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Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

Portugal Anos 90

Uma viagem nostálgica pelo universo infanto-juvenil português dos anos 90, em todas as suas vertentes.

13.08.23

NOTA: Este post é respeitante a Sábado, 12 de Agosto de 2023.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados (e, ocasionalmente, consecutivos), o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais e momentos.

No início dos anos 90, os parques aquáticos eram um dos mais populares destinos de Verão para as crianças e jovens portugueses, até pelo factor de proximidade, que permitia ir passar o dia a uma instalação deste tipo e voltar a tempo do jantar. Há quase exactos trinta anos, no entanto, essa tendência viria, abruptamente, a mudar, por conta de um grave acidente ocorrido num parque aquático em Lisboa.

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O Aquaparque do Restelo, em Lisboa, palco da tragédia.

Corria a tarde de 27 de Julho de 1993 quando a vida dos familiares de Cristina Caldas, de nove anos, seria, irremediavelmente, virada do avesso; dois dias depois, o mesmo aconteceria com a família de Frederico Duarte, da mesma idade. Ambas as crianças foram dadas como desaparecidas precisamente no mesmo local - o popular Aquaparque, na zona do Restelo, em Lisboa - e foi no decurso das buscas ao local que o triste fim das duas foi revelado: ao ser esvaziada a piscina da atracção 'Ribeirão', os corpos foram encontrados nas tubagens, as quais se encontravam totalmente desprotegidas, tendo as crianças sido sugadas pela força hidráulica e ficado 'entaladas'. Mais curioso era o facto de a grelha de um dos dois tubos de sucção responsáveis pela tragédia ter sido reposta, sem que, ainda hoje, se saiba por quem.
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O caso levou, evidentemente, a fortes protestos contra a instalação do Restelo - conhecida a partir de então como 'Aquaparque da Morte' (onde uma pequena multidão causou desacatos, obrigando a intervenção policial) e, por extensão, a outros parques semelhantes, como o Ondaparque, localizado do outro lado do rio Tejo, e tão ou mais popular que o Aquaparque. Mas se esse ainda se manteria activo durante mais alguns anos (acabando, no entanto, também por morrer) o Aquaparque não sobreviveu ao escândalo, encerrando portas de forma permanente poucas semanas depois, com os donos envolvidos num processo judicial relativo a homicídio por negligência, que se arrastaria durante sete anos, e que os pais das duas crianças viriam a ganhar.

De referir que, mesmo antes do acidente, o Aquaparque era já alvo de controvérsias, com fontes como a revista Pro-Teste a apontarem a falta de segurança das atracções do parque e atitude negligente dos monitores e salva-vidas, além da sujidade e falta de condições da instalação. Ainda assim, o Aquaparque não deixava de atrair entusiastas dos escorregas aquáticos da região de Lisboa - isto, claro está, até àqueles três dias fatidicos, que mudaram a irreversivelmente a percepção do público português sobre os parques aquáticos, e terão deixado muitos jovens da altura com uma sensação de alívio por não lhes ter sucedido algo semelhante. Foi há trinta anos, mas a memória viverá para sempre na mente de quem era de uma idade aproximada à das vítimas e presenciou o caso através dos Telejornais - e que tem, também, o dever de não deixar que o caso caia no esquecimento, para que o mesmo continue a servir como exemplo cautelar para as gerações vindouras...

13.06.21

NOTA: Este post corresponde a Sábado, 12 de Junho de 2021.

As saídas de fim-de-semana eram um dos aspetos mais excitantes da vida de uma criança nos anos 90, que via aparecerem com alguma regularidade novos e excitantes locais para visitar. Em Sábados alternados, o Portugal Anos 90 recorda alguns dos melhores e mais marcantes de entre esses locais.

E como a onda de calor que se tem feito sentir já convida a uns mergulhos, nada melhor do que recordar um tipo de atracção de Verão que, infelizmente, ficou mesmo nos anos 90, sem hipótese de retorno, pelo menos nos moldes em que funcionavam..

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Um parque aquático abandonado, em Altura; muitos dos estabelecimentos semelhantes dos anos 90 encontram-se, hoje, nas mesmas condições

Falamos dos parques aquáticos, uma alternativa extremamente popular às habituais praia e piscina durante a ‘nossa’ década, sobretudo pela sensação refrescante que a descida num dos seus característicos escorregas de água (que, inevitavelmente, terminavam num enorme ‘chapão’ na piscina) proporcionava. Diz quem sabe que era uma sensação única – e quanto maior o escorrega, melhor…

Em Portugal, foram dois os parques aquáticos a adquirir especial relevância, embora por razões diametralmente distintas; o facto de ambas essas instalações terem, eventualmente, sucumbido ao mesmo triste final será, talvez, consequência dos eventos que trouxeram um deles para a ribalta, os quais abordaremos mais à frente.

O primeiro, e mais famoso, destes parques era o Ondaparque, inaugurado em 1986 e que representou a primeira tentativa portuguesa de criar uma instalação deste tipo.. Situado à entrada da vila da Costa de Caparica – um dos principais ‘destinos de praia’ dos lisboetas, situado na Margem Sul do rio Tejo – este parque chegou a ser icónico para as crianças da Grande Lisboa, com a sua configuração única de escorregas e piscinas, tantas vezes capturada em fotografias durante o auge da popularidade do Parque. Só a visão do complexo principal de escorregas, momentaneamente vislumbrável da auto-estrada, já fazia imaginar muitos e bons momentos de ‘chapões’ e ‘chapinhanço’, aguçando desde logo a vontade de visitar o parque – mesmo com o convidativo mar da Costa a proporcionar banhos tão bons ou melhores, apenas uns metros mais à frente…

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O Ondaparque da Caparica, com o seu clássico sinal estilo Hollywood e configuração de escorregas.

O Ondaparque foi, dos dois complexos abordados neste post, aquele que se pode considerar ter sido vítima das circunstâncias. Sem que tivesse quaisquer ‘culpas no cartório’, a instalação foi apanhada na ‘febre’ de fechar todo e qualquer parque aquático do seu tipo (derivada de acontecimentos a que aludiremos já a seguir) e continua, até hoje, abandonada, não tendo o espaço sido reaproveitado ou restaurado – o que não deixa de ser surpreendente, dada a área e potencial que o mesmo apresenta. Não deixa de ser triste ver o parque da nossa infância assim – velho, degradado, com o grafitti a substituir a água na superfície dos lendários escorregas, e as ervas daninhas a fazerem as vezes dos visitantes deliciados. Resta, pois, esperar que alguma empresa ou autarquia pegue neste, em tempos, icónico espaço e lhe dê nova vida, ainda que numa vertente diferente da original…

E tendo já falado do ‘parque bom’, chega agora a hora de nos debruçarmos sobre o ‘parque mau’. Chegou a hora de falarmos…do Aquaparque.

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A entrada do Aquaparque no auge da sua popularidade.

Situado no Restelo (outra zona da periferia lisboeta na rota directa de um popular destino de praia, no caso a linha de Cascais) o Aquaparque travou, em finais da década de 80 e princípios da que nos concerne, uma acirrada batalha com o Ondaparque pelo trono de principal parque aquático não só da região, mas de todo o país.  Esta ‘guerra’ natural entre espaços concorrentes viria, no entanto, a adquirir contornos mais sombrios quando, em 1993, duas crianças, ambas com nove anos, morreram em dias consecutivos, e da mesma maneira: ao serem sugadas pelos tubos que faziam a filtragem da água das piscinas, e que careciam de redes de protecção.

Reportagem de época sobre o trágico acidente

Um acidente horripilante, digno de filme de ficção científica, mas que – infelizmente – foi muito real, e ditou o ‘início do fim’ da era dos parques aquáticos em Portugal. Primeiro, foram as multidões a manifestar-se, tentando forçar a entrada no ‘Aquaparque da morte’, e atingindo à pedrada os agentes policiais que os procuraram restringir; depois, o assunto tornou-se matéria principal nos principais meios de comunicação; e, finalmente, tornou-se uma disputa legal, que viria a terminar apenas em 2002, com os familiares das jovens vítimas a serem indemnizadas pelo Estado português. O espaço, esse, ficaria encerrado por tempo indeterminado – e não demoraria até o ‘indeterminado’ se tornar ‘permanente’. Tal como aconteceu com o Ondaparque, chegou a falar-se em reconverter este espaço (no caso, em parque infantil, segundo veiculam várias notícias de meados de 2019) mas, um ano e meio volvidos, tal plano ainda não parece ter-se concretizado...

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Um parque aquático actual, em Santarém

Entretanto, passaram-se quase três décadas desde o auge dos parques aquáticos, e a verdade é que a ‘moda’ não tornou a pegar; embora existam ainda alguns complexos que vão mantendo este tipo de denominação (em Peniche, por exemplo) a maioria consiste apenas de piscinas ‘normais’, de diversos tamanhos, com uma ou outra prancha ou um ou outro escorrega pelo meio, sendo de duvidar que se torne a ver um parque como os descritos neste blog (até por questões de segurança, as quais se tornaram bastante mais rígidas desde aquela época). No entanto, aqueles que viveram a ‘era de ouro’ deste tipo de estabelecimentos nunca esquecerão a sensação de os visitar, e de estar no topo de um daqueles escorregas enormes, a olhar para a piscina lá bem ao fundo, à espera de descer…

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