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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.12.21

Em Segundas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das séries mais marcantes para os miúdos daquela década, sejam animadas ou de acção real.

Corriam os primeiros anos da década de 90 quando se começaram a popularizar, no mercado de roupa de criança, artigos (muitos deles piratas) com o desenho de um rapazinho de cabelo espetado, pele amarela, figa em riste, e camisola ora azul, ora vermelha; pouco tempo mais tarde, o 'raio de acção' desse mesmo personagem havia-se estendido não só a outros artigos de vestuário como também a produtos como mochilas; mais algum tempo, e o mesmo (juntamente com a sua família) adquiria o direito à sua própria caderneta de cromos (da Panini, claro), colecção de autocolantes, série de decalcomanias e tatuagens temporárias, vários videojogos para os sistemas mais populares da altura, como a Mega Drive e o Game Boy, e até honras de foco central de um dos melhores posters centrais da história da TV Guia. Em apenas um par de anos, este boneco havia surgido do nada para se tornar um verdadeiro 'ídolo' da demografia infanto-juvenil – um feito tanto mais extraordinário quando levamos em conta que a série que protagonizava não era, nem nunca viria a ser, um programa para crianças.

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Não nos enganemos, no entanto – as crianças daqueles inícios dos 90 VIAM 'Os Simpsons'. Não tanto por causa do famoso humor sarcástico e algo negro – que lhes passava, certamente, um pouco 'por cima da cabeça' – mas para ver Bart Simpson fazer a vida negra à família e aos colegas de escola, a ponto de ser, frequentemente, estrangulado pelo pai em pleno quarto (coisa que, claro está, já não sucede hoje em dia – aliás, só é de surpreender como é que ninguém ainda tentou 'cancelar' Matt Groening por incentivar maus tratos a menores através do comportamento de Homer...) O primogénito da família Simpson tornou-se, quase sem querer, o epítoma da rebelião infantil para a década de 90, e – juntamente com personagens como Sonic ou as Tartarugas Ninja – ajudou a criar o protótipo para 'milhentas' personagens 'radicais' ao longo da próxima década, numa tendência que o seu próprio programa satirizou, num dos seus melhores episódios.

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A inevitável caderneta de cromos punha, inevitavelmente, o foco em Bart

Ainda que Bart fosse o principal motivo de interesse para o público infanto-juvenil, no entanto, o personagem estava longe de ser o único trunfo da série criada em 1989, e estreada na RTP dois anos depois; qualquer dissertação sobre o génio dos argumentos daquelas primeiras temporadas de 'Os Simpsons' é, aliás, redundante hoje em dia – TODA a gente sabe o quão bons eram aqueles episódios, especialmente as crianças e jovens dos anos 90, que os viram em primeira mão.

De facto, em Portugal (como, aliás, no resto do Mundo) a série reunia consenso entre jovens e adultos, afirmando-se como um dos primeiros fenómenos transversais a todas as camadas da sociedade, vários anos antes de 'Harry Potter' e duas décadas antes da esteia do Multiverso Marvel nas salas de cinema. O facto de quase todo o 'merchandise' da época ser dirigido especificamente a crianças, e se centrar na figura sardonicamente sorridente de Bart – a mais imediatamente apelativa para a demografia em causa – era fruto, tão-somente, de uma boa interpretação do mercado por parte das companhias em causa, não retirando à série qualquer credibilidade ou atractivo junto do público mais velho.

Infelizmente, a continuação da história d''Os Simpsons' é, também, sobejamente conhecida: demasiadas temporadas, demasiados personagens secundários, concessões a celebridades e ao politicamente correcto, mudanças desnecessárias e controversas, e uma eventual diluição de tudo o que havia tornado aquelas primeiras temporadas tão especiais. Ainda assim, quem tem idade suficiente para recordar 'a vida antes de Bart Simpson' sabe o impacto que o personagem, e a sua respectiva série, verdadeiramente tiveram na sociedade portuguesa de inícios dos anos 90, e em particular junto dos mais jovens – até porque quem tem interesse neste blog terá, quase certamente, sido um desses jovens vestidos com t-shirt alusiva a Bart Simpson, com o personagem desenhado na mochila da escola, e os bolsos cheios de cromos d''Os Simpsons' para a troca...

20.08.21

Um dos aspetos mais marcantes dos anos 90 foi o seu inconfundível sentido estético e de moda. Em sextas alternadas, o Anos 90 recorda algumas das marcas e modas mais memoráveis entre os jovens da ‘nossa’ década.

Quase todas as semanas falamos aqui de ‘merchandising’, seja alusivo a uma série, uma banda, ou qualquer outra propriedade mediática de interesse para crianças e jovens; e uma das facetas do ‘merchandising’ que também acabamos sempre por abordar é a roupa. De facto, desde que existe o conceito de criação de produtos ‘paralelos’ a um artista ou propriedade intelectual que as crianças demonstram interesse em ‘vestir’ os seus ídolos, incentivando os detentores dos direitos a permitirem o licenciamento da sua imagem também para peças de roupa, além dos tradicionais brinquedos ou artigos comestíveis.

Infelizmente, estes produtos licenciados acabam também, a maioria das vezes, por ser proibitivamente caros para o seu público-alvo, obrigando-os a recorrer à boa-vontade dos pais, a aproveitar ‘àquelas’ datas especiais, como o Natal ou os anos, ou – mais frequentemente, sobretudo na época a que este blog diz respeito – a comprar artigos não-licenciados, os chamados ‘piratas’.

Existentes há quase tanto tempo como o próprio conceito de ‘merchandising’, estes artigos têm, na sua maior parte, vindo a evoluir consideravelmente na sua concepção e manufactura, a ponto de, hoje em dia, serem fáceis de confundir com artigos licenciados; sendo certo que ainda existem algumas tentativas perfeitamente hilariantes (tão meméticas como os ‘equivalentes de feira’ às grandes marcas) , há também que admitir que, nos tempos que correm, estes artigos cumprem o seu objectivo tão bem como os oficiais, embora a qualidade seja sempre notoriamente inferior.

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Sim, ainda há 'coisas' destas, mas cada vez menos...

Nos anos 80 e 90, no entanto, não era bem assim; de facto, passava-se quase exactamente o contrário. Embora existissem contrafacções de qualidade bastante aceitável, a maioria dos artigos alusivos a desenhos animados, BD ou música encontrados nas feiras, lojas de tecidos de bairro e vendas de chão da rua do nosso país eram notoriamente e descaradamente ‘falsos’ – daquele tipo de falso que é, ao mesmo tempo, hilariante e vagamente enternecedor. Em suma, para cada réplica quase perfeita da famosa t-shirt ‘Bart Simpson: Overachiever’ (como havia lá por casa), existiam duas com o Snoopy desenhado mas a dizer ‘Funny Cartoon’, ou do Dragon Ball Z em que os personagens eram translúcidos (da mesma cor do fundo da camisola) e os ‘Gs’ pareciam ‘Cs’.

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Até pode ser que seja um artigo oficial, mas as probabilidades são baixas...

Ainda assim, e apesar dessa ‘tosquice’, este tipo de peça era relativamente comum nos pátios de recreio daquele Portugal de 90, maioritariamente porque – conforme observado acima – a maioria das crianças não tinha poder de compra para adquirir mais do que uma ou outra peça de ‘merchandise’ oficial da sua série, videojogo ou banda desenhada favorita. Aquelas t-shirts ‘fatelas’ deixavam, pois, de ser apenas imitações baratas e mal-amanhadas dos artigos genuínos, e passavam a ser peças centrais do guarda-roupa infantil, vestidas tão frequentemente quanto possível, como forma de professar o amor da criança à propriedade que representavam.

Com o virar do milénio, e à medida que este tipo de pirataria se tornava cada vez mais cuidado e refinado, o tipo de peça referido acima deixou de se ver tanto quanto anteriormente, ao ponto de, hoje em dia, se encontrar quase extinto, e de as imitações ‘às três pancadas’ de que aqui falámos terem sido um fenómeno quase exclusivo daquelas duas décadas mágicas; ainda assim, quem lá esteve certamente se recordará ‘daquela’ t-shirt do DBZ ou Bart Simpson comprada na feira, que tinha visivelmente algo de errado, mas que era ainda assim amada e usada como se fosse cem por cento ‘the real thing’ - que o digam a camisola verde-tartaruga, com um desenho ‘quase bom’ dos Quatro Jovens Tarta-Heróis, que morava cá em casa no final dos anos 80, ou o pijama do Tweety, sem qualquer tipo de licenciamento, vestido à exaustão na década seguinte…

 

 

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