvo, não é de estranhar que Sonic tenha tido direito a várias adaptações em desenho animado, fenómeno comum a tudo o que fazia sucesso durante as últimas duas décadas do século XX; estranho é, apenas, que só uma dessas séries tenha chegado a Portugal, e que tenha precisamente sido a menos popular e bem conseguida.

Sim, apesar do porco-espinho da Sega ter, no auge da sua popularidade, não uma mas duas séries animadas em seu nome, nenhuma delas chegou alguma vez a ser importada para terras lusas; a primeira (e única) aventura de Sonic nos ecrãs portugueses dar-se-ia numa das suas fases de menor popularidade – imediatamente antes do renascer em 3D com o excelente 'Sonic Adventure' – e através da série que, das três produzidas, menos tem em comum com o universo dos jogos do personagem: 'Sonic Underground', a co-produção franco-americana baseada no personagem produzida em 1999.

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Como dizem os velhos ditados, no entanto, 'a cavalo dado, não se olha o dente', e 'quem não tem cão, caça com gato'; e assim foi – à falta de melhor, as crianças portuguesas abraçaram a série de Sonic que tinham, tendo a mesma conseguido significativa popularidade à época da sua primeira transmissão, a dois meses do final da década, século e milénio, e inserida na grelha de programação de um Batatoon em estado de graça entre o seu público-alvo por conta da 'galinha dos ovos de ouro' chamada 'Samurai X'.

Precedido de uma campanha de 'hype' nunca antes vista no programa (e que apenas se viria a repetir, já no novo milénio, por ocasião da estreia de Digmon), Sonic estreou-se na televisão portuguesa com já significativo interesse gerado em torno das suas aventuras, mesmo para quem nunca havia jogado os títulos de PC e consola, e apenas conhecia o personagem de passagem; esta onda de entusiasmo (resultado da oportuna manobra de marketing da TVI e dos produtores do Batatoon) ajudou a fazer esquecer o facto de que 'Sonic Underground' pouco tinha a ver com os referidos jogos, trocando o melhor amigo Tails e a floresta do planeta Mobius por um futuro pós-apocalíptico, em que o personagem faz parte da realeza destronada (!?) e procura a mãe, a rainha daquele universo, em conjunto com os dois irmãos (Sonia e Manic, ou antes, 'Mánique'), com quem também forma uma banda de rock (!?!?!) Uma premissa, portanto, que podia ter sido executada com qualquer conjunto de personagens - a produtora DIC jogou, claramente, no reconhecimento do nome Sonic, e a aposta resultou, já que sem essa associação, o interesse em 'Underground' seria significativamente reduzido.

De facto, do ponto de vista técnico e de escrita, 'Sonic Underground' não é mais do que tipicamente mediano para a época, exibindo a mesma animação algo presa de movimentos e atitude 'ultra-radical-buéda-fixe' herdadas de séries como 'Tartarugas Ninja' e 'Moto-Ratos de Marte' e copiada por tantas outras produções durante aqueles anos; a verdade, no entanto, é que essa mesma atitude, aliada a um genérico que é a parte mais memorável da série, foi suficiente para cttivar o público jovem da época, e tornar 'Underground' suficientemente lembrado para justificar repetições em anos posteriores.

Tentem não ficar com isto na cabeça - vá, tentem.

De facto, a série faz parte daquele grupo de produções – onde também entra Dragon Ball Z, entre outros – que, de tempos a tempos, são 'retirados da gaveta' e postos novamente no ar, para serem apreciados por uma nova geração. No caso de 'Underground', a série passou tanto no Canal Panda (em 2008, e em versão original, como foi em tempos apanágio daquele canal) como no KidsCo (em 2011, com novas dobragens em português) e ainda na Netflix, onde 'residiu' entre 2015 e 2018, tanto em versão legendada como com a dobragem de 2011. Um percurso impressionante para uma série vista, hoje em dia, como medíocre, mas que conseguiu, ainda assim, cativar a imaginação de uma geração para quem Sonic era um dos heróis favoritos – apenas mais uma prova do poder de uma boa 'licença', e ainda melhor campanha de marketing...

06.04.21

Porque nem só de séries se fazia o quotidiano televisivo das crianças portuguesas nos anos 90, em terças alternadas, este blog dá destaque a alguns dos outros programas que fizeram história durante aquela década.

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Está no ar

O Batatoon

A alegria já está para chegar

Chegou o Batatinha, sempre a sorrir

E o Companhia para atrapalhar…!

Pois é, depois de na semana passada termos falado do ‘rei’ dos programa infantis durante a década de 90, hoje, chegou o momento de falarmos do principal rival – ou antes, sucessor – de Ana Malhoa nos corações das crianças portuguesas: o palhaço Batatinha, e o seu inesquecível e inimitável Batatoon.

No ar a partir de 1998, na ‘outra’ estação independente da televisão portuguesa, o Batatoon desfrutou – pensadamente ou não – do ‘timing’ perfeito para se tornar campeão das audiências infantis. Isto porque foi, precisamente, em 1998 que o Buereré deixou de lado o formato de auditório, para se tornar apenas mais um bloco de desenhos animados no horário pós-escolar das tardes de semana. O caminho estava, assim, aberto para que António Branco e Paulo Guilherme – mais conhecidos pelas suas identidades artísticas como a dupla de palhaços Batatinha e Companhia – apanhassem a ‘bola’ largada por Ana Malhoa e, no canal rival, erguessem um programa muito semelhante, e com tanto (ou mais) sucesso.

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A dupla de apresentadores do programa

Por comparação com o Buereré, o Batatoon afirmava-se como um programa menos ‘foleiro’ e ‘over-the-top’, mais centrado nas rábulas dos dois palhaços e nos desenhos animados em si, e menos em convidados ou grandes números musicais coreografados – o que não impedia que o genérico inicial e final fossem acompanhados de coreografias próprias, das quais a mais conhecida e memorável é o inesquecível esbracejar ao som de ‘Ba-Bata-Batatooooooon!’

No entanto, tirando esses dois momentos, e o ocasional aniversário de um participante (também com música e danças a condizer), o programa deixava de parte o lado musical em favor das vinhetas em estilo ‘pastelão’ dos dois apresentadores, cujos vários anos de trabalho em conjunto – primeiro no ‘Circo Alegria’ da RTP, e mais tarde no ‘Vamos ao Circo’ da SIC – lhes outorgavam uma química invejável, que resultava em muitos e bons momentos de humor, sempre concluídos com o Companhia a levar um chuto em direção à mítica ‘portinha’ (que se presume fosse a propria porta de saída do estúdio, embora isso ficasse a cargo da imaginação dos espectadores.) O restante tempo era, para além dos próprios desenhos animados, preenchido por jogos e passatempos, tanto com a participação das crianças convidadas a assistir em estúdio como de participantes externos, através do telefone. A estes, o Batatinha fazia sempre questão de enviar um ‘presentão’ através do telefone, normalmente um produto licenciado do próprio programa.

E já que falamos em produtos licenciados, o Batatoon teve-os em número e variedade surpreendentes. Dos tradicionais puzzles e jogos a CDs de música, uma revista oficial, e até objetos mais insólitos como gabardines e guarda-chuvas, Batatinha e Companhia deram a cara – literalmente ou em versão ilustrada – a muito ‘merchandise’ durante aqueles anos, sempre com boa aceitação e vendas.

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Exemplo de um produto licenciado algo insólito, neste caso decorado com as versões ilustradas dos apresentadores do programa

No entanto, como é óbvio, este sucesso não se devia apenas ao carisma dos apresentadores e aos bons guiões do programa; tal como o Buereré, o Batatoon devia grande parte da sua audiência e popularidade aos desenhos animados que a estação de Queluz comprava e exibia. E, neste aspeto, o programa de Batatinha nada ficava a dever ao seu ‘rival’ de Carnaxide – pois se o Buereré havia tido os ‘Power Rangers’ e viria a ter as primeiras temporadas de ‘Pokémon’, o Batatoon tinha ‘Samurai X’ – ‘só’ o segundo anime mais popular da década em Portugal – ‘Alvin e os Esquilos’ e a série original de ‘Digimon Adventure’, além do também bem aceite ‘Sonic Underground’, e ainda séries como ‘Homens de Negro’ e ‘Godzilla’. Foi esta invejável selecção de ‘cartoons’ que levou tantas crianças a sintonizarem o quarto canal de TV, nas tardes de semana, entre 1998 e 2002. Como dizem os anglófonos, ‘they came for the cartoons and they stayed for the clowns’.

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Provavelmente a série de maior sucesso da televisão portuguesa em 1998-99

Mas, como tudo o que é bom e faz sucesso, também o Batatoon encontrou, inevitavelmente, o seu fim. Fim esse que, rezam as lendas, se deveu a um arrufo, ao vivo e no ar, entre os dois apresentadores e parceiros criativos por trás do programa, que teria terminado à ‘batatada’ – ou seria à ‘Batatinha’ – e desfeito a ‘Companhia’… No entanto, uma rápida pesquisa na Internet revela que esta versão dos acontecimentos poderá não ser mais do que um mito urbano – dos quais aqueles anos estavam absolutamente pejados…

Ainda assim, para a história ficam quatro anos de enorme sucesso – metade dos do Buereré, mas a um nível talvez mais intenso no que toca a exposição mediática – e muitas séries que, sem Batatinha e Companhia, as crianças portuguesas talvez nunca tivessem visto. Por isso, deixem nos comentários as vossas homenagens a este marco da televisão infantil portuguesa. Até lá, beijinhos, abraços, muitos palhaços...e MÚSICA, MAESTRO!

             

 

 

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