15.01.23
Aos Domingos, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos principais acontecimentos e personalidade do desporto da década.
Qualquer adepto de futebol, independentemente da idade ou era em que viveu, terá sempre os seus ídolos e ícones dentro do desporto, seja nos grandes clubes mundiais, seja nas agremiações do seu próprio campeonato. O Portugal dos 'noventas' não foi, de forma alguma, excepção a essa regra, tendo os adeptos nacionais da época tido o privilégio de ver jogar na então Primeira Divisão, não só os maiores nomes da Geração de Ouro, como também alguns jogadores internacionais muito acima da média. Um desses jogadores – um búlgaro de 'pézinhos de lã' que foi ícone de todos os clubes por que passou, e que era igualmente indiscutível na Selecção Nacional do seu país – celebrou há poucos dias os trinta e dois anos da sua estreia no campeonato onde viria a passar quatro inesquecíveis anos, tornando este Domingo o momento ideal para passar em revista a sua ilustre carreira.
Uma imagem nostálgica para qualquer sportinguista,
Falamos de Krasimir Genchev Balakov, um daqueles 'fantasistas' que já ajudavam a definir o termo 'número dez' muito antes de cada jogador ter número próprio, e que só surgem num campeonato como o português muito de longe a longe. Reforço de Inverno do Sporting na primeira temporada completa da década de 90, o médio ofensivo contratado ao Etar Veliko Tarnovo - clube da sua Bulgária natal onde iniciara a sua carreira como sénior e pelo qual contabilizara quase cento e cinquenta jogos – faria a sua estreia menos de duas semanas após o início do ano de 1991, em jogo contra o Penafiel que o Sporting venceria por 2-0, com dois golos de Gomes.
Sem que ninguém soubesse, e de forma ainda algo discreta, ficava aí dado o mote para quatro épocas de 'magia', como parte de um plantel do Sporting ao qual sobrava em qualidade o que faltava em títulos (durante este período, o clube ganhou, tão-somente, uma Taça de Portugal, em 1994-95), e que contava também com nomes com outras 'lendas da Primeira Divisão' como Luís Figo, Paulo Sousa, Marco Aurélio ou o compatriota de Balakov, Yordanov. E a verdade é que, ao longo da sua estadia em Alvalade, Balakov viria a justificar o (parco) investimento do então presidente Sousa Cintra, tornando-se peça fulcral do 'onze' e fazendo 'mexer' a equipa com a mistura de 'arrebites' técnicos, clarividência e golos (no Veliko haviam sido trinta e cinco em sete épocas, no Sporting foram quarenta e três em quatro, incluindo 'obras de arte' históricas ao Benfica e Setúbal) que o tornaram um dos mais respeitados estrangeiros de sempre, não só do Sporting, como dos campeonatos portugueses em geral.
O cromo de Balakov na caderneta do Euro '96 da Panini.
Não era, aliás, apenas 'dentro de portas' que Balakov 'dava cartas' e chamava a atenção: também a nível internacional o médio se vinha afirmando como um dos melhores do Mundo na sua posição, tendo inclusivamente sido seleccionado como parte do 'onze' ideal' do Mundial de 1994 – uma distinção que é, ainda hoje, o único jogador búlgaro a alguma vez ter recebido, sendo que nem mesmo compatriotas ilustres como Stoichkov conseguiram, alguma vez, igualar esse feito.
O jogador em acção no Estugarda.
Melhor ainda é perceber que, após a sua saída do reduto dos 'leões', a carreira de Balakov não se 'perdeu', como a de tantos outros jogadores que partem para 'vôos' internacionais; pelo contrário, o búlgaro não só se conseguiu afirmar no seu novo clube, o Estugarda, como adquiriu o estatuto de 'símbolo' também naquele clube, onde passou sete épocas, sempre como presença regular na equipa, pela qual contabilizou mais de duzentas e cinquenta partidas. A sua parceria com Fredi Bobic e Giovane Élber originou, aliás, um daqueles 'tridentes mágicos' de que qualquer adepto do desporto-rei tanto gosta, por serem garantia de muitos golos – só por conta do búlgaro, foram cinquenta e quatro, um número talvez não tão prolífico quanto a sua marca no Sporting, mas ainda assim de respeito. É, também, como elemento do clube alemão que vê serem-lhe atribuídos os prémios de Melhor Jogador Búlgaro correspondentes aos anos de 1995 e 1997, sendo o troféu de 1996 atribuído a...Ivailo Yordanov, ex-colega de equipa no Sporting!
Tal como tantos outros nomes de que aqui falamos, também a carreira de Balakov transitou do interior dos relvados para a lateral dos mesmos, tendo o búlgaro assumido, logo em 2003, o cargo de adjunto num Estugarda que o idolatrava. Seguiram-se passagens pelo modesto Plauen (onde fez a sua última aparição oficial num relvado, aos trinta e nove anos, na qualidade de treinador-jogador) por vários clubes conhecidos da 'terceira linha' do futebol europeu, como St. Gallen, Grasshoppers, Chernomorets Burgas, Hadjuk Split, Kaiserslautern, Litex e CSKA Sófia, além do clube que o vira 'nascer' para o futebol, o Veliko Tarnovo, e da própria Selecção que tão briosamente representara em várias competições internacionais. E apesar de nunca ter dado o 'salto' para um grande clube na qualidade de treinador, é de crer que Balakov tenha adquirido, pelo menos, tanto respeito nesse seu novo cargo como tinha quando espalhava magia atrás dos avançados, nos relvados de Tarnovo, Alvalade ou Estugarda...