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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

28.07.23

NOTA: Por motivos de relevância, esta Sexta será também de cinema. Voltaremos a falar de moda na próxima semana.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

O Verão foi, e continua a ser, tradicionalmente uma 'época alta' no que toca a estreias de filmes, sobretudo 'blockbusters' e películas destinadas a um público mais jovem, tendo, inclusivamente, sido um dos dois períodos do ano, juntamente com o Natal, em que era expectável um novo lançamento por parte da Disney; e, tendo os anos 90 sido um dos períodos áureos do cinema infanto-juvenil (com a própria Disney, por exemplo, em plena 'Renascença'), não é de estranhar que os últimos dias de Julho tivessem, tanto há trinta anos como há um quarto de século, visto chegar ao nosso País filmes capazes de entusiasmar o público mais jovem, e que se tornariam clássicos nostálgicos para os hoje adultos da geração 'millennial'.

De facto, os dias 30 e 31 de Julho tanto de 1993 como de 1998 assinalaram a estreia nacional de nada menos do que três longas-metragens hoje recordadas com carinho pelos portugueses na casa dos trinta a quarenta anos, duas delas explicitamente destinadas a um público infantil, e a terceira um potencial alvo para o tradicional visionamento 'às escondidas', com amigos ou depois de os pais já terem ido para a cama.

Começando pelo 'início' – isto é, pelo filme mais antigo dos três – o dia 30 de Julho de 1993 via chegar às salas lusas 'Ferngully', filme de Don Bluth que, em Portugal, receberia o incompreensivelmente longo sub-título de 'As Aventuras de Zak e Krysta na Floresta Tropical'. Lançada no auge da era de ouro da sensibilização para a ecologia, a longa-metragem conta com uma mensagem de protecção da natureza, envolta na habitual história de um humano comum 'puxado' para um reino mágico que deve ajudar a proteger - neste caso, o das fadas protectoras da 'última floresta tropical', que se encontra ameaçada por madeireiros.

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Com o padrão de qualidade habitual de Bluth, e talentos vocais de qualidade (entre eles Robin Williams, então em estado de graça após a sua interpretação do Génio em 'Aladdin', do ano anterior, e que ainda em 1993 faria outro clássico, 'Papá Para Sempre') o filme divide, hoje em dia, opiniões, com muitos críticos a apontarem para a mensagem do filme e para o número musical do personagem de Williams, Batty - que interpreta um 'rap' bem ao estilo da década então em curso - como pontos negativos. Para quem lá esteve em 1993, no entanto - a duas semanas de completar oito anos, 'impante' e ufano por ter conseguido bilhetes para a ante-estreia – nada disso era minimamente relevante, e 'Zak e Krysta' pareceu um excelente filme; ou seja, para o público-alvo, menos preocupado com questões de detalhe, esta foi, e provavelmente continuará a ser, uma excelente forma de passar uma hora e meia com uma animação de qualidade, a qual fez sucesso suficiente para, inclusivamente, dar azo a uma sequela, esta sem qualquer repercussão em Portugal.

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Um dia após a estreia da última obra de Bluth, a 31 de Julho, chegava ao nosso País um futuro 'clássico' dos canais de filmes a cabo: 'O Último Grande Herói', uma comédia de acção que via Arnold Schwarzenegger fazer um papel bem 'meta-textual', interpretando o personagem titular, o típico herói musculado da época, que se vê a braços com um jovem espectador que, graças a um bilhete mágico, consegue entrar no filme, e se vê envolto na trama do mesmo. Os dois membros deste insólito par têm, assim, de trabalhar juntos para travar o vilão, aliando a força e armamaento de Arnie ao conhecimento sobre estereótipos e fórmulas cinematográficas do seu jovem coadjuvante.

E é, precisamente, a química entre os 'músculos de Bruxelas' e o jovem Austin O'Brien que rende os momentos mais divertidos deste filme, como aquele em que o Danny Madigan de O'Brien menciona, jocosamente, o facto de todos os números de telefone do filme começarem por 555, o indicativo tradicionalmente usado por Hollywood neste tipo de situações. Apesar de não ser uma obra-prima intemporal (o único filme de Arnie qualificado para essa categoria continua a ser 'O Predador') trata-se de uma longa-metragem bem divertida, que doseia bem o humor e a acção (à maneira de antecessores como 'O Caça-Polícias' e de sucessores como 'Hora de Ponta'), sabe explorar a veia cómica de Schwarzenegger, e conta com uma banda sonora à altura, povoada por nomes como AC/DC, Alice in Chains, Def Leppard, Queensryche, Aerosmith, Anthrax ou Cypress Hill, entre outros.

Exactos cinco anos após a literal explosão de Arnie nos cinemas nacionais, estreava em Portugal outro filme teoricamente para um público mais 'maduro', mas que muitas crianças terão, decerto, visto em anos subsequentes, no contexto do 'home video' – aqui, por exemplo, viu-se aos cerca de treze ou catorze anos, na noite de cinema da colónia de férias.

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Falamos de 'O Enigma do Horizonte' (no original, 'Event Horizon') um excelente filme de ficção científica encabeçado por Laurence Fishburne (em 'ensaios' para 'Matrix', dois anos depois), Sam Neill e Jason Isaacs e realizado pelo hoje conceituado Paul W. S. Anderson. Com uma história algo semelhante à de 'Alien – O Oitavo Passageiro' (em que uma equipa de salvamento espacial fica presa numa nave abandonada, à mercê de uma força sinistra) o filme é notável, sobretudo, pelos efeitos especiais, de entre os quais se destaca o 'rio' de sangue a descer um dos corredores da nave – imagem que deixou boquiaberto aquele adolescente de finais do Segundo Milénio, sentado em colchões no chão da sala principal de uma colónia de férias presencial na Margem Sul do Tejo. Mesmo para um público mais adulto e exigente, no entanto, este filme continua a ser uma boa proposta para uma noite mais escura e chuvosa, de preferência em boa companhia...

Em suma: em apenas dois dias de dois anos distintos, o público infanto-juvenil português viu surgirem nas telas nacionais três excelentes filmes (mais ou menos) apropriados à sua faixa etária, e que ainda hoje são conceituados dentro dos seus respectivos estilos – uma coincidência, sem dúvida, digna de nota nas páginas deste 'nosso' Portugal Anos 90, numa altura em que se assinalam aniversários marcantes sobre as estreias de todos os três.

23.12.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Apesar de a principal vertente da sua fama ter surgido no contexto do cinema de acção - do qual foi um dos grandes heróis durante os anos 80 e 90, tendo participado numa série de filmes marcantes do género - Arnold Schwarzenegger atravessou, no início e meados da última década do século XX, uma fase em que se tentou, também, afirmar como actor de comédia, tirando proveito do seu aguçado 'timing' cómico; e a verdade é que esta experiência, apesar de nem sempre totalmente bem conseguida, não deixou de render pelo menos um verdadeiro clássico, no excelente 'Um Polícia no Jardim-Escola', lançado logo em 1990. E apesar de os filmes seguintes do actor no mesmo registo - como 'Júnior' ou 'O Último Grande Herói' - não terem conseguido o mesmo sucesso, 'Arnie' viria, ainda, a contribuir para mais um filme de culto entre a juventude dos anos 90, bem como entre os fãs dos filmes de Natal. É desse filme, que completou esta semana vinte e seis anos sobre a sua estreia em Portugal, que falaremos nesta última Sexta de Sucessos antes da Consoada.

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Trata-se de 'O Tesouro de Natal' ('Jingle All The Way' de seu título original) estreado em terras lusas a 20 de Dezembro de 1996, numa altura em que a imagem de Schwarzenegger era, ainda, suficiente para 'vender' filmes por si só. E a verdade é que, sem 'Arnie', este filme talvez nem tivesse adquirido o estatuto de 'meme' 'tão mau que é bom' de que hoje goza, já que é das 'caretas' e dichotes de efeito do actor que advêm os momenos mais memoráveis da película, ficando as intervenções sem graça do insuportável Sinbad e restantes tentativas falhadas de fazer rir a audiência algo 'esquecidas' por comparação.

Schwarzenegger é responsável por muitos dos melhores momentos do filme.

Tal como existe, e longe de ser um bom filme ou merecer o estatuto de clássico da época natalícia gozado por filmes como 'Gremlins', 'O Estranho Mundo de Jack' ou o binómio 'Sozinho em Casa', 'O Tesouro de Natal' vale o visionamento apenas pela exibição tresloucada de 'Arnie', ao estilo das que tornam, hoje, conhecido Nicolas Cage, mas bastante mais intencional, e que transforma uma comédia de Natal comercial e medíocre em algo ainda hoje lembrado - ainda que ironicamente - por toda a geração que a ela assistiu há um quarto de século.

04.03.22

NOTA: Para celebrar a estreia, esta sexta-feira, do novo filme de Batman, todos os 'posts' desta semana serão dedicados ao Homem-Morcego.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Hoje, 4 de Março de 2022, assinala-se a chegada às salas de cinema de todo o Mundo de um novo filme de Batman, o Homem-Morcego – no caso, o quinto, primeiro desde há mais de uma década, e primeiro com Robert Pattinson no papel do justiceiro e milionário Bruce Wayne, em substituição de Ben Affleck; para comemorar esta efeméride, e terminar da melhor maneira uma semana em que temos vindo a recordar a época de auge de popularidade para o Cavaleiro das Trevas, iremos dedicar a Sessão desta Sexta a recordar os filmes que lançaram a carreira do herói de Gotham no grande ecrã, precisamente durante a década de 90.

De facto, apesar de ter havido, nos anos 60, uma tentativa de transformar em filme de longa-metragem a impagável série televisiva do Homem-Morcego (tendo o filme subsequente sido responsável por apresentar ao Mundo a engenhoca mais mirabolante do cinto de utilidades do herói, o Bat-Repelente para Tubarões) a maioria dos cinéfilos e fãs de super-heróis de banda desenhada considera como ponto de partida da carreira de Batman no cinema o filme homónimo, realizado e lançado em 1989, mas chegado à maioria dos países europeus apenas no ano seguinte, mesmo no dealbar de uma nova década. Com realização a cargo de Tim Burton, música da autoria de Prince, e uma campanha publicitária adequadamente milionária a gerar interesse garantido, 'Batman' (o filme) ajudou a provar que havia interesse num filme sobre um super-herói, e imbuiu o estilo de uma muito necessária dignidade, que dificilmente se encontrava em obras concorrentes mas de orçamentos comparativamente microscópicos, como o fraquinho 'Capitão América', do mesmo ano.

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Detentor de uma estética em tudo fiel à dos 'comics' do herói, inspirada no período da Lei Seca norte-americana, e imbuída das sensibilidades góticas de Burton - então ainda longe dos excessos 'Technicolor' que marcariam a fase posterior da sua carreira – o 'Batman' de 1989-90 é um filme surpreendentemente sombrio (pelo menos tendo em conta o público a que supostamente se destinava) e que consegue balancear na perfeição aspectos de policial 'noir' com aquilo que se poderia esperar de uma adaptação para o cinema das aventuras de um herói de banda desenhada, Apesar da escolha de Michael Keaton como Batman requerer alguma suspensão do cepticismo (é melhor não perguntar de onde surgem aqueles centímetros extra quando o 'baixote' Wayne põe o fato), o filme justifica a sua boa reputação, contando com uma realização previsivelmente personalizada e actuações de alto calibre, com destaque para Jack Nicholson, que 'rouba a cena' como Jack Napier, mais tarde conhecido como Joker. Àparte alguns aspectos mais simplistas, típicos da época (como a relação quase instantânea entre o Wayne de Keaton e uma Kim Basinger no auge da beleza) o filme continua a afirmar-se como uma excelente forma de passar duas horas numa noite de fim-de-semana, tendo resistido bastante bem ao passar das décadas.

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O mesmo, aliás, pode ser dito da sua sequela directa. Lançado em 1992, e de novo com Burton ao comando e Keaton como Bruce Wayne (tornando-o o único actor a envergar o fato do herói por dois filmes consecutivos até à chegada de Christian Bale, quinze anos depois) 'Batman Regressa' é, se possível, ainda mais escuro e sombrio que o seu antecessor a nível visual, com uma Gotham invernal, sempre coberta de neve, semi-escondida nas sombras, e tudo menos acolhedora, como que a dar valência ao argumento de que, lá porque um filme se passa na altura do Natal, não significa que seja, necessariamente, natalício (referimo-nos, claro, ao eterno debate sobre 'Assalto ao Arranha-Céus', sobre o qual demarcamos aqui a nossa posição.)

É neste mundo de sombras que se movem tanto o Cavaleiro das Trevas como dois vilões que nada ficam a dever a Joker, e que voltam a constituir o melhor aspecto do filme: uma sensualíssima Michelle Pfeiffer como Selina Kyle, a Mulher-Gato, e Danny DeVito como Oswald Cobblepot, o Pinguim, numa daquelas acções de 'casting' tão óbvias e perfeitas que chega a custar a acreditar serem reais. Mais uma vez, todos os três personagens são interpretados de forma magistral, justificando a colocação deste filme ao mesmo nível do seu antecessor por parte da maioria dos fãs do Homem-Morcego, e garantindo ao mesmo uma carreira cinematográfica ao mais alto nível na primeira metade da década.

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Infelizmente, desse ponto para a frente, o percurso de Batman no cinema far-se-ia em sentido descendente, pelo menos no que toca aos anos 90. Apesar de o sucesso de 'Regressa' ter aberto a porta a um terceiro filme, o mesmo – intitulado 'Batman Para Sempre' e lançado em 1995 - já não contaria com o contributo de Burton, que seria substituído por um realizador de características substancialmente diferentes, e algo menos talentoso, Joel Schumacher. De igual modo, Keaton cedia o fato do Homem-Morcego a Val Kilmer, até hoje o único Bruce Wayne loiro, e sem dúvida o que menos se assemelhava fisicamente ao personagem das BD's. Pior, a escolha de Kilmer representou um decréscimo considerável ao nível da representação, ainda para mais tendo em conta o calibre dos seus coadjuvantes, que eram compostos, mais uma vez, por uma loira sensual (desta vez, Nicole Kidman) e dois vilões cheios de personalidade e que 'roubam' o filme ao protagonisa – o que, tendo em conta que o mesmo se trata de Val Kilmer e que os vilões são interpretados por Tommy Lee Jones e um Jim Carrey no auge da fama e totalmente em modo 'caretas e negaças', é uma tarefa ainda mais fácil do que em capítulos anteriores.

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Os dois impagáveis vilões, talvez o principal ponto alto de 'Batman Para Sempre'

A principal pecha de 'Batman Para Sempre' não é, no entanto, a mudança de protagonista, mas antes o guião e abordagem algo mais 'infantilizados' do que antes – como o demonstra a presença de Carrey, então super-popular entre as crianças pelas suas interpretações de Ace Ventura e Stanley Ipkiss, A Máscara, e cujo Riddler constitui um 'boneco' bastante semelhante. A introdução de Robin, vivido por Chris O'Donnell, é mais uma aparente concessão ao público infanto-juvenil, tendo em conta a atitude de adolescente rebelde de que o personagem é imbuído, e os muitos momentos de (mau) diálogo 'espertalhão' que partilha com Batman.

Ainda assim, e apesar dos seus defeitos, 'Para Sempre' marcou época com uma determinada geração, demasiado nova para ter visto os Batmans de Burton, e para quem este filme era, portanto, o primeiro contacto com o Homem-Morcego; para esses (entre os quais nos contamos) o filme foi um 'acontecimento', e terá constado na lista de favoritos durante pelo menos alguns meses, até ao lançamento do próximo filme da Disney. Hoje em dia, o terceiro filme de Batman é tido como apenas mediano, longe do brilho dos dois primeiros, mas ainda assim muito melhor do que aquilo que se lhe seguiria.

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E aquilo que se lhe seguiria, em 1997, era provavelmente o mais incompreendido e erroneamente interpretado de todos os filmes do Cavaleiro das Trevas. Novamente realizado por Joel Schumacher (os realizadores dos filmes do Morcego eram bem mais constantes do que os actores escolhidos para o protagonizar) 'Batman & Robin' leva a série ainda mais declaradamente para a arena dos filmes para crianças, com diálogos repletos de frases-feitas e ápartes cómicos, e uma estrela (de)cadente (mas ainda reconhecível pelo público-alvo) no papel de vilão – desta feita o Exterminador Implacável em pessoa, Arnold Schwarzenegger, numa acção de 'casting' cómica de tão incompreensível. A seu lado está uma irreconhecível Uma Thurman, que o ajuda a fazer frente a O'Donnell, Alicia Silverstone (outra nova adição ao elenco, no papel de Batgirl) e George Clooney, mais um Bruce Wayne 'baixote' e munido de apetrechos algo insólitos, como mamilos de borracha no fato (…?) e um Bat-Cartão de Crédito, um dos alvos mais famosos de Doug Walker na sua série Nostalgia Critic (mas que, ainda assim, faz mais sentido do que Bat-Repelente para Tubarões, especialmente tendo em conta que Batman é, efectivamente, milionário.) E o mínimo que se pode dizer é que os dois vilões fazem jus aos seus antecessores, divertindo-se visivelmente com papéis que foram escritos para jogar com os seus pontos fortes (o diálogo de Schwarzenegger é quase totalmente constituído por frases de efeito.)

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Alicia Silverstone/Batgirl, a principal adição ao elenco de 'Batman & Robin'

Quanto ao filme em si, o mesmo procura prestar homenagem aos recursos limitados e ambiente 'fatela' da série dos anos 60, conforme ilustrado pelos cenários propositadamente pouco convincentes e diálogos em modo 'tão mau que é bom'. Se 'Para Sempre' representara já um distanciamento da seriedade sombria dos filmes de Burton. 'Batman & Robin' afasta-se ainda mais na direcção oposta, servindo como a representação mais próxima de uma banda desenhada desde o filme dos anos 60. Talvez por isso seja visto como não só, de longe, o pior dos filmes do herói da DC (que é, confortavelmente) mas também um dos piores filmes de todos os tempos – título algo hiperbólico e que, convenhamos, não chega a merecer.

Ainda assim, a recepção a este quarto capítulo das aventuras do Vingador Mascarado foi negativa o suficiente para colocar a sua carreira cinematográfica no limbo durante quase exactamente uma década; a próxima aparição do Morcego no grande ecrã dar-se-ia já no novo milénio, com toda uma geração que não tinha vivido os filmes originais pronta a acolher de braços abertos o herói de Gotham City. Essa história (que acaba de ter continuidade) já fica, no entanto, fora do âmbito deste blog, pelo que esta Bat-retrospectiva (e a Bat-semana em geral) se fica, por agora, por aqui.

14.01.22

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas, recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

Na última edição desta rubrica, em relação a 'O Projecto Blair Witch', observámos como cada década cinematográfica apenas tem uma mão-cheia de filmes que verdadeiramente transcendem o seu estatuto como obras de entretenimento e se tornam parte da cultura popular: e se aquele filme tinha definitivamente lugar em qualquer lista deste tipo criada para os anos 2000 (dado ter estreado precisamente no último dia da década, século e milénio) o filme de que hoje falamos é um sólido candidato ao primeiro lugar da lista equivalente para os anos 90, visto que até o cinéfilo mais distraído ou o mais veemente opositor de filmes de acção violentos saberá o que é, e do que trata.

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À época a produção mais cara da História de Hollywood, com um orçamento em torno dos cem milhões de dólares, 'O Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento' foi o maior sucesso de bilheteira de 1991 e é, ainda hoje, considerado homónimo com a série 'Exterminador' como um todo (praticamente eclipsando o seu já bem-sucedido antecessor, de 1984) além de elogiado como um dos melhores filmes de ficção científica de sempre, e como um prodígio técnico para a época; nada, aliás, a que o realizador James Cameron fosse alheio, ele que já havia realizado o igualmente inovador 'Aliens' alguns anos antes, e que viria a bater o seu próprio recorde de custos não uma, mas duas vezes em anos subsequentes – primeiro com 'Titanic' (um dos principais concorrentes de 'Exterminador 2' ao trono cultural dos anos 90, a par de 'Matrix') e, mais tarde, com outro espectáculo audio-visual topo de gama, com o nome de 'Avatar'.

Mais ainda do que Cameron, no entanto, 'Exterminador 2' é sinónimo, na consciência popular, de dois nomes, ambos de actores que ocupavam papéis principais: por um lado, o jovem Edward Furlong, que viria a evoluir do seu papel como John Connor para outros papéis marcantes em filmes como 'América Proibida', e por outro, o de Arnold Schwarzenegger, para quem este filme cimentou o estatuto como principal herói de acção da década, e aniquilou de vez a possibilidade de o voltar a ver em filmes do calibre de 'Hércules em Nova Iorque'. Juntamente com o aterrorizante T-1000 de Robert Patrick (de quem o agora heróico T-101 tem de proteger John e a mãe, Sarah) os dois são responsáveis pela maioria dos elementos mais memoráveis do filme, com Arnie, em particular, a adicionar mais alguns exemplos à sua longa lista de 'frases feitas', prontos a serem referenciados e parodiados até à exaustão nas três décadas seguintes.

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Uma imagem icónica dos dois não menos icónicos protagonistas do filme

De facto, 'Exterminador 2' está tão indelevelmente enraizado na cultura popular que se torna quase redundante explanar sobre o seu sucesso, o seu impacto cultural, ou a sua importância para o género da ficção científica nas três décadas subsequentes; basta referir que, além das honras já mencionadas no início deste texto, o filme é, ainda hoje, o mais bem-sucedido da carreira de Arnold Schwarzenegger, e parcialmente responsável por iniciar o 'franchise' Terminator, que nas décadas seguintes veria surgirem novas séries de televisão, jogos de computador, e toda uma nova série de filmes centrados em torno do universo aqui retratado. E se esses mesmos filmes não são de forma alguma obras-primas do cinema, sendo controversos até mesmo entre os fãs do 'franchise', já 'Exterminador 2' é indiscutível como um dos maiores filmes dos anos 90, uma das maiores obras de ficção científica de sempre, e um marco cultural bem digno de ser celebrado – até porque, poucos meses depois de se ter celebrado a preceito o seu trigésimo aniversário, com um relançamento em 3D, continua a ser um filme tão impressionante, relevante e importante como sempre.

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Cartaz promocional da edição especial em 3D, recentemente lançada

05.04.21

NOTA: Por lapso, este post e o da passada sexta-feira foram publicados na ordem inversa. Retomaremos a ordem correta das rubricas no próximo ciclo.

Os anos 90 estiveram entre as melhores décadas no que toca à produção de filmes de interesse para crianças e jovens. Às sextas (ou às vezes às segundas, quando nos confundimos com a ordem do calendário) recordamos aqui alguns dos mais marcantes.

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E se no primeiro post desta série falámos de desenhos animados, hoje, rumamos no sentido quase exatamente oposto, e examinamos uma das outras grande ‘trends’ cinematográficas entre os miúdos daquela década, sobretudo os rapazes: os filmes de ação do tipo ‘explosivo’.

Todos (ou pelo menos todos os que gostavam do género) nos recordamos deles – os grandes épicos de ‘porrada’, tiros e explosões, protagonizados por machões com talento artístico inversamente proporcional ao tamanho dos seus músculos, nominalmente para adultos, mas (graças ao milagre do VHS e a grelhas televisivas algo previsíveis) vorazmente consumidos por toda uma geração ali a partir dos 7, 8 anos de idade.

Com expansão nos anos 80, e com génese nos filmes ‘exploitation’ da década anterior, estes filmes continuaram a estrear com regularidade, ao ritmo de dois ou três por ano, até pelo menos a meados da década de 90, com toda uma ‘segunda linha’ de série B a aparecer nos videoclubes em formato ‘direct-to-video’. Estes últimos eram, normalmente, protagonizados por ‘estrelas’ do calibre de Mark Dacascos, Don ‘The Dragon’ Wilson, ou a ‘Sonya Blade da vida real’, Cynthia Rothrock; no entanto, as produções maiores e mais caras apresentavam, normalmente, um de cinco ‘durões’ no papel principal:

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Schwarzenegger em 'O Último Grande Herói'

- Arnold Schwarzenegger. O futuro ‘Governator of California’ transformaria o estrondoso sucesso de ‘Total Recall’ e ‘Exterminador Implacável 2’ em mais uma década na ‘ribalta’, com filmes típicos do seu naipe, como ‘Eraser’ e ‘True Lies – A Verdade da Mentira’, e outros mais atípicos e voltados para a comédia, como ‘Junior’ ou o grande ‘Um Polícia no Jardim-Escola’. No entanto, muito do seu legado era devido à tecnologia VHS e à propria televisão, através dos quais as crianças ficavam a conhecer antigos sucessos como ‘Comando’. Eram dele, sobretudo, os filmes de tiros e explosões, embora, como mencionado, também tivesse revelado uma surpreendente veia cómica.

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Stallone em 'Demolition Man'

- Sylvester Stallone. Qualquer realizador que precisasse de um brutamontes de poucas palavras e perpétua cara de mau tinha no ‘Italian Stallion’ a sua estrela de eleição. Com ‘Rocky’ já no retrovisor mas ‘Rambo’ ainda em grande (sobretudo, novamente, devido ao VHS), Stallone apresentava-se à nova geração através de ‘thrillers’ como ‘Cliffhanger’ e filmes de ficção científica como 'Demolition Man' ou 'Judge Dredd', enquanto arriscava, como Schwarzenegger, em alguns papéis mais cómicos. No entanto, neste aspeto, ficava bem atrás do austríaco, e os poucos filmes que tentou nesta veia rapidamente caíram no esquecimento. O que o público queria, verdadeiramente, era vê-lo a dar tiros e socos aos mauzões – e foi isso que rapidamente voltou a fazer.

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JCVD na pose que o tornou famoso

- Jean-Claude Van Damme. Com este, não havia espaço para comédias - o ‘Muscles from Brussels’ derrotava mauzões a pontapés de karaté, e ponto final. Um dos atores mais lendariamente limitados da história do cinema de ação, o belga era, ainda assim, um ídolo entre os mais novos, muito graças a papéis em clássicos como ‘Kickboxer’ e ‘Força Destruidora’, além dos então recentes ‘Duplo Impacto’ e ‘Knock-Off – Embate’, este de John Woo. Haveria, ainda, tempo para JVCD deixar a sua marca naquele que é considerado um dos piores filmes de sempre, o mítico ‘Street Fighter – O Filme’, que vê o belga (com sotaque a condizer) interpretar o estereotipadamente americano Coronel Guile. Ainda assim, o ‘star power’ de JCVD era tanto que nem este papel descarrilou a sua carreira – pelo contrário, o filme foi um sucesso entre as crianças dos 90…

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Bruce Willis em 'Assalto Ao Arranha-Céus'

- Bruce Willis. ‘Die Hard’. ‘Nuff said. Embora menos popular entre a miudagem portuguesa que os restantes atores nesta lista, o eterno John McClane fazia ainda assim sucesso junto dos mesmos, com os seus filmes de ação brutos, diretos e cheios de explosões – com o bónus de, ao contrário dos outros, ser verdadeiramente bom ator.

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Steven Seagal nos anos 90, ainda elegante

- Steven Seagal. E por falar em filmes de ação brutos, diretos e cheios de explosões, eis o rei dos mesmos. Antes de se tornar uma auto-caricatura anafada, Seagal era um artista marcial de cinema ao nível de Jean-Claude Van Damme, e a única razão porque era menos conhecido da miudagem portuguesa é que os seus filmes passavam menos por cá.

A par de outros nomes lendários, mas já em declínio (como Chuck Norris, Dolph Lundgren ou Patrick Swayze), eram estes os ‘role models’ cinematográficos dos rapazes dos anos 90, aos quais, no decorrer da década, se juntaria um sexto nome:

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Keanu em 'Speed - Velocidade Sem Limites'

- Keanu Reeves. Revelado enquanto ator de ação pelo filme ‘Speed’, de 1994, o ex-ídolo romântico adolescente passaria o resto da década a fazer cinema ali na fronteira entre o ‘blockbuster’ e a série B até, em 1999, obter o papel principal num certo filme de ficção científica, e se tornar (ou voltar a ser) ídolo de toda uma geração. A reputação como ator de ação, mantém-na até hoje, graças a filmes como 'John Wick'.

Na segunda metade dos anos 90, este panorama alterar-se-ia um pouco, com o ocaso de Arnie e Stallone e as derrocadas de JCVD e Seagal, e com o aparecimento, nos seus lugares, de nomes como Wesley Snipes e Jason Statham, sem esquecer o contigente asiático, muito bem representado por Jet Li e Jackie Chan.

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Li e Chan nos anos 90

Ainda assim, durante três-quartos da década de 90, este tipo de filme revelou-se tão popular que até atores de géneros completamente ‘à parte’, como Will Smith ou Tom Cruise, tentaram a sua sorte – e com algum sucesso! Com o dealbar do novo milénio, a progressão natural do cinema – incluindo do cinema de ação – ditou a morte gradual deste tipo de filme; no entanto, qualquer ‘90s kid’ que veja – por exemplo – um dos filmes das séries ‘Missão Impossível’, ‘Velocidade Furiosa’ ou ‘Os Mercenários’ certamente se recordará daqueles tempos em que Van Damme ou Stallone representavam o píncaro da masculinidade, e em que vê-los dar ‘coças’ a vilões e seus capangas era suficiente para justificar um bilhete de cinema…

E vocês? Eram fãs deste tipo de filme? Qual o vosso ‘leading man’ favorito? Por aqui, era-se ‘team JCVD 4 lyfe’. Deixem os vossos testemunhos nos comentários!

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